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Meu nome é um segredo, minha idade não importa... Vivo em uma prisão ao ar livre...

O que verdadeiramente sou, quem eu verdadeiramente sou, é aquilo que é impossível criar em mim. Sendo este o meu perfil por excelência, e por excelência é necessário que eu ofereça algo aqui, vou colocar um anúncio: Precisa-se de alguém, homem ou mulher, que ajude uma nobre criança a descobrir os prazeres do amor. E enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... Continuarei a escrever. Já que há de se escrever, que pelo ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.

Renda-se, como eu me rendi... Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei... Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. 

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível de ser entendido. Não, eu quero uma verdade inventada. Acredito que, porque as pessoas acreditam, as coisas existem. Fadas, anjos, demônios, espíritos, almas, deuses, santos, vampiros, lobisomens, youkais.... Tudo o que faz e o que não faz sentido. Ah e quero dizer que a sua vida vai acabar, assim como a minha, que por si mesma não pode perdurar. O que sentimos não perdura, o que sentimos sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Viva então seus sentimentos, saboreie-os e não apenas engula-os. Então, a vida que se acabe que tudo vai perdurar. Ao prender a vida a si, saiba que ela vai torturá-lo até que não seja mais possível, então deixe que ela se vá.

Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome. E o que o ser humano mais aspira é tornar-se humano. E saibam que eu estou procurando... Estou procurando um nome. Tento dar a alguém o meu amor, mas não quero ficar sem o meu amor. Não sei o que fazer do meu amor e tenho medo dessa minha desorganização profunda.

Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida. -Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.-

Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar. Suponho que me entender não seja uma questão de inteligência, e sim de sentir, de entrar em contato... Ou fala, ou não fala. 

Não me entendo. Eu sou tão vasto que ultrapasso qualquer entender. Entender é sempre limitado, mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completo quando não me entendo. Não me entender, do modo como falo, é um dom. Não me entender, mas não como um simples espírito. O bom é ser inteligente e não me entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doido. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando, vem a inquietação: quero me entender um pouco. Não demais, mas pelo ao menos entender que não me entendo. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo. Quero sempre ter a garantia de pelo ao menos estar pensando que entendo, não sei me entregar á desorientação. 

-Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.-

O que importa afinal, viver ou saber que está vivendo? 

- Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.-

- Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira, desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore. Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos.-

E se me acharem esquisito, também respeite. Até eu fui obrigado a respeitar. E eu não sou triste assim, é que hoje estou cansado. Mas sou um coração batendo no mundo. Ter nascido estragou a minha saúde. 

Existe um ser que mora dentro de mim, como se eu fosse a casa dele, e sou. Trata-se de um belo animal que nunca entrou em contato com humanos, e apesar de inteiramente selvagem, pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram em uma sela ou lhe tentaram domesticar, apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come ás vezes em minha mão. Quando eu morrer, esse animal vai ficar sem casa e vai sofrer muito, a menos que ele escolha outra casa, que não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome ou não se acerta, mas uma vez chamando com doçura e autoridade, ele vai. Se ele fareja e sente um corpo-casa é livre, ele anda sem ruídos e cai. Aviso: também não se deve temer seu gemer. A gente se engana e pensa que é a gente mesmo que está gemendo de prazer ou de cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura que é isto pela primeira vez.

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