A Pequena Intrusa escrita por Mellconde


Capítulo 7
Capítulo 7




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Eu construí um muro que dividia o meu mundo do dela. Que me mantinha seguro dos encantos de June. De seus olhares, de seu jeito meigo e de seu encantador sorriso. Mas aquela pequena conseguiu acabar com ele. Levou o meu muro ao chão naquela noite. 

 

A única coisa que eu queria é que ela ficasse bem. Que eu nunca voltasse a ver todo aquele medo em seus olhos. Minhas palavras seriam em vão ao tamanho da dor que se alojava em meu peito toda vez que lembrava de suas lágrimas.

June se mexeu em meio a madrugada, acabei acordando.

—Desculpe – ela disse baixinho – não queria acordar você.

—Está tudo bem pequena – eu disse carinhosamente

Ela me olhou confusa.

—Acho que você ainda está dormindo - ela disse se sentando no sofá

—Por que? - não havia entendido o que ela gostaria de insinuar.

—Nada, volte a dormir John – ela disse e sorriu

—Você vai continuar aqui?

A menina me olhava cada vez mais confusa.

—Você quer que eu fique aqui? - ela perguntou cautelosamente

—Quero. - eu disse baixinho

June sorriu. Eu jamais havia visto aquele lindo sorriso em seus lábios. Jamais havia tido uma reação como a que eu acabara de ter ao ver um sorriso. Era algo, acolhedor.

—Então eu fico. - ela disse e voltou a deitar ao meu lado

Mas quando June encostou sua cabeça em meu peito, a dor tomou conta de sua cabeça como naquela noite.

—Ah! - ela gritou

—June! - eu me levantei rapidamente.

—Ah! - ela gritou ainda mais alto

Seu nariz começou a sangrar e eu não sabia o que fazer. Eu chorei a abracei com força enquanto ela gritava com as mãos pressionando sua cabeça.

—John!

—Fala!

—Lá em cima! No meu quarto! - ela tinha dificuldade de falar

—O que?

—Minha bolça! Em cima da mesa!

Eu a deixei no sofá e corri para o andar de cima. Abri rapidamente a porta de seu quarto. Com o coração acelerado e os olhos cheios de lágrimas. Sobre a mesa de seu quarto havia uma pequena bolsa. A peguei e voltei a correr pelos corredores da casa escura.

Com os olhos mais abertos que nunca estava June. Ela tomou a bolsa de mim, a vasculhou rapidamente e pegou um seringa. Pôs em minhas mãos e estendeu o braço.

—Por favor – ela disse quase sem voz – Rápido!

Rapidamente eu apliquei o liquido em seu sangue e vi o corpo de June relaxar. Seu olhos perderem o foco novamente e logo ela adormeceu.

Me ajoelhei no não, olhando para aquele corpo tão frágil.

Eu a tomei nos braços e chorei, mais do que jamais havia chorado. As lágrimas pareciam queimar de acordo com o tempo que levavam para passar pelo meu rosto. Passei a madrugada toda agarrado a seu corpo adormecido no tapete de nossa sala. Seu rosto sujo de sangue em minha camisa iria marcar para sempre aquele momento. O momento que pensei que a perderia para toda a eternidade.

Quando mais o tempo passava, com mais força eu envolvia seu corpo. A lembrança de minha pequena gritando era como milhares de facas sendo postas em meu coração. O que estava acontecendo com ela? O que ela estava me escondendo?

Eu me deitei ao seu lado, ainda abraçado a ela, ainda chorando, até que novamente peguei no sono.

Acordei com dor de cabeça e os olhos de June cheios novamente de expressão me olhando.

—June! - eu sorri ao vê-la bem novamente

Mas June não sorriu. Continuou séria.

—John, eu preciso conversar com você.

—Fale – disse me sentando.

—Isso não pode acontecer – ela disse com o olhos se enchendo de lágrimas.

—Oque?

—Por que gosta de mim agora? Não podia continuar a ser como antes? - suas lágrimas começaram a cair

—Você está me pedindo para te tratar mal?

—Estou – ela disse chorando

Eu sabia que não era isso que June queria, eu sabia que ela queria que tudo melhorasse.

—Então pare de bancar o bonzinho e suma da minha vida! - ela disse alterando o tom de voz – por favor – ela disse baixinho por fim.

A tomei nos braços e a beijei.

June não tentou se afastar, não tentou resistir nem fugir. Apenas se entregou aos meus braços. Me beijou tentando se aproximar cada vez mais, por mais impossível que fosse. Senti as lágrimas dela molharem o meu rosto. A sensação e te-la em meus braços daquela maneira era acolhedora. O carinho que surgiu dentro de mim, todos os sorrisos dela, sua voz, seu cheiro, seu olhares. Tudo passou por minha mente naquele instante. Até que eu não consegui pensar em mais nada, apenas na doce menina que se encontrava em meu braços.

Sem ar, ela se afastou de mim. Me olhou assustada.

—Você não podia ter feito isso comigo! - ela me adivertiu

Eu não tive reação.

—Nunca mais faça isso! - ela me deu um tapa e subiu correndo

Eu senti seu tapa em meu rosto queimar, mesmo momentos depois. Não foi dor física, foi emocional. Que eu amava estava morrendo. Antes que eu pudesse deixar as lágrimas caírem e me levantei do chão e subi as escadas correndo. Entrei no quanto dela e antes que ela pudesse discutir eu a tomei novamente em meu braços.

—Pare com isso John, não quero magoar você – ela disse

Mas eu fingi que não havia ouvido e novamente eu a beijei. Senti suas mãos em minhas costas, arranhando-as. Seu corpo tão pequeno, tão frágil em meu braços. Eu a pressionava cada vez com mais força contra meu corpo. Enquanto puxava seus fios de cabelos macios entre meus dedos. A única coisa que eu queria naquele momento, era que June fosse minha. E eu sabia que se ela não fosse minha naquela hora, ela jamais seria.

Ela não tentou escapar, se entregou novamente aos meus braços. Eu a pus deitada em sua cama, logo nós dois seriamos apenas um.

Abri meus olhos com certa dificuldade, procurando minhas roupas espalhadas pelo quarto.

Eu não sabia o que estava acontecendo com ela, muito menos o que estava acontecendo comigo.

June abriu os olhos tempo depois que eu acordei. Sua expressão era triste.

—Você não podia ter feito isso – ela disse – Não podia

—O que ouve June? Eu fiz algo que você não queria?

—Não. Mas você sabe que eu não irei ficar aqui por muito tempo.

Mais uma facada no meu coração. Eu sabia do que ela estava me dizendo, mas eu não queria ter que ouvir de sua boca.

—Eu sei.

—Foi por isso que seus pais me adotaram. Porque não acharam justo eu passar os meus últimos meses em um abrigo.

—Por que não me contaram?

—Porque eu não quis – ela disse olhando para o chão – não queria que você tivesse pena de mim.

—Eu fui tão injusto com você, minha pequena. - eu disse segurando seu rosto, fazendo com que ela me olhasse -Eu vou cuidar de você, eu prometo.

June sorriu e me abraçou.

—John

—Fala

—Eu te amo

 


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