- M&M's?

- É... 

- Você gosta deste apelido?

- Claro... 

- Isso me lembra bolinhas coloridas de chocolate, Melli.

- Eu sei, por isso que é legal!

- Você é estranha! - ele sorriu e eu corei. - De uma forma legal.

- Ah... obrigada, eu acho.

- A gente precisa ir agora, Melli... te vejo semana que vem.

- Tchau, Inu.

Parecia um dia normal. Claro, tirando o fato de que o encontrei de novo na praça. Quer dizer, já estava virando uma certa rotina, mesmo que em pouco tempo. Saber que o Inu era um rapazinho de apenas 14 anos, sem namorada, sem cachorro... me fazia sentir parte da sua vida. Como se eu estivesse me intrometendo demais. 

Eu não toquei mais no assunto do meu pai com tia Soph. Nem com mais ninguém. Nem o Joe, com quem eu sempre falava sobre isso. Comecei a pensar que talvez Joe tivesse razão. Talvez eu não precisasse saber. 

Segredos são guardados por uma razão, certo?

Além do mais, estava pensando mais no Inu do que no meu pai naquele momento. "Será que meu pai se sentiria traído?", eu pensei, "trocar ele por um moleque desconhecido, ou quase isso. Ótimo, Melli... continue deixando a família de lado".

- Tá pensando em que?

- Em meu desapego às coisas importantes.

- Ah...

- E você, Joe?

- No que eu vou comprar de lanche.

- Será que eles vendem um pouco de discernimento?

- Não, eles não vendem drogas por aqui, Mel.

- Joe?

- Sim?

- Você me chamou de Mel.

- E daí?

"Ele está com raiva."

- Deixa para lá.

Meu telefone tocou. Era tia Liza. Atendi no segundo toque.

- Ohayo!

- Melli! Preciso que você e Sophia venham aqui hoje!

- C-claro... - ela parecia urgente - que horas?

- O mais cedo que puder, tá bom?

- Tudo bem... posso levar o Joe?

- A-acho que sim... 

- Aconteceu alguma coisa? - fiquei preocupada.

- Sim, aconteceu. Algo mudou... mas não se preocupe.

- Ok, até mais tarde. E vê se toma água com açúcar, tia.

- O que foi, Melli?

- Tia Liza quer que eu vá lá com tia Soph hoje. Parece urgente. Você quer ir?

- Acho melhor não... parece coisa da família.

- Mas não acha que o que importa é o cabelo além do amor?

- O que?

- Você já é da família, Joe.

- Você cada dia me assusta mais, Melli. 

Fiquei meio ansiosa o resto da manhã. Eu não sabia o que esperar da tia Liza. Quando cheguei em casa, tia Soph já estava arrumada. Tia Liza havia ligado para ela também e, pela sua expressão, ela já havia adiantado alguma coisa para tia Soph pelo telefone. Quis perguntar o que era que ela queria, mas de alguma forma eu sabia que ela não iria me dizer.

Tomei um banho rápido e coloquei a primeira roupa colorida que vi na frente, junto com a minha touca preferida.

Joe foi conosco, mas disse que só olharia de longe e não iria interferir. Ele realmente achou que fosse coisa séria e eu só ri dele.

Quando chegamos na casa da tia Liza, ela nos recebeu meio feliz meio ansiosa. Nos mandou sentar e sentou no sofá a nossa frente.

- Bem, agora só falta o Alex.

- Tio Al também vem?

- Sim... ele vem. 

Achei ela meio estranha, mas não falei nada. Não iria conseguir adiantar nada, então falei algo com o Joe e a campainha tocou. Tia Liza foi atender, mandou tio Alex sentar e sentou no mesmo lugar de antes.

Ela ficou séria. Muito séria. E foi aí que eu percebi que aquela conversa poderia ser mesmo muito importante. Meu coração acelerou repentinamente e eu comecei a tremer. Isso acontece quando eu estou nervosa. 

Tio Al me deu um beijo na testa antes de se sentar. Ele também parecia ansioso e nervoso.

- Você sabe o que aconteceu, M&M's? - Ele sussurrou.

- Não faço ideia, tio Al.

- Então - tia Liza falou meio sem jeito nos interrompendo. - Agora estão todos aqui... quer dizer, falta a Natalia, mas como ela está em outra cidade... ah bem, vocês sabem. - Ela realmente estava nervosa.

- Elizabeth... continue. - Tia Soph falou.

- Certo... ahn... eu vou começar. Primeiro, peço que vocês não me interrompam... escutem até o fim e depois falem o que quiser, tudo bem?

Todos concordamos.

- Bem... eu nem sei muito bem como falar isso. Melli... eu estava guardando este segredo pela sua mãe... mas algo me diz que ela me perdoará por contá-los...

Há 17 anos atrás, ela me deu este colar... E neste mesmo dia, ela beijou o grande amor da sua vida. Alex.

O que? Eu... eu nem sabia o que pensar! Minha mãe era apaixonada pelo tio Al? C-como assim? Por que haviam escondido isso de mim? O que tem de errado, afinal? Não tive coragem de olhar pro tio Al naquele momento. Ela continuou.

- Sua mãe amou o Alex, Melli... desde a primeira vez que o viu. E... e, bem... Alice, a minha querida amiga Alice... 

Ela começou a chorar.

- ...A nossa Alice... nunca teve relações com mais ninguém. Mais ninguém além de você, Alex.

o que?

- Alex é seu pai.

Alex é seu pai...

Alex...

- ...meu pai...?

Foi quando o olhei. Ele parecia em estado de choque. E eu também estava. Tio Al... - a voz não saia. Tio Al... é meu... meu pai?

E então ele se levantou abruptamente. 

- É MENTIRA! 

Ele me assustou.

- Não, Alex! Não é!!

Tia Liza chorava e tio Al também. Tia Soph estava de cabeça baixa. Onde estava Joe? Onde estava a mim mesma naquela confusão? Era como se fosse um filme, eu não estava ali, mas estava assistindo.

- POR FAVOR, ELIZA! - ele gritou se ajoelhando na frente de Tia Liza. - DIZ AQUE É MENTIRA! MEU DEUS!! - ele abaixou a cabeça - diz que é mentira...

- Tio Al... - ele me olhou, desconsolável.

Diz que é mentira?

Acho que os segredos são guardados por uma razão, não é?