Snuff escrita por DaniDeadRabbit


Capítulo 1
Capítulo 1




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A faixa estava presa firmemente na sacada do apartamento. As pessoas que passavam pela calçada olhavam para cima. Umas com ar de riso, outros sorrindo. Alguns balançavam a cabeça, descrentes no que viam. Ele mantinha os olhos em todos que olhavam, mais especificamente nas garotas. Talvez ela passasse por ali e visse.

 

- Me diga, Diogo, o que exatamente você procura?

 

- Explique-se. - nem ao menos olhou para o irmão, mantendo os olhos nos pedestres.

 

- Alguma garota te laçou mesmo, não é? - o caçula riu - É a única explicação para você ter pendurado aquilo na sacada da nossa casa. - indicou a faixa - Quando mamãe chegar ela vai querer saber quem é a menina.

 

- Não torra, pivete. Você não entende nada. - balançou a cabeça, murmurando baixo - Nada, nada...

 

Pedro resmungou alguma coisa e saiu dali, correndo para a quadra de futsal. Diogo permaneceu ali, sentado no banco do parque que ficava em frente ao prédio onde morava.

 

"NÃO PENSE NISSO. VOCÊ É LINDA", em letras garrafais na tal faixa.

 

Suspirou.

 

Recebera a carta no mês anterior. Fora jogada ao acaso em sua caixa de correio, sem endereço de destinatário ou remetente. O conteúdo era uma única folha, escrita as pressas em uma caligrafia miúda. Um desabafo de uma garota. Um endereço de e-mail no fim da página. E mais nada.

 

Podia ter ignorado, mas algo o impediu. E desde ali escrevia para ela, sem saber se ela lia, se de fato a menina existia. Sentia-se um idiota, mas algo o ligava a ela. Se ao menos pudesse saber onde ela estava, quem era...

 

A folha estava guardada com todo o cuidado dentro de sua cômodo. Era inexplicavel o sentimento que teve ao ler a carta pela primeira vez. Lhe prendeu da primeira letra ao último ponto final. E ficara tão perturbado que teve de escrever ao e-mail que ela deixara ao fim da página.

 

Esperou uma resposta por dias, que não veio. Pensou que um de seus amigos lhe pregara aquela peça, até que a resposta finalmente chegou. Um texto tão comovente que era impossível ser da autoria de um de seus amigos bobões.

 

"Obrigada. De verdade. Apesar de não concordar com nada do que disse". Foi o que ela escreveu.

 

Complexada. Por uma alta estatura e um problema de miopia. Na carta, se dizia feia e excluída, vangloriando a beleza de suas colegas de sala e seu desejo de sumir. Diogo nunca fora dos mais sentimentais, mas cada palavra daquela carta (que pareciam escolhidas a dedo) lhe fez vislumbrar um mundo que não conhecia.

 

Sempre cercado de pessoas "perfeitas", a aparente imperfeição daquela garota o tocara. Implorara para conhecê-la. Talvez pudesse ser um bom amigo para ela, mas a dita cuja se recusou a lhe dizer em um dos dois e-mails que lhe mandara em todo aquele tempo.

 

Procurava meninas com a descrição dela, mas nada. Assim como seu irmão Pedro, seus colegas de sala riam de si por essa aparente obsessão.

 

Encarou a faixa no alto de sua sacada. Torcia para que ela visse.


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