For Once In My Life escrita por hatsuyukisan


Capítulo 15
O Resto de Nossas Vidas


Notas iniciais do capítulo

PENÚLTIMO! *chora num cantinho*



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 À noite me vi sozinho no apartamento, coisa que não acontecia há quase dois anos. Vesti-me em frente ao espelho e sentei-me para esperar Reita e os outros. Eram nove horas quando eles tocaram a campainha, já parcialmente bêbados, falando alto e tropeçando. Entramos num carro, com um Ruki sóbrio ao volante, e aí a festa começou oficialmente. Pouco me lembro. Mas sei que fomos a um bar, um karaoke e mais tarde um clube de strip e aí me lembro de ter um sutiã pendurado no pescoço. Mesmo eu, conhecido pelo sangue solúvel ao álcool, cheguei em casa sentindo que o chão era feito de almofadas. Tempos depois, olhando as fotos daquela noite, nós riamos do acontecido, mesmo sem recordar totalmente.

 Acordei no outro dia com a luz do sol, batendo forte no meu rosto. Minha cabeça doía e eu cheirava a perfume barato. Sentei-me na cama, voltando a mim lentamente, me dando conta de que me casaria dali a poucas horas. Não, eu não podia casar com aquela dor de cabeça toda. Arrastei os pés até a cozinha, vendo Reita e Kai esparramados no meu sofá e no chão ao passar pela sala, abri a geladeira e desci goela à baixo o primeiro líquido que vi. Voltei à sala e sacudi meus dois amigos, acordando-os. Eles resmungaram algumas coisas e começaram a se mover como se não o fizessem a muito tempo. De volta ao quarto, tratei de me enfiar embaixo de uma ducha fria, forçando a sobriedade a voltar. Enquanto no chuveiro, Kai apareceu, batendo na porta, com meu celular na mão e resmungou: "Seu pai". Atendi, e então tentei explicar ao meu pai como ele chegava ao meu apartamento. Não tenho certeza se minha explicação foi suficiente, já que ele só apareceu vinte minutos depois.

  - Bom dia, filho. - disse, sorrindo quando abri a porta.

  - Bom dia. - respondi, baixinho.

  - Como foi a noite de ontem? - meu pai riu, me lembrando de onde eu tinha herdado a minha personalidade.

  - Ainda bem que só acontece uma vez na vida, pai. - larguei-me no sofá, jogando a toalha úmida sobre o rosto.

  - Ah Kouyou, você vai rir muito disso quando os anos passarem. - o velho riu mais, dando-me uma palmadinha carinhosa no ombro.

  - E aí seu Shima... - disse Reita, saindo da cozinha.

  - Ô Akira, isso lá é jeito de falar com o meu pai? - se eu tivesse força o suficiente eu o teria cutucado.

  - Como vai, Akira? - meu pai levou na boa, como sempre.

  - Tudo certo... - o baixista suspirou colocando as mãos na cintura, dando a entender que ele não raciocinava direito pra encontrar algo mais sucinto pra dizer - Bom, nós temos que ir... Sabe como é... Tomar banho, dar um jeito na ressaca... Mas logo a gente se encontra no hotel. - deu um tapinha no meu ombro - Kai! - berrou - Vâmo Kai!

  - Tô indo. - o baterista apareceu, saído da cozinha, tão descabelado quanto eu jamais o vira e seguiu Reita porta a fora, ainda bêbado demais pra dizer alguma coisa.

  - A que horas a gente tem que estar no hotel? - perguntei.

  - Às duas.

  - E que horas são agora?

  - Quinze pra uma. - disse, olhando para o relógio.

  - Tô atrasado?

  - Não exatamente. - riu - Mas se demorar muito pra ir se vestir vai estar. Você ainda precisa comer alguma coisa, Kouyou, senão não vai parar em pé.

  - E ninguém quer cair de fome no próprio casamento, não é mesmo? - levantei e fui me vestir.

 Quando saí do quarto, meu pai veio ao meu encontro com um copo de leite e uma rosquinha na mão. Eu comi e bebi enquanto ele falava sobre como eu deveria parar de descolorir o cabelo e adotar um corte mais tradicional. Então nós descemos até a garagem e eu deixei meu pai dirigir, mesmo que eu já estivesse me sentindo bem melhor. Quando chegamos ao hotel, havia um caminhão e duas vans identificadas pelo logotipo da empresa de festas e do buffet estacionados na frente, e várias pessoas entravam e saíam carregando arranjos de flores, toalhas, castiçais e coisas do tipo. Fizemos caminho através do tumulto de flores e enfeites e entramos no elevador.

  - Tudo isso é pro meu casamento? - perguntei.

  - É sim. Sua mãe e suas irmãs estão aqui desde as sete.

  - Dá tanto trabalho assim?

  - Acho que não. Mas sabe como são as mulheres, não é mesmo? - ele riu e nós saímos do elevador, entrando no quarto que ficaria à disposição do noivo durante todo o dia, logo em frente ao da noiva.

  - Ouviu isso? - apontei o outro lado do corredor, de onde vinha um burburinho feminino.

  - Ouvi. - otousan riu. - Sua mãe disse que deixaria o hakama em algum lugar por aqui... - perambulava pelo quarto a procura do hakama.

  - Otousan... - chamei sua atenção - Tô fazendo a coisa certa? - sentei-me na cama.

  - Oh, absolutamente sim, Kouyou. - respondeu, com um sorriso - Pode ser que um dia você queira que a Anna suma da sua frente e pare de reclamar do que você faz ou deixa de fazer, mas aí você vai pensar neste dia e lembrar porque é que casou com ela. Porque afinal, mesmo que ela venha a ser irritante daqui a dez ou vinte anos, ela ainda vai ser a mulher da sua vida.

  - Ela é sim... Deus sabe o que seria de mim sem ela... - suspirei e meu pai sorriu para mim.

  - Ah, aqui... O hakama. - encontrou a caixa em cima da cadeira. - Vejamos... - e então pareceu falar para si - O fraque está no cabide no armário e... - alguém bateu a porta, interrompendo meus pensamentos, mas não o monólogo do otousan. Fui abrir.

  - Oi, oi, oi, oi... Chegamos! - Akira apareceu do outro lado, com o terno pendurado em um cabide, e atrás dele Aoi, Ruki e Kai. Eles entraram todos, cumprimentando meu pai ao fazê-lo.

  - Cara... Vocês ouviram essas mulheres aí do outro lado? - Ruki riu, largando o terno em cima da cama.

  - Tá quente aqui dentro... - Aoi correu abrir as janelas.

  - Ah Uru, a Hime vem aí te dar uma mão com o seu cabelo. - disse Kai, pendurando os ternos no cabide.

  - Kouyou, você trouxe um frasco de perfume, não trouxe? - perguntou meu pai.

  - Hey, hey, hey... Vocês já tão parecendo as mulheres do outro lado do corredor. - eu ri - Calma... Aoi, fecha as janelas e liga o ar condicionado. Kai, obrigado por lembrar desse detalhe. E sim pai, eu trouxe perfume. Satisfeitos? Agora relaxem...

  - Ok, o Uruha é oficialmente o cúmulo do "my pace"... - riu Yutaka.

  - O cara consegue ser "my pace" até no dia do próprio casamento. - completou Takanori.

  - Só tô tentando ficar menos nervoso do que já estou. - retruquei, respirando fundo. - Mas vocês têm que cooperar, poxa vida...

  - Hey! Tem champagne aqui! - disse Reita, com a cabeça quase dentro do frigobar. Tirou a garrafa de dentro e me entregou.

  - Isso é coisa da Anna... - abri o bilhetinho que veio colado no gargalo e li: "Pro meu bêbado favorito... Com amor, Anna ". Ri sozinho e então me ocupei em abrir a garrafa.

 Servimos as taças e brindamos às minhas últimas horas como um homem solteiro. Depois de terminarmos a garrafa, otousan me ajudou na tarefa de vestir o hakama. Atrás de mim, Reita ria e dizia: "Quem diria, Shima... Quem diria". E de fato, quem lembrasse do moleque que passava a tarde jogando bola nunca imaginaria que ele chegaria aqui: bem sucedido no que faz, feliz, se casando e se preparando pra assumir a vida de homem de família.

 Depois que já tinha me vestindo, Hime, a cabeleireira que nos acompanhava nas turnês, apareceu para ajeitar meu cabelo. Veio munida de secador, chapinha, cremes, pomadas e spray. Eu ri e pedi que deixasse tudo aquilo de lado, afinal eu estava casando e não me apresentando no Budokan. Para a felicidade do meu pai, ela arrumou meu cabelo de um jeito discreto mas bonito; parecido com o que usei em Regret, pra que não chamasse atenção, mas que não deixasse de ser a minha cara.

 Assim que Hime saiu correndo pela porta, tagarelando sobre estar atrasada e ainda ter que se vestir para a recepção, um funcionário do hotel veio entregar o guarda-sol vermelho usado na cerimônia. Meu pai terminava de arrumar o próprio hakama quando se virou para mim dizendo:

  - Pronto, Kouyou?

  - Tão pronto quanto jamais estarei. - respirei fundo.

  - Eu vou avisar a sua mãe. - e então atravessou o corredor e foi bater à porta de frente.

  - Já são cinco e meia? - engoli em seco, olhando para meus amigos em volta de mim.

  - Cinco e trinta e dois, meu amigo. - Aoi me deu um tapinha nas costas.

  - Já?! Meu Deus... O tempo voou.. - eu suava frio.

  - Elas estão prontas e a família da Anna já está esperando lá embaixo. - otousan voltou ao quarto.

  - É agora, Shima! - Reita me deu um abraço apertado que eu nem pude retribuir por estar em completo estado de choque.

  - Ah Deus... - murmurei, quando meu pai me puxou pra fora do quarto.

  - Vemos você na recepção! - Ruki acenou junto com os outros de dentro do quarto.

  - Vamos descendo, filho. Logo elas descem também. - e me empurrou pra dentro do elevador. - Relaxa, menino... - disse, vendo que eu estava pálido.

  - Ok... - expirei e inspirei devagar, tentando me acalmar.

 Ao chegar no lobby, uma dúzia de sicilianos já esperavam sentados, bebericando alguma coisa, junto com a parte da minha família que participaria. Só a família mais próxima estava ali, já que Anna e eu decidimos que a cerimônia religiosa se limitaria aos familiares. O senhor Osaki aproximou-se, cumprimentando a mim e ao meu pai. Logo Don Angelo e seus irmãos vieram apertar minha mão. Poucos minutos passaram, mas eu jurava que fora uma eternidade, até que Anna finalmente descesse, acompanhada de sua mãe, sua avó e minha mãe. Elas saíram do elevador e eu me lembrei do porquê estava ali, me casando. Eu soltei o ar que até então segurava sem perceber quando vi Anna, parecendo uma pintura, andando na minha direção com um sorriso nos lábios. Era ela o motivo. Não só de me casar, mas de tudo. Era por Anna que eu existia. Sua mão alcançou a minha e eu a trouxe mais para perto de mim, desejando poder passar o resto dos meus dias olhando para ela naquele kimono. Ela não pôde conter um sorriso quase infantil quando eu sorri deslumbrado, olhando para ela.

  - Você também tá muito bonito. - disse baixinho.

 Enquanto caminhávamos lentamente através do jardim até o templo, mil coisas passaram pela minha cabeça. Vi-me segurando a sombrinha vermelha tradicional sobre uma Anna absurdamente bonita, com as cerejeiras floridas de cenário, e lembrei de tudo que passamos pra chegar até ali. Era verdade que há muito tempo eu já me sentia ligado à Anna de uma forma que dava a entender que seria pra sempre, mas estar ali, dividindo o saquê, fazendo juramentos, firmando aquele compromisso que já existia, na presença das duas famílias, era definitivamente o começo de uma nova época das nossas vidas. Eu soube que dali pra frente, eu não mais pertenceria à família dos meus pais, e passaria a pertencer à minha própria. De alguma forma, enquanto éramos apenas namorados, mesmo morando juntos, eu sentia que ainda pertencíamos a cada um de nós dois. Mas agora, selando um pacto que determinava que minha alma era dela assim como a dela era a minha, senti que já não éramos donos de nós mesmos, e sim donos do amor que nos unia. Vi Anna derramar uma lágrima quando trocamos as alianças, e eu sabia exatamente o que ela estava sentindo. Tenho certeza de que aquela era a mesma emoção que me inundava.

  Depois que nos sentamos para tirar a foto, os membros das famílias se saudaram. Fiquei surpreso ao receber um abraço quase caloroso do avô de Anna, seguido de uma palmadinha amigável no rosto e um esboço de um sorriso. Minha mãe engoliu um soluço quando me abraçou com força, passando a mão nos meus cabelos. Eu sorri e enxuguei-lhe uma lágrima. Depois de alguns minutos de abraços, desejos de felicidade, lágrimas e sorrisos, nós retornamos ao prédio do hotel e fomos direto ao salão de recepção, onde nossos amigos e o resto dos convidados esperavam.

 Ao entrar, de braço dado com Anna, vi um salão impecavelmente decorado com arranjos de lírios e rosas brancas, castiçais altos de prata, toalhas de linho bordadas e taças de cristal. É, eu havia casado com a mulher certa. Todos os olhos se voltaram para nós enquanto andávamos até a mesa que havia sido reservada para nós e nossos pais. Assim que nos acomodamos, o senhor Osaki se levantou e propôs um brinde, dizendo algumas palavras bonitas sobre o quanto estava feliz de ver sua filha se casando. Nós sorrimos, nos beijamos, recebemos abraços dos amigos mais próximos e presentes das famílias, tiramos algumas fotos, assinamos o documento, junto com Anna e Reita, e então ele me acompanhou até o quarto, assim como Tsuchiya acompanhou Anna, para a troca de roupa.

  - E aí? Como se sente? – perguntou Akira, tirando meu fraque do cabide enquanto eu desatava os laços do hakama.

  - To flutuando, Suzuki. – sorri.

  - Dá pra ver pela sua cara. – ele riu um pouco, me alcançando a camisa.

  - Eu nunca tive tanta certeza de que quero mesmo uma coisa, Reita. – abotoei as calças e coloquei o colete.

  - To feliz por você, Shima. – sorriu, me ajudando a ajeitar a gravata.

  - O seu dia vai chegar, Ue-chan. – eu não conseguia parar de rir.

  - É o que me parece. – ajudou-me a vestir o fraque. – Agora deixa eu ir chamar a minha Anna.

  - Vai lá. Logo eu desço com a minha. – dei-lhe uma palmadinha no ombro antes que saísse pela porta.

 Olhei-me uma última vez no espelho, gostando do homem feliz que via refletido ali, pensando no quanto esperara por esse momento.


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Notas finais do capítulo

Tá acabandinho ;_: Mas agora tem fic nova gente. Aguardem que logo vocês serão introduzidos ao universo de "Change your life" *-*