_É repulsivo notar que tens consciência sobre suas facetas e chega ainda a gostar de usá-las. Qual o seu problema?

"Eu não sei... juro que não sei. Eu só sou assim. Alguém pode me aceitar? Ou, quem sabe... me concertar?"

''E por que seus pais te odiavam tanto?''

_Eu não sei Lucy, juro que não sei. - Deitou-se no ombro da cadáver, se aconchegando perto desta enquanto emaranhava os dedos por entre as madeixas dela, brincando com os fios tristemente. - Afinal, eu não tinha pedido pra nascer Lucy, então, por que eles me tratavam assim? Que culpa eu tinha da vida deles ser uma merda?

No momento, não tenho certezas senão a de que vou morrer. Fui um tolo, descomunalmente, eu diria, e agora, minha tolice e demasiada curiosidade me cobrarão a vida.

Nunca lhe perguntei sobre o que pensava de mim antes, mas estou quase certa de que sua resposta me faria sorrir por vários instantes, minhas bochechas roseariam instantaneamente e eu abaixaria a cabeça, escondendo futilmente minha timidez, daí você me abraçaria, me contrairia fortemente contra seu peito. E novamente, o sorriso na minha face se alargaria, e ficaríamos horas assim a falar ladainhas e rir.

É o que faríamos.

Talvez eles estejam aqui ainda, me cercando, trocando algumas palavras comigo, me fazendo olha-los de longe mas não realmente vê-los. Para mim, eles não existem mais. Mas, acho que nem consigo mais sentir a falta daquelas pessoas.

E se eu não conseguir escrever? E se eu escrever e não conseguir terminar? E se eu terminar e não lerem? E se lerem e não gostarem?

Nascer, crescer, reproduzir e morrer.

Quatro ordens a serem seguidas, cujo pelas quais você será conduzido pela sua vida a exercê-las pela ação de outrem ao seu redor. Mas é realmente só isso?