Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 14
Capítulo 13




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Capítulo 13

Eduardo Henrique Barch.

Algum lugar no Arizona, EUA.

Uma típica lanchonete à beira de uma rodovia, anexa a um posto de gasolina. Não havia qualquer outro estabelecimento numa área de dezenas de quilômetros: tudo ao redor consistia em deserto, com algumas montanhas distantes delineando o horizonte. Era tarde, céu azul desprovido de nuvens e calor intenso.

Perto dali tinha início uma estrada de terra que levava a uma base militar não muito longe. Portanto era freqüente a presença de soldados naquele recinto, uma das únicas opções de lazer que possuíam em meio àquele nada. Ao menos o lugar era limpo, servia lanches saborosos, tinha música ambiente agradável e contava com charmosas garçonetes. Antes estar ali relaxando por algumas horas do que combatendo em algum outro deserto ao redor do mundo para levar a outros povos uma democracia de cunho duvidoso.

A lanchonete tinha poucos clientes naquele momento. Além de dois caminhoneiros, seus veículos estacionados do lado de fora, havia um rapaz de cabelos castanhos, óculos no rosto e ar fechado, não aparentando mais de vinte anos de idade, sentado junto a uma mesa num dos cantos do local. Tinha a cabeça baixa, como se extremamente concentrado em relação a algo, e quem se aproximasse mais conseguiria notar que ele segurava em sua mão direita, de modo discreto, um telefone celular. Na tela deste havia uma foto que ele fitava fixamente, sem sequer piscar, como que hipnotizado pela pessoa nela retratada... Uma jovem de belo aspecto, mais precisamente.

O rapaz guardou o aparelho num dos bolsos da jaqueta quando ouviu o alto som de uma freada vindo do lado de fora. Era um jipe militar que parava bruscamente diante do estabelecimento, ocupado por quatro recrutas usando seus uniformes. Dois deles tinham os braços erguidos brandindo garrafas de cerveja; todos gritavam e riam alucinados. Bêbados, sem sombra de dúvida.

O grupo deixou o veículo e caminhou até a entrada da lanchonete numa sonora algazarra. As garçonetes já ficaram apreensivas, lançando leves olhares para a porta enquanto prosseguiam com seus afazeres. Os soldados embriagados ganharam o interior do lugar, um deles quase tropeçando no chão. Dirigiram-se desajeitados até o balcão, sendo que um dos boêmios, loiro e musculoso, aparentava liderar os outros. O jovem misterioso e afastado não gostou de suas feições. Elas lembravam muito as de um antigo inimigo seu...

         Muito bem, meninas, nós queremos algumas cervejas! – berrou o militar em questão, gesticulando.

         Ora, olhe só para você, Carter! – exclamou uma das funcionárias, cara emburrada. – Já está quase caindo de bêbado!

         Eu vou pagar, então eu bebo o quanto eu quiser! – retorquiu, atirando alguns dólares sobre o balcão. – E como é o pessoal da base que mantém esta espelunca com o que gasta aqui, nós temos direito a certos privilégios!

Seguiu então na direção de uma outra garçonete, magra e loira, que, de costas para ele, limpava um balcão torcendo para que não fosse incomodada por nenhum daqueles homens. Para seu infortúnio, no entanto, o recém-chegado a agarrou pela cintura e, fazendo com que ela sentisse seu bafo alcoólico, falou asperamente:

         Você vai ser minha hoje, boneca!

         Nunca! – ela replicou, tentando desesperadamente se soltar. – Me larga!

         Não, não, você vai é me beijar! – e tentava colar seus lábios junto aos da moça, enquanto esta lutava para escapar do troglodita.

A atenção de todos ali se voltou para os dois, os colegas do soldado torcendo para que ele conseguisse abusar da garota e as companheiras desta se recusando a interferir, com medo de serem agredidas pelo bêbado, quando subitamente uma voz masculina ordenou, a lanchonete ficando em completo silêncio assim que sua mensagem se fez ouvir:

         Largue-a imediatamente!

Carter se voltou para trás, ainda retendo a garçonete por um dos braços. Era o rapaz de jaqueta até então sentado ao fundo do lugar, que se levantara e agora estava a poucos metros do recruta. Furioso, este gritou, com vontade de partir aquele intrometido ao meio sem demora:

         Quem pensa que é, o que vai fazer? Acha que pode me ameaçar?

Empurrou a jovem bruscamente para o chão, ela caindo aos prantos e logo depois correndo imediatamente para perto das amigas. O militar então tirou algo do cinto: uma afiada faca de combate, a lâmina refletindo sua face. Empunhando a arma, ele voltou a interpelar o benfeitor:

         Pode vir, frangote, que eu te corto em pedacinhos! Olha só, até parece uma codorna!

Os outros soldados berravam eufóricos, agitando os braços. Eles queriam ver briga. As funcionárias temiam pela vida do rapaz de cabelos castanhos, principalmente aquela que ele salvara. O próprio, todavia, não sentia medo. Ele já encarara muitos sujeitos como aquele, no fundo eram todos iguais. E o fato de aquele em particular se parecer muito com seu nêmesis contribuía para tornar a situação mais motivadora.

O brutamontes finalmente lançou-se contra o oponente, faca erguida, pronto para fincá-la na carne daquele moleque sem noção do perigo... Quando ele sacou velozmente uma pistola 765 modificada e, com o semblante inexpressivo, livre de toda e qualquer hesitação, disparou contra o inimigo. A bala alojou-se na coxa esquerda do militar, levando-o imediatamente ao solo. Contorcendo-se de dor, sangue sujando suas calças e o piso xadrez do estabelecimento, o perdedor do embate murmurou, a vergonha fazendo-o sofrer mais do que o ferimento:

         Seu... Seu filho da mãe! Você atirou em mim! Atirou em mim...

Todos ficaram assustados, incluindo os colegas de Carter, que nada fizeram para vingá-lo. Afinal, quem poderia ser aquele incógnito personagem? Ele depositou a arma calmamente no coldre oculto sob sua jaqueta e disse, olhando para as garçonetes:

         Perdoem-me pela confusão...

O loiro acabara largando a faca ao ser atingido pelo tiro; o adversário apanhou-a sem cerimônia, examinou-a brevemente em suas mãos e então também a guardou consigo. Era uma boa faca. Incapacitado, Carter viu o oponente afastar-se rumo ao balcão, onde colocou uma nota de cinco dólares, a face de Abraham Lincoln na cédula parecendo ter apreciado o combate, e apanhou em troca uma caixa de cigarros. Já se dirigia até a saída, alheio a tudo e a todos, quando a garota loira que salvara exclamou, sorridente e com um olhar de profunda gratidão:

         Muito obrigada, meu herói!

Aquela frase, ao invés de deleitar o benfeitor, apenas trouxe-lhe terríveis recordações. Memórias dolorosas com as quais ele ainda não sabia ao certo conviver. Era por isso que viajava: talvez a nova vida que tentava empreender as sepultasse para sempre, ou ao menos desse um novo sentido a elas. Saiu da lanchonete sem olhar para trás, sem corresponder ao agradecimento da garçonete. Passou a caminhar novamente junto à estrada vazia em busca da próxima carona...

Afinal, dada a distância que já vencera, Metro City não estava longe. E Eduardo Henrique Barch não podia parar.

Max Craig dirigia satisfeito seu carro preto pelas ruas principais de Washington. Há pouco recebera a ligação informando que o presidente Jackson e sua família já haviam sido movidos para o local designado. Até agora tudo corria sem contratempo algum, e isso de certa forma o assustava. Craig temia quando as coisas aconteciam de um modo fácil demais.

Nisso, o celular do conspirador tocou mais uma vez. Ele manteve uma das mãos no volante do automóvel e usou a outra para atender a ligação. Reconheceu de imediato a voz grossa que veio do outro lado:

         Senhor Craig?

         Pode falar – Max era tão frio quanto uma geleira.

         Já instalei as escutas que o senhor pediu na casa do senhor Brentwood. Caso ele tenha culpa no cartório, poderá intervir imediatamente. Se for apenas uma suspeita mesmo, ele nunca saberá que o senhor o espionou.

         Ótimo, Dylan. Agora se dirija até o aeroporto. Partirei em breve e preciso que meu melhor agente esteja no avião.

         Obrigado pelo elogio, senhor, mas lembre-se que sou cego de um olho. Isso me deixa em desvantagem.

         Acredite, meu amigo: neste país, quem tem apenas um olho pode se considerar abençoado. E antes que eu me esqueça: que Deus abençoe a América!

Dylan riu e desligou, Craig voltando a concentrar-se apenas em guiar o carro.

Continua...


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