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Noctis Astrum
ID: 613658
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  • 19/07/2015


  • Querida folha de papel. Eu não sei como começar isto. Não sei que palavras usar, não sei quais frases se encaixariam perfeitamente ao que eu quero dizer. E provavelmente você não entenderá, mas quero logo ir lhe falando que tudo bem você não me entender; nem eu mesma ás vezes, me entendo. E lhe digo que não é só o começo desta conversa que eu não sei lidar. Eu não sei reagir a prováveis começos. E lhe digo mais; nem com meios e fins, também. Nas minhas histórias eu nunca sei quando é que é necessário usar a vírgula, e por mais triste e evitado que seja - pelo menos por mim, o ponto final. Mas também não gostaria de saber quando usa-lo. Não sou muito fã de fins; Nunca fui. Tenho uma certa antipatia por finais. Então, com toda certeza do mundo, se soubesse quando ele chegaria, não ficaria para lhe dar as boas-vindas. Estou lhe escrevendo por necessidade, por precisão, por almejar demais colocar tudo que tem aqui dentro para fora, e não saber como. Um anseio quase que opressor - se é que podes me entender. De tirar tudo isso de mim como quem joga coisas que não mais servem, no lixo. Tudo me cansa fácil. Tudo me agride, me maltrata, e me judia demais. Ás vezes - muitas vezes, sinto-me ridiculamente sensível. Como um vidro, que quando não se tem cuidado, pode cair e quebrar. Mas ao contrário do vidro, quando eu quebro, eu não machuco, pelo menos não ás outras pessoas; eu me isolo. Eu sumo do mapa, eu desapareço, e ás vezes, nem eu me acho. Eu me tranco dentro de mim mesma, até que todos os meus pedaços estejam colados outra vez, pra vir outro alguém e me quebrar de novo. E este é o ciclo, sabe? Quebrar-me, reconstruir-me, quebrar-me, reconstruir-me, e por aí vai. Só que assim como uma casa velha, é reformada; O meu alicerce continua da mesma maneira. Os sorrisos podem disfarçar as rachaduras que há em mim, assim como o cimento produz a visível fechadura de uma casa, mas isso não a impede que fique velha, sabe? E por fim, desmorone. Do mesmo jeito acontece comigo; eles não me impedem de acumular; ao contrário, ajudam. E eu estou acumulando, papel. Eu estou repleta de buracos em mim, que cada vez ficam mais fundos e grandes. Mas a pergunta que me faço todos os dias é: Será que como a casa, com o tempo, mesmo reformando, eu também irei cair?
    — Desconhecido.