Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 17
Capítulo 16




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Capítulo 16

Royal-5.

A cena que transcorreu logo depois pode soar um tanto clichê, porém mesmo assim foi extremamente pavorosa para os humanos ali presentes: a ausência do líquido criogênico despertou as estranhas criaturas, que, soltando longos gemidos agonizantes, remetendo aos antigos zumbis oriundos da infecção pelo T-Virus da extinta Umbrella, passaram a golpear os vidros que os prendiam. Estes, apesar de reforçados, sem demora começaram a rachar.

         Assim que essas coisas saírem, abram fogo sem dó! – ordenou Sniper Nemesis.

Não era preciso nem frisar isso. Aqueles seres eram tão repulsivos que o desejo de destruí-los vinha quase por instinto. Os soldados contratados pela Interpol, mais jovens que Sniper e Slaughter, suavam frio diante da perspectiva de não saírem vivos daquele lugar. Já Maya, apesar de aterrorizada, mantinha-se pronta para combater, tendo sacado um revólver Magnum calibre 357. Não fugiria dali sem luta.

Num estrondo, uma das câmaras finalmente foi rompida, o mutante em seu interior despencando de modo desajeitado para fora. Todos começaram a disparar de imediato, uma verdadeira chuva de balas atingindo o monstro... Cuja pele mole, para espanto geral, parecia absorver todos os projéteis sem dano algum!

Sem ser detido, a experiência levantou-se vagarosamente do piso e, voltando a gemer, adquiriu repentina velocidade, seus olhos totalmente pretos emitindo um brilho sinistro... Enquanto saltava sobre um dos mercenários. O rapaz começou a berrar desesperado enquanto a aberração, prendendo-o pelos braços, abria a boca, revelando duas fileiras de dentes pontiagudos e extremamente afiados, que cravou no pescoço da vítima. Os gritos se intensificaram enquanto uma cascata de sangue banhava tudo ao redor, o agressor arrancando uma grande quantidade de carne da garganta do infeliz, mastigando-a com intensidade. Os tiros continuavam, mas estavam longe de poderem derrubá-lo.

         Dispersar, dispersar! – exclamou Slaughter, correndo pela sala.

Mais dois monstros arrebentaram os vidros de seus tubos, quase simultaneamente. Agora espalhados pelo recinto, os sete homens ainda ativos e a agente britânica tentavam a todo custo conter os experimentos, entretanto as balas apenas os instigavam mais. A matança prosseguiu, uma dupla de soldados sendo mutilados por uma das criaturas, que começou a se alimentar de seus cadáveres vorazmente. Apesar da aparência desengonçada e disforme, aquelas bizarrices eram predadores natos. Feras insaciáveis.

         É inútil tentar aniquilá-los, vamos dar o fora daqui! – gritou Nemesis.

Os seis sobreviventes recuaram rapidamente até a porta, os mutantes gemendo em seu encalço. Enquanto o grupo cruzava a saída, mais um combatente contratado foi agarrado pelas pernas, sendo puxado de volta para dentro da sala enquanto implorava por socorro. Slaughter desferiu mais alguns disparos tentando salvá-lo, porém o monstro atacante nada sofreu, dilacerando o peito de sua presa com os dentes, a vida desta se esvaindo no mesmo instante. Pobre sujeito.

         Temos que trancar a porta, lacrar esses bichos aí dentro! – bradou Sniper, tentando de algum modo impedir que as criaturas saíssem para o corredor. – Ajudem-me aqui, rápido!

Os demais tentavam também manter as aberrações afastadas com suas balas, ao mesmo tempo em que Maya digitava desesperadamente no painel o código para lacrar a porta. Por um momento pensou estar condenada a morrer ali, um dos experimentos esticando um dos braços pastosos e finos através da abertura que se fechava na esperança de conseguir apanhar mais uma vítima, porém logo o retirou, a passagem sendo selada com sucesso. Haviam escapado vivos dessa.

Todos pararam para recuperar o fôlego, suor escorrendo-lhes pelas faces agitadas. Exausta e com o coração bombeando sangue compulsivamente para seus membros dormentes, Maya sentou-se no chão, costas apoiadas numa das paredes. Abaixou a cabeça, ofegante. Nunca estivera com sua vida em tamanho risco, a não ser talvez quando... Ela preferia não se lembrar. Certas recordações a feriam muito.

Do outro lado da barreira blindada, os experimentos a golpeavam, gemendo sem parar. Estavam com fome, fariam de tudo para comer mais, derrubar aquele obstáculo que os separava da refeição. Porém ficariam presos ali por um bom tempo; ao menos aquela porta parecia resistir bem ao ímpeto assassino que possuíam...

         Que merda! – falou Nemesis por fim, ainda muito tenso.

         A pasta ainda está com você? – indagou Maya, temendo que as valiosas informações que encontrara houvessem se perdido.

         Sim, está aqui comigo! – o comandante da equipe mostrou o documento em sua mão esquerda. – Mas não estou em condições de lê-la no momento!

         Não se preocupe, eu posso fazer um resumo do que ela trata enquanto voltamos até o terraço. Se não se incomodarem, vou pegar uma carona no helicóptero de vocês.

         Então nós já vamos indo? – perguntou Slaughter. – Agora que a festa estava ficando animada...

         Acreditem, já encontramos evidência suficiente por aqui!

Os cinco ainda vivos retornaram até o elevador, que tornou a subir de volta até o andar da sala de reuniões. A expressão de pavor nos semblantes dos mercenários ainda era bastante emblemática da situação. Depois de um ligeiro solavanco do transporte, Sniper perguntou à agente ruiva:

         E então, senhorita, poderia nos explicar no que exatamente estamos metidos?

         É uma longa história, porém tentarei ser breve... – disse a inglesa num pequeno sorriso, já mais calma. – Antes que eu comece, devo alertá-los de que ouvirão coisas nas quais é bastante difícil acreditar. Até eu mesma não acreditaria, se já não houvesse encontrado provas...

         O papo parece ser bom! – riu o brasileiro.

         Tudo começou nos anos 90. Alguns setores mais conservadores do governo dos EUA começaram a achar que seu país estava perdendo hegemonia no mundo. A União Soviética já havia caído, porém eles continuaram vivendo na mesma paranóia da Guerra Fria. Alguns figurões simplesmente não conseguiam existir sem um inimigo para confrontar, então eles acabaram criando um novo...

         Qual? – indagou um dos soldados contratados.

         O próprio governo dos EUA. Em reuniões ocultas que passaram a ser realizadas com freqüência, os inconformados acusavam o presidente e seus secretários de deixarem a proeminência norte-americana no mundo ser ameaçada pelo crescimento da Europa e da Ásia. Esse grupo, formado em grande parte por veteranos da Guerra do Golfo e da intervenção da OTAN nos Bálcãs, resolveu tomar uma atitude para evitar que o próprio governo de seu país o rebaixasse a uma nação subalterna. Foi então que esses entusiastas fanáticos do “Destino Manifesto” formaram a organização secreta conhecida como Royal-5.

         Royal-5... – murmurou Sniper, remoendo tal nome.

         Sim. Um grupo composto por cinco indivíduos em status de igualdade: o diretor da NSA, o chefe do Serviço Secreto do próprio presidente, dois dos maiores empresários dos EUA, e por último um membro mais reservado cuja procedência é bem mais velada. Acredito que a razão seja preservar ao menos um dos cinco integrantes caso os outros quatro sejam descobertos.

         E o que essas pessoas pretendem? – Slaughter ficara realmente envolvido pelo assunto.

         Simples: elas vêm, num processo gradual que já dura mais de uma década, trabalhando nas sombras para derrubar o governo dos EUA e estabelecer sua própria ditadura, sua própria Constituição. Salvar a nação de uma suposta decadência iminente. E, pelo que pude averiguar, eles estão muito próximos disso.

A subida foi concluída, o grupo deixando o elevador. Enquanto prosseguiam no trajeto rumo ao heliporto, Maya continuou sua explicação:

         A primeira coisa com que eles se preocupam é liquidar a ameaça de um contra-golpe logo após assumirem o poder. E esse contra-golpe viria, muito provavelmente, por parte das Forças Armadas. Têm assistido aos telejornais? Generais, consultores militares, esquadrões inteiros das forças especiais... Todos mortos. Aos poucos o Royal-5, renegando inclusive a origem de alguns de seus membros, tem minado as bases do Pentágono. O passo seguinte é dar um sumiço no atual presidente, sem que ninguém perceba. Tenho fortes razões para acreditar que essa etapa está em andamento. E o passo final é assegurar o poder conquistado, criar um mecanismo para evitar a contestação do novo governo estabelecido. E é aí que entra o doutor Kian Lee.

         Um exército aprimorado geneticamente, supersoldados invencíveis, feitos sob encomenda... – compreendeu Nemesis. – Assim como as coisas que enfrentamos no subsolo!

         Exatamente.

         Mas ainda há coisas que não se encaixam! – lembrou Slaughter. – Qual a lógica envolvendo os funcionários do consulado norte-americano endoidando? Que relação pode ter com isso tudo?

Eles chegaram ao terraço, o tempo já estando um pouco mais limpo, apesar de um forte vento gelado que soprava da baía na direção da cidade. O Black Hawk os aguardava já pronto para decolar, motor ligado. Andando até a aeronave, Maya disse aos demais:

         Quanto ao que ainda não foi explicado, nós mesmos podemos descobrir. Investigando a ligação de Lee com o Royal-5, acabei descobrindo a possível localização atual do doutor: uma prisão abandonada no norte do país, junto à Grande Muralha. É para lá que eu ia me dirigir logo depois que saísse daqui, e ainda pretendo.

         Ótimo, então vamos todos juntos! – falou o ex-mafioso, entrando no helicóptero. – Só preciso recrutar mais alguns homens na base de operações, já que tivemos baixas e, pelo que você disse, quem estamos enfrentando não está para brincadeira!

         Será bom trabalhar em conjunto com vocês... E a propósito, meu verdadeiro nome é Marie Anne Hemingway, ex-detetive da Scotland Yard. É um prazer conhecê-los.

         Igualmente, Marie.

O Black Hawk levantou vôo, sobrevoando a área das docas e em seguida o centro de Hong Kong. Parecia que aquela operação estava apenas começando, e que começo! Eles já haviam quase sido mortos por quatro monstros carniceiros sem nariz! Sniper Nemesis não podia esquecer de enviar uma equipe de limpeza mais tarde para assegurar que aquelas coisas não machucassem mais ninguém. Sentado ao lado de Maya, Slaughter, um indivíduo de admirável capacidade dedutiva, voltou-se para a jovem e perguntou:

         Por acaso tem algum motivo pessoal para estar envolvida nisso tudo, moça?

         Meu pai e meu noivo morreram tentando expor o Royal-5 ao mundo – a britânica respondeu sem pestanejar. – Eu estou apenas dando continuidade ao trabalho deles. É uma forma de honrá-los. Para que não tenham morrido em vão.

         Ah, então está explicado...

O brasileiro esparramou-se no assento do Black Hawk, dando um suspiro. No fundo, quase todos naquele tipo de vida tinham motivos mais profundos do que os aparentes... E ele adorava tal diversidade de objetivos e determinações. Gostaria de também ser assim, ao invés de apenas combater por dinheiro...

Continua...


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