Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 15
Capítulo 14




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/10450/chapter/15

Capítulo 14

Fragmentos.

Fong Ling podia ouvir sons e sentir cheiros, porém não era capaz de abrir os olhos. Suas pálpebras doíam, parecendo tão pesadas quanto blocos de pedra. Foi através de seu olfato que ela percebeu a umidade do ambiente, misturada a um leve odor de suor. Tentou respirar fundo, porém até seus pulmões não pareciam funcionar na capacidade normal. Seu corpo estava fraco, macerado. Percebeu, num dado momento, ele sacolejar junto com a superfície sólida à qual estava encostada. O barulho de um motor também se destacou, além dos pingos de chuva que caíam. Concluiu que era transportada, provavelmente junto com seus companheiros, na carreta de um caminhão. Para onde? Grande mistério.

E ela ainda não conseguia abrir os olhos.

         Tem alguém aí? – indagou, seus lábios se movendo com extremo custo.

Nada, nenhuma resposta. Ou estavam todos desacordados, ou pior... Fong preferia nem pensar nessa possibilidade. Pensou em seu pai, o general Piang. Ele já devia estar organizando uma missão de resgate, ou... Não se sabia o que poderia acontecer ao time Charlie...

Um hangar nos arredores de Hong Kong. Seu interior era vasto, comportando dois helicópteros Black Hawk, uma série de jipes, caminhões e um jato de caça F-14 “Tomcat”. Fazia parte de uma base mantida numa parceria entre diversas organizações de nível internacional, como Interpol, CIA e MI-6, e mercenários de todo o mundo, principalmente ex-militares e ex-guerrilheiros que agora ganhavam a vida combatendo para quem lhes pagasse mais.

Um indivíduo de boina vermelha e uniforme camuflado adentrou o local, acompanhado por alguns soldados. O primeiro tinha uma pistola Desert Eagle calibre 50 guardada no coldre em sua cintura, e os demais seguravam fuzis FAL. Apesar da tempestade lá fora, o interior do hangar estava relativamente seco e quente. O grupo seguiu até o centro do lugar, de onde saiu de dentro de um jipe que chegara há pouco um homem de cabelo curto e crespo, porte físico médio e olheiras no rosto. Sorriu ao ver o sujeito de boina e cumprimentou-o batendo continência:

         Saudações, prezado Sniper!

         Ora, pare de gozar da minha cara, seu filho da mãe... – o italiano, Sniper Nemesis, respondeu num resmungo.

Os dois riram e apertaram as mãos. Examinaram-se de alto a baixo e então o ex-mafioso observou:

         Está meio magro, hem...

         Se músculos fossem tudo, Chuck Norris governaria o universo!

         Você realmente não muda, Slaughter!

A dupla, ainda acompanhada pelos outros combatentes, caminhou até um dos helicópteros. Um trovão ecoou para dentro do hangar, o clarão gerado combinando-se por um instante com a luz das lâmpadas amarelas. O brasileiro em seguida perguntou, fitando o ambiente com curiosidade:

         O governo chinês permite que uma base tão equipada como esta exista em seu território, ainda mais tão abarrotada de estrangeiros?

         O Partido faz vista grossa... – esclareceu Sniper. – Eles sabem que em determinadas ocasiões precisarão de nossos serviços... E tem um pessoal aqui só esperando a próxima oferta em dinheiro que oferecerem para quem quiser participar de uma nova tentativa de invadir Taiwan!

Slaughter quase gargalhou. Era uma doce ironia, gostava de ironias. Chegaram ao helicóptero, ele depositando a mochila que trazia sobre um dos assentos da aeronave. Intrigado, Sniper apanhou-a brevemente para verificar seu peso: mal conseguiu sustentá-la com um braço só. Quis saber:

         Você trouxe o Rio de Janeiro inteiro para a China, é?

         Apenas meu equipamento básico... – o brasileiro respondeu olhando para o interior do Black Hawk. – Magnum, granadas, meu aparato antiexplosivos, soco inglês...

         Deixe-me ver...

O italiano puxou um dos zíperes da mochila, vasculhando seu interior. Slaughter sorriu amarelo enquanto o amigo retirava dela, enfiada num saco plástico, uma garrafa de vodka ainda cheia.

         Isto aqui faz parte do seu “aparato antiexplosivos”, é? – o agente da Interpol franziu o cenho.

         Não, mas é ferramenta essencial para que eu esteja em condições de atuar! – replicou o especialista em explosivos, tomando o recipiente das mãos de Sniper, abrindo-o e sorvendo um belo gole da bebida.

Nemesis, por sua vez, balançou negativamente a cabeça e apanhou um cigarro do bolso, acendendo-o com seu isqueiro. Enquanto fumava, ouviu o colega indagar:

         E então, a operação já está planejada? Em que pé estão as coisas?

         Em pé de guerra. Nós já temos sinal verde para agir. A delegada Chun Li Zang acertou tudo com as autoridades. Se você leu as informações que eu enviei para seu laptop, já deve saber dos detalhes sobre os acontecimentos...

         Sim, eu li tudo... Diplomatas norte-americanos sumindo de Hong Kong, reaparecendo totalmente pirados em Metro City, derretendo depois de mortos... Alguma pista a respeito?

         Na verdade sim... Os diplomatas desaparecidos tinham algo em comum... Segundo registros que consultei, todos haviam, algum tempo antes, feito consultas médicas na clínica de um certo doutor Kian Lee, um dos mais renomados médicos da China. Especialista em terapia celular e em modernas técnicas de combate ao câncer. Acontece que Lee sumiu misteriosamente quase ao mesmo tempo em que os funcionários do consulado. A ligação parece clara para mim.

         Onde fica essa tal clínica?

         Aqui mesmo em Hong Kong, na área das docas. A delegada Zang me informou que os homens dela interditaram o prédio e o averiguaram várias vezes, porém não encontraram nada. Eu acho uma boa idéia darmos uma olhada por nós mesmos.

         Muito bem. Por mim, é só esperarmos a chuva passar. Cadê o resto da equipe?

         Estão todos aqui, Slaughter. Eu, você e mais estes homens que estão trabalhando para a Interpol, sob meu comando.

         O quê? – surpreendeu-se o brasileiro, quase soltando a garrafa de vodka no chão. – Só isso? Mas e o resto dos rapazes? Akiyo, Pinstripe, Destroyer... O pessoal do antigo esquadrão?

         Eu perdi contato com todos eles, meu caro... – e abriu a boca momentaneamente, soltando a fumaça do cigarro. – Apenas restabeleci meu elo com você devido à nossa última missão junto com os S.T.A.R.S., você sabe disso... E os tempos são outros. Não estamos mais na Líbia, nem no Turcomenistão. Esta será uma missão simples, acredite. Poderemos dar conta.

         Espero que esteja certo, Sniper... Espero mesmo, do fundo de minha alma!

E voltaram a rir sozinhos, observados pelos inexpressivos demais soldados.

Aiken Frost ouviu passos no corredor do lado de fora de sua cela. Ou apenas pensou ter ouvido. Ficava mais paranóico a cada segundo que passava enclausurado ali. Pensou na filha, em seus colegas. Tentou chorar, porém não saíam lágrimas. Talvez já houvesse sofrido tanto em sua longa vida que todas tinham se esgotado...

         Seus amigos estão vindo atrás de você, e assim que eles chegarem, lhe farão companhia.

A voz era abafada, lúgubre. O russo não sabia se ela vinha de fora do cárcere ou de dentro de seus próprios e confusos pensamentos. Enlouquecia. Ao fechar os olhos, via de novo todas as faces que odiara, todas que amara, todas que torturara... Não se achava mais capaz de sobreviver a tudo aquilo. Qualquer que fosse o rumo tomado pelos eventos a partir de então, ele não se importava mais...

Fong sentiu mais uma vez o caminhão sacolejar. A estrada devia ter muitos buracos, situação agravada pela chuva incessante. Ainda não conseguia erguer as pálpebras, porém seus membros já haviam recuperado boa parte da capacidade de movimento. Feliz com isso, passou a tatear o que existia ao seu redor. Identificou uniformes, armas, pele... Sangue. Os feridos não eram poucos; temeu que algum estivesse em situação crítica.

Ela, ao que tudo indicava, ainda era a única consciente.

         Alguém... Alguém?

Depois de poucos instantes de angústia, uma resposta veio, quase inaudível:

         Fong... É você?

Era a voz de Fred Ernest. A chinesa agradeceu aos céus. Mais um integrante vivo!

         Fred... – chamou, esperançosa.

         Não consigo enxergar nada... Para onde nós estamos indo?

         Eu... Eu não sei!

A viagem continuou, parecendo interminável. Assim como a impiedosa tempestade que caía há horas.

Aeroporto Internacional Dulles, Washington, D.C.

O carro de Max Craig adentrou a arrojada e moderna estrutura do local. A torre de controle, em particular, lembrava uma árvore de grande copa. O chefe do Serviço Secreto estacionou junto a alguns outros automóveis, sendo recebido por um homem forte e loiro, usando terno, fone no ouvido e um tapa-olho que lhe cobria o antigo globo ocular esquerdo. O recém-chegado saudou-o:

         É bom vê-lo, Dylan. Sempre chegando a tempo.

         Faço apenas o meu trabalho. Para onde vamos, senhor, se me permite perguntar?

         Nenhum local muito importante... Vou apenas visitar um velho amigo.

O agente sorriu em resposta. Engatilhou a submetralhadora H&K que trazia presa a uma alça no tronco e acompanhou seu superior até a pista de pouso, onde o jato o aguardava. Apesar de ser um tanto lento em raciocínio, Dylan já deduzia qual visita seria essa...

O caminhão finalmente parou, Fong Ling percebendo o tranco causado pelo freio. Ouviu vozes do lado de fora, vozes que pareciam contidas por algum tipo de máscara... E eram extremamente padronizadas, praticamente todas no mesmo tom. Achou isso bastante estranho.

Os diálogos ficaram mais próximos, a chuva parara de cair. O ruído seguinte foi o de coisas sendo arrastadas... Muito provavelmente os corpos inconscientes – ou mortos – de seus colegas do Charlie. Desesperou-se. Chamou por Fred Ernest, mas ele aparentemente voltara a desmaiar. Tentou levantar-se e debandar dali, mesmo às cegas, no entanto se encontrava muito fraca. Foi subitamente agarrada pelas pernas, e sua aflição aumentava por conta de não conseguir se libertar. Gritando, acabou puxada para fora da carreta, e de uma vez só conseguiu abrir os olhos...

Suas pupilas foram afetadas pela repentina claridade, e a primeira coisa que viu diante de si... Foi a face coberta pela máscara de gás de um dos soldados que haviam atacado a suíte do hotel, ainda mais assustadora por ser contemplada tão de perto. Tentou golpeá-lo com as mãos, chutá-lo com os pés... Porém sentiu uma dolorosa picada no pescoço e, concluindo que algum outro tranqüilizante fora injetado em si, perdeu rapidamente as forças que recuperara e sua mente se apagou...

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Charlie Team 2 - By Goldfield" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.