For Once In My Life escrita por hatsuyukisan


Capítulo 4
Os Takashima


Notas iniciais do capítulo

Quem me conhece sabe como eu amo os capítulos família *-*



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Acordei na manhã de domingo, de súbito, achando que nós estávamos atrasados para a visita à casa dos Takashima. Havíamos combinado de sair de Tokyo às nove, para chegarmos lá antes do almoço. Olhei para o relógio e os números digitais marcavam 8:27. Não estávamos atrasados, ainda. E pra piorar, Uruha não estava deitado do meu lado como era de se esperar. Levantei e chamei por ele. Não estava no banheiro, nem na sala, nem na cozinha, nem em lugar nenhum no apartamento. Uma pontada de desespero tomou conta de mim. Notei que seus sapatos não estavam perto da porta, nem seu casaco. Ele havia saído. Peguei o telefone e disquei seu número com pressa. Ele atendeu pacientemente:

     - Alô?

     - Onde você tá?! Quer me matar do coração?

     - Tô comprando um anel pra você. – respondeu, como se nada fosse.

     - Um anel?

     - É. O que você acha que a minha mãe e minhas irmãs vão pensar se você não tiver um anel de noivado pra exibir? Não quer desapontá-las, quer? – riu um pouco.

     - É, não. – eu ri – Mas podia ter me deixado um bilhete pelo menos. “Hey amor, fui comprar uma aliança de noivado. Se eu não voltar em quinze minutos, ligue pra NASA, eu fui abduzido. Com amor, Kouyou.”

     - Desculpa. Da próxima vez eu vou lembrar disso. Tá pronta?

      - Quê? Não tô nem perto de estar pronta. Eu acabei de acordar.

      - Então desliga o telefone e mexa-se, menina, já tô passando aí pra te pegar.

      - Tá, tô esperando. – desliguei e fiz o que ele disse, o mais rápido que pude.

  Bom, pelo menos tentei. Quando comecei a me vestir, de repente, nenhuma das minhas roupas parecia dizer: “Olá, senhora Takashima, eu sou a mulher certa pro seu filho!”. Não consegui decidir se a maquiagem me fazia parecer menos sonolenta ou mais vulgar. Meu cabelo também não parecia disposto a cooperar comigo. Eu bufava olhando para os dois vestidos na cama, indecisa, quando ouvi Kouyou entrar no apartamento e depois no quarto dizendo:

      - Vamos, Anna! Eu disse pra minha mãe que nós estaríamos lá perto das dez. – ele olhou pra mim – Por que é que você ainda tá de pijama? Nós vamos nos atrasar.

      - Ah, me ajuda aqui. – peguei os dois vestidos – Qual dos dois? O florido não parece muito: “Hey, sou super-fofa, serei uma esposa perfeita e vazia!”? E o vermelho não parece muito: “Hey, sou uma vadia, vou sugar toda a energia sexual do seu filho até que só restem os ossos!”?

      - E o rosa? É bonito. – ele apontou um dos vestidos que eu tinha colocado de lado. – Eu acho que diz: “Hey, seu filho é louco por mim e eu farei dele o homem mais feliz do mundo” e além do mais... – enfiou a mão no bolso e tirou de lá uma caixinha de veludo -... Combina com o anel.

      - Kouyou... – eu olhei para o anel na caixinha, pasma – É tão... Caro.

      - Eu sei, mas eu achei que combinava com você.

      - Quer dizer... Olha o tamanho desse diamante!

      - No fim das contas, aquele contrato com a GemCerey me trouxe algo de bom. – ele sorriu e tirou o anel da caixinha.

      - Não! Espera, deixa eu me vestir antes. – corri pegar o vestido e me enfiei nele, requisitando a ajuda de Kouyou para fechar o zíper atrás, calcei as sandálias e finalmente respirei – Agora sim.

      - Quem diria, hein Anna? Logo você, toda empolgada com um anel de noivado – ele pegou o anel e colocou no meu dedo.

      - Eu sei. – encolhi os ombros – Mas você sabe como eu amo anéis. E esse além de ser ridiculamente lindo, tem um significado importante.

      - Tem mesmo. – ele me puxou para perto e beijou meu rosto. – Pronta?

      - É, tô. Mas pera... Você não acha que a maquiagem tá muito pesada?

      - Não. – respondeu, olhando para mim e segurando minha mão.

      - E o cabelo, não tá armado?

      - Anna, confia em mim: você tá linda. – sorriu.

      - Vê lá hein. – não pude evitar sorrir também.

      - Agora pega a bolsa e vamos andando. 

  Eu obedeci e nós descemos até a garagem, enquanto eu reclamava do quanto aquelas sandálias, apesar de bonitas, eram extremamente inconvenientes quando se tinha pressa. Entramos no carro e Kouyou dirigiu em direção à saída da cidade e eu continuava tagarelando, agora sobre o espelho do carro.

       - Deus, que tipo de mulheres esses fabricantes de carros acham que nós somos? Quem consegue retocar a maquiagem com um espelho desse tamanho? Eu juro... Se eu fosse fabricante de carros, eu faria um modelo só pra mulheres, com um espelho enorme e mil gavetas e talvez assentos estampados... Hum... É uma ótima idé-

       - Anna! – ele me interrompeu – Tá nervosa?

       - Não. Claro que não. – encolhi os ombros – Por que eu estaria? Não é nada demais e eu já conheço a sua família e tudo... Quero dizer... O que pode dar errado?

       - Não precisa ficar nervosa. – ele riu de mim.

       - Como você vai contar? 

       - O que você acha de: “Mãe, pai... saca só: eu e Anna vamos juntar os trapinhos, valeu?” – ele riu.

       - Cala boca. – fiz questão de dar-lhe um tapinha na nuca.

       - Não sei, Anna. Tô esperando que alguém simplesmente note esse pedaço enorme de carbono hipersólido no seu dedo e diga alguma coisa.

       - Como é que você consegue ficar tão calmo? Quer dizer, você não vai contar pros seus pais que comprou um hamster, você vai contar que vai casar. Casar, Kouyou.

       - Calma, menina. Eu conheço minha família, vai dar tudo certo. – sorriu.

   E ele tinha razão. Não tinha o que dar errado, não com uma família daquelas. Os Takashima eram daquele tipo de família que se vê nos filmes: uma mãe coruja, um pai que sempre tem algo bom para dizer, uma irmã prodígio, a outra extremamente ligada aos pais, e é claro, o irmão caçula, rebelado, mas tão gentil e doce quanto a mãe. E eu os adorava. Bom, quase todos eles. A irmã mais velha, Chieko, não era fácil de engolir. Sempre foi contra tudo que Kouyou fez, como todo irmão mais velho. E foi a mesma coisa comigo. Chieko nunca fez questão de esconder que não aprovava o nosso relacionamento, muito menos depois que fomos morar juntos. Ela dissera em uma das visitas que fizemos que não era certo invertermos a ordem das coisas, que havia algo muito importante a se fazer antes de ir morar junto. É claro que ela se referia ao que estávamos fazendo agora. Bom, pelo menos uma vez na vida Kouyou estaria tomando uma decisão que Chieko aprovaria.

   Quando ele parou o carro em frente a casa, Yuri, a segunda irmã, se encontrava no jardim, com a filha, Nanako.

     - Ojiisan! – a menina viu o tio descendo do carro e correu pelo portão, vindo de encontro a ele.

     - Nanako-chan! – Kouyou recebeu a menina de braços abertos e esta se pendurou em seu pescoço. – Como vai a minha sobrinha preferida?

     - Vou bem. – ela sorriu o mesmo sorriso do tio – E o meu tio preferido?
     - Hey, não me engane... Eu sou seu único tio. – ele riu.

     - Como coisa que você tem mais que uma sobrinha. – Nanako deu de ombros.

     - Kouyou! – a mãe da menina se aproximou, abraçando o irmão – Como vai?

     - Ótimo, e você?

     - Também. – respondeu, e então voltou-se para mim – Oi, Anna. Tudo bem?

     - Tudo. E você? – tentei disfarçar o nervosismo com um sorriso.

     - Tudo bem. – ela sorriu gentilmente – Vamos, vamos entrando.

     - Ojiisan! Me ajuda a convencer a okaasan a me deixar fazer aulas de violão? – a menina puxava o tio pela mão enquanto nós andávamos até a cozinha.

     - Já? Mas você só tem sete anos! – disse Kouyou, em tom de deboche.

     - Oito! Eu tenho oito! – ela bateu o pé no chão com força.

     - Seu tio mal chegou e vocês já estão de birra, Nanako? – Haruko, minha futura sogra, andou até o filho quando o viu entrando na cozinha.

     - Oi, mãe. – disse Kouyou, enquanto sua mãe o olhava da cabeça aos pés, com um brilho materno no olhar.

     - Ah, meu filho! Me dê um abraço! – e puxou-o para um abraço apertado – Que saudades que eu tenho do meu pequeno Kouyou.
     - Ah, pelo amor de Deus, Haruko, seu pequeno Kouyou já tem quase trinta anos! – o senhor Takashima entrou sorrindo, aproveitando para dar um tapinha gentil nas costas do filho quando este se viu livre dos braços carinhosos da mãe.

     - Anna! Minha querida! – finalmente ela se voltou para mim. – Deixe-me dar uma boa olhada em você. Cada dia mais bonita. – pegou em minhas mãos e ao fazê-lo, esbarrou no que Uruha chamaria de “pedaço enorme de carbono”.

   Ela olhou para o anel e ficou calada por alguns momentos, só olhando, dando tempo para que todos também olhassem. Os segundos se arrastaram enquanto eu esperava por alguma reação. Haruko olhou do anel, para o filho, para o anel mais uma vez e então para mim, como se esperasse que eu dissesse alguma coisa. E a minha resposta se resumiu em um encolher de ombros, um sorriso e um rubor inacreditável nas bochechas. Eu esperava que ela fosse sorrir de volta e então se voltar para o filho e abraçá-lo e beijá-lo. Mas do contrário, eu fui o alvo dos abraços e dos beijos, comportamento tal que não se esperaria de uma senhora japonesa. Eu ri, em meio aos abraços e risos e palavras interminadas enquanto os outros pareciam tomar parte da situação.

     - Anna! – ela segurou meu rosto entre as mãos – Oh, Anna! Eu nem acredito!

     - Pois é. – respondi, sem graça.

     - Kouyou! Venha cá! – puxou o filho pelo braço e colocou-o do meu lado. – Ah, meu Deus! Kouyou!

     - Eu sei, mãe. – ele sorriu, quando a mãe o abraçou tão apertado que eu jurei que ele fosse sufocar.

     - Parabéns, filho. – o senhor Takashima se juntou à cena, puxando o filho para um abraço – Anna, tenho plena certeza de que fará meu filho muito feliz. – e então eu me limitei a receber um abraço do meu futuro sogro.

     - Bem vinda à família, Anna! – mal tive tempo de pensar e logo foi a vez de Yuri me abraçar.

     - É, Haruko, seu pequeno Kouyou ficou na história. – o senhor Takashima abraçou a esposa pelos ombros.

    - Oh, Deus! – ela começava a derramar algumas lágrimas – Nosso filho é um homem!

    - Tio, eu vou poder levar as alianças né? – Nanako perguntou.

    - Levar que alianças? – interveio uma nova voz, vinda de Chieko que acabara de entrar na cozinha.

    - Kouyou, vai casar Chieko! – respondeu Haruko, tentando conter soluços.

    - Vai? – a mais velha olhou para o irmão.

    - Vou. – ele me abraçou pelos ombros, como se me protegesse de qualquer coisa de ruim que Chieko pudesse vir a dizer.

    - Já não era sem tempo. – esboçou um sorriso, para minha surpresa. – Parabéns.

    - Obrigada. – respondi, sorrindo.


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Notas finais do capítulo

reviews né gente *choraminga* amo vocês todos, então me correspondam ;_; give me some sugar



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