Photograph escrita por Nyuu D


Capítulo 1
Capítulo 1




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Keigo estava na sala escura. Para revelar fotografias, no caso.

Ele gostava de fazer isso à moda antiga, dava uma sensação de proximidade maior com as fotos, e como seu pai tinha cacife o suficiente para lhe prover uma sala de revelação de filmes, os produtos necessários, máquinas etc, tudo o que o rapaz podia fazer a essa altura era aproveitar.

Estava revelando as fotos que havia tirado naquela tarde num parque da cidade, onde viu muitas coisas interessantes. Gostava de, às vezes, tirar fotos aleatórias, focando coisas que não sabia bem o que eram para depois revelar e analisar. Fotos de pessoas e suas atividades, principalmente os esportes.

Quando completou todo o processo, e os papéis já estavam secos, o rapaz retornou àquela sala durante a noite e pegou as fotografias para levá-las à sua enorme suíte na mansão dos Atobe para dar uma olhada.

Havia várias; de animais, de pessoas caminhando e conversando. Tinha uma criança puxando uma flor da grama, e no mesmo quadro, outra criança se esticava toda para tentar pegar um ramo de cerejeira lá no alto da árvore. Keigo deu um sorriso entediado para as fotos, até que...

Ele forçou um pouco os olhos azuis na direção de imagem.

Havia um rapaz que devia ter algo em torno de 25 anos, com cabelos castanhos e um par de óculos de grau no rosto. Ele estava sentado num dos bancos do parque e tinha um notebook apoiado numa bolsa apropriada para isso em suas pernas, no qual parecia prestar muita atenção. Atobe não conseguia decifrar o que ele estava fazendo, porque uma das mãos de dedos longos se aproximava da boca. Parecia pensar.

Era muito lindo.

Ergueu a fotografia e deu uma olhada com mais atenção, parando de olhar somente para a figura humana e reparando nos outros detalhes.

Tinha um copo de café. E uma mochila de tênis.

Então, ele jogava tênis?

Keigo sorriu, porque ele próprio adorava jogar tênis – na realidade, tinha uma habilidade muito grande com o esporte, porém, não seguiu carreira porque sua paixão pela fotografia era maior do que a pelo tênis. Mas... Ele ainda jogava com frequência no clube. Ainda estava em forma.

Percebeu que estava ansioso quando viu seus dedos batucarem no próprio joelho. E estava ansioso com a possibilidade de aquele rapaz saber jogar tênis, também.

Bem. Ele sempre teve o que queria. E agora queria aquela pessoa.

E ia tê-lo.

Sendo assim, nos dias que seguiram, Keigo foi todos os dias para aquele parque, insistentemente procurando aquele rapaz. Com a foto dele dentro da bolsa onde estava sua câmera fotográfica, a lente especial e um tripé compacto. Assim podia dar uma olhada caso achasse esquecer aquele rosto, mas sabia que era impossível. Era muito forte para simplesmente sumir.

Mas o rapaz não ia lá, e Atobe começava a ficar impaciente. Odiava esperar. Sabia que era mimado, e não estava nem aí.

Suspirou, e jogou-se de forma brusca num banco que estava por ali, perto de uma das árvores de cerejeira.

Curvou-se um pouco para se apoiar nos joelhos e olhou para a calçada do parque. Ficou prestando atenção nas pétalas de cerejeira que corriam com o pouco de vento primaveril, pensando que aquilo dava uma boa foto. Mas, estava sem vontade alguma de pegar a câmera agora.

Estava tão aborrecido que sequer notou que um par de pernas passou diante de seus olhos e, depois, o dono dessas pernas sentou ao seu lado no banco. Só conseguiu tirar seu olhar da calçada quando ouviu aquele barulho de dedos digitando num teclado de computador.

Virou o rosto. E lá estava. Era o rapaz da fotografia.

Ele estava com uma roupa apropriada para jogar tênis, dessa vez, diferente de na foto, em que estava com vestes casuais. Os óculos escorregaram pelo nariz e ele os ajeitou rapidamente, sem perder a concentração no computador, ou se importar com o fato de estar sendo observado. A mochila de tênis estava ali também, mas não havia copo de café.

Keigo ficou pensando na melhor forma de falar com ele.

Entretanto, no fundo, sabia que era difícil qualquer pessoa resistir aos seus encantos. Não necessariamente na área “romance” do encanto, mas Keigo sempre foi cercado de pessoas que o adoravam como se fosse algum tipo de entidade maravilhosa. E era extremamente raro uma pessoa que não se interessasse completamente por ele.

– Olá – disse, abdicando de seus pensamentos. – Você joga tênis?

O rapaz o olhou como quem pergunta, está falando comigo?, e só respondeu quando constatou que sim, era com ele. – Sim, eu jogo... Por quê? Você também?

Ele tinha uma voz linda. Muito agradável de verdade.

– Não profissionalmente, mas jogo. Eu poderia ter seguido carreira, mas preferi ficar com a fotografia...

O dono daquele par de olhos castanho-claros assentiu suavemente com a cabeça, não parecendo lá tão interessado na incrível história que Atobe tinha para contar. E isso o fez crispar os lábios num bico de descontentamento.

– Qual é seu nome? – Insistiu.

O rapaz franziu a sobrancelha. – Tezuka Kunimitsu.

– Tezuka – Keigo assentiu suavemente com a cabeça, abrindo um sorriso de interesse visível. – Eu sou Atobe Keigo.

Tezuka não fez nenhuma expressão diferente, porém, conhecia aquele nome muito bem. Ou melhor, aquele sobrenome “Atobe”, era de uma família gazilionária ou outra expressão que você queira utilizar para explicar a riqueza daquelas pessoas.

Atobe pensou em algumas coisas como: perguntar se ele vinha sempre ali, o que ele fazia da vida, como tinha aquele cabelo lindo, qual o tipo de problema que tinha nos olhos, se queria jogar tênis... Tinha que escolher alguma dessas perguntas para não soar retardado.

Por fim, fez uma escolha levemente inusitada. – Eu já vi você antes.

– Hum? – Tezuka desviou a atenção da tela do computador, novamente direcionando-a a Keigo. – Tem certeza?

– Sim, eu... Espera. Vou te mostrar – Atobe pegou sua bolsa com os apetrechos para fotografia e fingiu dar uma procurada mais profunda, embora soubesse exatamente onde a foto dele estava. Puxou o papel de lá e mostrou para o rapaz. Tezuka pegou o objeto nas mãos e o analisou cuidadosamente, estreitando os olhos um pouco.

– Isso foi semana passada...

– Eu venho sempre nesse parque tirar fotos. – Atobe sorriu. – O que achou? Ficou bom, ahn?

– É... – Tezuka o olhou. O elogio não foi lá tudo o que Keigo esperava, mas foi um elogio. Ou uma concordância, talvez. Não importa; foi o bastante para o rapaz encher o peito de confiança. – Se importa de eu ficar com essa foto?

– Com uma condição.

Tezuka ficou surpreso, mas sua expressão não demonstrou. – Qual?

– Que jogue tênis comigo.

O rapaz baixou a tampa do notebook. – Me parece uma condição razoável. – Tezuka devolveu a fotografia na mão do outro rapaz, e pôs-se a guardar o computador dentro daquela bolsa de couro que estava apoiando o aparelho. Atobe achou a reação estranha, já que jogar tênis por uma fotografia era um pouco... Demais, talvez.

Menos mal, entretanto, que Tezuka gostasse de desafios.

– Onde vamos jogar?

– Na quadra da minha casa.

Tezuka franziu as sobrancelhas. Então tá.

Logo foram. Tezuka pegou uma carona com ele porque havia ido a pé para o parque, que era perto de sua casa. Atobe estava com seu próprio carro.

– O que você faz? – Keigo finalmente perguntou, quando saíram do automóvel, já dentro dos terrenos da família. Não conseguia manter uma conversa decente dentro do carro.

– Sou escritor.

– De que tipo? Romancista? Mangaka?

– Romancista – ele ajeitou os óculos no rosto, aparentemente desconfortável por estar naquele lugar tão enorme.

Atobe passou a língua nos lábios. Estava mais curioso ainda. Porém, naquele momento, só queria saber qual era a capacidade daquele rapaz segurando uma raquete na quadra.

– Tenho que colocar uma roupa adequada – ele olhou para os próprios jeans no corpo. – Gostaria de entrar e conhecer a mansão?

Tezuka hesitou por uns instantes, forçando o maxilar. Keigo o encarou e cruzou os braços na linha do peito, com um sorriso convidativo no rosto. O outro rapaz desviou os olhos para qualquer ponto em volta do corpo de Atobe.

– Venha, não é mal-assombrado. – Ele adiantou-se até Kunimitsu e pegou-lhe pelo pulso, caminhando na direção da porta da frente da casa. Atobe tirou os sapatos e colocou um chinelo adequado para caminhar pela residência. Nesse meio tempo, uma empregada com uniforme o cumprimentou e perguntou qual era o tamanho do pé de Tezuka para trazer um chinelo para ele, também. Isso tudo depois de pegar os objetos pessoais dele para guardar em algum lugar.

Parecia coisa de filme.

Tezuka explicou que seu pé era tamanho 40 e Atobe esperou com ele até a empregada trazer um chinelo para ele calçar nos pés.

Aí, Keigo já havia soltado o pulso dele, mas Tezuka ainda sentia como se a mão dele continuasse presa em seus braços. A sensação ainda estava muito viva, e isso era um pouco... Incômodo, talvez.

O terreno da família era gigantesco. A mansão tinha dois andares, mas era enorme, o que rendia uma boa caminhada para os fundos, onde ficavam os quartos. Atobe caminhava pelos corredores, aquecendo os braços ao mexê-los e agitando as pernas, já que a caminhada era longa. Recebia cumprimentos educados dos empregados que se curvavam diante dele. Tezuka apenas acenava com a cabeça, bem desconfortável.

Ele chegou ao quarto e empurrou a porta para o lado, entrando rapidamente no cômodo. Tezuka pediu licença pela quinta vez e entrou no ambiente, mas ficou parado perto da porta. Havia um futon gigantesco no centro da sala, e uma divisória revelava uma saleta com uma mesa para chá, almofadas e uma passagem para um engawa particular. Um enorme jardim de pedras com um lago artificial dava um clima bem agradável, já que as pétalas de cerejeira enfeitavam tudo de cor-de-rosa.

Aquela área da casa era particularmente bem ao estilo japonês, devia ser reservado apenas para os quartos. Todo o resto era bem ocidental, com estruturas de tijolo e pinturas clássicas.

– Quer que eu espere lá fora, Atobe?

– Se quiser, pode sentar ali fora. – Ele fez um sinal com a cabeça enquanto mexia no armário gigantesco. Tezuka assentiu e caminhou pelo quarto, indo até a outra sala e depois, chegando ao engawa. Não sentou, apenas desceu no jardim e foi até perto do lago para ver que havia uma dúzia de carpas nadando de um lado para o outro.

Virou-se para ver que, de fato, estava certo: o engawa fora construído debaixo de uma estrutura de tijolos. Lá em cima, havia janelas brancas e ele conseguia ver, através delas, as sancas de gesso e lustres enormes que adornavam o teto do cômodo, seja ele qual fosse. As pilastras que sustentavam a construção deviam ser ultra reforçadas. Havia outras portas de correr por ali, talvez fossem os outros quartos.

Aquela família era bem excêntrica mesmo, mas Tezuka não podia negar que o lugar era incrível.

Olhou para trás e a silhueta de Keigo trocava de roupa através da divisória shoji dos ambientes.

– Você é destro? – Atobe chamou a atenção do rapaz. Ele abria os jeans e baixava a peça no corpo.

– Canhoto. – Tezuka cruzou os braços e desviou o olhar.

Keigo riu. – Hum, isso vai ser um problema. Bom, eu confio nas minhas capacidades – disse enquanto puxava a bermuda para cima e vestia uma camisa pólo no peito. Passou a mão pelos cabelos dourados, agitando-os de forma a trazê-los de volta ao lugar. Depois, saiu de trás do shoji com uma bolsa de tênis nas costas.

Eles foram até a quadra de onde estavam, porque ela ficava na parte de trás da mansão, uns metros dali. Quando chegaram lá, algum empregado já havia levado os tênis dos dois para que colocassem e fossem jogar.

Atobe tirou sua raquete e umas bolinhas de tênis da bolsa. Foi caminhando até sua posição na quadra, batendo a bola na lateral da raquete, despreocupadamente.

Tezuka o observou atentamente; ele estava, muito claramente, se mostrando.

– Pode começar – o moreno disse educadamente. – Você está em casa, afinal.

– Você que sabe – ele girou a raquete e segurou a bolinha na posição correta. – Não invente desculpas depois...

Kunimitsu curvou-se um pouco, e não respondeu. Não era do tipo de inventar desculpas.

Keigo sacou e acertou de primeira. 15-0. E foi sacando, numa velocidade absurda e com muita força. Tezuka já retornou a bola no segundo saque, mas Atobe acabou ganhando o primeiro set.

Eles foram jogando.

Atobe sentiu nos braços a força que as bolas lançadas por Tezuka tinham; era um peso diferente, como se ele atirasse, junto delas, todo o peso do corpo. E ele sabia exatamente onde mirar e rebater, fazendo Keigo correr de um lado para o outro para conseguir acompanhar o jogo. Até chegar ao tie-break.

Atobe já estava suando horrores; sentia as costas escorrerem. Tezuka também estava cansado e o rosto estava úmido, mas com certeza muito menos que o outro.

Keigo estava muito irritado. Sua mira constantemente ia direto nos braços de Tezuka ou em algum outro lugar que pudesse fazê-lo rebater com menos força, mas isso não adiantava tanto quanto poderia. O moreno mexia os pulsos e os ombros como se os colocasse de volta no lugar e rebatia com mais força ainda.

Mais alguns lances e Tezuka acertou a bola em cheio bem na linha de trás da quadra, completando 7-6.

Keigo largou a raquete e se jogou deitado com as costas na quadra. Respirava profundamente. O sol do meio da tarde ardia ainda mais forte, e olha que era apenas primavera; imagina se fosse no verão... Esfregou a testa com a costa da mão e sentiu-a ensopar com o suor.

Ouviu os passos de Tezuka na quadra e ele logo apareceu diante de seu rosto, tapando o sol com a cabeça.

– Tudo bem? – Ele já estava sem a raquete nas mãos. Atobe sorriu exausto na direção dele.

– Estou ótimo – fechou os olhos, estendendo os braços no chão. – Fazia tanto tempo que eu não jogava tênis com alguém tão bom assim...

Estava tão aborrecido por ter perdido, mas tão feliz por jogar tênis de maneira tão engajada, que não sabia se dava um beijo ou um soco no outro.

– Obrigado. Eu vou buscar uma água pra você...

– Não! – Keigo mexeu a mão na direção dele. – Não precisa...

O garoto ergueu um pouco mais a mão, ainda deitado no chão, e estalou o dedo ruidosamente. Sem demora uma empregada apareceu com uma bandeja, que tinha uma garrafa de um líquido esverdeado; devia ser limonada. Ele se pôs sentado e a mulher agachou-se para entregar o copo na altura do rosto dele.

Atobe engoliu uma boa quantidade de suco e a empregada ofereceu um copo a Tezuka. Ele aceitou educadamente, porque estava mesmo com sede.

A limonada estava meio azeda, mas gelada, e isso que importava.

– Onde está minha foto?

Keigo olhou para cima, fechando um dos olhos porque agora o sol voltava a bater direto em seu rosto. – Ah, é... Eu disse que te daria. Tudo bem – forçou-se para cima, colocando-se de pé. Bateu a mão na parte de trás da bermuda e o olhou com um sorriso de satisfação nos lábios. – Ficou no meu quarto, junto com as coisas de fotografia.

Ele mexeu o copo e o deixou ao lado do corpo para que a empregada viesse encher de volta.

Tezuka estava um pouco—muito incomodado com a mordomia que ele tinha. E sentia-se ainda mais esquisito por estar, por fim, fazendo praticamente tudo o que ele queria, também. Foi jogar tênis com ele, foi até o quarto com ele e agora estava indo de volta.

Não sabia bem porque fazia isso, mas Keigo tinha uma aura imanente tão poderosa que o atraía demais. Como se quisesse mesmo fazer todas as vontades dele apenas para vê-lo satisfeito. E mal o conhecia.

Quando chegaram ao quarto, Atobe pegou a bolsa com as coisas da câmera e pegou a foto dele. Deu uma olhada rápida e, depois, ergueu a cabeça para comparar com o Tezuka verdadeiro. Era muito melhor.

– Aqui – ele entregou a fotografia na mão do rapaz. – Mas não pense que assim vai fazer eu não ter mais a sua foto. Eu revelo ela de novo mais tarde. – Keigo mexeu as sobrancelhas num trejeito esperto. Tezuka guardou a foto dentro da mochila junto com as coisas de tênis.

– Como você me convenceu a vir aqui...?

Atobe dirigiu os olhos azuis para ele e deu uma risada convencida. – Não preciso me esforçar tanto quanto parece para que as pessoas façam o que eu quero... – Ele deixou a voz morrer ao final, quase num sussurro, deixando Tezuka ligeiramente intimidado. Ou algo parecido com isso. – Mas de verdade, eu não fiz nada, foi só um simples convite.

Pensando bem, foi só um convite mesmo. Ou quase uma chantagem, por uma foto...

Se Tezuka colocasse tudo nos eixos em sua cabeça, agora, viria que se deixou convencer a ir até a casa dele jogar tênis só por uma foto.

Deus. Aquele cara tinha algum magnetismo impossível de explicar.

– Tenho que ir, agora – Tezuka anunciou, procurando alguma superfície para deixar o copo, mas preferiu ficar com ele na mão até achar outra empregada. – Preciso terminar o capítulo novo, minha deadline é hoje a noite.

– Qual o enredo da sua história? – Keigo fez um gesto para dizer a ele que caminho devia tomar para que eles saíssem de lá. Tezuka foi o seguindo.

– Passa durante a Guerra Boshin, no período Edo – explicou calmamente enquanto caminhavam pela casa. Já havia encontrado uma empregada que, espontaneamente, pegou o copo de sua mão. – É sobre um dos guerreiros da facção imperial, que se apaixona pela mulher de um dos seus superiores.

– Parece interessante – disse Atobe com sinceridade. – Quando concluir a obra, eu ia adorar ler. – Ele meneou a mão levemente e tocou-a nas costas de Tezuka, num incentivo silencioso e gentil, carregando seu rosto suado com um sorriso encantador.

Kunimitsu fez um trejeito com os lábios, mas nada disse.

– Quer que eu te leve até sua casa?

– Não, eu pego o metrô. É a umas quadras daqui. – Tezuka sentou-se para calçar os tênis nos pés, que estavam estrategicamente no lugar mais uma vez, junto com seus pertences. Era como se as coisas se movessem sozinhas naquele lugar, mas certamente havia empregados o suficiente para cuidar de tudo. Atobe permaneceu com seus chinelos. – Obrigado, foi um bom jogo. – Ele ofereceu a mão ao loiro.

Keigo baixou os olhos para as mãos dele e manteve os braços cruzados.

– Da próxima vez que jogarmos – ele disse de repente. – Eu não vou perder.

Tezuka recolheu a mão e eles se encararam por longos segundos antes de o rapaz de óculos dar meia-volta e sair da residência, sendo acompanhado na saída por uma das empregadas que estava lá fora.

Quando ele estava saindo dos portões dos terrenos, a empregada curvou-se diante dele. – Obrigada por entreter o Keigo-bocchama.

Bocchama? Mas ele devia ter uns 24 anos!

Bom, se ele morava com o pai, ele era o bocchama.

Tezuka não respondeu, apenas virou-se e saiu de lá. E foi para a estação de metrô que, de fato, ficava a umas cinco ou seis quadras de onde estavam. E quando estava sentado numa das cadeiras do trem, Kunimitsu tirou aquela foto de dentro de sua bolsa e deu uma olhada.

Seria a imagem perfeita para ilustrá-lo na aba da contracapa do livro.

Alguns meses depois, Atobe estava dentro de uma livraria, visto que, quando disse a Tezuka que gostaria de ler o que ele havia escrito, era porque realmente gostava muito de ler. Recentemente vinha se concentrando mais nos livros técnicos de arte, porém, naquele dia, foi à loja para procurar algo mais tranquilo, como algum romance ou coisa parecida.

E, já dentro da loja, ele se lembrou de Tezuka e de seu livro sobre a guerra Boshin. E decidiu ver se ele já havia lançado o livro. Foi perguntar a um dos funcionários da livraria se a obra já havia sido lançada e, procurando pelo nome “Tezuka Kunimitsu”, a mulher encontrou o livro.

– Chama-se “The Sun’s Arrival”, eu vou pegar para o senhor.

Atobe assentiu com a cabeça e ficou esperando a mulher voltar com o livro.

Era relativamente grosso, devia ter umas 400 páginas. Atobe leu a sinopse atrás, deu uma folheada rapidamente e seus olhos grudaram na aba da parte de trás, onde uma foto muito familiar aparecia junto de seu nome.

“Foto de: Atobe Keigo”, e o nome de Tezuka em caixa alta, romanizado, logo embaixo, como legenda.

Semicerrou os olhos. Mesmo que tivesse seu nome, ele poderia jogar um processo tão grande em Tezuka que ia acabar tendo que converter toda a renda do livro para a família Atobe. Mas não havia necessidade disso.

– Quanto é? – Perguntou despretensiosamente, mas independente do preço, ele ia comprar.

Levou o livro para casa e demorou menos de uma semana para lê-lo completamente. Aquele rapaz certamente tinha muita habilidade com a escrita, com certeza foi uma boa opção escolher seguir a carreira de escritor ao invés a de esportista. Muito embora Tezuka visivelmente seria excepcionalmente bem sucedido como jogador de tênis.

Fazia muito tempo que não o via ou ouvia falar dele de alguma forma, porque não pegou o contato do rapaz. Mas isso não reduziu seus pensamentos maquinando em cima daquela pessoa.

Atobe tinha essa mania de ficar obcecado por uma coisa quando queria. E principalmente quando essa “coisa” era um desafio. Entretanto, seu tempo não lhe permitiu procurar Tezuka por aí. O verão passou, e o outono tingia as calçadas com as folhas vermelhas e amarelas que caíam das árvores na rua.

O parque, especialmente, estava muito colorido. E Atobe gostava muito de vermelho.

Ele foi ao parque, cobrindo o pescoço com um cachecol e uma blusa de lã escocesa aquecia seu corpo. Não estava tão frio, mas o clima estava tampouco agradável. O vento estava um pouco gelado.

Lá, ele encontrou exatamente o que queria. Tezuka sentado num banco, com um livro nas mãos, lendo atentamente enquanto bebericava num copo relativamente grande de café bem quente. Dava para ver porque o vapor saía expressivamente do copo.

Keigo segurou o livro de Tezuka embaixo do braço e caminhou até ele com as mãos nos bolsos da calça jeans. Parou diante do rapaz, que estava tão compenetrado no livro que sequer deixou-se desligar pela aproximação repentina de um estranho “nem tão” estranho assim. Atobe ficou o observando por um tempo até soltar um pigarro.

Kunimitsu ergueu a cabeça e o olhou através dos óculos. Seus olhos ficaram bastante surpresos. – Atobe – ele disse, meio atrapalhado.

– Olá – o loiro sorriu. – Está dando uma folga do trabalho?

– É... – Os olhos desceram e ele viu que havia um livro embaixo do braço de Keigo, imediatamente o reconhecendo como sua própria obra. Respirou fundo. Com certeza ele estava ali para enchê-lo de perguntas sobre a foto.

Mas...

– Muito bonita a sua foto na aba do livro – observou com bom humor e um toque nada discreto de arrogância. – Fez uma bela escolha.

A cabeça morena do outro tombou de leve para o lado, resignando-se. – Eu devia ter falado alguma coisa para você...

– Não se preocupe, eu não vou te processar. Mas de fato não imaginei que quisesse a foto para isso.

– Não era para isso. – Tezuka levou o copo aos lábios. Atobe ficou olhando atentamente enquanto ele sorvia o café lentamente, tomando cuidado para não queimar a língua. – Mas eu achei que seria bom uma foto espontânea, e meu assessor—

– Eu já disse que não precisa se explicar – Keigo o atravessou rudemente, mas sem tirar o sorriso da boca. Tezuka soltou um suspiro.

– O que eu posso fazer para agradecer? – Ele disse, levantando-se. – Uma partida de tênis?

– Um autógrafo.

Tezuka ergueu as sobrancelhas, surpreso. – Autógrafo?

– É, no livro. – Atobe pegou a obra e abriu na página em que havia apenas o título romanizado do livro e o nome da editora lá no final. O outro rapaz ajeitou os óculos no rosto, enrijecendo o corpo.

– Você leu?

– Claro que li – Keigo mexeu nos cabelos. – Eu gosto muito de ler. Fui procurar um livro semana passada e encontrei o seu coincidentemente.

Aham.

– Mas, estranhamente, não acho que você tenha cara de quem escreve livros românticos – ele fez um gesto amplo com as mãos, como que fazendo pouco caso. Tezuka cruzou os braços, olhando-o com curiosidade. – Mesmo assim, a história é muito bonita.

– Obrigado.

Eles se olharam.

– Eu vim aqui na esperança de te encontrar – confessou Atobe abertamente, sem sequer titubear na sua declaração repentina. Tezuka pestanejou imediatamente. – Mas não achei que continuaria a frequentar esse parque...

Tezuka mexeu os ombros desconfortavelmente, desviando os olhos para duas pessoas que corriam atrás de Atobe, fazendo seu exercício diário. O moreno soltou um suspiro, como se sentindo pressionado por alguma coisa. Deviam ser aquelas flores e faíscas douradas imaginárias que rodeavam Keigo.

– Ou você vem aqui sempre, mesmo?

– Na realidade, não... – Ele cruzou o braços com mais força, como se estivesse protegendo a si mesmo dessa forma.

– Oh – Keigo empinou mais o nariz, se é que isso é possível. – Então você estava vindo aqui me procurar?

– Claro que não – retrucou Tezuka imediatamente. – Foi uma coincidência.

– Não acredito em coincidências – assanhou a parte de trás dos cabelos. – Agora, quero meu autógrafo.

– Preciso de uma caneta.

– Não seja por isso – ele enfiou a mão no bolso da calça e tirou uma caneta de lá. Tezuka pegou-a em mãos e Atobe novamente estendeu o livro para que ele assinasse.

– E... O que eu escrevo?

– Você nunca escreveu uma dedicatória?

– Só no início do livro, mas não pode ser considerado algo parecido com um autógrafo...

– Nem um bilhete, nada?!

– Bilhetes não são como autógrafos.

– Escreve o que você quiser. – Disse por fim.

Tezuka engoliu atravessado e apoiou a mão esquerda no livro, respirando fundo. Não sabia mesmo o que escrever, nunca havia dado um autógrafo – e na realidade, tampouco havia pensado nisso algum dia de sua vida.

– Esse é seu primeiro livro? – Keigo chamou-lhe a atenção, para quebrar o gelo.

– É... Eu não cheguei a completar os outros.

– E como estão as vendas?

– Boas. – Com a conversa, o rapaz de óculos acabou por rabiscar algumas palavras no livro e assinou seu nome romanizado, e em pequenos kanji logo embaixo. Keigo fechou o livro sem ler o que ele havia escrito, o que deixou Tezuka desconfortável. Mas não se manifestou.

– Eu gostaria de organizar uma noite de autógrafos pra você, o que acha? – Ele abraçou o livro, cruzando os braços em cima dele e sorriu. – Ahn?

– Er... E por que você faria isso...?

– Porque seu livro tem potencial. Seria muito interessante para você que a empresa da minha família patrocinasse e desse suporte à sua obra, com certeza você iria disparar no mundo da literatura.

– Não, não foi isso que eu quis dizer – Tezuka devolveu a caneta para ele. – É que nós mal nos conhecemos...

– Mas isso não é um problema pra mim – Atobe deu um passo para frente. Tezuka faria o mesmo, mas para trás, só que havia um banco ali e ele ia acabar caindo sentado. E isso ia deixá-lo ainda mais vulnerável. – Eu posso vir a te conhecer melhor. – Ele sorriu, encarando os olhos de Kunimitsu bem de perto. – O que acha?

– Acho que você está confundindo as coisas... – Ele sussurrou, bem mansinho. Keigo deu um largo sorriso.

– Será que eu estou mesmo?

– Atobe – ele baixou os olhos para o cachecol no pescoço do loiro. – Você está tentando me comprar?

Atobe chegou ao seu quarto tão raivoso que... Que podia... Sei lá.

Mas ele largou o livro violentamente sobre o futon, fazendo-o sacudir todo e abrir precariamente numa página qualquer. Ele olhou para as folhas e se agachou para ir atrás do que Tezuka havia assinado como autógrafo para ele.

Ainda não acreditava que havia ouvido aquilo. Não que necessariamente estivesse tentando comprá-lo, é claro que não, ele nunca...!

Diabos. Talvez tenha feito sem perceber.

Havia um agradecimento bem formal debaixo de seu sobrenome, que foi escrito com perfeição em kanji bem desenhados.

E lá embaixo do nome de Tezuka, havia um número de telefone.

– Ah! – Atobe deu uma risada presunçosa. – Eu sabia.


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