Ergui minha fria mão em direção a garota de olhos amendoados numa última tentativa de entendê-la; como se através daquele movimento pudesse extrair tudo o que eu sempre quisera saber. No entanto, nem mesmo pude compreender o olhar que ela dispensava a mim enquanto pouco a pouco me esvaia em cinzas.

Ou talvez não quisesse acreditar realmente no que seus orbes me transmitiam.

E naqueles derradeiros segundos, minha curiosidade por ela pareceu aumentar.

Você tem medo de mim, mulher?

Perguntei, buscando respostas que no momento eram-me necessárias. Ela arregalou os olhos surpresa com as minhas palavras.

Mirei seus lábios, olhando meticulosamente os contornos que eram chamativos. Estava ansioso por sua resposta. Qualquer palavra que fosse.

Não tenho medo.

Respondeu, e então eu entendi. Ela estendera sua mão em direção a minha, pronta para tocá-la. Como se uma última luz pudesse chegar até mim.

Seu gesto me fizera entender que por mais vazio e inexpressivo que eu fora, sempre tivera algo em mim que me faria compreendê-la. Mas apenas ela. Inoue Orihime.

Inoue. Não houve tempo para um toque de nossas mãos. Nem mesmo o roçar.

Mas sua mão estendida em minha direção foi o suficiente. Finalmente percebera o que eles chamavam de coração.

Observei seu rosto que ia gradualmente perdendo os detalhes, mas que em minha mente permanecia completo. Agora tinha certeza do que seu olhar transmitia a mim. Era tudo o que o coração dela queria e precisava me dizer.

E nos milésimos de segundos que ainda me restavam, descobri que também possuía algo como ‘aquilo’. Imaginei que aquela mulher havia transferido um pedaço do seu coração para mim quando chegara em Las Noches. E que agora, com aquela última troca de olhares, um fragmento do pedaço que ela me dera voltara para si.