Era exatamente 7h00min da manhã quando aquele som azucrinante a trouxe de volta para seu corpo. Aos poucos foi abrindo os olhos. Demorou algum tempo para que a sua visão ficasse totalmente nítida e ela pudesse avistar o relógio em cima da cabeceira para confirmar o que já sabia.

– É... Eu não tenho outra opção a não ser me levantar. – falou consigo mesma. Espreguiçou-se e soltou um bocejo antes de levantar-se.

Arrumou-se apressadamente como de costume. Nem mesmo um café ela tinha tempo para tomar, com a vida corrida que levava perder alguns minutos para fazer tal coisa seria um enorme desperdício.

Já estava pronta para sair. Sua mão prestes a girar a maçaneta da porta ficou imóvel no mesmo instante em que ela se lembrou de que não havia pegado as chaves do carro. Foi até a sala para pegá-las. Quando lá chegou, uma luz vermelha piscando repetidas vezes chamou sua atenção. "Pode ser algo da empresa." pensou ela indo em direção ao telefone e apertando o botão para poder escutar o que havia em sua caixa postal. Para sua surpresa não era nada daquilo que ela pensava.

"Minha filha querida, esqueceu-se da sua mãezinha, foi? Faz anos que não nos falamos... Como você está? Bem? Bom, sempre que te ligo não te encontro em casa, você deve estar muito ocupada, não é mesmo filhinha? Seu irmão está muito ocupado ultimamente e pediu para que eu te ligasse para lhe convidar para o noivado dele que será daqui uma semana. Todos aqui estamos morrendo de saudades de você, tente vir, por favor! Cuide-se filha, e nunca se esqueça de que eu te amo!"

– Daqui duas semanas?! Daqui duas semanas eu tenho que viajar! Depois ligo avisando que não terá como eu ir... – disse passando rapidamente pela mesinha de centro tomando as chaves do carro em sua mão e pondo-se por fim a caminho do seu tão precioso trabalho.

Não soube o porquê daquilo, mas durante todo o percurso a voz de sua mãe não sairá de sua mente. Há quanto tempo ela não conversava com ela? Perguntava para si mesma sem conseguir obter a resposta. Seu emprego tomava-lhe tanto tempo que ela nem percebia o seu tempo passar.

O sinal ficou vermelho e um sorriso bobo surgiu em seu rosto. Seu irmão caçula iria noivar e se casar em breve, quem diria... O sorriso que apareceu sem mais nem menos desapareceu da mesma maneira. Lembrou-se de seu ex-noivo, o único homem pelo qual ela havia se apaixonado em sua vida e da maneira triste como ele saiu dela.

Flash Back On

– Mas amor, você tem noção do quanto isso é importante pra mim? Essa é a oportunidade pela qual eu estive esperando a minha vida inteira e eu não posso perdê-la por causa de...

– Por causa de mim, não é mesmo? Se o problema sou eu é fácil, vamos por um ponto final nessa relação e desmanchar o nosso noivado. Eu não quero me casar com alguém que nunca vai estar presente na minha vida.

– Ai, pelo amor de Deus! Não precisa fazer esse drama todo. Vai ser por pouco tempo, logo eu vou ter todo tempo do mundo só pra você meu anjo! – disse aproximando-se dele.

– Não, você não terá. Eu sei bem disso... – deu um passo para trás fazendo um sinal com a mão para que ela não se aproximasse. Olhou para o chão por um breve instante e em seguida voltou a encará-la. - Você já não tem tempo pra mim agora, imagine depois? Imagine se você terá tempo para os nossos filhos? Eu te amo, mas isso nunca daria certo... – foram às últimas palavras ditas por ele antes de partir.

Flash Back Off

Balançou a cabeça na tentativa de livrar-se daquelas lembranças incomodas. Estacionou o carro e desceu. O trabalho com certeza ocuparia a sua mente fazendo-a não ter tempo para pensar em tais coisas.

[...]

Os dias pareciam passar cada vez mais rápidos em sua vida. Tinha certeza de que o tempo para ela era diferente do das outras pessoas.

Já era noite e ela viajaria no dia seguinte. Havia chego tarde a sua casa devido a alguns problemas que a fizeram ficar até mais tarde na empresa até resolvê-los.

Estava com pressa para arrumar a pequena mala que levaria. Não ficaria muitos dias fora. Queria arrumar tudo o mais rápido possível para poder dormir alguns minutos a mais.

Seu guarda-roupa era enorme e ela tinha dificuldade para alcançar a mala que estava na parte mais alta. Ficando na ponta dos dedos dos pés, ela conseguiu com muito esforço alcançar a alça. Quando a puxou, uma pequena caixa de madeira veio acompanhada e caiu sobre o chão. Depositou a mala em cima da cama e voltou ao lugar onde a caixa havia caído e a pegou. Dentro da mesma encontravam-se pequenos fragmentos de uma pessoa que ela havia esquecido. Seus pensamentos estavam tão longe que ela nem escutou o barulho da porta do guarda-roupa se soltando e vindo de encontro com sua cabeça.

Quando voltou a razão tentou abrir os olhos, mas teve uma grande dificuldade devido à tamanha claridade que havia no local. Aos poucos ela conseguiu ver a imagem de uma criança deitada sobre a grama rabiscando algo num pedaço de papel. Repentinamente, não só a criança, mas todo o lugar ficará nítido.

Enquanto erguia-se ficando sentada na grama e colocava a mão sobre onde a porta do guarda-roupa havia lhe acertado, viu que a criança que se encontrava deitada sobre a grama agora estava ao seu lado com um enorme sorriso no rosto.

– Finalmente apareceu para me visitar, heim? Pensei que iria me deixar pra sempre no esquecimento.