Sexo, Escola e Rock And Roll escrita por Fernanda Lima


Capítulo 22
Piratas de Santa Catarina - No Fim do Mundo


Notas iniciais do capítulo

* Versão de Sabrina van Gerard *



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- Allen, você deve ter sido expulso do mundo dos idiotas por ser idiota demais! Onde já se viu, todos ficamos preocupados com você! Nunca mais faça isso de novo, ouviu? 

- Ok, mãe. 

- Eu vou te mostrar quem é a mãe aq... - Segurei o braço de Maria antes de um problema em potencial. Ao ouvir suas palavras, evitei pensar na culpa que sentia por aquilo tudo.

- Ciao. Que gritos são esses, Maria?

- Eu só estava falando pra esse monstrinho destruidor de privadas aqui o quanto ele merece apanhar.

- Privadas... como as coisas se espalham rápido.

Ela entrou na sala, dando a mão ao sempre neutro Jack. Acompanhei-a, pois fazia muito frio do lado de fora, de uma forma que eu não entendia como ela conseguia ficar confortável só com uma manga 3/4.

- Sabrina, vem cá! - Ela me chamou para o nosso canto sagrado, assim que pus meus pés na classe. Me sentei em meu lugar cativo, prevendo uma longa conversa.

- Você não precisa se sentir culpada pelo o que houve. As pessoas que fazem as besteiras são as únicas responsáveis por elas. Afinal, sempre há uma segunda opção, não é?

Eu ainda me assustava um pouco com o tal 'dom' que ela claramente possuía.

- Acho que sim... mas eu sei como o Allen se sente - Eu não precisava realmente ter dito isso. -, e queria fazer com que ele se sentisse melhor. 

Ela suspirou, se levantando.

- Acho que eu tenho uma ideia. Sabrina, você vai fazer alguma coisa nessas férias?

Acho que manter as minhas funções vitais não contava exatamente como 'alguma coisa'.

- Mesmo se eu quisesse...

- Ah, então passe a querer. Só preciso confirmar com nosso financiador.

Sem pensar muito no que aconteceria, só esperei em meu lugar. Cerca de 5 minutos depois, ela veio com os outros para perto da minha mesa. Estavam debatendo algo aparentemente sério.

- Bel, você é quase um pinguim. Você é.

- Exatamente, esse é o ponto. Sem diversão urbana, sem diversão ecoturística, não nos sentiremos tentados à desviar a atenção do que realmente importa.

- Então, basicamente é o seguinte: vamos para o meio do nada, no inverno, sem nenhum tipo de precaução ou material específico, e sem previsão de volta?

- Exatamente. 

- Esqueceu de um detalhe. Sob as suas custas, é claro.

- Na verdade, está mais para o Allen paga a metade e nós dividimos o resto.

- Ótimo, ideia fascinante.

- Quer saber, vocês estão muito acomodados. É uma oportunidade incrível para nos prepararmos para o segundo show de talentos, além de uma chance de ficarmos juntos e também mais independentes. Antes de vir para o Brasil, me mandaram para um acampamento, e a garotinha que não sabia passar duas horas sozinha virou uma grande desbravadora. - Ri mentalmente com a pose de Indiana Jones que Bel fizera.

- Desbravadora de quê, da loja de nozes? 

- Eu entrava no bosque do parquinho sozinha e voltava com uma cesta de frutas para a gente. Se dependêssemos de você, garotinha assustada, seríamos duas crianças morrendo de fome.

- Quer saber, Allen, acho que é uma ideia maneira. - Maria pulou em cima de Bel, e as duas bateram palmas num cumprimento.

- Não é o seu dinheiro, né?

- Jack, você está calado demais. Não tem nenhuma objeção?

- Claro que ele tem, esse friorento resmungão. - Allen cada vez mais parecia com uma criança, agindo daquela forma. Não no mau sentido. De um jeito adorável, até.

- Se vocês todos forem, eu serei forçado a ir junto. 

- Isso não foi uma afirmativa, sabe. Teria você algum motivo para não querer ir, Sr. Que-Geralmente-Topa-Tudo? - Um sorriso cínico surgiu no rosto de Maria.

- Ele tem sim.. - Bel tinha um olhar faceiro. - É que o Jackie tem hábitos péssimos quando está em casa, e tem vergonha de mostrar para os outros. Por isso ele não quer ir.

- Você não tem como provar.

- E você não tem como provar que eu estou mentindo. A não ser que vá e nos mostre.

- Não preciso mostrar nada a ninguém.

- Aquilo que fizemos com você e com o Allen, naquele dia. Não foi muito difícil. Maria?

Ela empurrou Allen em cima de Jack, com algum tipo de golpe de karatê que não consegui ver bem. De repente, toda a sala estava olhando para o garoto corado sentado no colo do maior. Eu não era exatamente fã desse tipo de coisa, mas achei a cena bastante comovente.

- Faremos o que quiserem. - Os dois disseram ao mesmo tempo, visivelmente cansados de discutir. Maria e Isabel trocaram sorrisos de satisfação.

- E você, Sabrina? - Maria mexia em meus cabelos, como sempre fazia ao esperar uma resposta afirmativa sobre algo. 

Prestando atenção na conversa deles, esqueci de me incluir nos planos. 

- Eu realmente não sei.

- Você é muito importante para a banda. Se não, a mais importante. Nós vamos pagar todas as suas despesas, sabemos que as coisas não estão fáceis pra você. E vai ser divertido, estaremos juntos. Você não tem planos melhores mesmo.

Bel chegou mais perto, cochichando algo em meu ouvido.

- É sobre Allen, também.

Tentei fingir que ela não havia dito nada.

- Tudo bem. Parece interessante. Eu só não queria incomodá-los...

- Deixa pra lá. Qualquer coisa, a gente te põe pra fazer algum solo extra.

O sinal bateu. Sem mais nenhuma palavra, havíamos acertado as nossas férias.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

Intervalo

Numa rodinha no corredor ao lado da sala, decidíamos os detalhes da viagem.

- Primeiro, todo mundo tem certeza que os pais deixam?

- Meu pai vai para alguma conferência estranha com homens de negócios do leste europeu.

- Vão decidir se você tem altura para alcançar os pedais do carro do próximo Don Corleone. 

- Muito engraçado, Yukai-sensei. No dia em que o meu pai for um mafioso, você vai ser uma cantora de enka¹.

- Calem a boca. Então, Bel, o seu irmão pode nos levar?

- Ovviamente! Na primeira semana de julho, então, estaremos indo, e voltaremos no início da segunda.

- E vamos para onde?

- Por sua conta, Allen. Num lugar com praia, claro, numa cidade pequena. 

- Muito conveniente...

- Quieto, Piccolo. Você reclama mais do que a minha avó quando nos atrasamos para a ceia.

- Piccolo? Muito obrigado, agora sou uma criatura verde morta por um ser das trevas que gosta de rosa.

- Piccolo quer dizer baixinho, stupido.

- Encarnou a Mamma agora.

- Já que vocês não vão colaborar, acho melhor...

No meio do bate-boca, decidi interferir.

- E como exatamente vamos levar os instrumentos?

Silêncio.

- Acho que se eu pedir com jeitinho, o William leva pra gente depois.

- Então vamos ficar sem eles nos primeiros dias.

- E sem ter o que fazer.

- No fim do mundo.

- Sem ter como voltar.

- Sem civilização.

- Quase como sobreviventes. Nesse ritmo, vamos parar no Discovery Channel.

- Algum de vocês pensou na hipótese de acharmos um lugar com televisão? Assim, é só levar o DVD portátil e alguns filmes.

- Vocês estão pensando nas coisas menos importantes. Deixem de ser dramáticos. 

Novamente, o sinal bateu. 

Eu não sabia exatamente o que esperar das minhas férias.


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Notas finais do capítulo

¹ Tipo de música tradicional japonesa.



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