vão > Recomendações

Clarisse Hugh

04/05/2021 às 14:29
Escrevi no meu review que essa história, pra mim, tem os mesmos acordes de João e Maria, do Chico Buarque, e isso é verdade em uma infinidade de sentidos.
É no brincar da referência ao conto de fadas, como se as memórias de algo nunca vivido fossem as migalhas-pão de possibilidade que o destino plantou na mente de Poseidon. É no reverberar dos versos que começam com um "Não, não fuja não" e terminam com "Vem, me dê a mão / A gente agora já não tinha medo / No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido" porque se eles representam o imortal, o que isso diz de nós, seres humanos? Como é ter nascido antes do tempo da maldade, sendo que o deus dos mares é herdeiro justamente do titã que devorava os próprios filhos, descendente do Tempo em si? A música me vem mais uma vez na melodia suave e melancólica na mais doce das formas e no poderoso encerramento "Pois você sumiu no mundo sem me avisar / E agora eu era um louco a perguntar / O que é que a vida vai fazer de mim?". Não posso dizer muito sobre a grandiosidade das palavras da Lígia em "vão" sem entregar detalhes de seu final, mas posso dizer sim que essa história é toda um cafuné. É repousar a cabeça num colo querido e deixar o sono lhe tomar devagarinho, te transportando para uma terra de sonhos. É uma metáfora linda e uma realidade pura. Uma leitura imperdível...