Nem sei por onde começar. Na verdade, desde que ele apareceu, a Rukia nunca mais foi a mesma... Quer dizer, pelo menos comigo.

Não pude impedir que ela fosse para o Mundo Real... Quem sabe se eu tivesse conseguido ela nunca teria o conhecido. Acho que o invejo um pouco... Pelo menos ele sempre está lá para defendê-la.

Meu grande erro foi ter jurado para ela que sempre a protegeria. E acabei não conseguindo cumprir essa promessa...

– Rukia... – Arfei enquanto corria. Várias pessoas tentavam me parar pelo caminho. Não consegui identificar o rosto de nenhum deles. Um até gritou por meu nome... Mas não era importante. Não tão importante quanto salvá-la.

Antes, meu grande objetivo era superar Kuchiki Byakuya. E por quê? Por orgulho? Não... Eu queria superá-lo por Rukia. Ele que um dia a tirou de mim e de meu mundo de maneira tão brusca e inesperada que não pude reagir. Novamente não consegui protegê-la.

Agora ela está prestes a ser executada. E ainda mais quando lutei com aquele cara... A sua determinação era tão grande quanto a minha... Parecia que ele realmente queria salvá-la... Nem que morresse tentando. Naquele momento pensei que eu não tinha o direito de defendê-la, que eu era muito fraco. E acabei perdendo. Sangrando, humilhado e derrotado pedi a ele que a salvasse por mim... Num momento de desespero, eu acho.  E novamente não consegui protegê-la.

Deparei-me com Kuchiki Taichou. Transformei toda a minha culpa em raiva. Lutei, dei tudo de mim. Pensei que finalmente poderia fazer valer a pena estar ali. Enganei-me. Pela terceira vez perdi. Ele foi embora, para a execução... Algo que eu talvez não conseguisse impedir.

Eu correra com todas as minhas forças em direção a ela. O pouco sangue que me restava começou a borbulhar quando vi quem estava com Rukia.

Ele. Kurosaki Ichigo.

Ele sorria para ela. Seu rosto transparecia alívio e também tinha um toque de humor. Rukia nem sequer olhou para baixo, ou melhor, para mim.

Seus olhos arregalados observavam cada centímetro da face de Ichigo, como se não acreditasse que ele estivesse realmente ali.

Senti raiva por aquele maldito ter chegado primeiro. Senti raiva por ela não reparar que gastei quase todo o meu sangue para protegê-la... Mas no fim, acabei sendo inútil. Eu não chegara lá a tempo para salvá-la. E ele sim.

Os minutos seguintes formaram um verdadeiro branco em minha mente. Não me lembro de absolutamente nada do que ocorreu depois. Talvez tenha desmaiado, não estou certo disso. Mas a minha consciência voltou naquele momento que me encontrava agora.

Eu segurava Rukia com força. A manga de meu shihakushou estava rasgada, meu braço sangrava. Ótimo, depois dessa vou precisar de doação.

– R-Renji... – A voz dela soou trêmula ao meu lado.

O sangue fazia grandes poças no chão enquanto eu arfava de cansaço. Minha visão ficou embaçada...

Não! Não posso falhar novamente. Reuni toda minha força de vontade para continuar a segurá-la.

– Mas que coisa... Até que você conseguiu se esquivar bem, Abarai-kun. Você evoluiu bastante... Fico feliz com isso. Não gostaria de vê-lo morrer agora – Aizen respondeu cinicamente.

– Renji! – Rukia gritou de novo.

– Fique quieta, Rukia – Tentei fazer que minha voz soasse um pouco mais forte. A raiva agora me consumia.

Por que diabos todos querem impedir que eu a salve?!

– Todos vocês estão sendo manipulados... Por mim – Ele continuou seu discurso. Mas felizmente eu ainda tinha forças para interromper.

– Eu sei lá quais são os seus motivos... Mas não vou entregar a Rukia para você nem morto!

Permiti-me olhar para a face dela por alguns segundos. Seus olhos estavam arregalados, sua boca estava aberta e suas mãos seguravam meu shihakushou com força. Ela estava preocupada... Comigo. Fazia muito tempo que eu não a via com aquela expressão. Abaixei a cabeça para dar um risinho. Pelo menos isso eu conseguira alguma coisa.

– É uma pena – Aizen disse, como se esperasse alguma reação minha.

E eu reagi.

– Hoero, Zabimaru! – Investi contra ele, com Rukia ainda em meus braços. Seu corpo frágil tremeu por um instante.

Todo e qualquer ataque que eu fazia ele se esquivava com a maior facilidade. Parecia que estava brincando, sua face só havia uma diversão cruel.

Com um safanão de sua zampakutou, Aizen conseguiu partir a Zabimaru no meio como se cortasse manteiga. Senti algo arder em meu braço. Parece que ele não havia cortado apenas a minha espada...

Apenas vi o sangue jorrar. Urrei de dor.

– Você é tão manipulável... Desde o começo sempre soube que podia usá-lo – Aizen disse – Deixe Kuchiki Rukia aqui e vá embora. É sua última chance.

– Vá, Renji! Eu vou ficar bem... – O desespero na voz dela era incontestável.

– Você fala de mais, garota. Ei, seu imbecil... Não vou deixá-la aqui por nada! – Dei um sorriso de triunfo. Mesmo que morresse... Pelo menos morreria a protegendo. Pelo menos conseguiria pela primeira vez ser útil para ela.

Ele levantou a zampakutou em nossa direção e então esperei...

Mas o golpe não veio. Um impacto forte aconteceu.

– Yo...

Não tive palavras.

– Ichigo! – Rukia exclamou.

Não acreditava em meus olhos. Por que esse maldito só vinha atrapalhar?! Tudo bem que eu deveria ser grato por ele ter vindo salvar minha vida mas... Ah, dane-se.

– Ah, Ichigo o que está fazendo aqui?!

– Como é!? Tá gritando com o cara que veio salvar você?! – Ele exclamou.

Me salvar? Acredito. Salvar a Rukia, você quis dizer. Ainda discutimos por um tempo... Mas enfim concordamos em trabalhar em equipe... Bom pelo menos o meu crédito seria pela metade.

– Higa Zekkou! – Gritei enquanto dava meu último golpe.

A poeira subiu. Por um minuto achei que poderia ter conseguido. Mas não. Lá estava Aizen em pé, intacto.

Ichigo então investiu contra ele. Arregalei os olhos quando vi que seu golpe havia sido parado com um dedo.

Depois de jogá-lo para longe, ele investiu contra mim. Nossa, não sabia que no meu corpo ainda havia tanto sangue assim... E ele jorrou novamente. Minha vista não conseguia mais distinguir nada. A não ser uma forma pequena gritando.

– Ichigo! Renji!

Ela não gritara primeiro por mim... Pode ser apenas paranóia minha... Mas o olhar dela demorou-se mais em Ichigo do que em mim. As coisas começaram a ficar negras ao redor de meu campo de visão.

– Droga...

Meus músculos não se moviam mais. Eu não conseguia mais me levantar. Mas com o pouco que me restava consegui ver Ichigo tentando se levantar.  Ele arfava desesperado.

– Ichigo! – Rukia gritava.

E lá estava ele, sempre pronto para defendê-la de qualquer coisa, mesmo não estando em condições. E eu? Sempre deixado de lado como se não existisse. Fico pensando no que realmente estou protegendo...

Não fui aquele que ela escolheu. Mesmo sempre estando ao seu lado... Talvez nunca ela me escolhesse. Quem sabe por que eu nunca consegui demonstrar nada muito bem... Ou talvez por que nunca a consegui proteger de maneira adequada...

Mas mesmo não sendo o escolhido dela... Mesmo sabendo que ela nunca iria me amar, eu iria defendê-la. Sempre. Com todas as minhas forças... Talvez mesmo não sendo seu grande salvador nem agora, nem nunca... Mesmo que minhas pernas não funcionem, nem que meu corpo não reaja... Mas no fim de tudo eu sempre estarei de pé para te proteger, Rukia!

Foi esse meu pensamento antes de finalmente mergulhar num desmaio quase que tranquilizador...

--- FIM ---