For Once In My Life escrita por hatsuyukisan


Capítulo 14
Meeting the parents


Notas iniciais do capítulo

Férias H1N1 tão me deixando postar *-*



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 Um mês inteiro passou entre trabalho e mais detalhes da cerimônia a serem acertados. Comprei um par de bonitas alianças de platina, simples e elegantes; clássicas, e entreguei-as a Reita para que guardasse, sendo ele o padrinho. Numa terça-feira de folga, arrastei todos eles até a loja de roupas formais que Anna havia escolhido, já que previamente ela me dissera que aquele era um momento que eu devia compartilhar com meus melhores amigos. E de fato era. Então lá estávamos nós, vestidos formalmente, olhando-nos em espelhos enquanto o alfaiate marcava os ajustes que deviam ser feitos.

   - Hey, Ruki... Você quase pode fazer um outro terno com o que sobrar da barra da calça. - implicou Aoi, ao ver o baixinho saindo do provador com as calças arrastando.

   - Vá pro inferno, Shiroyama. - o vocalista enfezou-se, subindo num banquinho pra que o costureiro pudesse marcar a medida da barra.

   - E então Shima, pronto pra virar homem de família? - Kai veio me dar um tapinha no ombro.

   - Uma única vagina pro resto da vida. - disse Reita, rindo.

   - Escolham bem suas vaginas, rapazes. - completei, ajeitando a lapela do fraque em frente ao espelho.

   - Agora não tem mais volta, meu amigo. - o baixista parou no meu lado, arrumando a gravata que usava.

   - Nunca teve volta, Ue-chan. - respondi-lhe - Desde que a conheci, não houve mais volta.

   - Você a ama tanto assim? - perguntou Shiroyama.

   - Não. - disse, vendo os outros quatro arregalarem os olhos - Muito mais do que isso, na verdade. - eles suspiraram aliviados.

   - Não consigo imaginar outra mulher que combine tanto com você, Uru. - comentou Ruki, descendo do banquinho. - Não é todo dia que se encontra sua alma gêmea, não é mesmo?

   - Todo Jack tem sua Jill. - acrescentei, tentando arrancar um sorriso do baixinho.

   - Falando nisso... - Kai começou - Por que não nos conta sobre a sua nova Jill, Reita? - riu.

   - Tsuchiya, hã? - Aoi cutucou o baixista, arqueando a sobrancelha. - Ruki, só falta você.

   - É, só falta eu. - resmungou o ruivo, entrando no provador.

   - Falei algo de errado? - o moreno olhou para cada um de nós. Eu respirei fundo e voltei a ajeitar o fraque.

   - Quando chegam os italianos, Uru? - perguntou o baterista, fechando as abotoaduras do terno que usava.

   - No dia 29. Vai ter um almoço na casa dos meus pais... - comentei - E depois nós vamos levar o avô da Anna pra conhecer a casa em Meguro.

   - Sério? Isso me parece... Uma enrascada, cara. - Kai riu.

   - Nem me fale. Juntar duas famílias de universos completamente diferentes, que nem sequer falam a mesma língua é loucura mesmo. - suspirei, e então me virei para o alfaiate - Dá pra apertar as mangas e ajustar um pouco o corpo?

   - Sim, senhor. - o homem respondeu, vindo na minha direção, munido de agulhas.

   - Mas vai dar tudo certo... - Yutaka sorriu amigavelmente, tentando me injetar um pouco de ânimo, como sempre fazia com todos - No fundo todas as famílias são iguais, não importa se são italianas, japonesas, americanas ou russas... Família é família em qualquer lugar do mundo.

   - Deus te ouça, Kai.

 Assim que o alfaiate terminou de marcar os ajustes no meu fraque e eu vesti minhas roupas, chamei Ruki para conversar, separado dos outros. Tinha visto o baixinho triste demais, e tinha certeza que era por conta da história toda do Reita. Devia mesmo ser difícil pra ele encarar tudo aquilo normalmente. Ele me jurou que por ele tudo bem, mas eu custei a acreditar.

   - Tem certeza, Ruki? Entendo que seja difícil pra você ver o Reita saindo com alguém desse jeito.

   - Não, Uru. Não é esse o problema. O Reita pode sair com quem ele quiser. Eu e ele, nunca daria certo. Quero dizer, é loucura sabe.

   - Mas vocês nem sequer tentaram e ele já saiu com outra pessoa e tudo mais...

   - Quem disse que nós não tentamos? - o ruivo me olhou, me fazendo entreabrir os lábios, surpreso - A gente sentou no apartamento dele e... Bom... Tentamos.

   - Tentaram...? - receei perguntar.

   - Tentamos... Nos beijar e tudo mais. - ele corou.

   - Nossa... Ok, eu imaginei e foi bem estranho. - engoli em seco, tentando me livrar da imagem dos meus dois amigos aos beijos.

   - Se pra você é estranho, imagine pra nós dois. - Ruki riu um pouco - É verdade que eu tenho um carinho especial pelo Reita, e faz tanto tempo que eu não saio com uma garota que acabei confundindo com atração. Mesma coisa pra ele.

   - Entendo... Se quer saber minha opinião, nunca achei que nenhum de vocês dois tivesse vocação pra ser gay. - eu ri, meio contrariado.

   - E você tem razão. Eu não levo jeito. Muito menos o Reita. - riu, envergonhado.

   - Então o fato dele estar saindo com a Anna realmente não te incomoda?

   - Não mesmo. Fico até feliz por eles. Mas o que me incomoda é estar sobrando... - corou mais um pouco - Sabe, você vai casar, o Kai tá praticamente amarrado com a Miyazaki, o Reita tá superfeliz saindo com a Anna e até mesmo o rabugento do Aoi arranjou uma namorada... Me sinto meio deixado de fora as vezes. Sei que parece infantilidade mas...

   - Não é infantilidade. Só consigo imaginar como você se sente... Mas hey, vai passar. - toquei-lhe os ombros, amigavelmente - Lembra? Todo Jack tem sua Jill. Mais cedo ou mais tarde você vai encontrar a sua Jill, Ruki, não se preocupe.

   - Tomara, Uru, tomara... - forçou um sorriso.

 E então os italianos chegaram, como um furacão, muitos deles... Falantes e espaçosos. Nós os recebemos no aeroporto e os levamos até o hotel. No curto encontro no saguão do aeroporto, fui apresentado a vários rostos novos: primas, primos, velhos amigos, parentes distantes, padrinhos e por aí vai. Dentre eles, guardei dois em especial: o irmão e a amiga. O irmão, Luca, batizado assim em homenagem ao tio, era alto, de pele morena escura como a maioria da família, cabelos grossos e negros e traços fortes; não fez questão nenhuma em sorrir ao apertar-me a mão. Figura difícil, logo vi. E a amiga, Sarah. Velha amiga de infância, com quem Anna estudou no colégio britânico para onde foi mandada. Sarah Whitman era inglesa, longos cabelos ruivos enrolados, pele branquíssima e uma espontaneidade impressionante. Pelo que entendi, ela e Anna eram grandes amigas durante o colégio, mas Sarah mudara-se para a América do Sul com os pais e passara a viajar muito, fazendo com que as duas perdessem um pouco do contato. No caminho até o hotel, junto com o pai de Anna no banco traseiro de um carro, ela me contara que enviara o convite a Sarah, mas não imaginava que ela viesse, já que nem ao menos sabia se aquele era mesmo seu endereço.

  - Cara... Não acredito que a Sarah veio! - ela continuava extasiada, sentada entre eu e seu pai - Faz o que? Uns... Dez anos que a gente não se vê pessoalmente.

  - Ela ligou lá pra casa pra saber se era realmente verdade. - comentou o senhor Osaki, rindo.

  - Ela só se muda e se muda e se muda... - Anna riu - Eu mandei o convite pro endereço de Londres mas não tinha idéia se ela sequer morava lá ainda. - respirou fundo - Hey, pai... Quão bravo o vovô realmente tá?

  - Ah, bastante... - ele riu - "Como pode a Anna negar o batismo?" - imitou a voz do sogro.

  - Ele vai superar. - Anna riu também. - Me sinto uma rainha agora... - pegou na minha mão e na mão do pai - Sentada entre os homens da minha vida.

  - Que responsabilidade, hein rapaz? - senhor Osaki me olhou, sorrindo.

  - Ele dá conta... - ela encolheu os ombros, olhando para mim.

  - Se você o escolheu, tenho certeza que ele dá.

  - Eu dou o meu melhor. - completei, retribuindo o sorriso de Anna.

 Nós levamos os italianos até o hotel. Anna dividiu-os nos quartos, entregou-lhes as chaves e eles trataram de se acomodar, preparando-se para descansar, recuperando-se da mudança de fuso. No outro dia, nós levaríamos Don Angelo, sua esposa e ambos os pais de Anna para conhecerem a casa em Meguro. Eu só podia esperar que Don Angelo considerasse a casa boa o suficiente pra sua neta. Na sexta ao meio-dia, nós os levaríamos à casa dos meus pais para o almoço e então à noite Anna e eu saíriamos separados, com nossos amigos pra as despedidas de solteiro. E no sábado... O grande acontecimento.

 Na manhã de quinta, passei no hotel buscar Anna e sua família. Os cinco entraram no carro calados. Anna sentou no banco da frente e beijou-me a bochecha. Eu apenas sorri, retribuindo os "bom dias" bilíngües que me deram. Dei a partida e dirigi até Meguro. No caminho Anna falava em italiano, apontando alguns pontos da cidade e comentando sobre como era sua vida em Tokyo. Estacionei em frente à casa e então descemos todos. Don Angelo parou na calçada, pôs as mãos nos bolsos, olhou longamente para a residência e torceu um pouco os lábios. Eu temi a desaprovação dele. A avó de Anna parecia animada, quando entramos ela deixou-se guiar pela neta através dos cômodos, sorrindo e comentando incessantemente. O senhor Osaki aproximou-se de mim, tocando meu ombro e disse:

   - É uma ótima casa, filho.

   - Ah, obrigado. - respondi, cordialmente.

   - Quanto ha costato? - Don Angelo interveio.

   - Ele perguntou quanto custou... - senhor Osaki traduziu.

   - Ah... 136 milhões. - corei um pouco, por algum motivo.

   - Cento e trenta-sei milioni di yen...Più o meno cento otto e trenta mille di euro. - o senhor traduziu de volta ao sogro.

   - Costato caro... Si può pagare? - dirigiu-se a mim.

   - Ele pediu se você pode pagar...

   - Ah, sim. Posso, sim. - respondi, e então Osaki voltou a traduzir.

   - È una buona casa. - disse Don Angelo, sorrindo e me dando um tapinha amigável nas costas, me fazendo suspirar aliviado.

 Até agora tudo bem. Eles entraram em todos os cômodos, examinando-os cuidadosamente. Don Angelo sorria discretamente quando a neta o levava pelos quartos, mostrando tudo. E eu não podia estar mais aliviado. Quando terminamos de ver os quartos e descemos até a sala de estar, que já estava mobiliada, Anna virou-se para a mãe e perguntou:

   - Mãe... O que você achou? - todos olhamos para Paolina, ansiosos pela sua resposta. Ela olhou em volta e então esboçou algo próximo a um sorriso, dizendo:

   - Combina com você.

 Essa foi a conversa mais amigável que eu vi Anna ter com sua mãe até aquele dia. Eu notava como era difícil para as duas conversarem normalmente. Algo em mim me dizia que Anna era parecida demais com a mãe e esse era justamente o problema. Talvez a mãe não soubesse como reagir ao ver a filha tendo a oportunidade que ela própria não teve: casar com o homem que ama e ser feliz com ele. Mas de alguma forma eu percebi, que a partir daquela tarde, as coisas melhoraram razoavelmente entre as duas. O que foi um alívio, eu confesso. Eu realmente não sabia como agir na presença dela, não sabia se devia conversar com ela ou se devia permanecer calado. A partir daquele dia, tudo se tornou um pouco mais claro. Não que os ressentimentos houvessem acabado, mas estavam se extinguindo lentamente.

 Logo na outra manhã, nós levamos uma comitiva um pouquinho maior de italianos a Kanagawa na casa dos meus pais. Minha mãe nos esperava com uma mesa farta. Todos trocaram cumprimentos gesticulados, lembrando vagamente Tarzan e Jane. Mas apesar das constantes traduções e da mímica em excesso, tudo correu muito bem. Os italianos saíram dali bem alimentados e felizes, porque apesar das diferenças, as famílias se deram muito bem. Anna tinha razão: mesmo que quisessem outro desfecho para a história da vida de Anna, nenhum deles se mostrou explicitamente descontente com a atual situação. Mas Anna constantemente me lembrava de que aquilo tudo era fachada e que sicilianos não costumavam deixar transparecer o que realmente pensavam. De qualquer forma, não houveram desentendimentos, e isso já é bom o suficiente.

 


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Notas finais do capítulo

Faltam só dois capítulos genteeeeeee DDDDDD:



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