-Eu estou apaixonado por você, Íris!

Essas palavras produziram um retardamento no tempo. Ambos os amigos estavam frente a frente, se encarando, sem saber mais o que dizer ou fazer, desejando estar no meio de um constrangedor pesadelo. Ambos suavam frio, com o coração "a milhão" e com uma sensibilidade aos efeitos externos nula. Se caísse um avião, nenhum de vocês perceberia.

O ar ficava mais denso a medida que vocês se olhavam. Um olha para o outro com uma profundidade dilacerante. Passam já das seis horas da tarde e vocês ali, parados, sem saber o que dizer ou o que fazer.

Foi ela quem quebrou o gelo.

Íris sai andando em direção à porta. Você, mais do que depressa, levanta e a impede:

-Espera!

Ao ouvir a clama, ela para. Abaixa a cabeça. Vira-se e olha para você, os olhos lacrimejando. Você contorna o sofá e vai em direção a ela, a fim de concertar o que fez. Ela recua para a porta e se encosta nela.

-Não chegue mais perto!-pede ela

Este pedido lhe rasga o coração. Você se sente um monstro que deve ser evitado a todo o custo. Você então para, dá meia volta e se dirige ao quarto de solteiros, onde se tranca.

É possível ouvir os soluços vindos da sala de estar. Era mais do que óbvio que ela está chateada com você, mas profundamente. Mas você poderia jurar que não queria aquilo. Tudo que fez foi ser honesto.

E você acaba de aprender uma coisa: a honestidade é irmã do sofrimento, mas daquelas irmãs que não se desgrudam.

Sua mãe então já havia chegado em casa há algum tempo. Ela abre a porta do quarto para lhe avisar que o jantar está pronto.

-Obrigado, mãe.

E saiu.

Você passa a se perguntar então o que teria levado sua melhor amiga a uma situação como aquela. Começa a sentir a culpa pesando sobre os ombros. Tudo que você mas quer no momento é sumir, mas para nunca mais.

Eis que então ouve-se uma batida leve na porta. Íris entra, com cara séria.

-Precisamos conversar!