A escola de Karakura estava se esvaziando naquele fim de tarde, a sala 1-3 já estava vazia, mas com exceção de duas pessoas que já estavam quase indo embora.

- Vamos Rukia, eu não tenho o dia todo!

- Se você quiser ir na frente eu não te impeço. - diz ela com um olhar de indiferença

- Tá certo, sua bruta. Mas o que quer ficar fazendo aqui? - Ele perguntou com sincera curiosidade.

- Te interessa?

 Ichigo franziu as sobrancelhas.

- O que deu em você hein? Ah, quer saber? Vou indo embora. Fique aí se quiser.

E dizendo isso o rapaz de cabelos alaranjados retira-se da sala murmurando algo inaudível para a pequena garota.

- O que você disse? - vira-se - Fala na minha cara seu... grr!!

Ichigo não se importou, ele saiu daquela sala sem olhar para trás.

- O que aquele garoto tem? - diz ela guardando suas últimas coisas e indo atrás. - Eu nem pedi pra ele me esperar.

Rukia sai dali resmungando para o vento.

--X--

Embora a casa dos Kurosaki fosse longe, Rukia iria a pé até lá do mesmo jeito. Naquela caminhada, ela se sentia diferente, afinal, era a primeira vez que ela sairia da escola sem a companhia do insuportável garoto de cabelos laranjas. Surpreendeu-se ao constatar que eram poucos os lugares que ela ia sem Ichigo. Aliás, passava quase 24 horas do seu dia junto dele.

Isso lhe provocou um arrepio repentino. Nunca havia pensado nas coisas dessa forma.

"Acho que o suco me fez mal hoje..." - Ela pensa desconfortável.

Mas a pequena não conseguiu deixar de pensar em como seria o seu dia se Ichigo não estivesse nele.

"Bom, seria o meu dia de sorte" - Revirou os olhos enquanto pensava.

   --X--

Ichigo passava por aquelas ruas quase desertas sozinho.

- Hey Rukia...

Logo parou de falar quando percebeu que a pequena não estava com ele.

- Tsc, droga. Será que ela já está vindo? - diz ele virando para trás.  - Ah, quem se importa? Ela não é mais bebezinha pra eu ficar servindo de babá pra ela.

Ichigo ainda permanece ali parado. Começa a pensar...

"Será que ela está lutando com um hollow?" - pensa ele.

Sem perceber, o garoto senta-se no banco que se encontrava ali. Era estranho pensar em sua rotina sem Rukia.

"Será se ela está bem?" - Pensava - "Será se aconteceu algum acidente? Ah, droga, se for será tudo culpa minha..."

Mesmo assim pensando, ele não se levantou. Sua testa estava franzida em relação ao que estava passando por sua cabeça. Tudo bem que se preocupava com Rukia, afinal os dois eram amigos e tudo mais... Será se ele não estaria exagerando?

- Isso é tudo sua culpa, baixinha do capeta - Ele praguejou em voz baixa.

A noite já havia chegado e tal baixinha ainda não havia chegado. O garoto decidiu ir atrás dela.

- Droga, se acontecer alguma coisa com ela eu juro que eu mato um, isso se o Byakuya não me matar primeiro.

--X--

A garota andava por ali bem devagar, afinal, ela queria apreciar a beleza que a cidade de Karakura estava lhe oferecendo.

- Nossa! Como a noite está bela hoje! - diz a garota parando no meio do caminho.

A morena estava na margem daquele belo lago de Karakura. A shinigami deita-se no gramado e passa a admirar o céu estrelado.

O tempo parecia passar mais devagar. A lua estava cheia e brilhante, iluminando a face da pequena Kuchiki. Estendeu então a mão para o céu.

"Inalcançável..."

Seria essa a palavra que regia toda a sua vida? Inalcançável conquistar a confiança de Byakuya, inalcançável se tornar fukutaichou, inalcançável entender aquele moleque de cabelos revoltos...

Ou será se o problema era com ela? Se tudo dava errado, algo tinha de errado...

Rukia procurava alcançar a resposta para todos aqueles seus questionamentos. Mergulhada naquele rio de pensamentos, ela não percebera que o tempo estava passando tão rapidamente.

--X—

O garoto não a encontrava em lugar nenhum. Ele já estava começando a ficar desesperado.

- Droga! Como eu não pensei nisso antes?

O garoto se lembra de achá-la através dos rastros de reiatsu até que...

- Yosh! Não está tão longe daqui. - diz ele indo em direção à força espiritual da garota.

--X—

Rukia, sozinha como estava, sentiu uma ponta de melancolia. Tinha pensado que um dia sem ter Ichigo por perto seria as mil maravilhas... Mas não foi.

Sentia-se estranha, incompleta... Toda vez que se virava para os lados, pensando encontrar o motivo de todas as suas manifestações de raiva, nada encontrava.

Era terrível não gritar com ele. Era insuportável não ter que ver aquela testa franzida e aquela cara de "não me importo".

E no meio de todos esses pensamentos sentiu-se grata por aquilo ser somente UM dia e não o resto de sua vida. Não iria aguentar se assim fosse.

- Rukia!! - Uma voz conhecida clamou por ela.

Era nada mais nada menos do que seu insuportável, ignorante, chato e amado amigo Ichigo. O garoto logo se sentiu aliviado ao ver a pequena ali deitada sob a luz do luar. Aquilo parecia uma paisagem a ser admirada, afinal, a luz do luar combinava perfeitamente com o tom suave da pele da pequena shinigami. O garoto logo chega até ela e abre um sorriso doce.

- Rukia, que bom que você está bem... - diz ele ao ver a garota se sentar no gramado.

- Que eu estou bem? Do que está falando? - Ela indaga.

- Você passou horas aqui, baixinha maldita!

Mas ela não se irritou. Ele estava preocupado...

- Ichigo...

- Que foi? - Perguntou observando cada detalhe de deu rosto.

- Sentiu minha falta?

Ele quase capotou para trás.

- Como você faz uma pergunta dessas?! Eu andei essa cidade inteira e você ainda me vem com essa conversa de "sentiu minha falta?".

Ela fitou o chão.

- Você ainda não respondeu.

O garoto coçou a cabeça meio sem jeito.

- É realmente estranho não te ter por perto... É extremamente... Vazio.

Rukia abre um pequeno sorriso ainda olhando para o chão, pois, ela estava feliz em perceber que ele sentia a mesma coisa que ela.

- Eu também estava me sentindo muito sozinha, como se estivesse faltando...

A garota deu uma pausa.

- Faltando? - persistia o garoto.

- Um pedaço de mim... - diz ela passando a olhar diretamente nos olhos do garoto.

A verdade é que ela não queria dizer mais nada. Sentia-se embaraçada e desconfortável.

- Vamos embora, sim? – diz ela.

- Espere um minuto...

- Por favor... - Ela insistiu.

Seu coração batia a mil por hora e sua respiração estava irregular. Mesmo assim não queria deixar nada transparecer. Talvez algum orgulho ainda sobrasse nela.

- Você diz essas coisas e não explica! Droga... Isso só me deixa cada vez mais confuso...

Rukia, quase que involuntariamente, corre seus dedos pela a face de Ichigo, finalmente chegando aos cabelos tão revoltos. Sempre sentira vontade de fazer aquilo. Mas ela se detém.

- Desculpe...

A garota vira-se de costas para ir embora, mas é impedida por um impulso que a puxava para trás.

- Ichigo?! - diz ela meio assustada e corada.

Naquele momento, ele a puxa pelo braço com força e a faz olhar em seus olhos.

- Não vai me dizer mesmo?

- Por favor, Ichigo...

- Então eu mesmo farei você me dizer.

De repente o shinigami envolve a garota em seus fortes braços e sela nos lábios dela, um beijo. O coração da garota pareceu parar. Os pensamentos lhe foram varridos e ela sentiu que poderia cair ali mesmo.

Era seu primeiro beijo. Foi uma experiência tão... Diferente... Mas não deixou de ser prazerosa. Aos poucos ela foi entendendo como corresponder e assim o fez.

Depois de alguns segundos, sem fôlego, ambos se separaram. A moça fitou o chão sem jeito. Talvez essa fora uma das primeiras vezes em que realmente sentiu-se tímida e sem ação.

- E então? - Ele perguntou com um tom divertido.

- E então o que, seu idiota? - indagou vermelha.

O garoto riu. Alguma coisa havia mudado.

- Admita logo de uma vez.

- Admitir o que?!

Ichigo não conseguiu evitar outra risada, que aos ouvidos de Rukia pareciam sinos de igreja.

- Deixa para lá. Vamos para casa, nanica - disse passando o braço ao redor de sua cintura.

- Ei, que é isso?! O que as pessoas vão pensar quando nos virem assim na rua?

- Ah, então prefere que eu te carregue nos braços?

- Não! - Ela gritou.

- Então não reclame - Riu novamente.

- Idiota... - mas não conseguiu esconder um sorriso tímido.

O garoto espera ela ir um pouco mais à frente e a pega desprevenida por trás. O morango carrega a shinigami no ombro e sai correndo.

- Seu idiota! Quer me matar? Me solta! - diz ela segurando o riso.

- Desculpe, eu não resisti - diz ele rindo.