Frozen

As cores não surgiam mais diante dos meus olhos - tudo o que eu via era ele. Lembro de sua pele branca e, em contraste, os olhos escuros como as trevas que o rodeavam. Ele me olhava sempre de forma doentia; paralisante, e o perigo estava exatamente ali, pois eu me deixava ser hipnotizada.

Aquela mão que me estava estendida era pálida como uma estátua de mármore: dura, fria e quase sem cor - assim como ele devia ser para mim, mas não era. O que ele significava era muito diferente disso e sim, eu podia estar mesmo cega ou, quem sabe, enxergava aquilo que queria e que me era conveniente.

Agora eu só conseguia vê-lo com muita dificuldade, e o medo tomou conta de mim enquanto ele desaparecia...

"Não vá", eu consegui murmurar fracamente, e um sorriso se instalou em seu rosto por um breve instante - provavelmente fora delírio da minha mente; ele nunca sorria. Tratei logo de me aproximar para impedir que a distância entre nós aumentasse. Eu tenho quase certeza de que não tinha mais consciência de meus atos, mas, mesmo que eu estivesse agindo impulsivamente, por conta da insanidade, eu sabia que aquilo não era tão diferente do que eu desejava. Segurei então em sua mão com tamanha urgência como se eu fosse me afogar se não o fizesse; ele iria para longe de mim, e eu continuaria vivendo. Sufocando.

O meu toque pareceu finalmente tê-lo alertado sobre o que eu estava fazendo, e a expressão doentia agravou-se em seu rosto - mas eu não enxergava. Naquele momento, seus olhos pareciam realmente ter me petrificado quando ele deixou de observar nossas mãos e sua atenção caiu sobre mim. Eu me senti tão fria quanto a mão que segurava - foi quando as cores literalmente desapareceram diante de mim. E ele é tudo o que eu vejo.