Fazia um pouco de frio naquela noite, mas nem percebi, estava tensa demais para pensar em outra coisa, um espírito estava na minha frente me fazendo um pedido que só eu poderia fazê-lo.

- Mas então, me explique tudo de maneira bem calma. – minha mão tremia, acho que quem devia ficar calma era eu. – não deixe nada.

- Na verdade lembro-me de pouca coisa. Os anos me fizeram esquecer boa parte de tudo o que aconteceu, fazem... – ela fez gesto de quem contava. – 20 anos talvez?

Nossa, nem deu tempo de eu pensar em contar, porem era muito mais do que eu esperava.

- E você esteve esse tempo todo procurando o quadro?

- Sim, na verdade eu tenho tentado.

- Entendo, mas, eu não sei como poderei ajudá-la...

- Você poderia me levar para fora, não sei por que, mas eu não consigo sair desse prédio, já tentei inúmeras vezes sem sucesso.

Não tinha entendido. Como assim não conseguia sair do prédio?

- Venha, vou lhe mostrar.

Descemos as escadas, eu e Kero ficamos do lado de fora da construção olhando para a porta enquanto Alessandra respirava fundo, não entendemos o porquê de ela ter de se preparar até ela tentar atravessar.

Quando ela chegou perto de colocar a mão para o lado de fora um raio saiu da porta e a atingiu lançando-a ao chão.

- Ai meu deus! Você está bem?

- Sim, não se preocupe comigo, mas é melhor parar de falar comigo ou vão achar que você é louca.

Olhei para os lados e algumas pessoas que passavam pela rua cochichavam olhando para mim, havia me esquecido de que só eu conseguia vê-la.

- O importante é que eu não consigo sair daqui, se pudesse procurar uma maneira de me ajudar a fazer apenas isso eu já ficaria eternamente grata.

- Claro! Farei o meu maximo!

Lá estavam novamente as pessoas falando de mim...

Fiquei um tempo pensando, mas não consegui nenhuma idéia boa, pensei em usar o disparo para quebrar a barreira, mas não funcionou o tiro simplesmente passou reto, pelo que parece a barreira só funcionava nela, também tentei a carta escudo para cancelar a barreira, mas também não funcionou, por fim desisti talvez se dormisse alguma coisa me viria.

Acordei e senti que havia esquecido algo, mas não fazia idéia do que era, desci, tomei meu café da manha, no caminho encontrei com a Sara, puxa vida como ela era bonita, o que me fez lembrar da Alessandra me fazendo comer tudo rápido e levar alguma coisa para o Kero.

Entrei no quarto e chamei por ela, no entanto ela não veio, talvez estivesse fazendo alguma outra coisa, não sei. Dei a comida do Kero e liguei para Syaoran, contei o que havia acontecido, porem ele também não teve nenhuma idéia de como ajudá-la, disse que tentaria vir para Londres mas que não prometeria nada, a agenda dele estava lotada. Tentei ligar para Tomoyo, mas ela não atendeu, talvez estivesse ocupada, o que eu não acharia estranho, deixei uma mensagem explicando o que havia acontecido e que eu estava esperando sua ligação. Deitei e fiquei admirando o ventilador desligado, não que eu realmente estivesse olhando para ele, mas era isso que havia na minha frente. Fiquei ali um tempo, pensei no Li até cair no sono, devo ter dormido uns trinta minutos até Kero me acordar.

- Sakura acorda - ele parecia desesperado. – preciso da sua ajuda!

- O que foi? Ta tudo bem? Não me diga que alguém te viu.

- Não, não é nada disso. Olha.

Ele estava com a bolsinha onde guardava o vídeo game portátil que Tomoyo havia lhe dado, ela disse que era um modelo novo e que havia ganhado de um dos patrocinadores dos trabalhos de sua mãe, porém como não gostava desse tipo de coisa resolveu por deixar com alguém que fosse realmente usar.

- O que tem seu vídeo game?

- Eu não consigo abrir Sakura! Me ajuda!

- Kero você me acordou para isso? Ai você não tem jeito mesmo, deixe me ver – peguei a bolsinha e tentei abrir. – Nossa que trava complicada, acho que não vou conseguir abrir desse jeito.

Neste momento Kero disse alguma coisa que eu não ouvi, estava perdida nos meus pensamentos novamente, mas dessa vez não era no Li que eu estava pensando, mas sim na Tomoyo.

- Alessandra! Já sei como te tirar dessa casa!

Depois de chamá-la um pouco ela apareceu, confesso que tomei um susto quando ela atravessou a parede, mas estava muito empolgada para reclamar ou algo parecido.

- Alessandra, já tentou atravessar a janela?

- Já, também não funciona.

- Bom, eu tenho uma idéia, gostaria de tentar?

- Aproxime-se bem devagar na janela, se der certo você não será atingida por ela.

Ela olhou para mim com desconfiança, mas como não tinha nenhuma outra opção ela começou a chegar perto, a barreira começou a reagir e eu peguei duas cartas do baralho, quando o raio saiu da barreira para atingir ela.

- Tempo!

A barreira congelou, assim como tudo na sala exceto eu, tive um flashback de quando capturei a carta escudo.

- Espada!

Cortei a barreira e o tempo voltou a correr, formou-se um circulo mágico que logo se dissipou.

- Tente atravessar agora.

- Ok.

Alessandra se aproximou da barreira e foi estendendo sua mão direita, hesitou por um instante, mas continuou, quando sua mão estava novamente prestes a passar para o outro lado, nada aconteceu, ela então atravessou a janela.

- Consegui Sakura!

- Que bom não é?! E agora?

- Bom eu me lembro aonde era a casa que eu morava, podia começar por lá.

- Então espere, vou descer e nós vamos juntas.

- Não precisa, você já me ajudou muito...

- Não, deixe eu te ajudar, prometi que faria tudo o que pudesse para ajudá-la a recuperar o quadro e farei.

- Sakura... Não tenho como agradecê-la.

Troquei de roupa, peguei minha bolsa, Kero e a chave do quarto, saímos nós três a caminho da casa da Alessandra, todos os três pensavam o que haveria lá, mas ninguém esperava o que realmente tinha lá.