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BM
ID: 662756
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  • 21/02/2016


  • “A cidade hoje é um amontoado de tias velhas rebocadas de batom e cobertas de joias para cobrir uma essência já perdida. Os prédios nascem do concreto imundo de entulho e cobrem o céu, os pássaros, os olhos de quem olha o horizonte e as estrelas mortas há um bilhão de anos. Dos muros crescem finas e impermeáveis paredes, tão cheias de tecnologias e isolantes sonoros que ninguém mais ouve os gritos no escuro de ninguém. Só quando acaba a luz é uma festa. As famílias se encontram nas salas e os vizinhos comunicam-se incessantemente. As velas esquentam a rocha artificial dos grandes arranha-céus. Mas basta a companhia de energia restabelecer o funcionamento, que a vida se enche de transtorno. Há melancolia e depressão, há suicídios e pequenas doses de rivotril. Há o déficit de atenção, a insônia, a ansiedade, a gastrite, o bullying e todas as doenças dessa geração que nasce e morre sem conhecer a rua de trás. Há os jovens que desesperados tornam-se poetas em suas sacadas de encontro aos postes de energia elétrica e aqueles que, em busca da paz de espírito, viajam o mundo, sem nunca percorrer seus próprios bairros. A cidade arrancou as árvores e construiu viadutos imensos. Não se vê mais o fim da rua. As luzes ofuscam o brilho dos olhos. E nos pequenos espaços, as pessoas se descobrem incapazes de conviver com seus próprios corpos. Que dirá com corpos alheios. Não há válvula de escape, o horizonte é um skyline lotado.”                                 

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    Bianca Ramos mudou seu nome para BM21/02/2016