Horas escrita por NyahM


Capítulo 2
C1 :: A Esquerda.


Notas iniciais do capítulo

WEEE



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Crona suspirou, deitando-se e fechando o possível do seu saco de dormir. Ela não poderia dormir com Kid, segundo ele, porque seria falta de etiqueta, já que todos dormiam juntos e ninguém além deles era um casal assumido. Era por volta das duas da madrugada que ela começou a escutar um sussurro. O sibilar, o som de algo rastejante que lembrava aquele animal que ela conhecia tão bem. Começou a sentir o corpo tremer compulsivamente, e se enfiou mais adentro do saco de dormir.

– Eu odeio tudo isso...

Sentiu um cutucão nas costas.

– Crona? Oye, Crona... !

– K-Kid? – Murmurou, saindo de dentro do saco.

– O que foi? Está suada, parece mal...

– E-Eu... Apenas um pesadelo.

Kid sorriu, e passou a mão pelos seus cabelos.

– Está bem. Venha dormir comigo.

– Eh? Mas você disse que...

– Eles estão dormindo, somos noivos praticamente casados, e você pode voltar para cá quando se sentir melhor. Em último caso, eu te carrego até aí.

– Eh... Então, não tem problema?

– Nenhum.

Além do fato de que ele não colocou ela de novo no próprio saco de dormir.

_________________________________________________________

– KID! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, SEU PERVERTIDO!?

Os gritos de Maka acordaram todo o resto, de um jeito alarmante, fazendo os corações dispararem na hora.

– O QUE SE ATREVE A INCOMODAR O GRANDEU EU? ORE-SAMA DEVE-

– MAKA-CHOP!

– Ei, Maka! Porque está gritando, não-

– MAKA-CHOP! KID, SAI JÁ DAI!

Maka, estava aterrorizando Deus e o mundo com seus berros. A cena de Kid e Crona abraçados, no mesmo saco de dormir, com Crona ainda suada pelos pesadelos que teve pela noite ( aliás, ela estava extremamente agarrada a Kid graças aos mesmos ) era chocante demais para a mente de Irmã-Super-Protetora de Maka.

– M-Maka-chan.. T-Tudo bem! Eu só-

– COMO TUDO BEM? COMO ASSIM, CRONA-CHAN? NÃO ESTÁ CERTO! E-

– Oye, Maka... Eles não são noivos?

– Sim, Soul, mas-!

– Então eles já devem até ter feito-

– CALA A BOCA! EU NÃO QUERO E PONTO FINAL!

Já era por volta de nove horas da manhã. O Sol ainda não havia mostrado a sua cara - soava como se fosse sete horas da noite. O frio era mais intenso do que qualquer um dos jovens ali poderiam ter presenciado. Morrer de frio por volta de 17 anos de vida, não era muito animador. Portanto, todos estavam parecendo quase bolotas de tantos agasalhos, e ainda assim não tinham coragem de sair e enfrentar a grossa camada de neve que caia no chão. Mas, além disso, um instinto. O instinto lhes gritava que não era seguro, que o perigo se escondia naqueles monte de neve.

Mais especificamente, rastejando entre a perigosa água congelada.

O armazém era o único no vilarejo. Se as pessoas já não tivessem migrado - com muita relutância, por sinal - estariam todos amontoados lá, a procura de calor e comida. Assim sendo, o grupo havia agradecido muito a Galin, a senhora mais velha dali, e portanto, algo como uma líder. Ela havia cedido o armazém e estocado uma parte de comida que daria para, no máximo, com otimismo, duas semanas. Talvez dez dias. Já se passavam três dias e nada conseguiram achar. Tudo indicava que era fenômeno natural, mas aquele frio era anormal demais.

Tudo que Kid podia fazer, era procurar um espelho.

– Chichiue... ?

O espelho tomou uma tonalidade escura, para logo esclarecer, mas infelizmente, seu pai não estava ali. Tudo que via era Nocturna com um fundo negro a suas costas. Ele fechou a porta do pequeno lugar onde estava.

– Eh... Hahaue?

– O que? Já estão com problemas tão cedo?

– Na verdade, assim que chegamos. Onde está Chichiue?

– Oh... Como vão as coisas? Tão complicadas assim?

– Na verdade, bastante. Não temos lugares decentes pra dormir, esse frio é simplesmente perigoso demais para humanos. A neve está cobrindo tudo lá fora, temos que nos expor todo dia para cavar a neve da entrada, assim não ficamos presos aqui dentro... mas, além disso, tudo indica ser normal. Talvez alguma poluição anormal deve ter acarretado isso mas, não é o nosso tipo de assunto. Estamos sendo prejudicados sem que possamos dar alguma solução de fato... E, onde está Chichiue?

– Quantos problemas... Hum, seu Pai saiu.

– Saiu?

– Não me pergunte... Só deixou um recado. Mas enfim... De qualquer maneira, aceitaram a missão. Mesmo não sendo assuntos sobre almas, vocês deram a esperança pra essa gente. O lógico seria ajudá-los de qualquer maneira.

– Mas não podemos fazer nada-

– "Você é responsável por aquilo que cativas." Quantos livros infantis você leu, hein? Bom, de qualquer maneira, vá ajudar esses pobres coitados. Bye ~!

– Hein?

Crona suspirou. Ela, Tsubaki, Liz e Patty haviam passado a tarde arrumando as malas. Maka foi com Soul afim de trazer as ovelhas que deixaram para trás de volta ao cercado. Kid estava tentando estabelecer contato com seu pai, que parecia ter evaporado. Black Star, foi arranjar lenha, já que estava difícil arranjar maneiras de calor sem uma fogueira de verdade. Kid disse que iriam fazer uma visita a montanha, averiguar se é apenas por causa da altura anormal que o frio é maior por lá... Por isso, as quatro se encarregavam de fazer a mala de todo o resto. Era como uma divisão de tarefas. Tsubaki cuidava das malas de Black*Star, Maka, e dela mesma. Patty cuidava das de Soul - jogando roupas aleatórias e cantarolando uma música sobre girafas. Liz cuidava das malas dela, e de Patty, pois já era ruim o suficiente que Patty fizesse apenas uma mala. Crona, apenas das dela mesma e de Kid.

Houve um pequeno embate para decidir se seria Liz, como de costume antes de Crona chegar, a arrumar as malas dele ou Crona, mas logo foi decidido.

Enfim.

Já estava escuro. Noite sem estrelas, muito menos uma lua. Era a primeira vez que Crona sentia saudades daquela lua insana, rindo de tudo, e até mesmo do sangue descendo pela sua boca. Tudo em Death City parecia tão trágicamente cômico, que a paisagem melancólica e morta que via pela janela lhe dava arrepios. Se bem que, pensando bem, tudo lá lhe dava arrepios. Acordava mais cedo que o normal para pedir pra Kid ir retirar a neve da porta. Por mais que tivesse medo de ficar presa em um lugar fechado, sabia que tinha mais medos que isso.

– Argh...

Gemeu, ao sentir uma queimação no braço esquerdo. Antes que pudesse checar, ouviu seu nome ser chamado ás suas costas.

– Crona? Hora de ir. Vamos procurar informações com Sheba.

– Ah, c-certo. Vamos.

Agarrou-se ao braço de Kid, procurando espantar o frio. Se reuniram aos outros na frente do armazém. A neve caia nocivamente devagar, como um mal que se espalha aos poucos. Seus pés afundavam tanto que não faltava muito para chegar aos joelhos. Começaram a caminhada até a casa de Sheba. Sua casa era debaixo de uma árvore enorme, talvez centenária. Não sabia qualificar como ela era de verdade. A árvore esticava os galhos perto do chão, como mãos acolhedoras... Que não pareciam nem um pouco com a dona da velha casa de madeira. Kid bateu na porta da mulher.

Sheba era uma velha arrogante. A pele enrrugada e flácida, tinha um tom amargo e pálido. A porta havia aberto pela força do vento, como uma força sobrenatural, trazendo neve pra dentro da casa. Quando o vento acalmou, todos puderam levantar suas cabeças e encarar a velha sentada em uma cadeira de balanço. Ela tinha olheiras, e unhas compridas e nojentas nos dedos compridos e sombriamente magros. Vestia roupas compridas, e em todo lugar que olhasse, veria um pedaço de tecido colorido desbotado sobrando. Ela mexeu suas pesadas pálpebras, e mostrou seu olhar amarelo-esgoto para a turma tremendo do lado de fora.

– Hum... Olhe só, Moon-chan. Esses pirralhos vieram mesmo. Não era isso que você queria? Agora tenho essas crianças me importunando... Entre logo, e só um! Não quero mais pessoas roubando meu calor!

Uma clássica bruxa - no sentido pejorativo. O grupo se entreolhou, percebendo a estranheza daquela mulher. Antes que Black*Star desse seu ataque, Kid deu um passo a frente.

– Não você!

A voz esganiçada saiu com certa crueldade. Um sorriso mostrou dentes pontudos amarelados. Ela apontou seu dedo fino e sua unha nojenta para Crona, logo percebendo ser a diferente. Em sua mente, ela se animava. Talvez conseguiria um pouco de diversão com aquele coelho magro. Praticamente obrigada pelos olhares que a pressionavam, arrastou os pés pesados pela neve até os degraus da entrada. Quando entrou, a porta atrás de si fechou repentinamente, e um calor familiar chegou ao seu corpo. Quase se sentiu feliz, mas a presença daquela mulher lhe sorrindo maléficamente impedia algo assim.

– Então, o que querem da velha Sheba, hum?

Perguntou, com um tom cínico.

– N-Nós... Nós q-queríamos conselhos sobre como lidar com a M-Montanha... V-Vamos partir pela manhã e...

– Olhe, Moon-chan, Ela parece fraca, concorda? Uhum, tem razão... Com certeza...

Provavelmente a mulher era louca. Falava sozinha tão naturalmente como se falasse com um velho amigo de escola. Olhava fixamente para um pedaço de vidro em cima da mesa, enquanto discursava. Ao seu lado, o fogo estava vivo na lareira. Tinha um tom esverdeado, mas Sheba parecia agir indiferente a isso.

– P-P-Poderia nos ajudar?

Não conseguia evitar gaguejar mais que o normal. Aquele vilarejo amedrontava mais que tudo, mas, depois de conhecer a velha Sheba, tinha suas dúvidas.

– Porque deveria? - Um sorriso continuava macabro em sua face.

– P-Porque... Porque eu... Eu realmente preciso completar essa missão...

– Mas você é fraca.

– E-Eu sei... Mas..

– Viu só? Até concorda quando eu digo que é fraca. É simplesmente fraca.

– Ainda assim, quero fazer alguma coisa...

– É uma missão da Shibusen, certo?

– S-Sim...

– Ah, Moon-chan, escutou isso? Aquele velhote Shinigami-sama vai brigar conosco se não ajudarmos essa coelha fraca. Humpf, esse velho sem vergonha... Colocando a pobre Sheba em uma situação dessas... Vamos ajudar do nosso jeito, Moon-chan? Ah, sim. Vamos sim.

Em um movimento rápido, os dedos compridos agarraram aquele pedaço de vidro e jogaram com uma fúria veloz em Crona. Ela se protegeu com as mãos, as cortando. Como se fosse algum instinto, seus dedos se fecharam contra aquele pedaço de vidro, fazendo machucar-se. O sangue negro que há muito não via, escorreu pelos seus dedos, enquanto ela soltava um guincho de dor. Seus dedos estavam paralisados. Ela não conseguia soltar o maldito pedaço rústico de vidro transparente.

– Seu grupo ingrato já recebeu ajuda suficiente... Mas, pela amizade de Moon-chan, existem favores a serem pagos...

Crona viu os olhos amarelados de Sheba rodarem da órbita, enquanto uma voz sobrenatural saia cavernosa da boca ressecada da velha. Enquanto via aquela cena, seu braço esquerdo pareceu entrar em um inferno. Queimava ao ponto de deixa-la caída no chão, gemendo de dor.

"Seguir o caminho das cobras

Garante a morte como melhor opção.

O veneno que não é fatal revela a resposta,

Na escuridão onde o perigo é a exposição.

A luz divina é o guia,

a espada e o escudo.

Mensagens ocultas entre a proteção,

mostram como livrar-se das garras afiadas.

Cobras e vermes se diferenciam,

mas na neve todos são iguais.

O pesadelo só acaba,

quando todos reconhecem seus ideais. "

Assim que a mulher terminou seu delírio, a porta se abriu com o vento novamente, e a ventania foi tão sobrenatural que a jogou para fora da antiga cabana. Reconheceu as mãos de Kid como aquelas que a impediram de se chocar com o chão, mesmo que o próprio tenha caído sentado na neve com o impacto. O grupo se reuniu, tentando ajuda-la a se levantar.

– Vamos voltar. Vou começar a gangrenar aqui fora.

– Então, foi só isso que aconteceu?

Crona agarrou o braço que havia queimado tanto. Ela sabia que esconder sobre a queimação era o tipo de coisa que não faria normalmente, mas... Algo lhe dizia que não era bom contar sobre isso. Não por enquanto. Podia ser só alguma reação ao frio ou algo assim... melhor não alarmar o grupo por algo fútil assim.

– Foi... Só isso.

Respondeu a Maka.

Com um suspiro, Kid se juntou a pequena roda que havia se formado novamente dentro do armazém.

– Nada de novo. Ou Chichiue definitivamente não quer ser achado, ou Hahaue não quer que encontremos ele.

– Está bem... De qualquer maneira, vamos partir para a montanha amanhã. Não vamos conseguir manter contato de jeito algum.

– Hum, sim.

– Não precisam se preocupar, vocês dois! Vocês tem o GRANDE EU para protegê-los!

– ... Certo. Vamos dormir, temos que acordar cedo amanhã.

Eles exploraram o armazém durante a tarde, também. Encontraram vários espaços, cada um com sua peculiaridade. Era mais seguro dormir longe da entrada, portanto se dividiram. Claro, o mais cômodo era que se dividissem igualmente pelos quartos. Mais uma vez, a desculpa de serem noivos entrou em ação. Crona e Kid se alojaram em uma lugar até que bem confortável. Kid demorou um pouco tentando tirar o pó e arranjar alguns tecidos que havia arranjado antes dos moradores irem embora. Eram grossos e quentes, ele achou que seria cômodo fazer alguma espécie de cama com eles. Se livrar dos sacos de dormir seria bom. Infelizmente, o espaço era pequeno. Ainda assim, não iam conseguir coisa melhor.

– Kiddo-kun?

Crona chamou, entrando no 'quarto'. Arrastou a porta um pouco pesada, e andou até Kid, que estava arrumando simétricamente aquele monte de panos. Ela notou que dormiriam juntos mais uma vez. Corou.

Ela ainda lembrava do último dia que passou em Death City. Principalmente da noite inesquecível que teve. Na verdade, qualquer coisa que acontecesse lhe fazia lembrar sobre aquela noite. Lhe doía o coração de ansiedade, porque Kid não havia trocado uma única palavra sobre aquilo com ela. Realmente, a correria dos últimos dias não havia deixado, mas ela havia percebido que, o olhar dele havia mudado. Não olhava pra ela da mesma forma... Isso a sufocava. Teria feito algo errado? Talvez, deveria ter feito algo e não fez. Ás vezes, Kid não gostou do que houve... Ele parecia um pouco nervoso mesmo...

Com um suspiro, se ajoelhou ao seu lado, puxando um centímetro o tecido que ele não havia percebido estar um pouco torto.

– Hum, Crona... Dormiu mal essa noite, não é?

– Um pesadelo... Só isso.

Sorriu nervosa, levando um pouco do cabelo pra trás. A propósito, seu cabelo havia crescido um pouco. Daqui a pouco, planejava fazer uma trança ou algo assim. O cabelo curto lhe trazia más lembranças, então, esse cabelo comprido a fazia bem feliz.

– Crona.

Chamou.

Assim que Crona olhou pra ele, ele fisgou seus lábios e agarrou sua cintura, trazendo para si. Admitia que não sabia muito bem começar conversas sobre isso, muito menos pedir. Crona nunca demonstrou algum incômodo com isso, então... Bom, que seja.

Rolou, colocando-a no topo novamente. Gostava dessa situação - não sabia ao certo porque. Talvez porque sua atitude nunca fosse ativa. Ver seu rosto adorávelmente corado pela situação o fazia sorrir. Segurou com força as pernas da moça por debaixo do vestido, não cortando o beijo. Estava frio, não era a melhor situação, mas a partir de amanhã não conseguiriam fazer isso definitivamente. E Kid ia surtar, claro. Ele já andava nervoso por ter concretizado a Ligação mais cedo que o certo, e a dependência extrema que a mesma estava formando o irritava de certa maneira. Mesmo que fosse uma pessoa como Crona - que confiava e que era tão bondosa - nunca gostou de depender de ninguém.

Mas, assim que retirou em um só movimento seu vestido, parou qualquer coisa que estava fazendo e se afastou rapidamente, com o rosto franzido pela visão.

– Crona... O que... ?

Apontou com um dedo para seu braço esquerdo, a qual uma tatuagem de cobra já conhecida emitia um brilho suave púrpura.


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Notas finais do capítulo

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