Dias Negros

  Lhe disseram que tudo ia ficar bem. Que o tempo apagaria toda a dor, e que, às vezes, talvez ele fosse preenchido por nostalgia. Disseram que não seria nada demais depois de um tempo. Disseram que ele se acostumaria.

Talvez eles não entendessem. Na verdade, era mais do que provável que todos eles não entendiam sequer seus motivos. Não entendiam sequer o por que de seu olhar se perder no horizonte nos fins de tarde, ou do por que de um sorriso triste preencher seus lábios enquanto ele rondava pelo vasto campo em frente À Toca. Ele poderia ter enganado a todos, poderia ter mentido; poderia, inclusive, ter dito que não sabia o motivo. Mas preferiu não responder.

Hoje eles dizem que os dias andam mais claros, e George queria poder contestar. Queria poder dizer que os dias eram cinzentos, que eram negros, que eram deprimentes. Mas eles não eram. Ultimamente os dias andavam mais azuis, o Sol mais brilhante, o ar mais puro. Hoje os dias andam mais  claros mesmo sendo inverno, mesmo sendo a Inglaterra.

Dias negros eram aqueles. Dias que mais pareciam tardes frias de inverno. Dias que pareciam zombar de sua incapacidade de ser feliz novamente. Os dias riam. Riam da cara dele, zombavam de seu sofrimento tornando o sol mais brilhante e quente. Zombavam de toda sua mediocridade com poucas nuvens e uma imensidão tão azul que George tinha vontade de chorar. 

Mas nenhum deles entendia. Nenhum deles era capaz de entender, capaz de sentir o que ele sentia. Nenhum deles sabia, jamais souberam. Nenhum deles via. E, por conta disso -ou talvez tenha sido apenas o destino- George agora vagava por aí, perdido, à esmo, procurando algum rosto que para ele não fosse sombras. Andava por aí, sem saber o que exatamente estava fazendo, procurando em algum rosto, aquilo que lhe fora roubado com a morte do irmão.

A esperança de que, algum dia, o céu voltasse a ser claro.