Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 20
Capítulo 19




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Capítulo 19

 

Sistema antifugas.

 

Flag, MacQueen e Kennedy foram jogados de volta à cela. Ao sentarem-se de novo sobre o chão frio, seus companheiros os olhavam curiosos, imaginando aonde teriam ido e o que havia acontecido durante esse tempo. O capitão suspirou, acomodado ao lado de Aiken. O russo indagou, quebrando o clima de suspense:

         E então, estiveram na presença do carrasco?

         É pior do que eu pensei, o sujeito é mesmo doido... – afirmou David.

         Eu já tinha concluído isso há muito tempo, mesmo ele falando comigo apenas do outro lado da porta! Acredito que não há meio cabível de escaparmos desta jaula!

Aquela situação era o limite. Todos ali se continham ao máximo para não romperem em lágrimas, terem um ataque de nervos. Mas tinham de se controlar, pensar num jeito de sair dali... Como, como?

 

Na outra cela, os que antes ainda estavam desmaiados já haviam recuperado a consciência. Sentiam frio, dor, fome. Goldfield refletia a respeito de se encontrar no cárcere: muitos dos grandes escritores da humanidade já haviam passado por isso, sendo que durante esse período muitos deles redigiram suas obras-primas, mas ele não conseguia entender como. Tudo era horrível ali, nada lhe trazia inspiração. Se ao menos Silverhill estivesse ali também, viva... Ou então Copperplain... Quem sabe até algum novo amor que poderia viver se conseguisse escapar daquela prisão!

Rafael O’Brian, sentado num canto, não conseguia tirar os olhos da delegada Chun Li, por mais que disfarçasse, enquanto ela conversava com Fong Ling. Além de achá-la extremamente linda e forte, uma mulher de fibra, porém dotada de grande delicadeza, o infiltrador sentia uma vontade, um ímpeto cada vez maior, de protegê-la daquilo tudo. Para ele, Zang compunha o elemento que menos combinava com aquela cadeia imunda, ela era luz em meio às trevas, suavidade num mundo áspero, esperança para os condenados.

E o integrante do Charlie que mais se destacava entre os presos ali era William Hayter. Mesmo cansado, não o aparentava, circulando pela cela sem parar, inquieto, agitado, seu cérebro trabalhando incessantemente enquanto tentava elaborar um modo de fuga, aguardando uma mísera oportunidade... Vitória observava apreensiva os passos do namorado, desejando ter a capacidade de ler pensamentos... Talvez pudesse assim no mínimo acalmá-lo, pois não se sentia capaz, em seu estado, de fazer isso por palavras...

Lá fora ainda havia claridade, o dia parecia interminável. Os detentos, por incrível que possa parecer, desejavam que a noite chegasse logo, já que assim poderiam pegar no sono mais facilmente, além de não conseguirem, na escuridão, contemplar a miséria em que se encontravam.

Freelancer cuidava do ferimento a bala que Redferme sofrera durante o ataque no hotel. Fred Ernest e Helder Nietparusky teciam teorias sobre o motivo de terem sido capturados e levados para aquele local. Aos poucos, uma espécie de cotidiano mórbido, uma rotina macabra e infeliz, era estabelecida dentro daquelas quatro paredes.

 

Na sala de Petroni, este estava sentado diante de seu computador pessoal, verificando alguns dados e relatórios, quando a porta de ferro do recinto foi aberta. O mesmo soldado mascarado que antes escoltara o trio de prisioneiros até ali entrou, e mesmo todos os combatentes sob seu comando sendo iguais na aparência, o doutor sabia quem era cada um deles em particular.

         O que deseja, Lúcio? – perguntou o cientista deformado, sem se virar.

         O estoque de carne está no fim, mestre... Devo ou não ordenar que os predadores sejam alimentados?

         Sem dúvida que deve. Distribua a refeição como de costume, e então peça que um dos pelotões vá até o campo caçar mais alguns animais com o intuito de renovar o estoque. Nossos predadores não podem ficar sem alimento. Eles compõem nosso eficaz sistema antifugas!

         Sim mestre!

O subordinado se retirou, deixando o superior mais uma vez sozinho com seu trabalho. Este o absorvia quase por completo, mas era por uma sábia causa. A causa mais sábia pela qual alguém já lutara.

 

Hayter não agüentava mais. Ficar preso ali era terrível, sem poder agir, sem poder fazer nada pelos companheiros! Atordoado, o franco-atirador viu-se de súbito chutando as paredes, tomado pela raiva. Vitória ia se levantando para confortá-lo, preocupada com o amado, quando algo inesperado aconteceu... Quando uma de suas botas atingiu com força um dos blocos de concreto na parede onde se encontrava a porta, na altura do chão, ele se moveu um pouco para frente...

Ao menos uma ponta de esperança! Aquela prisão era tão velha e mal-cuidada que aos poucos estava se desmanchando! E se havia um bloco solto, poderia muito bem não ser o único! Era uma possível maneira de fugirem dali...

Tendo também presenciado o ocorrido, “Leadership” levantou-se e foi averiguar o local onde houvera a sutil mudança. Tateou os outros blocos ao redor, coçou o queixo enquanto analisava a situação... Até que ficou novamente de pé e, mordendo os lábios, deu mais alguns chutes na parte danificada da parede. Mais dois tijolos foram empurrados na direção do corredor, liberando agora uma passagem pela qual uma pessoa pequena poderia se esgueirar sem problemas.

         Bem, aí está! – disse Rafael. – Quem se oferece?

Uma empreitada sem dúvida arriscada, porém não existia outro meio. Alguém teria de tentar salvar todos os outros. Os prisioneiros se entreolharam, o sentimento que os dominava transitando entre a dúvida, a ansiedade e o temor. Até que a namorada de William se apresentou, disposta a acabar logo com tudo aquilo e, acima de tudo, encontrar seu pai:

         Eu vou!

Isso não agradou Hayter. Ele tinha medo do que poderia acontecer enquanto sua amada estivesse lá fora. Todavia, sabia que não poderia impedi-la. Vitória era muito determinada, e além do mais, ela sabia se cuidar sozinha.

O’Brian assentiu, abrindo caminho enquanto a russa caminhava até o buraco. Deitou-se sobre o chão gelado, fez uma careta e começou a arrastar-se através da passagem. Seu corpo estava todo dolorido, porém mesmo assim pôde chegar rapidamente ao corredor. Ergueu-se gemendo, levando uma das mãos às costas. O local era pouco iluminado, as sombras enchendo-a de temor. Viu a porta da cela onde estava trancafiada até há pouco, e outra logo ao lado. Mais de seus colegas provavelmente se encontravam dentro dela.

Sem pestanejar, correu até a segunda superfície metálica, dando nela algumas batidas. Logo percebendo que isso não bastaria, já que seus amigos poderiam pensar se tratar de um carcereiro ou algum outro dos raptores, falou, tentando fazer com que sua voz soasse ao mesmo tempo alta e discreta:

         Pessoal, sou eu, a Vitória!

Dentro da cela, Aiken quase chegou a esboçar um sorriso ao ouvir a filha. Mas infelizmente ainda não se recuperara a ponto de expressar fisicamente seu contentamento. Levantou-se do chão com dificuldade, auxiliado pelos companheiros, enquanto andava trôpego até a porta. Todos os demais haviam ficado esperançosos. Ao que tudo indicava, estavam prestes a deixar aquele cárcere desumano!

         Filha, é você? – quis confirmar o ex-agente da KGB, cabeça encostada à barreira de ferro que o separava da pessoa que mais amava no mundo.

         Sim, pai, sou eu! – respondeu ela do outro lado, chorosa, já que finalmente voltava a escutar a voz paterna. – Vou tirá-los aí de dentro... Só preciso encontrar uma maneira de abrir estas portas!

         Parada onde está! – bradou um outro alguém atrás da moça.

Ela não se moveu, sentindo o frio cano da Uzi em sua nuca. Fora rendida por um dos guardas, que respirava devagar por baixo de sua máscara horrenda. Será que todos aqueles soldados tinham problemas pulmonares, ou pretendiam apenas se proteger o tempo todo de eventuais perigos biológicos? De um jeito ou de outro, a russa, sem medo de morrer, girou o corpo, agarrou o braço do inimigo que segurava a arma e quebrou-o sem piedade. Ele disparou tarde demais, pois perdera a mira e a rajada atingiu o chão. Atordoado, foi segurado de novo pela oponente, que, contendo suas tentativas de soltar-se, quebrou-lhe o pescoço com facilidade.

O cadáver tombou pesadamente, a jovem examinando o que trazia no uniforme. Além de adquirir a submetralhadora do morto e alguns pentes de munição, descobriu um molho de chaves num dos bolsos. Mais simples do que praticar tiro com alvos estáticos.

Depois de testar brevemente as chaves nas trancas, Vitória conseguiu abrir as duas celas. Os detentos saíram e se reencontraram aliviados no corredor. Todos estavam bem afinal, apesar das condições lastimáveis às quais haviam sido expostos. Redferme e Flag rapidamente fizeram um reconhecimento dos integrantes, e encontraram um problema... Onde diabos estava Logan Devendeer?

         Ele não está em nenhuma das celas! – concluiu Raphael Redfield, que a pedido dos amigos inspecionara os dois cárceres mais uma vez.

         Então o que houve com ele? – exclamou Adam, indignado. – Será que...

         Sim, é possível... – falou Fred Ernest, cabisbaixo. – Ele pode ter morrido no hotel, ou a caminho daqui... Segundo o que Hayter nos disse, o Logan havia sido baleado gravemente antes de apagarmos!

Todos, involuntariamente, fizeram algo como um minuto de silêncio fúnebre pelo colega, porém não era bem isso. Na verdade eles sentiam medo. Muito medo. A escuridão do corredor atemorizava seus corações. Falcon deu alguns passos na direção de um facho de raios solares que penetrava por uma janela gradeada, esperando que aquela luz lhe fornecesse um pouco mais de coragem.

         E você, quem é? – perguntou Leon a Chun Li.

         Não é uma história para ser narrada neste momento, não podemos perder um segundo sequer! – replicou a delegada, fitando ao redor.

Ficaram calados, pensando no que fazer. Precisavam de mais armas, já que apenas Vitória tinha uma. Ao menos estavam todos juntos e poderiam resistir satisfatoriamente aos vigias que já deviam estar a caminho... Bem, acontece que não era o tipo de vigias que eles esperavam encontrar...

         Que som é esse? – indagou Freelancer, apreensiva.

Pareciam... Gemidos. Ecos de agonia. Foram acompanhados de um cheiro terrível, um odor podre... Carne decomposta. E então passos, mas não passos comuns, e sim como os de alguém caindo aos pedaços... Até que surgiram os vultos, homens e mulheres que avançavam lentamente, braços esticados como os de sonâmbulos que jamais acordariam... Vestes rasgadas, semblantes totalmente desfigurados, seus interiores pútridos expostos aos assustados observadores. Zumbis. Os bons e velhos zumbis, cercando-os pelos dois lados do corredor.

 

Continua...


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