20 de Setembro escrita por Maya Amamiya


Capítulo 1
Poema I


Notas iniciais do capítulo

Primeiro poema escrito com algumas palavras do vocabulário sulista. Em breve, o Poema II.



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A aurora. Seus primeiros raios solares iluminam o campo.

Vejo o gado pastar tão calmamente.

O minuano faz balançar as pequenas folhagens da plantação.

Os pássaros piam ora alegres, ora tão tristes.

Mais uma vez olho minha casa, minha estância querida.

 

 

XXX

 

 

A nova fazenda é meu novo lar.

No entanto, uma dor indescritível dilacera minha alma.

Papai está fardado. Meus irmãos também.

“Não te preocupas, mana. Voltaremos em breve.”

As palavras deles aliviaram minha angústia.

Abracei papai bem forte.

As tropas estavam bem preparadas.

Montaram nos cavalos e seguiram a estrada campeira.

Ao longe aquela tropa some de minha visão.

A espera é minha oração.

 

 

 

XXX

 

 

A saudade. A palavra que tanto desconhecia, era sentida.

Mamãe conversava com a cunhada sobre a guerra.

Imagino o que se passa nos campos.

Antes tão esverdeados...

Depois virava o cenário sangrento de uma batalha.

Imperiais contra republicanos.

Muitas inconformidades, conflitos políticos e econômicos.

E uma decisão: separar o Rio Grande do Sul.

Entendi o porquê daquele verso.

Servir nossas façanhas, de modelo a toda terra.

Ninguém tirará o que é nosso!

 

 

XXX

 

 

A guerra também separa famílias.

E foi assim comigo.

Mamãe aprochegou-se ao corpo inerte de papai.

Meu choro não era só para ele. Aos meus queridos irmãos também.

Mortos no campo de batalha.

Os soldados fazem honrarias.

E enterram o coronel e os tenentes com o brasão farroupilha.

Olhei o céu tão nublado. Por que não lutei junto?

Se for para levar embora as pessoas que tanto amo,

Por que não fui junto?

No entanto, deixaria mamãe desconsolável e sozinha.

Deus ouça o que digo: termine de vez essa guerra!

 

 

XXX

 

 

Naquele vinte de setembro foi decisivo.

A tomada de Porto Alegre e o entrevero dos dois lados.

Batalha ardente, sim. Mas com vitória nossa.

Pena de papai e os irmãos.

Não puderam ver nossa proclamação.

Para mim, a única forma de honrá-los é ver aquele documento de declaração.

Segurando o lenço vermelho usado pelo velho, sou uma soldada como eles.

Não tenho a farda ou lança.

Ou experiência de luta.

Minha bravura é maior do que a fazenda onde moro.

Maior do que o Rio Grande inteiro.

 

 

 

XXX

 

 

Dois anos depois da peleia resultante em nossa vitória,

Nossa casa serviu de comemoração.

Todos os soldados festejavam com todo direito.

No meio daqueles farroupilhas, destacou-se um deles.

Não era Garibaldi ou Gonçalves.

Nem Nunes ou Netto.

Mas também não era um dos lanceiros e nem um bugre como Tiaraju.

Para mim, ele era comum. Mas algo tão fascinante cativou-me por inteira.

Seus olhos negros como a noite exibiam um brilho igual às estrelas.

Seu porte era de um valente soldado em todas as batalhas.

Ele festejava com os companheiros.

Ao mesmo tempo podia me ver em meia aquela balburdia.

Diga-me quem és tu, desconhecido farrapo?

 


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