Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 18
Capítulo 17




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Capítulo 17

Penúria.

Aos poucos os integrantes da equipe Charlie foram recobrando seus sentidos... Mas teria sido melhor se não o tivessem...

O ambiente da aparente prisão torturava suas sensibilidades de múltiplas formas. As superfícies eram muito frias e úmidas, fazendo com que seus membros tremessem e batessem freneticamente os dentes. O odor predominante era intenso e fétido, numa mistura que parecia ser formada por detritos humanos, mofo e suor. Quanto à visão, via-se confrontada por um cenário cinza e monótono, composto pelas paredes e grades desgastadas do cárcere. Mas a pior tortura, entretanto, era destinada talvez à fala: em meio àquele local opressivo, não havia a quem gritar por socorro, a quem clamar por ajuda. Um silêncio desesperador predominava, pairava sobre tudo.

Conforme despertavam, os policiais capturados estranhavam tudo que os cercava:

         Onde estamos, o que houve? – indagou Raphael Redfield, sentado de costas para a gelada superfície metálica e enferrujada da porta trancada de uma das celas, uniforme repleto de rasgos.

         Não sei, mas não é um bom lugar... – murmurou Flag, levantando-se de um dos cantos do recinto.

         Eu me sinto fraca... – suspirou uma sofrida voz feminina, que logo foi identificada como pertencendo à doutora Kasty. – Mal consigo manter meus olhos abertos...

         É o efeito do tranqüilizante que eles utilizam... – a informação foi fornecida por um homem de forte sotaque russo, corpo ainda oculto nas sombras que dominavam parcialmente o apertado local. – Acreditem, logo vai passar. Exceto a angústia.

         Não acredito! – Adam Groove pareceu ter sido invadido por uma mistura repentina de surpresa, alegria e esperança. – Aiken, é você?

O antigo agente da KGB, um dos maiores especialistas em combate da extinta União Soviética, um indivíduo de valor incomparável no campo de batalha, estava agora reduzido a uma figura magra e pálida, coberta por trapos tão sujos quanto sua pele. Suas feições não demonstravam nada a não ser uma completa falta de fé e determinação em tudo. Era triste observá-lo em tal estado, e era quase impossível não sentir pena. Mas a última coisa que Aiken desejava que seus companheiros sentissem por si era pena. Agora que eles haviam realmente se juntado a ele naquela prisão, conforme o terrível algoz profetizara, havia talvez uma ínfima possibilidade de fuga. E agora ele desejava concentrar seus poucos esforços nisso.

         Como está minha filha? – foi a primeira pergunta que fez.

         Está viva, assim como nós, eu acredito... – falou um confuso MacQueen, olhando devagar ao redor. – Mas... Não está aqui conosco!

Realmente, os únicos naquela cela eram Flag, Kasty, MacQueen, Groove, Redfield, Frost, Kennedy e Falcon, estes dois últimos se encontrando ainda desmaiados. Onde estariam os demais? Estariam bem? Estariam ao menos vivos?

Numa cela ao lado, separada da vizinha por uma espessa parede de concreto e pedra, encontravam-se os membros restantes do time. Vitória Drakov estava sentada junto à porta, temendo muito pela vida do pai. Ele não estava ali entre os prisioneiros, como ela já verificara, porém tinha certeza de que também se encontrava em algum lugar daquela prisão. E procurá-lo seria sua primeira tarefa assim que estivesse livre.

Arquitetando planos em sua mente, a russa viu seu namorado William e Freelancer acordarem. Abrindo os olhos, examinaram atentamente o ambiente, seus corpos aos poucos recuperando os movimentos. Estranharam tudo, assim como ela. Também acharam pitoresco haver ali, entre eles, uma mulher que não conheciam, chinesa, trajando um terno e tendo um ferimento num dos ombros. Despertou em seguida, fitando assustada seus colegas de cadeia e aquele ambiente sórdido. E, levantando-se vagarosamente, apoiada numa parede úmida, indagou:

         Onde estou, quem são vocês?

         Nós estamos com as mesmas perguntas na ponta de nossas línguas! – disse Hayter. – Quem é a senhorita?

         Chun Li Zang, chefe de polícia de Hong Kong.

         Você disse “Chun Li Zang”? – quis confirmar Fong Ling, que voltava a recobrar a consciência.

         Sim, sou eu – um nó parecia prestes a ser formado na cabeça da ex-lutadora de rua.

         Que coincidência irônica nós nos encontrarmos apenas nestas circunstâncias... – a compatriota da delegada ergueu-se do chão e saudou-a num aperto de mão. – Não sei se conhece o general Zan Piang. Ele providenciaria uma reunião entre a equipe da qual faço parte e a senhorita, referente a uma busca que pretendíamos iniciar a um companheiro desaparecido...

         Ah, os policiais vindos dos Estados Unidos! – lembrou-se Chun Li, massageando o ombro, que ainda lhe doía. – Sim, eu recebi uma nota... Bem, aqui estamos agora reunidos. E por algum motivo fomos raptados pela mesma pessoa ou grupo! Recordo-me apenas de que estava em minha sala, quando um invasor surgiu... Tentei reagir, porém perdi os sentidos quando ele me acertou uma flecha com tranqüilizante!

         Como esse invasor era? – inquiriu Rafael O’Brian, que havia acordado sem que os outros percebessem.

         Roupa tática negra... Máscara de gás no rosto!

         Logo suspeitei... – Freelancer parecia atordoada.

         É, fomos atacados no hotel em que estávamos hospedados por um pelotão de soldados assim! – esclareceu o infiltrador. – Definitivamente, a mesma pessoa tem interesse no nosso esquadrão e na senhorita!

         Mas que tipo de interesse? O que está acontecendo afinal?

         Ainda não temos como saber... – murmurou Fong, suspirando. – Porém tenho quase certeza de que essa pessoa também é responsável pelo seqüestro do colega que viemos procurar!

Ela então trocou um olhar com Vitória, que pensava o mesmo. Aiken estava em algum canto daquele prédio condenado, os outros membros do Charlie também, assim como a solução de todo aquele mistério. O problema era que ainda não podiam agir a respeito. A luz do sol entrava pela janela gradeada da cela, uma vaga brisa suave que por ali penetrava ajudando a revigorar os prisioneiros. Goldfield, Nietparusky, Fred Ernest e Redferme ainda não haviam aberto os olhos, deitados pelo chão molhado.

O’Brian então contemplou Chun Li. Fê-lo com grande atenção e minúcia, admirando cada traço de seu delicado rosto, cada curva de seu definido corpo, cada dedo ágil de suas mãos... E compadeceu-se. Compadeceu-se muito. Percebeu que, assim como ele e seus colegas, ela não merecia estar ali, não merecia sofrer daquele jeito. E mesmo enxergando-a em parte tão linda e indefesa quanto uma boneca de porcelana, sabia que ela era uma mulher forte, determinada... Talvez a mulher mais forte do mundo.

O elevador atingiu seu destino, as portas se abrindo. Chegara ao décimo quarto subsolo do complexo subterrâneo, seus ocupantes caminhando para fora. À frente seguia um homem loiro de óculos escuros, terno e gravata, fone na cabeça. Seu ar imponente fazia com que lembrasse um pouco Albert Wesker, o antigo homem por trás do legado da Umbrella. Era acompanhado bem de perto por um outro sujeito nas mesmas vestimentas, também loiro, tapa-olho na face e submetralhadora em mãos. Em seguida vinham outros dois homens de preto, munidos de pistolas calibre 45, e por último, uma dupla de fuzileiros navais, rostos totalmente inexpressivos, portanto rifles M-16.

Percorreram rapidamente o longo corredor de aspecto metálico e bastante iluminado, cruzando uma porta no final que se abriu automaticamente. As instalações eram bem modernas, como seria bastante simples observar. Aquele subsolo em particular funcionava como setor prisional. Os seis homens ganharam em seguida um novo corredor em forma de “U” que contornava uma cela cujo interior podia ser visto através de grandes janelas blindadas. Existia também uma porta de acesso, fortemente trancada. No fim das contas, não era apenas o time Charlie, na China, que estava encarcerado...

O indivíduo à frente, Max Craig, parou na frente de um dos vidros, fitando os prisioneiros no interior da cela: o presidente dos EUA, Roger Jackson, e sua família. A primeira-dama estava sentada na cama de lençol branco do local, abraçando a filha Kate, olhos irritados devido às tantas lágrimas que já derramara. O governante da nação, por sua vez, levantou-se do chão de ladrilhos cinzas, onde estava sentado, e caminhou na direção dos recém-chegados, olhos fixos em Craig. Apoiou os braços na superfície transparente, palmas das mãos abertas, enquanto ouvia o traidor falar. A voz dele chegava até o interior do cárcere através de um sistema de microfones e alto-falantes. Os prisioneiros podiam ser escutados no corredor através do mesmo princípio.

         Boa noite, senhor presidente.

         Max, seu maldito golpista! – exclamou Jackson, socando o vidro reforçado. – O que pensa estar fazendo? O que significa isto?

         Eu lamento, mas é uma questão de segurança nacional que você permaneça detido aqui, Roger! – o chefe do Serviço Secreto disse isso retirando os óculos, encarando o presidente pupila contra pupila.

         O que planeja, vai tomar o poder? É você quem pretende assumir o cargo, ou está trabalhando para outra pessoa?

         Isso você morrerá sem saber, Roger. Viverá apenas enquanto nos for útil.

         E o que vocês querem de mim? – o presidente ficava cada vez mais descontrolado.

         Informações, códigos, relatórios. Tudo que você sabe a partir das agências de inteligência do país, e que não podemos obter diretamente. Afinal, nem todos no governo estão participando deste plano.

         O que mais vocês querem? Vocês já têm a “Football”!

Football. A maleta que permitia a ativação de todo o arsenal nuclear dos EUA. A maleta através da qual o mundo podia ser destruído centenas de vezes... Ao menos antes. Alguns anos antes.

         Você é mesmo muito ingênuo, Jackson. Se nós quiséssemos a Football, eu a teria conseguido há muito tempo. Sou chefe do seu Serviço Secreto desde o início de seu mandato, lembra? Além do mais, há um ano, você permitiu que praticamente todas as nossas ogivas fossem entregues à ONU naquele maldito Tratado de Desarmamento Nuclear das Nações Unidas. Quase todos os silos e unidades de lançamento estão inoperantes desde então!

Sim, o Tratado de Desarmamento Nuclear de novembro de 2007. Um passo rumo à paz mundial, ao apaziguamento das tensões globais. Um dos motivos pelos quais Jackson provavelmente seria reeleito nas eleições que aconteceriam ainda aquele mês. Os tempos estavam mudando. E aquele grupo conspirador realmente escolhera um momento delicado, e propício, para atacar.

         Então o que você e seus amigos querem de mim, Craig? – berrou o presidente.

         Não vê, Roger? Você é um maldito pacifista! Primeiro tirou nossas tropas do Oriente Médio. Depois assinou esse Tratado de Desarmamento. Você está entregando nossa hegemonia para estrangeiros! Está destruindo o poderio que nossos pais morreram construindo! Cuspiu em Plymouth Rock, presidente. Traiu nossos fundadores, nossa pátria, a América. E vai pagar muito caro por isso!

Jackson deu um profundo suspiro, abaixando a cabeça. Então insistiu:

         O que vocês querem de mim? Localizações de bases, relatórios de segurança... O nome do maldito assassino de John F. Kennedy?

         Você nos dará uma informação de cada vez, presidente, para que possamos comprovar a veracidade de cada uma! – sorriu Max. – E o bem-estar de sua família será a garantia de que colaborará!

         Se ousar fazer algo de mal a elas, seu desgraçado... Eu juro que vou te fazer pagar! Não importa quantas vezes você tenha salvado minha vida no Golfo e na Bósnia! Você vai pagar!

Craig começou a se afastar sem responder, acompanhado por seus seguranças. Sentindo-se ainda mais humilhado e traído, Jackson deu um chute no vidro e então voltou para junto da mulher e da filha. Elas eram tudo que lhe restavam agora...

Dentro da desconfortável cela na prisão chinesa, os integrantes do Charlie não tinham qualquer noção de tempo a não ser a claridade do dia ou a escuridão da noite. Os minutos passavam como horas, as horas passavam como dias. No apertado ambiente em que Aiken se encontrava com os companheiros que vieram salvá-lo e acabaram também capturados, o russo tinha a mente tomada por vários pensamentos e lembranças, faces e palavras, prazeres e dores... Quando um som quebrou a monotonia da cadeia, o som de uma tranca... Era a porta do cárcere, aberta pelo lado de fora.

Todos olharam para fora com medo, tensão e uma ponta de esperança. Podia ser algum tipo de resgate. Mas não era. A figura de um dos combatentes de máscara de gás foi vista, armado com uma Uzi. E ele falou aos prisioneiros, voz abafada como a de todos os outros de seu tipo:

         Três de vocês, venham comigo. O doutor quer vê-los.

Ao menos três deles poderiam deixar a cela, nem que fosse temporariamente, conhecer o local, conhecer o inimigo. Aiken já ia se levantando, quando foi contido por um gesto de Flag. Não era boa idéia, pois o eslavo estava cansado e fraco demais. Ofereceu-se em seu lugar, junto com MacQueen e Leon Kennedy, que levantaram quase por instinto. Seguiram até a porta, saíram e então os demais detentos tornaram a ser trancados, o forte baque da barreira de metal estremecendo seus corações. E lá fora, bem baixos, os passos do guarda e do trio de policiais podiam ser ouvidos se afastando, até que desapareceram por completo.

Continua...


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