Passou levemente as suas mãos pelos curtos cabelos verdes, suspirando em seguida. Agarrou-os fortemente e começou a soluçar.

Como era tola...

Olhou para as pequenas chamas que brotavam na sua lareira. Estava em puro inverno, perto do Natal. Sozinha, deitada na sua cama, somente acompanhada das lágrimas que agora lhe escorriam pela cara. Levou o seu braço à frente dos olhos, tapando-os.

Pequena Gumi...

Corria rapidamente para o seu quarto, depois de retirar um álbum de fotografias da arrecadação sem o conhecimento dos seus pais. Assim que se encontrou lá, fechou a porta, subiu para a cama e tapou-se com os lençois. Pegou na laterna que tinha na cama e apontou-a para o álbum, que estava agora aberto.

Sorria.

Fotos dos pais dela quando eram mais novos, fotos de quando ela nasceu e até mesmo fotos de quando ela entrou no jardim de infância. Continuou a folheá-lo até chegar ao fim das páginas. Levantou-se da cama e olhou para o seu relógio pendurado na parede, que tinha um pequeno coelho de peluche por cima dele.

Bom dia Coelho, murmurou suavemente. Continua a parar esse relógio. Ou então, leva-me para além das páginas do álbum, para o futuro...eu já não quero ficar aqui.

Retirou o coelho de cima do relógio e voltou a sentar-se na cama, abraçando o pequeno. Sorriu ao visualizar os seus sonhos na sua mente. A Terra dos Fantasmas, onde ela se aventurava todos os dias quando dormia. Ouvia várias vozes e corria pelo meio daquela terra, durante a meia noite. Encontrava uma menina de longos cabelos rosa e aproximava-se dela. Ouvia-a murmurar algumas palavras e a sua voz era como mel para os ouvidos -- doce, delicada, infantil.
No entanto, nunca soubera como o sonho acabava.

Né, Coelho. Conta-me o que acontece depois do sonho...

Tirou o braço da frente dos seus olhos e virou a cabeça lentamente, encarando o mesmo relógio que tinha em pequena. O coelho ainda se encontrava por cima dele, apesar de a sua cor verde já estar meio gasta. O relógio havia parado; já não funcionava.

Bom dia, Coelho. Como estás hoje? Estás tão taciturno ultimamente...

Sentou-se e esfregou os braços, por causa do frio. Decidiu ir para mais perto da lareira para se aquecer. O fogo podia ser visto pelos seus olhos de tão intenso que era. Por algum motivo era nostálgico para ela observar aquelas pequenas labaredas que iluminavam aquela divisão escura.

Por algum motivo? Tsc, que tola.

Havia parado de sonhar. Havia descoberto que depois das páginas do álbum, que o futuro...era sempre o mesmo. Que não queria ficar lá mais.
As vozes que ouvia na Terra dos Fantasmas...? Já não as conseguia ouvir.
Já não poderia correr e cair na lama, sujando o seu novo vestido. Já não poderia brincar com os amigos e fazer retardisses típicas de crianças.
A voz dela...? Já não se lembrava dela.

Então, adeus para a Alice.

A sua infância e todos os seus sonhos haviam-na cegado da realidade que o futuro era.
A Terra dos Fantasmas, que nascera dentro dela...tudo o que ela queria era ser levada para lá. Para a única coisa que ela poderia afirmar que era dela garantidamente, sem que ninguém a levasse. E agora, essa Terra já não lhe pertencia. Já nada era dela, porque ela havia crescido.

Ela já não queria crescer.

Desviou o seu olhar para a janela ao ouvir o bater de asas de vários pássaros. Apesar de a maioria deles já ter migrado, ainda havia um pequeno número na cidade. Suspirou mais uma vez, e sentiu mais lágrimas a escorrer pela sua face.

Aos pássaros voadores no céu da eternidade, eu não tenho outra opção a não ser olhar para cima agora.

Olhou novamente para a lareira e recordou-se.
Aquele álbum de fotografias que ela roubava para ver, e que mais tarde lhe foi oferecido pela sua mãe...?

Ela queimava-o agora na lareira.


E Alice, que sempre estivera dentro dela, juntamente com os seus sonhos...
Desaparecia com as suas lágrimas.