Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 12
Capítulo 11




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Capítulo 11

Ruptura – Parte I.

Trancada em sua sala, a delegada Chun Li Zang, sentada atrás da mesa, fitava as gotas de água atingirem a janela estalando, cabeça apoiada num dos braços. Tempo chuvoso costumava sempre deixá-la deprimida, ao menos desde a morte de seu pai. Refletiu acerca do encontro que tivera com o agente Sniper Nemesis e da nota enviada há pouco por sua secretária, informando que dentro de algumas horas ela teria um encontro com alguns policiais vindos dos EUA. O que queriam? Teria também a ver com o caso dos funcionários do consulado?

Ela sentia falta do passado... De quando fazer justiça não passava por tanta burocracia e trâmites legais...

Ser uma lutadora de rua.

Mas agora isso era apenas uma lembrança longínqua, um sonho tão distante de si quanto duas costas separadas pelo oceano Pacífico. E assim sua mente ergueu vôo, viajando por mares de recordações e imagens, deixando-a fatalmente distraída...

Percebeu tarde demais algo se mexer no lado escuro do gabinete, junto às sombras de uma parede. Ela arregalou os olhos, movendo instintivamente uma das mãos para abrir a gaveta da mesa onde deixava guardada sempre uma pistola 9mm. Aprendera a estar pronta para tudo lutando outrora contra as forças de Bison.

Mais agitação na treva, e seus ágeis dedos apanharam o cabo da arma. Ela puxou-a para fora, ao mesmo tempo em que se tornava nítida a silhueta de um homem a poucos metros de onde se encontrava. Ele chegou mais perto, deixando à mostra seu uniforme tático negro e uma máscara de gás cobrindo-lhe totalmente a face. Apesar da distância, Chun Li conseguiu perceber que ele respirava com enorme dificuldade.

Ela apontou a pistola, porém o estranho intruso foi mais veloz, erguendo uma besta munida de setas tranqüilizantes. Pressionou o gatilho, e um dos projéteis fincou-se em cheio no ombro esquerdo da mulher, que levou uma das mãos ao ferimento. A substância agiu com tremenda rapidez em sua corrente sangüínea: Zang tentou se levantar, todavia depois de dois ou três passos soltou um gemido e seu corpo desabou adormecido sobre o carpete da sala.

O invasor ficou imóvel por alguns segundos, como se aguardando alguma eventual reação por parte da delegada inconsciente. Então se aproximou dela e, verificando seu rosto, murmurou numa voz abafada e sinistra:

-- Assim será mais fácil levá-la comigo, senhorita...

Instantes mais tarde, a secretária entrou no gabinete, mesmo Chun Li tendo deixado claro que não queria ser perturbada, para notificá-la de uma ligação por parte do prefeito. Não encontrou ninguém.

Na suíte do hotel em que a equipe Charlie encontrava-se hospedada, Adam Groove, Raphael Redfield, MacQueen, Fred Ernest e Leon S. Kennedy estavam acomodados num sofá assistindo ao final de “A Noite dos Mortos-Vivos”, primeiro filme da trilogia de zumbis de Romero. Num dado momento, Mac coçou o queixo e falou:

-- Uma coisa que não gosto no Romero é que ele nunca explica a origem dos zumbis...

-- Faz parte do clima de terror não saber de onde as criaturas vêm! – respondeu Adam, o maior apreciador desse gênero cinematográfico entre o grupo. – É que estamos acostumados às nossas missões, nas quais de um jeito ou de outro acabamos descobrindo a origem das aberrações enfrentadas...

-- Nosso grupo daria um bom filme, não acham? – riu Fred.

-- Não sendo dirigido pelo Uwe Boll... – brincou Leon.

Todos gargalharam. Nisso, Raphael percebeu que seu xará, Rafael O’Brian, estava isolado dos demais, de pé junto a uma janela. Ele, como todos os outros, vinha percebendo já há um certo tempo aquele comportamento fechado e distante assumido pelo colega. Levantou-se do sofá e caminhou até ele, na esperança de melhorar a situação com uma boa conversa.

-- E aí, rapaz? – saudou Redfield.

-- Olá, cara... – “Leadership” replicou com um mínimo de ânimo. – Como anda?

-- Eu é que pergunto... Você não anda nada bem, o pessoal está ficando preocupado...

Rafael deu um longo suspiro, como se houvesse uma dor enorme contida em seu peito, e explicou:

-- Eu fui um homem treinado sempre para matar... Tirar do caminho por força letal quantas pessoas fossem necessárias para o sucesso de uma missão... E agora, olhando para trás, eu revejo as faces de todos que assassinei, re-visito cada execução, ouço mais uma vez cada grito, cada gemido... Será que alguém como eu é digno de amar? Deve ser por isso que até hoje a única pessoa que realmente amei foi tirada de mim...

-- Todos nós temos direito a uma segunda chance! – afirmou Raphael, colocando uma das mãos no ombro do amigo.

-- E se a minha já veio e foi desperdiçada?

Transtornado, Rafael afastou-se. Tinha de ficar sozinho por enquanto.

Enquanto isso, em algumas poltronas próximas que eram verdadeiros tesouros de tapeçaria chinesa, Goldfield e Freelancer conversavam animadamente. O hacker nunca havia parado para bater um papo com a médica, e via que ela era excelente companhia. Já os demais integrantes do time dormiam nos quartos, repousando após a exaustiva viagem de avião. Enfim, tudo corria conforme o previsto... Ao menos até aquele momento...

No DVD, o filme terminou. Adam saltou do sofá, correndo até o aparelho para retirar o disco. Guardou-o dentro da caixinha e, voltando-se para os companheiros, perguntou animado:

-- E agora, vamos ver “Madrugada”?

-- Ah, não, cansei! – exclamou Kennedy, também se levantando em meio a um despreguiçar. – Deixem pra mais tarde!

-- Vocês que sabem...

Num dos dormitórios da suíte, Logan Devendeer e William Hayter repousavam em duas camas, uma de cada lado do recinto, embalados pelo temporal que caía do lado de fora. No centro, sobre um divã provido de macias e confortáveis almofadas, Vitória Drakov também dormia, tão graciosa quanto uma princesa do antigo Império Russo. De repente ressoou um alto trovão, que fez com que a jovem se remexesse sobre o móvel, sonhando com seu pai desaparecido. O que nenhum dos três poderia notar era que, em meio à quase total escuridão do quarto, um vulto movia-se lentamente junto a uma das paredes...

No cômodo ao lado descansava todo o Retag, com exceção de MacQueen, que estava na sala com os demais. Helder e Falcon, por sua vez, jogavam cartas calmamente numa mesa perto da porta do aposento, iluminados pelos poucos raios de sol que rompiam pelas nuvens de chuva, chegando através da janela. Depois de atirar um ás sobre o móvel, o piloto disse ao eslavo:

-- Quieto demais... Não estou muito acostumado com isso!

-- Eu cheguei a ficar dias enterrado em buracos por todo o território da Bósnia... – revelou Nietparusky, o aspecto sombrio do ambiente atribuindo maior tom aterrador à sua fala. – Dias e mais dias sem ouvir uma frase, um ruído, um cantar de pássaro... Posso afirmar que sou uma das pessoas mais íntimas do silêncio que existem!

Falcon achou melhor se calar, pois o europeu costumava se empolgar quando falava de seus sofridos tempos de guerra nos Bálcãs. E, atentos às cartas, também não perceberam uma sombra humana se esgueirar pelo quarto, traiçoeira como um réptil, apesar de ali haver maior claridade...

Na sala, todos haviam desistido mesmo de assistir a mais um filme de mortos-vivos e agora conversavam descontraídos, alheios ao redor... Inclusive ao fato de que, no teto, a grade que tampava a entrada de um duto de ventilação era discretamente desparafusada. Apenas “Leadership” percebeu quando a placa de metal, após ser solta, foi movida para dentro da abertura. Imediatamente apanhou sua faca, alertando os colegas com uma série de gestos tensos apontando para cima. Calaram-se, porém era tarde demais: duas figuras negras saltaram rapidamente pelo duto, pousando de pé sobre o chão da suíte. Usavam trajes bem equipados e máscaras de gás, apontando imediatamente submetralhadoras H&K para os policiais logo que estabilizaram seus corpos.

Surpresos, os membros da equipe Charlie já iam sacar suas armas para reagir, quando a grande janela do local se quebrou, lançando cacos de vidro e água da chuva para todos os lados. Livrando-se das cordas de rapel que haviam utilizado naquela inserção, mais dois combatentes mascarados adentraram o ambiente, mirando suas espingardas de assalto na direção dos hóspedes. Estavam cercados.

Gotas de suor escorreram pelos semblantes ali presentes. Aparentemente era matar ou morrer.

Continua...


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