Boneca de Porcelana escrita por Catherine


Capítulo 1
Caminhar para a Luz




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    Existe uma lenda sobre uma bela e demoníaca boneca de porcelana, com cabelos banhados pelos raios do sol e reluzentes olhos verdes. Qualquer um ficaria encantado ao vê-la, mas existia um problema. Durante a noite, ela despertava. Os seus olhos pareciam perder parte do brilho, e sua expressão era sempre triste.
    Ela era uma boneca encantada que não tinha um propósito, um demónio que desconhecia o motivo de sua existência ...

    - Claude, qual é o motivo da minha existência? - perguntava mais uma vez olhando as folhas de Outono rodopiar no ar, enquanto rodava o seu guarda-sol negro com ambas as mãos.  Encostado a um carvalho a cerca de dois metros de si estava Claude, o seu criador, um vampiro de cabelos negros e olhos azuis com aparência de um garoto de dezasseis anos. Ele abriu um sorriso de canto assim como nas outras vezes, e ela pôde saber de imediato que não obteria a resposta.

    - um dia saberás, Dominique - a sua expressão endureceu enquanto o observava voltar a sua atenção novamente ao livro que segurava e sentou-se na grama encarando a lua com um ar triste.

    E o seu companheiro e criador, um vampiro de seiscentos anos com o ar de adolescente escondia a verdade por detrás de seu rosto gelado. Transformado numa época de bruxaria, conhecia os feitiços necessários para chamar um demónio e dar vida a sua boneca, mas porque o fazer? Simples .. Apenas desejava não passar as noites de sua eternidade sozinho ...

    - Claude, um vampiro morre se for exposto ao Sol ou estacado no coração, correcto? - questionou a bela boneca de porcelana enquanto movia umas das peças de xadrez de seu jogo. Claude olhou momentaneamente para ela e assentiu fazendo a sua próxima jogada com cuidado. Se ela respirasse, podia dizer - se tu és capaz de morrer, sou eu capaz de morrer também? - aquela questão o havia pegado de surpresa. Deixou de se mover durante longos segundos antes de dar um suspiro e mover uma das pessoas de xadrez terminando a sua jogada ao mesmo tempo que abria um sorriso de canto.

    - talvez - respondeu - xeque-mate, melhor sorte na próxima, Dominique - concluiu enquanto se levantava e deixava o cómodo. A boneca olhou pela janela vendo o sol começar a brilhar por detrás de algumas nuvens e suspirou abalada. Era apenas mais o fim de uma de tantas noites. Pensou enquanto se sentava sobre a poltrona de forma confortável e perdia o brilho que anteriormente possuía. Havia amanhecido, e ela era apenas mais uma simples boneca de porcelana.

    Sentiu a sua alma despedaçar-se á medida que seu frágil corpo era transformado em pedaços soltos. No alto da escada, era claro o ar de terror espelhado pelo rosto de seu criador, mas a única coisa que conseguiu sentir foi um enorme alivio dentro de seu peito.
    Claude bloqueou ao ver Dominique cair pelas escadas, pedaços de porcelana espalharem-se pelo são do salão, apesar de tudo não fora isso que o bloqueara no inicio, fora o sorriso momentâneo que cruzou os lábios da boneca quando embatera a primeira vez contra o chão de carvalho, um sorriso de alivio. Desceu as escadas transtornado, sentindo lágrimas de sangue escorrer o seu rosto, sua Dominique o havia abandonado, e no entanto, a única coisa que ele fazia era chorar, não por tristeza, mas por alegria. Pois havia conseguido ver o único sorriso que a bela boneca de porcelana dera nos seus frágeis quinhentos anos de existência. Ajoelhou-se no chão segurando a cabeça com ambas as mãos. E um sorriso cruzou os seus lábios.

    - parece que sempre podias morrer Dominique, e de uma maneira tão simples quanto cair do topo de uma escada, uma maneira tão, mortal - disse para si mesmo enquanto pegava os pedaços espalhados que anteriormente pertenciam a sua criação. Olhou pela janela enquanto via os primeiros raios de sol espreitar por detrás das nuvens negras. Sorriu para si mesmo enquanto caminhava pela porta na direcção da rua segurando em suas mãos os pedaços de porcelana sem vida. Apesar de morrer não estar nos seus planos naquela noite, parecia-lhe a coisa certa a fazer. Não teve medo de caminhar para a luz, pelo menos, não ficaria sozinho pela eternidade, sempre teria sua Dominique ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
A one-shot foi feita um pouco á pressa de uma ideia que me ocorreu assim do nada >—_< (acontece várias vezes xD)
Mas enfim, ja ne *O*