A Colunista. escrita por Avrillafly


Capítulo 3
Meu antes e depois.




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Eu realmente não sei como, nem por onde começar essa história. Até pediria ajuda da pessoa que mais admiro agora – minha mãe – mas digamos que ela... está bem ocupada no Havaí. De qualquer forma, encare esses registros como minhas memórias, coisas que eu não dava tanta importância, até descobrir o valor delas. E principalmente, de se descobrir o valor que se deve dar a possível pessoa que vai se sacrificar por você, aquela que se for preciso vai dar a sua vida, e mesmo que você a exclua de seu mundinho, ela sempre vai tentar entrar. E acredite: mais cedo ou mais tarde ela vai conseguir, e você, a boba pessoa que a excluía, vai abrir o portão da frente para ela. De quem estou falando? É, você já sabe, da sua mãe.
Se tem uma palavra que pode definir Emily Jankersdorf é essa – batalhadora. E olha que você como filho ou filha já tem uma idéia de como uma mãe batalha. O que eu espero, é te ajudar para se aprofundar nisso. E esta batalhadora tinha o emprego dos seus sonhos: era colunista do renomado Los Angeles Times. Claro que nessa época, o que eu desejava lá no fundo é que trabalhasse pro The New York Times, mas cara ô cidadezinha poluída, cheia e barulhenta! Só depois de ter ido lá concordei com ela nesse ponto.
Terão de me desculpar, ainda não me apresentei. Sou a ex- infeliz, chata e sem-noção Lillyth Anne Jankersdorf. Eu simplesmente detestava meu nome. Por ele ser velho, ultrapassado, e por ser uma sutil homenagem a bisa da minha mãe que nunca conheci. E meu sobrenome? Hum, esse nem se fala! Sentia arrepios toda vez que falavam esse maldito na chamada – nunca sabiam pronunciá-lo, e fala sério, é arrepiante mesmo!
Essa história começa na exata manhã de 12 de Fevereiro de 2008 – uma terça. Antes de contar minha participação deste dia, vamos direto ao da senhorita Emily. E eu não errei, minha mãe não era casada nesse época, mas isso eu deixo pra contar depois.
Nesta manhã a querida Emily admirava com entusiasmo a sua coluna já impressa. Por detrás das lentes bifocais, um par de olhos claros – meio azuis, meio verdes. Infelizmente estes não são os meus olhos, e você já deve fazer uma idéia de onde vem a cor de avelã que predomina em minha íris. Emily quase sorria de ansiedade e contentamento, só esperando as opiniões de seus fiéis leitores que provavelmente iriam ter espaço no jornal das oito.
Como eu já disse, minha mãe era colunista. Mas o que eu não disse, é sobre o que escrevia. Seu assunto principal, que fazia com que cada exemplar daquele jornal fosse vendido era um só: celebridades, principalmente as do mundo da música. Mas não vá dizendo que minha mãe era uma fofoqueira, porque isso ela não é. Ela era crítica- e daquelas de mão pesada. Escrevia sobre os fatos, adcionando acidez, expondo todos os erros e vergonhas, e mesmo assim no final deixava uma única qualidade - só pra curtir com a cara de seu alvo e deixar uma piada como deixa. Seu último alvo? Fergie. Sente só uma pequena parte da crítica:

“A loira (não tão natural assim) de traços perfeitos (nada naturais assim), mostrou com seu mais novo hit a falta de sentimento e criatividade de que tanto sentimos falta da parte dos músicos. Os Beatles que me julguem, mas falar que “Grandes Garotas não Choram” com aquela vozinha (já chorosa) fazendo com que suportemos o5:34 de puro melodrama falso? Faça um único favor a todos os ouvidos da humanidade, querida: não tente subir a voz 5 oitavas junto com seu típico “miado”, você não é a Mariah Carrey. Esperem para ver “Clumsy”, a cena que ela cai do prédio tá perfeita (e tão natural!...)”

Pois é, essa é a Emily: com seu humor seco e sarcástico, chegou no topo do jornalismo, tendo a coluna sensacionalista mais lida dos Estados Unidos da América. Nem preciso citar a quantidadede processos que pessoas com essa profissão tem de responder. Mas ela sempre se safou, usando a lei-protetora-de-todo-jornalista-e-paparazzi: a liberdade de imprensa. E claro, para proteger a mim e a si mesma, ela usava um alter-ego: Nathalie. Durante toda a sua carreira, nunca – por mais que tentassem – conseguiam descobrir a identidade verdadeira. Na verdade, o mundo só conheceu Emily Jankersdorf quando ela mesma – em rede nacional – resolveu aparecer.
-Como vai indo, Em?- Este é Jhonatan Turano, chefinho amado da mamãe, o único com autorização para chamá-la pelo apelido em horário de trabalho.
-Sabe como fico toda manhã de terça, Joe: louca para ver as opiniões, e obcecada pelo meu novo alvo – a regra doa apelidos também só se aplicava a ela.
-Sabe, eu juro que as vezes tento entender o que se passa por essa mente doentia e cheia de adjetivos.
-Continue tentando – disse, em tom de desafio.
-Vou continuar. Mal espero pelo seu alvo-anual! - Ele saiu, rindo. Deixe-me explicar como funcionava o alvo-anual.
Esse alvo obviamente era uma celebridade. Emily escolhia cuidadosamente quem seria, e a partir de Março, Abril no máximo, começava a formular o dia em que sua coluna era mais lida: todo dia 24 de Dezembro – a véspera do Natal. Sim, esta malévola criatura publicava a coluna mais esperada do ano, na véspera da comemoração mais esperada do ano, que por sinal é o dia em que nasci. “É para ter assunto pra discutir com o Papai-Noel”, ela dizia. É claro que pra esta coluna em especial, existiam algumas regras que ela seguia à risca: teria de encontrar no mínimo 15 vezes com o alvo - o que fazia com que viajasse várias vezes no ano. E a mais importante regra: teria de conhecer ele. Este era o critério que a ajudava a criticar: tinha de conhecer a pessoa pra dar palpite sobre sua vida, era mais ou menos como uma ética de trabalho.

Uma nota importante:
estar na coluna, no dia 24 de Dezembro podia dar em dois resultados:
destruir completamente ou consagrar definitivamente o alvo



É, as pessoas realmente baseiam suas opiniões nos críticos, e por eles saberem deste fato que ganham tão bem.
Neste mesmo 12 de Fevereiro uma mini-ingrata de 17 anos estacionava seu Jetta preto novinho em folha no estacionamento do colégio, em Westwood Village. A cara sempre com a mesma expressão tediosa, lápis preto e exagerado, as unhas compridas, pretas e com uma francesinha que mais parecia uma faixa branca. Munhequeira, bótons com mochila (de tantos, não era mais mochila com bótons), cabelos pretos com uma ou outra cor se intromentendo em faixas de vez em quando, e um piercing no lábio completava o visual. Sim esta sou eu, sim eu era emo. Nada contra os emos, mas quando você leva seu estilo ao extremismo – como eu fazia para pra fugir dos problemas de adolescência – você fica realmente um saco.

Uma pequena nota sobre mim:
Há alguns anos atrás, eu era o que chamam de pessoa normal: deixava meus cabelos ruivos naturais à mostra, inclusive as leves ondas que ele produzia. Usava roupas comuns, era sorridente, e tinha um quarto em vez de sótão. Bem, isso quando você ainda não recebe doses maciças de hormônios, misturado a um coquetel de estresse, planos para o futuro, e as terríveis pressões que essa fase traz.



Ah claro, não se esqueça dos fones de ouvido, num volume tão alto que parecia um alto-falante. É incrível como nós jovens não estamos nem aí pra saúde. 98% são assim. O resto é naturalista, ou está na última temporada do Gossip Girl e tem que se cuidar.
Como sempre abri meu armário – o 483 – motivo adcional pra suportar aquela merda de escola. Dei meu primeiro sorriso quando vi o poster principal colado no fundo, e mandei beijos para os quatro. É claro, eu amava emocore, mas também escutava ( e escuto) 30STM, MCR, Paramore, Green Day e por aí vai. Mas eles, aqueles 4 garotos de Magdenburgo que me conquistaram. Um mais diferente que o outro, tanto que custa pra você sacar que tem irmãos gêmeos idênticos na banda. Não eram aqueles tipinho-americanos – outro ponto – o vocal tinha aquele sotaque super sexy quando cantava em inglês, e eram – e ainda são – a maior banda de rock da Alemanha nos últimos 20 anos. Portanto, se você não é fã do Tokio Hotel, tenha respeito.
-Olha só, a Tokioidólatra! - Girei os olhos ao reconhecer aquela voz fina, irritante e nojenta. Mas será possível, meu fone estava no volume máximo! E escutava Ready, Set, Go!
-Vejam só, a mais nova infeliz fergalicious – provoquei. A criatura, junto com suas outras 4 crias torceram a boca.
-Aquela...vadia não sabe de nada, falou?! - Balançou a cabeça, jogango aquele cabelo chapado pra cima de mim. A vontade de mater um soco naquele projeto de botox era imensa, mas sempre me controlei. Nessa época eu não me dava bem com Emily, mas não podia arriscar e estragar seu emprego.
-Bem, a Nathalie pode até ser vadia, mas sabe o que escreve. Afinal, esse último artigo ficou excelente! Sabe, ela fez questão de baixar o nível pra vadia e escrever sobre a Fergie. Eu realmente tenho pena daquela mulher, mas acho que vou rezar pelo Milo Ventimiglia, quem sabe ele ainda consegue papel pro Heroes na próxima temporada? - Falei alto o suficiente pra que o corredor inteiro gritasse de agitação. Kyra e suas crias se retiraram, prometendo volta. Desta vez qté os ginastas me cumprimentaram. Eu podia ser emo, mas boba eu nunca fui. Não ia deixar que “aquilo” tentasse chegar no meu nível de QI.

Outra coisa sobre as metidas do colégio:
Elas são todas burras, mas ninguém até hoje contou isso pra elas. Então minha querida, é só saber o que falar que você sempre se dá bem.



-Th! Arrasou desta vez garota!
-Mal espero pela “volta” da Kyra, que talho você deu naquele ego vestido de Dolce & Gabanna!
-Valeu meninas! - disse. Elas são Danny e Cris, somos tipo “best friends” até hoje. Como eu também eram emos, e me chamavam de Th porque mesmo tendo aquele nome antiquado, graças ao bom Deus as últimas duas letras eram abençoadas.
-Tem aula do que agora? - Disse Danny.
-Química. Caderno Gustav – eu tinha cada caderno personalizado com eles, química era especialmente para Gustav.
-Você e sua paixão pelos alemães. Mas cara, fico aqui pensando... e se a Nathalie um dia os criticar? Será que ia falar bem?
-Também penso isso. O que ia fazer se isso rolasse, Th?
-Sei lá Cris, só sei que... ela pode ser boa no que faz, mas não se atreveria a tanto! - As duas riram, mas eu permaneci séria.
Como uma das únicas pessoas a saber da verdadeira identidade de Nathalie naquela época, já havia cogitado a possibilidade. Só não sabia o motivo dela começar a parecer tão real.


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