Sexo, Escola e Rock And Roll escrita por Fernanda Lima
Notas iniciais do capítulo
* Versão de Sabrina van Gerard *
- Allen, você deve ter sido expulso do mundo dos idiotas por ser idiota demais! Onde já se viu, todos ficamos preocupados com você! Nunca mais faça isso de novo, ouviu?
- Ok, mãe.
- Eu vou te mostrar quem é a mãe aq... - Segurei o braço de Maria antes de um problema em potencial. Ao ouvir suas palavras, evitei pensar na culpa que sentia por aquilo tudo.
- Ciao. Que gritos são esses, Maria?
- Eu só estava falando pra esse monstrinho destruidor de privadas aqui o quanto ele merece apanhar.
- Privadas... como as coisas se espalham rápido.
Ela entrou na sala, dando a mão ao sempre neutro Jack. Acompanhei-a, pois fazia muito frio do lado de fora, de uma forma que eu não entendia como ela conseguia ficar confortável só com uma manga 3/4.
- Sabrina, vem cá! - Ela me chamou para o nosso canto sagrado, assim que pus meus pés na classe. Me sentei em meu lugar cativo, prevendo uma longa conversa.
- Você não precisa se sentir culpada pelo o que houve. As pessoas que fazem as besteiras são as únicas responsáveis por elas. Afinal, sempre há uma segunda opção, não é?
Eu ainda me assustava um pouco com o tal 'dom' que ela claramente possuía.
- Acho que sim... mas eu sei como o Allen se sente - Eu não precisava realmente ter dito isso. -, e queria fazer com que ele se sentisse melhor.
Ela suspirou, se levantando.
- Acho que eu tenho uma ideia. Sabrina, você vai fazer alguma coisa nessas férias?
Acho que manter as minhas funções vitais não contava exatamente como 'alguma coisa'.
- Mesmo se eu quisesse...
- Ah, então passe a querer. Só preciso confirmar com nosso financiador.
Sem pensar muito no que aconteceria, só esperei em meu lugar. Cerca de 5 minutos depois, ela veio com os outros para perto da minha mesa. Estavam debatendo algo aparentemente sério.
- Bel, você é quase um pinguim. Você é.
- Exatamente, esse é o ponto. Sem diversão urbana, sem diversão ecoturística, não nos sentiremos tentados à desviar a atenção do que realmente importa.
- Então, basicamente é o seguinte: vamos para o meio do nada, no inverno, sem nenhum tipo de precaução ou material específico, e sem previsão de volta?
- Exatamente.
- Esqueceu de um detalhe. Sob as suas custas, é claro.
- Na verdade, está mais para o Allen paga a metade e nós dividimos o resto.
- Ótimo, ideia fascinante.
- Quer saber, vocês estão muito acomodados. É uma oportunidade incrível para nos prepararmos para o segundo show de talentos, além de uma chance de ficarmos juntos e também mais independentes. Antes de vir para o Brasil, me mandaram para um acampamento, e a garotinha que não sabia passar duas horas sozinha virou uma grande desbravadora. - Ri mentalmente com a pose de Indiana Jones que Bel fizera.
- Desbravadora de quê, da loja de nozes?
- Eu entrava no bosque do parquinho sozinha e voltava com uma cesta de frutas para a gente. Se dependêssemos de você, garotinha assustada, seríamos duas crianças morrendo de fome.
- Quer saber, Allen, acho que é uma ideia maneira. - Maria pulou em cima de Bel, e as duas bateram palmas num cumprimento.
- Não é o seu dinheiro, né?
- Jack, você está calado demais. Não tem nenhuma objeção?
- Claro que ele tem, esse friorento resmungão. - Allen cada vez mais parecia com uma criança, agindo daquela forma. Não no mau sentido. De um jeito adorável, até.
- Se vocês todos forem, eu serei forçado a ir junto.
- Isso não foi uma afirmativa, sabe. Teria você algum motivo para não querer ir, Sr. Que-Geralmente-Topa-Tudo? - Um sorriso cínico surgiu no rosto de Maria.
- Ele tem sim.. - Bel tinha um olhar faceiro. - É que o Jackie tem hábitos péssimos quando está em casa, e tem vergonha de mostrar para os outros. Por isso ele não quer ir.
- Você não tem como provar.
- E você não tem como provar que eu estou mentindo. A não ser que vá e nos mostre.
- Não preciso mostrar nada a ninguém.
- Aquilo que fizemos com você e com o Allen, naquele dia. Não foi muito difícil. Maria?
Ela empurrou Allen em cima de Jack, com algum tipo de golpe de karatê que não consegui ver bem. De repente, toda a sala estava olhando para o garoto corado sentado no colo do maior. Eu não era exatamente fã desse tipo de coisa, mas achei a cena bastante comovente.
- Faremos o que quiserem. - Os dois disseram ao mesmo tempo, visivelmente cansados de discutir. Maria e Isabel trocaram sorrisos de satisfação.
- E você, Sabrina? - Maria mexia em meus cabelos, como sempre fazia ao esperar uma resposta afirmativa sobre algo.
Prestando atenção na conversa deles, esqueci de me incluir nos planos.
- Eu realmente não sei.
- Você é muito importante para a banda. Se não, a mais importante. Nós vamos pagar todas as suas despesas, sabemos que as coisas não estão fáceis pra você. E vai ser divertido, estaremos juntos. Você não tem planos melhores mesmo.
Bel chegou mais perto, cochichando algo em meu ouvido.
- É sobre Allen, também.
Tentei fingir que ela não havia dito nada.
- Tudo bem. Parece interessante. Eu só não queria incomodá-los...
- Deixa pra lá. Qualquer coisa, a gente te põe pra fazer algum solo extra.
O sinal bateu. Sem mais nenhuma palavra, havíamos acertado as nossas férias.
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
Intervalo
Numa rodinha no corredor ao lado da sala, decidíamos os detalhes da viagem.
- Primeiro, todo mundo tem certeza que os pais deixam?
- Meu pai vai para alguma conferência estranha com homens de negócios do leste europeu.
- Vão decidir se você tem altura para alcançar os pedais do carro do próximo Don Corleone.
- Muito engraçado, Yukai-sensei. No dia em que o meu pai for um mafioso, você vai ser uma cantora de enka¹.
- Calem a boca. Então, Bel, o seu irmão pode nos levar?
- Ovviamente! Na primeira semana de julho, então, estaremos indo, e voltaremos no início da segunda.
- E vamos para onde?
- Por sua conta, Allen. Num lugar com praia, claro, numa cidade pequena.
- Muito conveniente...
- Quieto, Piccolo. Você reclama mais do que a minha avó quando nos atrasamos para a ceia.
- Piccolo? Muito obrigado, agora sou uma criatura verde morta por um ser das trevas que gosta de rosa.
- Piccolo quer dizer baixinho, stupido.
- Encarnou a Mamma agora.
- Já que vocês não vão colaborar, acho melhor...
No meio do bate-boca, decidi interferir.
- E como exatamente vamos levar os instrumentos?
Silêncio.
- Acho que se eu pedir com jeitinho, o William leva pra gente depois.
- Então vamos ficar sem eles nos primeiros dias.
- E sem ter o que fazer.
- No fim do mundo.
- Sem ter como voltar.
- Sem civilização.
- Quase como sobreviventes. Nesse ritmo, vamos parar no Discovery Channel.
- Algum de vocês pensou na hipótese de acharmos um lugar com televisão? Assim, é só levar o DVD portátil e alguns filmes.
- Vocês estão pensando nas coisas menos importantes. Deixem de ser dramáticos.
Novamente, o sinal bateu.
Eu não sabia exatamente o que esperar das minhas férias.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
¹ Tipo de música tradicional japonesa.