A Colunista. escrita por Avrillafly


Capítulo 5
Motivos para odiar minha vida - Parte 2




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Não acredito em nada
Não acredito em nada
Cada dia, todos os dias
Eu apenas sonho distante sonho distante
Para o outro mundo
Cada dia eu possa ver
Todas as pessoas em torno de olhar para mim
Sei o que eles dizem
O que eles dizem
Você será logo esquecida" -Trecho da música I Don´t Believe - Cinema Bizarre


Como sempre, acordei as 06:40, dei bom dia pra eles, lavei o rosto, fiz a maquiagem escura, e coloquei música pra me dar inspiração do que usar: 30STM – A Beautiful Lie. Mesmo estando num volume alto, eu jamais esperaria escutar um grito aquela hora da manhã.
-Que houve?! - Gritei no corredor. Emily apareceu de pijama, toda despenteada. - Ué, o que ainda faz aqui?
-A droga do despertador não tocou logo hoje! - Ela voltou pro quarto e fui atrás.
-Que que tem hoje? - Disse, tentando contar a quantidade de roupas que eram lançadas na cama.
-A reunião da edição! Já são 7 e 10 e ainda estou aqui! Se não fosse por... isso que você escuta eu não acordava.
-Agradeça ao Jared- me sentei na cama- hum... devia usar esse conjunto preto.
-Porque? - Vocês deviam ver a cara da Emily em desespero.
-Preto é básico, rápido e simples, e ressalta a cor dos seus olhos.
-Me dá logo isso - e se trancou no banheiro.
Terminei de me arrumar e comia meu cereal com desinteresse. A Tv mostrava o Bob Esponja caçando água-viva com o Patrick. Ela desceu as escadas correndo e apareceu pra dizer tchau.
-E seu café? - Disse.
-Sem tempo nenhum, reza pra sua mãe ter emprego quando voltar!
-Ok – e fiquei vendo o Corolla deixar a garagem pela janela da cozinha.
Antes de sair, disse bom dia pra eles na página do MySpace. No trajeto da escola, quase bati num furgão preto. Na verdade eram 4, todos com vidros espelhados, correndo em fila. Eu estava na preferencial, eles vieram à toda cortando a rua. Se não freio a tempo, os legistas teriam trabalho pra separar meus restos mortais dos estilhaços.
-Aprende a dirigir, porra! - Gritei, buzinando. Eles continuaram, e eu olhei estranho. Viraram pra esquerda duas quadras depois.
Na escola, uma coisa diferente: teste suspresa de química. Coisa que eu sabia de cor, afinal além de ser CDF, tinha um QI relativamente alto, e ainda fui agraciada com memória fotográfica. Mesmo assim tive certa dificuldade pra escrever, minha mão ainda tremia com o susto da quase-batida, e não tirava aqueles furgões da mente.
Pela hora do almoço, levei minha bandeja quase vazia até a mesa onde Cris e Danny me esperavam. Estávamos sempre no lado sul do refeitório, onde batia pouca luz solar. Ali existiam a ala dos nerds à esquerda, e a ala dos emos à direita. Nossa mesa ficava quase encostada na parede e só nós três sentávamos lá.

Pequeno lembrete inútil:
Antes eram quatro
Na verdade, quase chegou a ser cinco
Mas estancou no número três



No lado norte, onde o sol quase deixava os seus presentes cegos, estavam os ginastas, líderes de torcida, os descolados, o pessoal do time de basquete e claro, as patricinhas – sempre bajuladas pelos mais atléticos. Kyra estava mais que à vontade, enquanto um dos fisioculturistas pegava numa numa das suas mãos-de-seda e dava beijos. Desviei meus olhos para evitar que meu estômago se embrulhasse.
-Cara, o teste que química me ferrou, eu não sabia nada! - Disse Danny, com voz chorosa.
-Ainda bem que não tenho aula com aquele traste hoje, mas ainda vou ter aula de ginástica, urgh!...ei, Th, está distraída hoje, hein!
-Uhum...não tô muito legal não – disse, enfiando a última colherada de gelatina artificial de limão goela a baixo.
-Já sei! Praga-de-Eva, não é?!
-Ô, a China ainda não escutou teu grito, sabia? E não, é outra coisa... - disse, desviando os olhos mais uma vez para duas mesas à frente.
-O que? - Danny sussurrou.
-Quase bateram no meu carro hoje – e continuava teimosa olhando naquela direçõa, o procurando.
-Sério?! - Cris já estava gritando outra vez sem notar – Mas conta detalhes! Era caminhão, ônibus...
-Um furgão. Na verdade quatro – meu coração sofreu um descompasso quando o localizei – parecia coisa de cinema...
-Haaaaaammm.... - Cris acompanhou meu olhar – Poxa garota, não deixa tão na cara assim!
-Que? - Finalmente as olhei. Danny prendia o riso.
-Vai ficar cuidando dos passos dele até quando? Já vai fazer um ano, Th!
-Oito meses - corrigi – e não estou cuidando, estava só olhando, ok?
-Me desculpe, mas... está “olhando” ele por oito meses... - Danny finalmente disse.
-Tá, tá, conseguiram!- Me levantei – depois nos vemos.
-Mas você nem tocou na comida!
-Tô sem fome, Danny. E tô revoltada também! - Coloquei a mochila nas costas, e fiz questão de passar pela mesa dele. Como se aquele par de olhos verde-água também não estivessem cuidando, ou melhor, me “olhando” por oito meses, duas semanas e três dias. Sim, eu sou sistemática.
Algumas das mesas do lado norte ainda fizeram gracinhas por eu não ter usado a porta dos fundos, como o pessoal da minha área. Que se dane aquele bando de babacas que se acham! O que eles vão ser quando saírem da escola mesmo? Atendentes de lanchonete de esquina, frentistas, manicures...se já não saírem desse inferno como pais. Eu ria por dentro tentando imaginar como aquelas mentes vazias e pré-fabricadas por mídia faziam um currículo. Aposto que na parte de habilidades, colocariam: “Ah, eu fui a rainha do baile de primavera por 3 anos consecutivos! Um luxo, baby!”. Aff, façam-me um favor...

Uma Nota Sobre o meu Gênio:
Assim como Emily, sou de humor seco e sarcástico, sabendo bem como usar as palavras para ferir os sentimentos de alguém.



Depois de desviar dos skatistas, me sentei num banco de concreto bem na frente da fonte e recoloquei os foninhos.
“Vamos lá meninos, agora é com vocês, me ajudem a manter a sanidade neste hospício que chamam de instituição escolar”.
Eles também eram minha fórmula de escape. Quando meu mundo estava prestes a desabar, era escutar alguma música deles que tudo voltava a ter sentido. E claro, Bill era totalmente ao contrário dele. Sabia que o alemão não tinha como dom destruir a vida de alguém, por mais que esta merecesse.
Uma e pouco da tarde já estava em casa. Como a fome bateu, coloquei a primeira lasanha que encontrei no microondas, e já tomava alguns goles de coca. Nada de bom na Tv, voltei a ver desenho animado. Desta vez, Padrinhos Mágicos: Timmy e Kosmo tentavam achar Wanda no mundo das varinhas mágicas perdidas. Assim que Kosmo virou um peixe voador verde, o telefone tocou.
-Alô?
-Oi Lillyth, é a mamãe.
-Valeu por avisar, ia arriscar que fosse o tio Charles – ela riu – manda.
-Filha, se importa de ficar sozinha hoje por mais tempo? A edição tá uma loucura, não vão conseguir fazer nada sem mim.
-Imagina, tô acostumada! - Disse, em tom de deboche.
-Filha...
-Mãe, sua coluna sai uma vez por semana e você pode escrever ela em casa, sem nunca precisar gastar o precioso salto do seu scarpin nessa edição! Como assim não vão fazer nada sem você, quem trabalha nesse lugar, um bando de retardados?
-Olha aqui menina, nós vamos ter aquela conversa que eu estou te prometendi faz tempo, ouviu?
-Sem cahnce, você disse que eu tô sozinha hoje.
-Lillyth!
-Olha, nós duas estamos nervosas, ok? Então porque você não continua brincando de Nathalie- A Super Heroína, enquanto eu vivo feliz e contente com minha vidinha no sótão?
-Olha aqui, saiba que meu trabalho não é brincadeira! Ele... - ela continuou a falar, e eu fingia que escutava. No final a comida já estava fria, mas só de raiva esquentei outra vez e praticamente engoli. Fiz meu dever de casa quase rasgando a folha de tanto forçar a lapiseira contra o papel. Deixei um recado pra Danny e Cris, me desculpando por meu comportamento infantil, e dando uma desculpa esfarrapada pra minhas leitoras de fan-fic: falta de inspiração. A complicada vida amorosa do baixista na história podia esperar.
E como sempre, acabava por chorar. De raiva, de medo, de tristeza, de ressentimento. Mas principalmente por culpa, não entendendo como podia ser tão ignorante com Emily. Dormia abraçada com um ursinho rosa de toy-art, olhando uma foto deles que eu havia emoldurado: bem mais novos, sorrindo, enquanto seguravam desenhos feitos por fãs. Eu simplesmente não sabia que rumo dar pra minha droga de vida.


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