Não posso afirmar com certeza que estava com plena sanidade naquele dia. Só posso dizer que tinham muitas luzes, música alta, vestidos de todas as cores, rostos sorridentes... vários deles eu lembrava, e TODOS me conheciam agora, depois desse último ano que foi o mais louco e mais incrível de toda a minha vida. É claro que eles sorriam, não sabiam nem da metade do que tinha acontecido, só o que a mídia conseguiu arrancar da história, da nossa história. Eu não conseguia parar de pensar nas últimas palavras que trocamos – foram cruéis, eu não merecia, mas foram ditas. Mas principalmente, de todos os momentos que ficaram gravados, e tudo por causa da querida Emily.
Acho que por estar pensando demais, ou pelo champagne não escutei o microfone me chamando, nem a luz forte que me iluminou. Se não fosse Cris gritando por mim, continuaria lá parada, esperando que um milagre acontecesse. Eu finalmente olhei pro palco, mas estava tão iluminado que não conseguia enxergar direito.
Fui caminhando sem jeito até lá. Pensando que aquela caminhada era só o início de tudo. Já tinha a passagem comprada, a chave, o endereço... era só viver, só isso. Quando cheguei perto da escada a escutei gritar: “Vai nessa, emuxinha!”
Eu ri. Antes era um apelido ofensivo, agora, ela o usava com muito carinho. E aquele cara, o “loirinho” como ela o chamava estava ao lado dela de terno, sorrindo. Não tinha casal mais feliz no mundo que eles. E eu era uma das únicas pessoas a saber como o loirinho havia salvado sua vida- de uma vez por todas.
Segurei a saia de cetim do vestido rosa para não tropeçar. Estava rindo, esquecendo um pouco de tudo aquilo e me concentrando no momento. É claro que não era tão justo assim estar ganhando, mas não podia mudar o mundo.
Vieram me coroar. E no meio de todos aqueles gritos, assovios e aplausos eu não esperava por aquilo. Senti meu coração parar e meu corpo gelar, as pernas estavam tremendo. Estava de rosto sério e sereno, mas lá no fundo eu sabia que ele queria sorrir mais do que tudo. Nas mãos, a tiara.
-Meus parabéns – ele disse.
E tudo isso aconteceu dois dias antes do mundo saber se seria o seu fim ou a sua ascenção.