A DECISÃO

“Às vezes, a felicidade está longe e você não sabe disso. Por isso

não faz questão de se esforçar para consegui-la”

– Sakura... – murmurou uma voz. A garota de cabelos cor-de-rosa virou-se para ver quem era. Seus olhos imediatamente ficaram tristonhos novamente – Seu pai não quis dizer aquilo, querida... Ele só... estava nervoso. Tudo bem com você?

– Oh, não, mamãe – Sakura sorriu: um sorriso falsamente feliz – Estou bem. Está tudo bem.

A garota desmanchou o sorriso mais rápido do que imaginava que ele duraria e se sentou no banco mais próximo, sentindo suas pernas cambalearem. Sua mãe assumiu expressão triste como a da filha e sentou-se ao seu lado, de maneira devagar, como se não quisesse assustá-la.

– Sakura, querida... – ela começou – não é sua culpa se ser ninja é complicado, filha. Seu pai falou aquelas coisas porque estava nervoso e ele sabe o quanto foi duro ter o nome da família em notas altas.

– É, mamãe... eu sei – suspirou ela, tristemente, olhando para o chão – Bem... – fitou a mãe por um instante – Vou para a cama. Até amanhã!

– Certo – a Sra. Haruno disse, esboçando um sorriso meio inseguro – Até amanhã, minha linda.

Sakura se levantou lentamente e, no mesmo ritmo, dirigiu-se para seu quarto, bem longe dali. Entrou da maneira mais silenciosa possível; não queria ver seu pai tão cedo depois daquilo. Não porque sentia raiva dele, mas, sim, porque queria poder mostrar que era boa o suficiente para ser uma Haruno antes de vê-lo novamente.

Fechou seus olhos e apoiou-se no corredor da pequena escada. Refletiu por um minuto, com as sobrancelhas arqueadas, como se estivesse brava com o destino.

– Então está certo – disse a si mesma e foi para o quarto como se nada tivesse acontecido.

Adormeceu e, algumas horas depois (duas, no máximo), o despertador tocou em volume baixo mas, ainda assim, alto o suficiente para acordar Sakura. A Haruno o projetara exatamente para isso.

Abriu os olhos sem nenhum arrependimento, insegurança ou sono e jogou as cobertas de lado. Levantou rapidamente e sentiu sua pressão abaixar, embora não estivesse ligando muito para aquilo. Foi até o banheiro mais próximo e lavou o rosto, escovou os dentes e tomou uma ducha rápida. Saiu de lá com uma roupa completamente diferente das que geralmente usava: completamente preta, colada ao corpo, com um cinto enorme verde de seu pai recheado de armas, um par de botas, luvas e os cabelos rosados presos em um coque prático.

– Mãe... – murmurou, fitando o chão de modo tristonho. Olhou para os lados e simplesmente saiu, sem nada dizer, nenhuma pista deixar. Assim que ia dar um passo para fora da casa, notando que estava chovendo forte, recuou, pensando em tudo que poderia passar. Não, com certeza valia a pena enfrentar.

Rasgou um pedaço da lista de compras pregada na geladeira e pegou qualquer caneta próxima, na esperança de que não estivesse falhando.

Queridos pai e mãe,

Eu estou indo embora. Não é por nada como, por exemplo, vocês não me criaram direito, ou eu sou uma revoltada. É exatamente porque vocês me criaram muito bem que estou fazendo isto agora. Eu preciso provar que sou alguém uma Haruno, papai.

Harunos são fortes, dedicados e eu... bem, eu realmente ainda não sou nada disso. Por isso estou indo embora. Quando eu voltar, vocês verão com os próprios olhos que eu estarei pronta para ser realmente uma Haruno e ser realmente batizada como uma Haruno. Sei que meu batismo seria amanhã, mas eu peço que cancelem, afinal, eu não estarei aqui. Estarei buscando minha força.

Eu os amo muito e gostaria que me esperassem

Sakura.

Deixou o papel sobre a mesa e a caneta sobre este. Saiu devagar e silenciosamente em direção à floresta. Estava tudo muito escuro e, por um instante, ela sentiu medo. Não tinha ninguém a não ser a si mesma. Mas, para ela agora, apenas aquilo era o suficiente.

As gotinhas geladas molhavam sua franja, colando-a em sua testa já suada de tanto correr sobre as árvores, pulando de uma em uma, em direção a Konoha, a aldeia mais próxima de sua antiga casa. Sakura tinha consciência de que, a partir daquele momento, estava sozinha e que, a partir daquele momento, sua vida seria treinar e treinar; ser boa. Queria fazer a diferença.

Estava tão alto nas árvores que não conseguia mais ver o chão. Só ouviu algumas vozes.

Foi quando, pensando em tudo o que acontecera naquele dia agitado e, ao mesmo tempo, tentando dar uma espiada para baixo, na tentativa de ver alguma coisa ou quem eram os donos das vozes, Sakura grudou o pé em um galho da árvore que passava e começou a cair para frente. Tentou agarrar alguma coisa mais a frente mas não conseguiu. Sentiu seu corpo se chocar com mais galhos e outras coisas que a acabaram arranhando, espetando e machucando.

Ela gritou mas, com certeza, não adiantaria. Foi então que desistiu. Fechou os olhos com força e ficou assim, sentindo o ventinho da morte refrescar seu corpo molhado de esforço e dedicação por alguns longos segundos.

Desculpe, pai... eu não consegui...

– Ah! – gritou uma voz masculina irritada assim que Sakura sentiu seu corpo bater em algo maior que os galhos e mais quente, mais macio... um garoto!

Ela sentiu sua cabeça girar. Literalmente. Seu corpo corria como se estivesse rolando em um morro. Foi quando não sentiu mais nada abaixo de si e viu que seria seu fim. Foi aí que sentiu novamente o ventinho da morte; mas esse durou menos. Uma mão quente, como o outro corpo, segurou a sua.

– Sasuke! – gritou uma voz irritante, correndo da floresta. Foi tudo o que Sakura sentiu e ouviu antes de apagar completamente.