É curioso o fato de, inúmeras vezes, histórias criativas e bem escritas não tenham muitas recomendações ou favoritações, quando o contrário desse “desvio” é muito recorrente. Esta história é um interessante “desvio”, que não surpreende apenas por não estar no “ranking” das mais lidas, mas principalmente pela ousadia e criatividade de sua escrita.
A proposta é condicionada a um enredo comprometido com a complexidade dos relacionamentos subjulgados as adversidades da vida, desapegado das extensas descrições padrões dos espaços e objetos narrados ou do quantitativo exagerado de personagens evasivos. Provando que boas histórias não necessitam de uma alegoria de elementos na narrativa, mas apenas de sensibilidade na construção de seu universo imaginário, para comprovar tão somente sua relevância frente àquele já familiarizado.
Nesse sentido, a narrativa promete uma divagação pelos desvios do amor: construído, destruído e reconstruído. Um ciclo insistentemente repetido enquanto dependente das alteridades da vida e dos limites emocionais de seus envolvidos. E entre essas questões lembra-se dos personagens principais de “The Hunger Games”, mas reescritos em um conflito maior do que àquele vivenciado por eles: o amor em meio à resiliência e o trauma. Questões colocadas a partir de um tempo narrativo que oscila entre o presente, um passado próximo e outro distante, na tentativa, com sucesso, de caracterizar seus personagens, justificar suas escolhas, e envolver o leitor em um ambiente que transborda sentimentos, ao ponto de quase permitir tocá-los.
Por tanto, a história surpreende, e ainda continua surpreendendo àqueles que a acabaram de ler e da mesma forma outros que se permitirem lê-la, desligados dos padrões classificatórios, interessados unicamento em uma boa leitura, se não ótima, quando é este o caso.