Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 19
Capítulo 18




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Capítulo 18

 

Visitando o doutor.

 

Foram conduzidos pelo soldado mascarado por corredores estreitos, escuros e repletos de poças d´água, reafirmando a plena decadência daquela prisão. Flag tentava se conter: seria fácil dar cabo daquele carcereiro com suas próprias mãos, porém ainda não era o momento adequado. Ele e seus companheiros tinham de saber com quem estavam lidando, e aquela visita ao provável chefe das instalações prometia ser bastante elucidativa...

Subiram por um bloco de escadas de pedra. Depois cruzaram uma longa passagem iluminada por tochas acesas nas paredes dos dois lados. Estas últimas estavam cobertas de lodo, os três integrantes do Charlie sentindo suas mãos ficarem úmidas e pegajosas ao nelas se apoiarem para andar, já que as pernas ainda não estavam em perfeito estado. Caminharam por mais alguns corredores e ambientes, tudo envolto num terrível aspecto mórbido e abandonado, até que o guia parou diante de uma porta de ferro reforçada. O guarda deu duas rápidas batidas nela, e logo foi aberta por dentro. Todavia, o autor da ação não foi avistado pelos prisioneiros.

         Entrem! – os policiais não tiveram certeza se a ordem, dada por uma voz sufocada, viera do combatente que os levara até ali ou de alguém ainda incógnito dentro da sala logo à frente.

O trio obedeceu, um pouco receoso. As botas ganharam o interior do novo recinto, os olhos de seus donos examinando com cautela tudo ali presente. Notaram primeiro a claridade: os raios de sol entravam por duas janelas com grades, uma em cada extremo do lugar, frente a frente, contribuindo para que as sombras fossem reduzidas ao máximo. Ainda sentiam-se angustiados por não saberem há quanto tempo estavam sendo mantidos ali.

Depois, o que lhes chamou a atenção foram as ricas estantes de livros: quatro ou cinco, repletas de obras agrupadas de acordo com o assunto tratado. Aproximando-se delas, MacQueen observou algumas das capas: havia desde clássicos da ciência política, como Maquiavel, Montesquieu, Rousseau e Stuart Mill, passando por grandes nomes da filosofia, entre os quais Platão, Santo Agostinho, Descartes, Kant e Nietzsche, até os principais autores de economia, como Smith, Ricardo, Marx e Keynes. Era um acervo impressionante, e a julgar pela conservação dos exemplares, o dono zelava mais por eles do que pela higiene daquele prédio.

Ao fundo da sala, junto a algumas correntes presas ao teto, havia uma escrivaninha de trabalho. Nela via-se um computador ligado, pilhas de papéis, mapas e livros abertos. Quem quer que fosse o comandante da prisão, andava bastante atarefado. A rústica cadeira de frente para o móvel, entretanto, encontrava-se vazia. Nisso, ouviram um baque metálico: o carcereiro havia fechado a porta, trancando-os naquele torpe escritório. A incerteza voltou a invadi-los.

         Por que fomos trazidos até aqui? – perguntou Leon, vistoriando o ambiente em busca de uma outra saída. – Quem é o tal “doutor”?

         Acho que não viemos aqui para uma consulta de rotina, seja quem for esse sujeito... – Flag chegou perto da mesa, analisando o que nela havia.

Folheando as anotações e relatos, entre os quais o que parecia se tratar de um diário, o capitão encontrou algo deveras intrigante: um mapa de Metro City, com marcas e setas que pareciam compor algum tipo de estratégia de invasão! Alarmado, Flag tomou a evidência em mãos para descobrir mais detalhes, quando a porta da sala voltou a se abrir de repente. E a figura que entrou foi a mais aterradora que viram desde o incidente nos arredores de Metro City meses antes...

O ser humano, se é que ainda podia ser chamado assim, vestia um jaleco de laboratório em frangalhos, algumas estranhas manchas esverdeadas podendo ser percebidas nas partes de sua pele exibidas pelos rasgos. Tinha também, além de calças e botas negras, uma máscara de gás tampando-lhe o rosto, da mesma forma que todos os outros indivíduos envolvidos nos últimos acontecimentos. Ele deu alguns passos, respiração abafada e assustadora, parando a uma certa distância dos surpreendidos hóspedes. O capitão largou o mapa sobre a mesa enquanto o sinistro anfitrião começava a falar, sua voz lembrando o sibilar de uma cobra contido por um recipiente apertado:

         Mas que pena, então já encontraram os meus planos! Isso seria parte do meu diálogo com vocês, o clímax da conversa! Agora terei que reestruturar toda a minha argumentação... Que aborrecimento!

         Quem é você? – bradou MacQueen.

         Quando se refere a mim, meu caro, essa simples pergunta acarreta uma enorme variedade de respostas! – afirmou o medonho personagem, passando brevemente suas mãos enluvadas por uma das estantes de livros. – Isso depende de qual delas quer ouvir!

         Que tal alguma que permita que nós identifiquemos você para podermos te levar preso assim que libertarmos nossos amigos? – propôs Flag.

         Tal coisa não ocorrerá... – o criminoso sentou-se na cadeira, que rangeu. – Eu preciso de vocês, preciso do time Charlie. E agora que consegui trazê-los até aqui, cuidarei ao máximo para que não escapem de minhas mãos!

         E o que pretende fazer conosco? – quis saber Kennedy, tentando esconder o intenso medo que sentia.

O doutor mascarado deu um suspiro, apoiou um dos braços esticados na mesa e respondeu:

         Tudo começou no início deste ano, quando vocês enfrentaram um de meus discípulos...

         Do que está falando? – David não compreendia.

         O doutor Hideo Vegeta... Eis que a tragédia de um homem da ciência cheio de nobres ideais se repetiu com um de seus pupilos... A pesquisa realizada com plantas contendo uma substância capaz de curar o câncer, mas também um poderoso vírus de grandes  capacidades de mutação em seus hospedeiros... A mim, ele transformou nisto. A Vegeta, no terrível “homem-planta” que foi derrotado pelos “bravos e valorosos” integrantes da equipe Charlie dos S.T.A.R.S. de Metro City!

Foi então que o capitão uniu os pontos: sim, ele sabia quem era aquele homem, ou melhor, quem ele havia sido!

         Então você é o doutor Mário Petroni, antigo funcionário da Biocom, que desapareceu misteriosamente ano passado enquanto realizava experimentos com as mesmas plantas utilizadas por Vegeta! – concluiu ele.

         Eu não me considero mais dono de tal nome, senhor Flag, porém pode usá-lo para referir-se a mim se preferir... – o cientista mutante murmurou.

         Mas o que representamos para você? – inquiriu MacQueen. – Por que nos trouxe até aqui, usando ainda por cima um dos nossos como isca?

         Minha transformação serviu para abrir meus olhos... – explicou o doutor, levantando-se da cadeira e circulando pelo recinto conforme falava. – Antes eu lutava para salvar a todo custo a humanidade de um de seus maiores males. Agora, porém, percebi que ela não tem mais salvação, constituindo um mal por si própria! Vejam por exemplo vocês, policiais de elite. O que são obrigados a encarar a cada novo dia de trabalho? Tragédias, atos brutais e hediondos. Acidentes, psicopatas, homens e mulheres que muitas vezes não dão o mínimo valor à vida de qualquer um de seus semelhantes. Leiam os jornais, meus caros. A cada alvorecer, nossa espécie se auto-extermina em guerras sem sentido nos quatro cantos do planeta. Se até a própria natureza já não consegue mais tolerar as agressões que recebe do gênero humano, quem sou eu para suportá-las?

         E o que você quer fazer, exterminar todo mundo? – riu Flag. – Você não passa de mais um sujeito megalomaníaco que acha ser capaz de moldar a realidade por si só, de acordo com seus devaneios!

         Não pretendo exterminar toda a espécie. É claro, muitos se colocarão contra mim e por isso não abrirei mão de esmagá-los. Porém não é meu objetivo. Senhores, o que eu pretendo é restaurar no mundo a ordem primordial, o “estado natural” em que vivíamos antes de nos organizarmos na chamada “sociedade”. Infelizmente, dada a conjuntura global de hoje, isso seria impossível sem uma intervenção militar. Por isso, farei uma guerra para que não haja mais guerras. Uma última intervenção armada que levará todo o planeta a uma utopia de paz e igualdade, sob meu comando. Eu ensinarei o homem a controlar seus instintos, seu feroz ímpeto destrutivo, e então uma nova e definitiva forma de sociedade será por mim iniciada sobre os restos da antiga.

Cruzou os braços e prosseguiu, sendo ouvido com extrema atenção:

         Para essa empreitada, no entanto, eu necessitaria de um exército forte. Um exército praticamente invencível. E poderia obtê-lo por meio da engenharia genética. Todavia, já faz algum tempo que me encontro no exílio, e precisava de recursos. Foi quando fui contatado por alguém que também desejava um batalhão de supersoldados. Assim, financiado pelo grupo em questão, iniciei aqui, junto com meu novo parceiro, o doutor Lee, a criação dessas forças armadas sobre-humanas, para depois delas tomar posse. O plano parecia perfeito, mas ainda existia um problema... Cobaias. Eu precisava de cobaias que fossem veteranas em combate, donas de incomparáveis habilidades em campo, e não os mendigos e andarilhos que estavam me enviando, e a partir dos quais fiz os primeiros combatentes... Eu precisava de vocês, time Charlie.

Fazia pleno sentido. O trio de policiais gelou, seus corações palpitando acelerados, ao mesmo tempo em que o doutor, depois de respirar fundo por baixo da máscara, continuou a explicar:

         Eu tomei o primeiro contato com vocês pela mídia, quando do incidente envolvendo Hideo Vegeta. Depois foram inúmeros resgates, impedimento de assaltos, negociações... Todas operações de pleno sucesso. Resolvi fazer mais alguns testes para avaliá-los, enviando, com a ajuda do doutor Lee, alguns “desafios” para Metro City... Utilizei diplomatas porque seria mais fácil fazê-los viajar sem causar suspeitas... A invasão do hotel, o intruso na delegacia... Tudo se encaixa agora para vocês?

         Desgraçado... – Leon cerrou os dentes.

         Percebi assim que vocês são combatentes perfeitos, e com a devida manipulação de DNA, nada poderá detê-los em ação. Meu plano para trazer todos para cá, com o apoio do grupo que está me financiando, funcionou de modo perfeito. Mal sabem eles que nunca colocarão as mãos em minhas criações... Eu criarei um exército invencível... E vocês farão parte dele!

Silêncio total. Os membros do Charlie ainda não haviam assimilado completamente todas aquelas informações. Porém tinham conhecimento de que realmente poderiam se tornar ferramenta de um plano insano de escala mundial, e tinham, agora mais do que nunca, de fugir daquela repugnante prisão logo que tivessem oportunidade.

         Por que invadir Metro City, em particular? – indagou o capitão, sobrancelhas franzidas.

         É uma das maiores cidades do mundo, pulsa em vida e atividades... Conquistando-a em primeiro lugar, terei uma esplêndida base para coordenar meus movimentos seguintes mundo afora... Não pode negar que seria um centro de operações bem melhor que esta prisão fedorenta!

         Eu me pergunto quem fede mais: a prisão ou você! – provocou Flag.

Em resposta, o médico-monstro bateu palmas com força, fazendo com que imediatamente a porta da sala tornasse a ser aberta. O mesmo carcereiro de antes surgiu, balançando sua Uzi com as mãos na direção do corredor. Era a ordem para que os prisioneiros o acompanhassem de volta à cela. Assim agiram, caminhando de volta enquanto o escritório era novamente fechado. MacQueen teve tempo de fitar o doutor mascarado uma última vez: preferiria morrer a servir no exército daquele lunático!

Naquele momento era certo, apenas, que o esquadrão S.T.A.R.S. de Metro City estava mesmo numa situação desesperadora.

 

Continua...


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