Devia ser umas sete horas da tarde, era sexta-feira, meu pai tinha ido viajar, minha mãe estava na igreja e ia demorar, estava sozinha em casa, com todas as portas e janelas trancadas, estava escrevendo minha fic tranqüilamente até que a campainha toca.

Mesmo morrendo de medo fui até a sala, abri a porta e gritei.

- Quem esta ai?

- Mahara sou eu.

A ta, eu, e se fosse um assassino, o Chuck, a menina de O Chamado, eu sei, eu tenho uma imaginação fértil e sou meio louca.

- Eu quem?

- O Gustavo caramba.

- E como eu vou saber que é você?

- Quando você tinha sete anos você quebrou uma boneca de porcelana da sua mãe, mas como seus primos estavam ai, você disse que estava vendo televisão e que tinha sido um deles, ta bom pra você?

Bom, era o Gustavo, só ele sabia dessa história. Abri o portão e o puxei pra dentro de casa.

- Pra que a pressa?

- Nós estamos sozinhos e vai que aparece um estranho.

- Achei que você estava com saudade.

Ele fez uma carinha triste tão linda, que deu vontade de agarrar ele.

- Eu estava, mas você sabe que eu não gosto de ficar sozinha em casa.

Dei um longo beijo nele e depois infelizmente tivemos que para respirar.

- Eu vim aqui porque eu estou com saudade e porque preciso fazer um trabalho.

- Não sei como você conseguiu travar o computador.

- Nem eu.

- Eu vou tomar o meu remédio, o computador ta ligado.

- Posso mexer nele?

- Pode, só não estraga ele.

- Sem graça.

Fui pra cozinha e fiquei tentando tomar o remédio, eu não conseguia engolir esses comprimidos de jeito nenhum, mas depois de minutos tentando eu consegui, só que quando eu fui comemorar cai com tudo no chão, sorte que o Gustavo não viu, ele ia rir tanto.

Guardei os remédios e me lembrei de uma coisa, eu tinha esquecido de salvar os capítulos que tinha escrito, Senhor Deus permita que o Gustavo não tenha apagado nada, corri direto pro quarto e bati com tudo na porta, mas não cai.

- O que foi isso?

- Gustavo você apagou o que eu escrevi?

- Sim, eu não sabia o que era, mas o que tem?

- Simples você apagou os capítulos que eu tinha escrito!

Sentei na cama e apoiei a cabeça nos joelhos, três capítulos perdidos, eu nunca ia me lembrar do que tinha escrito. Mas será que tinha sido de propósito? Ele reclamava muito da fic, eu sei que às vezes não dava atenção pra ele, mas não acredito que ele faria isso, ou faria?

- Mara me desculpa, foi sem querer.

- Sem querer? Gustavo você sempre reclamou da fic, vai me dizer que foi sem querer? Não tinha outra resposta melhor não?

- Eu sei que você pode não acreditar, mas eu não fiz isso de propósito, eu sei que você adora ficar lendo essas coisas, eu nunca ia fazer isso, MESMO TENDO VONTADE DE TER FEITO.

- ENTÃO VOCÊ FEZ.

- EU NÃO DISSE ISSO.

- MAS GOSTARIA DE TER FEITO.

- DEVIA TER FEITO, SÓ ASSIM QUEM SABE VOCÊ LEMBRASSE QUE EU EXISTO E ME DESSE ATENÇÃO.

- EU TE DOU ATENÇÃO SIM, EU SEMPRE TE APOIO EM TUDO, SEMPRE VEJO ESSES DESENHOS QUE VOCÊ GOSTA...

- AH, E EU NÃO FAÇO ISSO?        

A que ponto nós chegamos, nós nunca tínhamos gritado um com o outro em 1 ano e 2 meses de namoro, e agora isso, era melhor eu parar por aqui.

- GUSTAVO SAI DAQUI AGORA.

Sai empurrando ele e até dei uns tapinhas de leve, depois que ele saiu e eu entrei correndo pra dentro de casa, e me tranquei no meu quarto, será que eu não errei em ter dito que ele fez de propósito? Mas ele disse que teria feito. Enxuguei as lagrimas e olhei pro computador, o descanso de tela passava as fotos que nós tiramos em uma viagem, desliguei o computador e fui pra sala.

Olhei pro portão e na rua estava a minha mãe e a mãe do Gustavo conversando, será que elas já sabiam, olhei ao redor, mas ele não estava lá. Minha mãe entrou e se sentou do meu lado.

- Filha?

- Sim?

- O Gustavo me contou o que aconteceu.

- Eu percebi.

- Acho que vocês devem conversar e tentar se entender.

- Eu sei, mas é melhor fazer isso amanhã. Eu vou dormir.

- Tudo bem, boa noite.

- Boa noite.

Depois de tomar um banho fiquei vendo TV até umas nove e meia, dormi pensando no que ia dizer pra ele amanhã.

Acordei seis horas com o despertador tocando, tinha esquecido que hoje não tinha escola, como estava cedo voltei a dormir, acordei as dez, procurei pela minha mãe e a encontrei na cozinha, tinha umas flores, na mesa, eram rosas vermelhas.

- Boa tarde.

- Bom dia.

- Achei que não ia acordar.

- Então porque não me chamou?

- Por....Isso é roupa pra ficar andando em casa?

Ela apontou pra mim, eu estava com uma blusinha de alça e um shortinho.

- Eu acabei de acordar, meu pai que mandou?

- São lindas não são? – Balancei a cabeça e ela pegou as flores e me deu – São suas, o Gustavo que mandou.

- Não tem cartão.

- Ele disse que ia sair hoje, mas depois que chegasse ia vir aqui.

- É ele ia visitar o tio.

DOMINGO A TARDE.

Meu dia foi entediante, to quebrando a cabeça tentando lembrar de alguma coisa que eu tenha escrito, mas nada, os capítulos estavam tão perfeitos, nunca mais vou conseguir escrever o que tinha escrito e o pior é que eu finquei pensando o dia inteiro no Gustavo.

- MAHARA O GUSTAVO TA AQUI.

Minha mãe tem essa mania, dar um recado gritando, respirei fundo e fui pra sala, ele sorriu ao me ver, sorri de volta e dei um olhar de “Sai daqui” pra minha mãe.

- Vou deixar vocês sozinhos.

- Oi.

- Me desculpa eu não devia ter gritado com você, eu juro que eu não apaguei os capítulos por querer, acho que eu devia parar de mexer em computadores.

- Eu sei que você não apagou por querer, e eu também gritei com você, acho melhor você ficar longe do meu computador e das minhas fics.

- Tudo bem, mas você me perdoa?

- Claro que sim.

- Eu te amo.

- Eu sei, eu também te amo.

SEGUNDA-FEIRA DEPOIS DA ESCOLA

- Eu entrei na sua conta no nyah.

- Você o que?

- Calma, eu não apaguei nada.

- Então o que você fez?

- Eu escrevi dizendo o que tinha acontecido e pedi pras pessoas que lêem a história me ajudarem.

- Muita coragem que você teve.

- Por quê?

- Porque só menina lê a minha fic.

- Não tinha pensado nisso.

- Pode deixar que quando eu responder os reviews, eu deixo você ver o que elas disseram sobre você.

- Ta bom.

- Mas, como você conseguiu a minha senha.

- Bom... Eu...

Ele saiu correndo pela rua e eu fui atrás.

- GUSTAVO VOLTA AQUI.