Uma Disputa pela Honra escrita por Mitzrael Girl


Capítulo 1
Inevitável


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer: Inuyasha pe propriedade de Takahashi Rumiko, faço este fic sem fins lucrativos, apenas por diversão.Classificação para maiores de 16 por uso de palavras inapropriadas, violência e certas insiuações.



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Uma Disputa Pela Honra

Capítulo Um: Inevitável


Para: Mitsuki Nakao


O dia tinha nascido já havia certo tempo, o sol se encontrava no ponto entre o meio do céu e o ponto no horizonte onde nascera, estava emanando uma luz forte e aconchegante. O ambiente não estava quente. Ele estava sentado numa rocha à sombra de uma enorme árvore, sentava-se com as pernas cruzadas sobre esta, numa altiva posição de lótus. Vestia um kimono típico de sua era no Japão. Seu hakama era largo e amarrado por um cordão e por cima desta estava o casaco do kimono, preso por uma faixa que também portava bainhas para duas espadas, mais precisamente, duas katanas, do mesmo lado do corpo, o esquerdo. Seus longos cabelos prateados balançavam ao som da leve brisa, e seus olhos de um raro dourado fitavam, quase fechados, uma garota, uma garota que não deveria estar ali, uma garota que não deveria estar praticando técnicas de espadas e arte samurai, não de acordo com os costumes de seu país e de sua época. Ela tinha seus longos e lisos cabelos negros presos num coque baixo para ajudar em seus movimentos, as vestimentas certamente inadequadas para uma mulher, mas as únicas adequadas para um treinamento, seus olhos de um castanho intenso estavam mostrando grande concentração em seus movimentos, uma habilidade e tanto para tão pouco tempo de treinamento. Mas mesmo assim, mesmo com os costumes de seu mundo, por grande insistência, ela conseguira o grande feito de fazê-lo voltar a ensinar a arte com espadas, algo que desistira de fazer havia anos. Agora, já fazia três meses que ela surgira em sua vida buscando por ensinamentos.

Ele estava recolhido à sua vida solitária iriam completar cinco longos anos. Estava fazendo seus exercícios matinais e ao mesmo tempo cuidando dos afazeres. Tinha caminhado de sua casa, longe da aldeia, nas montanhas, até o rio próximo para poder pegar água. Agora voltava para sua moradia, carregando apoiado nos ombros um bastão, com dois baldes, agora, cheios de água, um em cada extremo do bastão. Naquela manhã o sol nascera com mais brilho talvez e mais forte à medida que se erguia no céu, ele já estava ficando suado com aquela caminhada com aquele peso nas costas, mas como se não fosse típico fazer aquilo e mais esforços, sempre evitando perder sua forma de samurai. Ele fora reconhecido algum tempo atrás, quando ainda estava na ativa, e ainda hoje seu nome era citado entre os que fizeram história lutando para o imperador, e entre os que jamais foram derrotados. Mas de uns tempos para cá, outro nome tinha surgido, um nome que era citado com admiração e ao mesmo tempo temor. O chamavam de Fantasma. Aparecera do nada, ninguém conhecia seu rosto, e seu nome se espalhava por todo o Japão, levando fama e medo, pois conseguira seu nome derrotando um outro grande samurai, Naraku, matando-o junto com seu grupo, e a única coisa que tinham certeza era que o responsável pela morte dele tinha recebido apenas um golpe durante a luta, mesmo contra todos os capangas de Naraku, apenas um deles sobreviveu para contar sobre a cicatriz que o assassino de seu senhor carregaria para o resto da vida, uma cicatriz de uns 20 cm inclinada, acima do peito direito. Mas ele já não mais se importava com fama ou com os outros samurais que iam atrás dele, simplesmente decidira não mais ensinar aquela arte, que já considerara tão bela, desde que num desafio perdera um de seus aprendizes, perdera seu filho.


Todas as manhãs ele lembrava-se de sua família. Sua mulher morrera seis anos atrás, vítima de uma doença incurável, e seu filho morrera exatamente um ano depois, por causa de uma disputa samurai, por causa da honra, ele só tinha doze anos. Todas as manhãs ele costumava pensar se fizera o correto ensinando-o sobre as espadas, mas nunca conseguira convencer a si próprio que estivera errado.

Estava chegando até sua casa finalmente. A caminhada entre a floresta era longa e o caminho era acidentado. O que fazia as coisas mais complicadas, mas não para ele. Quando finalmente avistou a sua casa de madeira erguida sobre suportes fortes, com uma pequena escada para a entrada com uma área, as portas corridas. Era simples, mas o bastante para ele. Desfizera-se de sua grande propriedade no dia em que perdera o filho também, lugares grandes traziam lembranças ruins. Mas ele acabou encontrando mais do que esperava ao voltar para casa.

Havia uma garota, com um típico kimono conservador feminino. Ela tinha os cabelos negros presos num coque alto e observava a casa da entrada. Tinha em uma das mãos um embrulho longo e fino, aparentemente tratava-se de uma espada.

Ele parou de súbito ao vê-la, não achava que sua casa era tão acessível para qualquer um ou até mesmo para ser visitada como um tipo de atração. Na verdade poucos sabiam a sua atual localização, além do imperador. E certamente ela não parecia ter qualquer tipo de ligação com ele, suas vestes não eram finas e era visível que mulheres ainda não serviam diretamente a seu imperador.

Ele tirou o bastão com os baldes cheios de água dos ombros e depositou-os no chão cuidadosamente para não derramar o líqüido dentro deles. Esse breve movimento pareceu ter chamado a atenção da garota que ali se encontrava, pois ela virou-se para encarar o recém-chegado. Ele pôde ver os grandes olhos dela com um estranho brilho castanho fitarem-no dos pés á cabeça. No momento estava vestindo apenas o seu hakama, deixando o tórax de fora e os longos cabelos presos num baixo rabo-de-cavalo.


Você deve ser Sesshoumaru-sama. – a voz dela pronunciou-se diante dele, calma e suave, um pequeno sorriso desenhava-se nos lábios dela. – Muito prazer em conhecê-lo, sensei.

Ela curvou-se numa breve reverência educadamente e depois voltou a fitá-lo. Ele não retribuiu o ato, apenas continuou a encará-la com seu típico olhar frio, o que certamente não a estava incomodando.


Quem é você? – a voz dele saiu grave e tão fria quanto seu olhar.

Gomen nasai… – ela desculpou-se por ter esquecido de apresentar-se, e logo prosseguiu. – Eu sou Kaori Rin, estava a sua espera.

O que veio fazer aqui? – ele continuava com sua ignorância que se tornava adversa à educação apresentada por ela. – Não estava a espera de ninguém.

Eu peço desculpas por ter vindo sem prévio aviso, mas não sabia como alertá-lo de minha vinda. – ela explicou-se educadamente. – Eu vim em busca de seus conhecimentos com artes de espadas, eu queria que me ensinasse a arte dos samurais.

Não estou mais ensinando ninguém, procure por outro que esteja à disposição. Parei de ensinar a cinco anos caso não saiba. – ele disse começando a andar para entrar em casa, mas ela parou em sua frente.

Por favor, ensine-me. – ela pediu. – Eu já busquei por outros que o pudessem fazer, mas todos se recusam a ensinar uma… – ela relutou em dizer a palavra, mas logo prosseguiu. – Mulher. Eu não queria incomodá-lo, mas não achei outra alternativa. Eu sabia que você seria o único a não negar ensinar uma mulher.

O que a faz pensar assim? – ele parou diante dela.

Sua mulher. – ela disse. – Você a ensinou antes que a desposasse no passado.

Está errada. – ele disse tentando prosseguir para dentro de casa. – Lutas com espadas não são para mulheres. Elas têm que permanecer em suas casas cuidando de seus maridos. Volte para sua família, para seu marido, ou seja lá quem for.

Toda a minha família está morta. – ela disse e por um momento ele parou para ouvi-la. – Não tenho mais para onde ir, preciso de um lugar para ficar.

Então é isso o que realmente quer, moradia. – ele disse. – Minha casa não é abrigo para mendigos.

Por favor. Eu desejo muito aprender arte com espadas, nós poderíamos nos ajudar. – ela disse numa última tentativa de convencê-lo. – Eu posso ajudá-lo com sua casa, fazer tudo o que uma mulher deveria realmente fazer, apenas peço que em troca ensine-me a lutar e também, um lugar para ficar. Eu não quero voltar para o lugar de onde saí.

Ele sabia muito bem de onde ela tinha provavelmente fugido, certamente não havia muitas opções para mulheres que acabassem por ficar sozinhas, sem famílias e sem um marido no qual se apoiar, precisavam vender-se.


O que a faz pensar que não a trataria como é tratada ‘lá’? – ele implicou com ela.

A sua honra de samurai. – a resposta dela fora firme. E ele precisou admitir para si mesmo que estava certa.

Mas mesmo assim, ela não era problema dele, ele decidira não ensinar mais desde que perdera o filho e assim seria.


Não é assunto meu como você levava ou leva a sua vida. – disse ele. – Se conseguiu a grande façanha de fugir, então desapareça daqui o mais rápido possível, antes que eles a encontrem mais uma vez.

Ela pareceu decepcionar-se com o que ele dissera, ele nem ao menos a encarara no rosto, apenas seguiu para dentro de sua casa deixando-a decepcionada. Ela segurou firme a espada em sua mão e virou-se para sair finalmente dali, não poderia imaginar que um dos maiores samurais do mundo fosse de tamanha arrogância. Mas também não queria voltar para aquela vida. Ela finalmente decidira por ser Rin, apenas Kaori Rin, mas não era fácil ser uma mulher sozinha naquele mundo em que vivia, naquela época, mulheres não tinham direitos, não tinha como conseguir dinheiro de forma digna, mulheres sozinhas tinham apenas um destino, venderem-se, venderem seus corpos. Ela não queria aquela vida e na primeira noite naquele lugar imundo precisara defender-se, e não tinha como esconder, ferira um ‘cliente’ e conseguira escapar, mas agora não conseguira o que realmente queria, uma vida normal, sem perseguições, sem ninguém a procurando pelo que ela não desejava mais ser. E até mesmo naquele momento procuravam por aquela que ela realmente desejava ser. Nenhuma de suas faces estava salva agora.


Ela recolheu-se a seu lugar e seguiu de volta ao vilarejo de onde conseguira informações para achar a Sesshoumaru. Seguiu de volta ao vilarejo onde a procuravam, mas não tinha mais para onde ir, e a floresta mesmo sendo uma opção poderia matá-la.


– “A cidade também pode matá-la Rin.” – uma vozinha intrometida proferiu-se na mente dela. – “A menos que você não queira.”

Eu sou só Kaori Rin. – ela disse para si mesma. – Só Rin.

E continuou a andar na direção da cidade.


Na casa das montanhas Sesshoumaru sentia-se realmente incomodado com a presença da garota. Não podia negar que era uma garota muito bonita, mas mesmo assim, não ensinava mais, e não voltaria a fazê-lo. De repente a lembrança de sua esposa veio à sua mente. Realmente ela julgara errado, Sesshoumaru nunca instruíra sua mulher na arte com espadas, ele apenas treinava junto à ela. O mestre dele fora o pai dela, ele a ensinara também, ao fim, depois de tanto tempo de convívio, ele tomara coragem para desposá-la, em nome da família. Mas a lembrança dela trouxe à sua mente o fato de que ela nunca recusaria ajudar a garota que ali aparecera. Ela poderia ser também um samurai muito habilidoso, mas não escondia seu coração enorme. Ela nunca reusaria ajudá-la. O incomodava o fato de como ela estaria se sentindo com relação a ele naquele momento, onde quer que estivesse. De repente uma enorme sensação de culpa o invadiu, teria feito o certo ao negar ensiná-la, ao negar ajudá-la? Tentou ignorar a própria mente e recolheu-se para seu banho.


Depois de ter terminado de banhar-se e vestir-se, ocorreu-lhe o pensamento de que a garota poderia ter chegado até a vila àquela altura. E mais uma vez tinha que admitir-se com o sentimento de dúvida. Ele não agüentou mais aquilo e decidiu ver se havia mesmo feito a escolha certa. Saiu na direção da vila pelos atalhos que conhecia. Era a vantagem de morar a cinco anos na floresta, ela era sua amiga e ele amigo dela, ele a conhecia tão bem quanto ela o conhecia.


Ao chegar aos arredores da cidade calculou que a garota deveria ter chegado lá pouco tempo antes dele, comparando suas passadas às dela e o caminho que ele percorrera ao caminho que ela percorrera, era certo que não havia grande diferença entre os tempos de terem chegado à aldeia.


Ele entrou nos limites da vila. Era claro que sua presença atraía muitos olhares e muito chamava a atenção. Além de seus longos cabelos prateados, os seus olhos dourados e a marca de que seria sempre um grande samurai. Mas um samurai que só agiria mais uma vez caso o Imperador precisasse. Ele andou pelas ruas percorrendo cada canto desta com os olhos atentos. Aquela garota devia estar em algum lugar afinal. A não ser que tivesse resolvido não voltar a aldeia, mas de qualquer maneira isso era inevitável, mesmo que quisesse ter ido embora desde a casa dele o único caminho que poderia percorrer a levava até a mesma aldeia. Então ela devia estar lá.


De repente seus olhos e ouvidos foram atraídos por um pequeno tumulto que se formava a frente. Algumas pessoas afastavam-se do lugar com medo. Três homens tinham em mãos longas e afiadas katana’s prontas para atacar seu alvo, que se resumia a uma garota. A garota estava recuando aos poucos para não ser atingida, mas Sesshoumaru pôde observar destreza em cada passo que ela recuava, como se cada um deles fosse mais um sinal de que ela avançaria a qualquer minuto. Ela ainda segurava a espada que ele vira firmemente, e embrulhada. Seus olhos tinham uma expressão decidida. Mesmo estando sendo ameaçada pareceu que ela sabia exatamente o que fazer, quando fazer e como fazer. Mas era só uma garota.

Sesshoumaru deixou essas suposições de lado, afinal, se ela fora buscar por aulas de espadas, certamente que não devia ter muita experiência, não para deter aqueles três de uma só vez.

Enquanto Sesshoumaru avançava em vista de ajudá-la, apenas uma coisa se passava na cabeça de Rin, agora ela parecia não ter mais dúvida de quem desejava ser.

– “Não serei mais Rin…” – ela pronunciava em sua mente.

Veja o que você fez sua vagabunda! – o homem que estava na frente apontava um corte ainda aberto no rosto dele. – Você vai me pagar por isso, mulher idiota!

Ele falava apontando a ponta de sua espada para ela. Rin apenas recuou de maneira defensiva. O homem na sua frente empunhou a espada de maneira decisiva, pronto para parti-la em duas. Quando ele desferiu o golpe, a espada parou no meio do caminho.

Mas o quê…? – ele percebeu que uma nova pessoa se metera na confusão, um homem detera a lâmina de sua katana segurando-a entre as palmas das mãos.

A ponta da katana apontava exatamente para o espaço entre os olhos do defensor, dois olhos frios e dourados.

V-você… quem é você! – o dono do golpe detido perguntou. – Como se atreve!

Eu quem deveria estar perguntando… – respondeu Sesshoumaru em seu costumeiro tom seco e frio. – Como se atreve a atacar uma mulher?

Essa mulher não tem honra, ela é uma vadia, uma pr… – antes que ele completasse o insulto Sesshoumaru o atrapalhou.

Dobre sua língua diante de mulheres e crianças. – ele disse certo de que aquela confusão já chamara muito a atenção.

Ela vai pagar por ter tentado me ferir… sua vaga…

Já o mandei dobrar a língua. – Sesshoumaru repetiu asperamente. Aquele tipo de gente o irritava seriamente

O homem puxou sua espada para si, fazendo Sesshoumaru soltá-la antes de perder as mãos. O homem deu dois passos para trás para posicionar-se mais uma vez pronto para atacar, os outros dois atrás dele pareciam mais enfeite, não se moviam ou faziam qualquer coisa útil. O que atacara Rin no começo avançou e preparou-se para atacar mais uma vez, dessa vez seu alvo era Sesshoumaru. Sesshoumaru esperou a chegada dele para em seguida desviar-se no último momento. A katana partiu umas caixas que estavam atrás de Sesshoumaru. O fio da espada era muito bom, mas aquele que a manuseava era algo ridículo. Será que desde que ele deixara as espadas de lado as pessoas começavam a treinar menos e ficar tão ruins quanto aquele homem diante dele? Aquilo estava tornando-se deplorável.

Vamos! Não fiquem parados aí! Movam-se! Ataquem-no. – o homem que parecia o líder ordenou para os outros dois, as estátuas.

Antes que eles se movessem, Sesshoumaru ouviu outra voz chamá-lo.

Sesshoumaru-sama!

Rin alertou-o no momento em que arremessou a espada que a pouco carregara embrulhada, agora desembrulhada e embainhada nas mãos de Sesshoumaru. Ele desembainhou a espada e avançou para defender-se dos ataques agora de frente. Ele usou a katana para defende o ataque do primeiro da ‘fila’ e golpeou-o no estômago com a bainha da espada na outra mão. Em seguida fez os mesmo com os outros dois, defendeu os golpes de suas lâminas e atacou com a bainha da espada, evitando feri-los gravemente. Mesmo assim eles continuavam a se levantar e voltar a atacar. Depois que Sesshoumaru desviou-se habilidosamente das investidas deles e contra-atacou sempre com o uso da bainha, acertando-os cerca de três a quatro vezes eles finalmente chegaram à um estado em que não conseguiam mais se levantar tamanha era a sua dor.

Aprendam a ser educados diante das mulheres e suas crianças da próxima vez. – foi a última coisa que Sesshoumaru disse para os homens que estavam caídos.

Ele recolocou a espada na bainha e seguiu até o lugar onde Rin estava, sem olhá-la nos olhos ele devolveu a espada e proferiu uma simples palavra de ordem.

Venha.

Ela acatou a palavra dele e seguiu-o um passo atrás até os limites da aldeia saindo na direção da floresta. Parecia que ele havia finalmente cedido, e mais tarde certamente ela descobriria que essa era a resposta certa. Depois de cinco anos sem ensinar ninguém a primeira pessoa a quem iria mostrar a arte de lutar com espadas era uma mulher. Aquilo pareceu irônico de início, mas pelo menos estava satisfeito consigo mesmo.

Você tem alguma experiência com espadas? – foi a pergunta dele enquanto voltavam para a casa dele no meio das montanhas, não pelo mesmo caminho que ela percorrera.

Não Senhor. – ela respondeu segurando a espada que ele devolvera agora novamente embrulhada, junto ao corpo.

Aquele realmente iria ser um longo treinamento.

Desde aquele dia Rin treinava sob suas instruções, e mesmo dizendo que não tinha experiência com espadas, às vezes os movimentos que ela mostrava em certas situações eram impressionantes, às vezes movimentos que ele não conseguiria fazer, com a sua habilidade. Com o tempo ele aprendeu que o termo ‘garota’ que em geral utilizava em sua mente para referir-se a ela estava na verdade errado, Rin assegurara para ele que tinha na verdade 28 anos. De início ele demorou a associar essa informação, ela era tão pequena e magra, devia ter uns trinta centímetros a menos que ele, e seu rosto com aqueles grandes olhos castanhos brilhantes, mais parecia uma criança. Excerto, é claro, pelas perfeitas proporções de seu corpo, as quais ele só pôde notar quando ela vestia-se simplesmente para dormir, sem todas aquelas camadas de panos e mais panos dos tradicionais kimono’s.

O sol já se erguia perto do ponto de meio-dia. Já estava ficando muito quente e Rin continuava a treinar assim como ele instruiu. Mesmo com aquele porte físico aparentemente delicado demais para uma luta de espadas ela mostrara-se muito resistente e também determinada. Praticamente ninguém tinha conhecimento de que Sesshoumaru agora voltara a ensinar e a uma garota, ou melhor dizendo, uma mulher. Talvez, apenas os poucos moradores da aldeia que o viram sair naquele pacato dia, três meses atrás, com ela seguindo-o. Ele esperou observando-a por mais certo tempo, ela já estava ficando suada demais com aquele sol forte e também continha sua respiração ofegante. Sesshoumaru demorou-se um pouco e finalmente decidiu por encerrar o treino dela naquela manhã. Ele levantou-se do lugar onde estivera sentado apenas assistindo, sob a sombra de uma árvore, enquanto ela escaldava no sol agora bem mais quente.

– Já chega por hoje Rin. – ele disse seguindo até ela. – Vamos voltar, está na hora do almoço.

– Sim mestre. – por mais cansada que ela estivesse ou parecesse estar ela sempre sorria ao terminar seus treinamentos, e assim o fazia agora.

Ela sempre sorria ao terminar qualquer que fosse o treinamento que ele impusesse e por mais pesado que fosse este, ela na verdade sempre sorria ao ouvir a voz dele, cada palavra que ele proferia para ela, ou ao menos era o que parecia, pois sempre que ele lhe dirigia a palavra recebia uma resposta com um lindo sorriso, assim devia admitir, poderia até mesmo ser uma ordem ou uma bronca, ela sempre respondia sorrindo. Parecera muito feliz depois que Sesshoumaru aceitara a sua vinda até sua casa para aprender arte de espadas e morar com ele. Estava realmente sendo muito eficiente, não podia negar. Ela esforçava-se para treinar e também cuidava da casa e dos afazeres que em geral uma mulher faria. Ela fazia a comida das três refeições do dia, ela deixava a casa em ordem. Às vezes Sesshoumaru olhava-a pelo canto do olho e imaginava como ela poderia ter sido uma bela esposa caso não tivesse perdido toda a família. Como ela ainda poderia ser uma bela esposa. Quando se pegava pensando desse modo rapidamente se repreendia mentalmente. E era desse modo que estava pensando naquele instante, quando escutou mais uma vez ela chamá-lo de mestre, encarando o seu belo sorriso. Tantos eram os pensamentos que passavam por sua mente que ao menos percebera ter ficado a encará-la por longo tempo, a ponto de chamar a sua atenção.

– Mestre? – Rin chamou-o alertando-o para o fato de que ainda permanecia a encará-la.

Sesshoumaru acordou de seu transe e fechou os olhos por um breve instante reorganizando seus pensamentos e em seguida voltando a fitá-la para não mais perder-se em sua mente.

– Venha. – ele finalmente virou-se e começou a andar na direção de sua casa, voltando pelo mesmo caminho pelo qual haviam chegado ali.

Rin fez um sinal positivo e seguiu-o com o mesmo sorriso nos lábios.

Por que ela não poderia deixar de sorrir por um breve instante? Aquele sorriso o incomodava, provocavam transtornos em seu interior, traziam de volta sentimentos que ele pensara ter deixado para trás. Mas por que uma simples ‘garota’ mexia tanto com ele? Ela estava lá já havia completado três meses. Três meses foram o suficiente para acabar com o que ele durara anos para construir? Não podia ser verdade.

Por vezes tentava lembrar-se da imagem de sua esposa que por seis anos perdurou em sua mente, mas agora todas as vezes que a imagem dela começava a formar-se a partir dos longos cabelos negros, uma outra imagem aparecia em sua mente… de maneira inesperada e inconveniente. Uma imagem que surgira em sua mente há apenas três meses.

Logo os dois chegaram até a casa nas montanhas. Antes de entrarem, Sesshoumaru voltou sua atenção para Rin mais uma vez.

– Tome um banho antes de sentar-se para almoçar. – ele disse.

– Sim, mestre. – ela disse isso com o mesmo sorriso de sempre e curvando-se levemente para poder retirar-se dali até seu banho.

Sesshoumaru entrou em casa e rumou até seu quarto, lá ele parou por uns instantes, ajoelhando-se diante de um armário onde jaziam as suas roupas. Dentre seus pertences tirou um lenço branco, segurou-o entre as duas mãos sentindo a textura delicada dele, feito em seda pura. Aproximou-o lentamente de seu rosto, tentando sentir o cheiro que sentia a cada manhã nestes seis anos. Mas neste dia em particular, não estava mais lá. Tentou apurar seu olfato, mas não adiantou, aquele lenço não emanava mais o mesmo aroma que emanara durante todos os anos em que esteve sozinho, não emanava mais a presença dela. Ele apertou forte o lenço entre as duas mãos não conseguia sequer lembrar-se do rosto dela, agora um novo rosto embaçava o rosto de sua mulher. As lembranças se mesclavam com tanta força e insistência que ele não conseguia mais decidir sobre qual das duas ele queria que permanecesse em sua mente. Queria viver para sempre a sombra de uma vida já vivida? Ou desejaria viver agora uma nova vida, dependendo dele, prestes a ser vivida? Antes que sua mente pudesse arrumar a confusão que ela mesma formara ele escutou a voz de Rin do outro cômodo.

– Sesshoumaru-sama! O almoço está servido.

Era sempre assim, ele perdia-se em seus pensamentos e perdia a noção do tempo, não sabia que tanto havia se passado desde que alcançara o lenço de sua esposa. Agora para complicar mais as coisas em sua mente ouvia a voz dela. Ela sempre falava quando era simplesmente inconveniente para ele e ao ouvir daquela voz a imagem de sua esposa, prestes a se formar em sua cabeça, mais uma vez se dissolvia para dar lugar aos grandes olhos castanhos que aquela delicada face ostentava. Sem perceber, novamente perdia-se em seus pensamentos e ouvira-a chamando-o mais uma vez.

– Sesshoumaru-sama…

Ele levantou-se do lugar onde estivera, depois de guardar mais uma vez o lenço em seu armário. Seguiu até a sala onde a comida já estava servida numa típica mesa baixa de madeira, com duas almofadas de lados opostos. Numa delas Rin já permanecia ajoelhada de forma ereta e educada, com as mãos sobre as pernas apenas esperando pela chegada dele.

Calado, como sempre, ele sentou-se em seu lugar de tal maneira a finalmente poderem degustar seu almoço. Como sempre a refeição era tão silenciosa quanto ele mesmo.

Vez ou outra Rin encarava-o, ele nunca falara muito, mas mesmo assim ela era agradecida pelo fato de que ele a acolhera e ainda assim a ensinara a arte com as espadas. Ela o admirava tanto… mas sempre que encarava a expressão serena de seu rosto e aparentemente sem emoção percebia que seus olhos viam algo mais que admiração por seu mestre. Por vezes incontáveis percebeu pensamentos impróprios invadirem sua mente ao observar seu mestre treinando junto a ela, ou apenas treinando sozinho, repreendia-se por isso. Buscara-o procurando por uma nova vida, procurando por um tutor que pudesse lhe mostrar a arte de espadas, como se realmente precisasse… todas as vezes que pensava nele como mais que seu mestre, lembrava-se de não ter sido totalmente sincera. Isso a fazia recuar diante dele. Diante do que ela queria que fosse realmente uma vida. Ela era uma mulher adulta, mas não era digna dele certamente. Só que certas vezes ela simplesmente não podia evitar esconder o que queria. Certas vezes ela poderia cair nas armadilhas de seu coração. Mas talvez aquilo pudesse mostrar-se uma nova vida para ela, uma vida que ela vinha vivendo há cerca de três meses e assim queria que fosse pelo resto da sua vida, queria esquecer sua outra face, queria esquecer o seu passado.

– Voltaremos a treinar mais tarde. Antes do sol se pôr. – ele proferiu tais palavras antes de levantar-se. – Descanse até lá.

– Sim, mestre. – ela respondeu depositando o seu prato na mesa. Quase não comera nada apenas perdida em seus pensamentos.

Ele não falou mais nada e saiu na direção da entrada da casa, ele costumava ficar sentado na varanda, apenas sentindo a brisa leve em seu rosto, meditando. Ela arrumou a mesa tirando todos os pratos vazios e sujos e levou-os para serem lavados. Depois de terminar, recolheu-se para seu quarto, deitando-se para descansar até que fosse voltar a treinar de tarde. Aquilo era relaxante. Aqueles treinos, aquela vida, a floresta, a presença dele. Mais uma vez pegou-se pensando nele, em seu quarto, balançou de leve a cabeça tentando tirar aqueles pensamentos de sua cabeça, e simplesmente deitou-se, tinha que estar descansada. Provavelmente o treinamento mais tarde seria contra ele. Ele costumava fazer isso dos últimos dias pra cá. Costumava lutar contra ela no fim de tarde para testar suas habilidades, e ela tinha que ser muito cuidadosa nessas horas, às vezes perdia o controle e acabava fazendo coisa errada, e isso não poderia acontecer jamais. Com pouco tempo foi tomada por seus sonhos e sem poder controlá-los, o viu invadindo seus pensamentos mais uma vez, até mesmo inconscientemente.
A tarde mostrara-se rápida naquele dia e logo Sesshoumaru percebeu a posição do sol, a algumas horas de se pôr ainda. Mas já era o suficiente, teria que treinar antes de escurecer, não gostava de treinar com Rin à noite, mas para si mesmo era algo relaxante, treinar sob a luz da lua ao contrário de ter o sol como seu guia.

Ele levantou-se do lugar onde estivera sentado meditando e seguiu até dentro da casa, para poder preparar-se para seu treinamento, tinha que trocar suas vestimentas no momento inadequadas para algum tipo de treino. E além do mais tinha que informar à sua aprendiz que estava na hora de partir para poderem terminar seu treinamento daquele dia. Antes mesmo que ele pudesse chegar até seu quarto a fim de trocar-se, deparou-se com Rin que estava prestes a sair de casa, já devidamente vestida para poder treinar e com a espada em sua bainha ao lado do corpo.

– Ah, mestre, não sabia que ainda estava aí fora. – disse ela. – Eu já estou pronta.

Ele nada disse apenas balançou a cabeça positivamente e seguiu até seu quarto passando por ela.

– Espere um minuto. – ele disse simplesmente sem virar-se para ela.

– Sim. – ela respondeu seguindo para fora de casa.

Depois de uns minutos esperando pela vinda dele, ele finalmente saiu de casa carregando a sua katana presa ao lado do corpo e embainhada. Sem que ele dissesse nada ao vê-la, começou a andar para adentrar a floresta, ela apenas seguiu-o.

Eles andaram por um certo tempo, por uma trilha acidentada, até finalmente chegar ao lugar que ele desejava treinar, eles sempre treinavam numa clareira à margem do rio, principalmente quando ele iria testar a habilidade dela.

Ele não deveria realmente fazer isso, ela só era sua aprendiz há três meses, mas ainda assim sentia que ela deveria saber mais do que aparentava. Depois de certos treinamentos que ela fez sozinha, os quais apenas bons samurais faziam, ele duvidou que ela realmente nada soubesse sobre a arte com espadas e eventualmente acabava disputando contra ela para saber até onde chegava essa habilidade oculta que ela mostrava apenas algumas vezes e numa dessas vezes em que treinou com ela, mesmo só brincando, ela conseguira vencê-lo. E depois do movimento com o qual ela fora vencedora, ela começara a desculpar-se dizendo que tinha sido apenas sorte de principiante. Ele não acreditava em sorte, e muito menos uma sorte que propunha à principiantes tamanha habilidade com espadas.

Eles pararam frente ao rio.

– Prepare-se. – Sesshoumaru ordenou já entrando em posição de batalha. – Quero ver o quanto melhorou nesse meio tempo.

– Sim… Mestre. – ela disse de forma desafiadora postando-se em posição de ataque.

– Quando quiser. – foi a última frase dele antes de ela avançar para atacá-lo.

Ela avançava cautelosamente, sem pressa e analisando cada mínimo movimento que o vento provocava nos cabelos dele. Ele permanecia imóvel apenas a esperar pelo ataque iminente. Rin não esperou mais e avançou contra ele. Sesshoumaru defendeu o golpe dela facilmente com sua espada, desviando o ataque dela para o lado, era uma chance para atacá-la, mas ao fazer isso se surpreendeu pela rápida e ágil defesa dela.

A partir daquela defesa a luta começou a se desenrolar magnificamente, cada movimento devidamente medido por cada um dos samurais ali presentes. Sesshoumaru via-se atacado por ela com movimentos que ele jamais imaginaria que ela conseguisse fazer, manobras que requeriam grande habilidade nas lutas, coisa que obviamente ela não tinha, pelo menos não com apenas três meses de treinamento. Aqueles movimentos eram de mestres, mas ainda assim ele estava brincando com ela. E ela parecia se esforçar bastante para aqueles movimentos, mas a cada movimento surpreendente dela, perpassava pela mente dele o fato de que talvez ela estivesse brincando com ele, mas aquilo seria simplesmente impossível.
Ele sorriu ao perceber que ela ao atacá-lo acabara por baixar a guarda na área da barriga, e preparou-se para atacar, ele deteu a própria espada antes de partir a barriga dela ao meio.

Ele não percebeu o singelo sorriso que passou pelo rosto dela com aquele movimento, e também não percebeu o movimento do pé dela, que ela detera minutos atrás com uma única intenção, também desconhecida por ele.

Ele sorriu ao perceber que o treino estava acabado e recolocou a katana em sua bainha ao lado esquerdo do corpo.

– Está na hora de voltarmos. – Sesshoumaru disse simplesmente esquivando-se dela.

– Claro. – ela disse também recolocando a sua katana na bainha.

O sol já estava prestes a se pôr, em alguns minutos o céu estaria banhado numa completa escuridão, com a lua cheia que preencheria o céu no lugar do sol. Era noite de lua cheia.

Demorou para que chegassem a casa dele mais uma vez. Mas conseguiram chegar antes do sol se pôr completamente.

– Irei dormir agora, amanhã teremos que acordar cedo. – disse Sesshoumaru entrando em casa.

– Claro, Sesshoumaru-sama. – ela disse em resposta.

Como sempre eles acordavam cedo para que ela treinasse, se ele dizia isso depois de ter treinado com ela era por que ela ainda precisava de instruções e logo seria resolvido na manhã seguinte. Sorriu ao perceber isso.

– “Sim Rin, você ainda precisa de instruções.” – ela pensava consigo mesma sentada na frente da casa, ajoelhada sobre as pernas, e sorrindo do próprio pensamento. – “Espero precisar delas por muito mais.”

Deu um suspiro pesado com aquele pensamento, talvez se fosse muito esperta e boa com as espadas não precisasse de instruções por tanto tempo, mas ela não queria que seu treinamento acabasse nem tão cedo, não queria ter que ir embora, pra longe dele.

Ela ficou na frente da casa até o sol se pôr totalmente e a lua erguer-se no céu. Ela estava simplesmente esplendorosa. Era tão linda a imagem da lua cheia, sempre que fosse tão bem apreciada quanto por ela e por Sesshoumaru também. Lembrou-se que ele era amante da lua tanto quanto das artes com espadas. Sorriu mais uma vez ao perceber que ele invadia seus pensamentos mais uma vez sem ser convidado, mas simplesmente era inevitável.

Fim do Capítulo Um

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