O último Suspiro escrita por MadWolf


Capítulo 6
Sentimentos Adolescentes - Parte Final




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Cuidado. Eu dizia a mim mesma. Nada de chamar atenção, como sempre. A última coisa que podia acontecer comigo era ser presa. Coisas ruins aconteceriam. Vejamos. Eu iria enlouquecer com comida humana todo dia, ia acabar devorando toda aquela gente da cadeia ou morrendo. E eu simplesmente não iria deixar um bando de maus elementos enviados por Artur Sutter por fogo e arruinar toda a cidade atrás de mim. Eu já havia feito uma inimiga. Eu tinha vergonha alheia dela, nem iria competir com um ser tão insignificante.

Enfim. Ao menos a investigação não estava lá essas coisas todas, era apenas um pequeno caso a mais. O que eu esperava era que continuasse.

Fui até o balcão da recepcionista.

- Pois não?

- A lista telefônica, por favor. - A recepcionista me olhou cautelosamente. Como se estivesse procurando meu ponto fraco. Não gostei nada disso.

Ela me deu a lista. Peguei com ignorância, fui até as poltronas pegar minhas sacolas e subi. No quarto, as joguei com ignorância em cima da cama. Peguei o telefone do quarto. Procurei por Smith. Só havia um. Essa cidade era muito pequena mesmo.

Smith, Joseph. Disquei.

Alô. Uma voz séria, masculina e repreendedora, como a de Artur atendeu.

- Por favor, a Sophie está?

So, telefone. Ele chamou, sem emoção, o tipo de pessoa que parece sempre estar com raiva.

Eer, alô. Ela falou meio desconfiada, como se ninguém ligasse pra ninguém nessa cidade.

- Oi, Sophie. É Elizabeth.

Ah, oi Liz! Me achou, não é?. Ela riu

- Sim, sim. - Ri em resposta. - Olha, não sei se encomodo, mas, éer... Onde você estuda?

- Você vai estudar, Liz? - Fiquei meio ofendida e não respondi. - Ah, meu Deus, desculpe pela pergunta. Minnesota Estadual High School.

- Sem problemas. - Respondi um pouco seca. - Obrigada. Poderia me dar o endereço?

Ela me disse rua, deu uns pontos de referência.

- Mais uma vez, obrigada. - Agradeci. - Até, amanhã, talvez.

Até. Tchau. Desligou. Fui organizar as compras. Dei valor especial às botas.

Depois tomei um banho morno e fui dormir. Teria um dia escolar longo amanhã.

...

 Comecei a sonhar. Eu sabia que estava na Romênia. Senti que estava segurando um guarda-sol de época. Olhei minhas roupas. Eram de 1877. Eu estava... Ah, não. Eu não podia estar lá. Senti a garganta dar um nó mesmo sonhando. Eu estava no bosque perto de um lago qual eu não me importara em conhecer o nome. Tudo era marrom e verde bem claro. Parecia uma paisagem com cores editadas em computador e postas na vida real. Era tudo muito lindo, muito perfeito. Só podia acabar mal e acabou. Foi onde eu conheci Trevor.

Enfim, eu caminhava pelo bosque como no dia em que o conheci. Mas não parecia ter ninguém me perseguindo. Eu olhava para o lago entre as árvores baixas, olhava para o chão, os lados. Mas quando virei para frente algo me assustou terrívelmente. O garoto com quem eu tinha sonhado no meu aniversário, aquele que minha família tinha sugado até a morte provavelmente estava lá. Parecendo um zumbi. A pele do pescoço em carne viva junto á sua cabeça torta que me olhava penetradamente com aqueles olhos que me culpavam. Pulei da cama. Respirei fundo.

Fui ver que horas eram. 7:06. Ok, eu teria que me alimentar, arrumar e essas coisas todas para ir ao colégio, me matricular, com o objetivo de be estabelecer em Tower. Aliás, eu estava um pouco assustada com isso. NINGUÉM. ABSOLUTAMENTE NINGUÉM havia me ameaçado de morte, ou de me levar pra Transilvânia onde iria ser morta pessoalmente pela minha família, ou nenhum hotel foi posto em fogo, ninguém havia morrido com algum envolvimento meu. Nenhum arranhão, ninguém arranhado. Tudo na santa paz. Fiquei otimista. Esperava que isso durasse, mas que quando viesse não fosse tão intenso.

Estava deixando o hotel quando tive a impressão de quem alguém estava com aquele olhar da recepcionista de ontem. Virei. Olhei em volta... nada. Aquilo era suspeito. Saí do hotel, não estava com paciência para um dia estressante.

Cheguei no colégio. Passei direto para secretária, fiz matrícula e peguei minhas matérias, mapas, horários. Fingi ter 16 anos então estaria no primeiro ano. Bom, pensei. Três anos para terminar o colegial caso conseguisse ficar aqui. Ao andar pelos corredores atrás do meu armário sempre aqueles olhares estúpidos de adolescentes otários e estupidos sempre com os mesmos pensamentos estúpidos. Quem é ela? Ela é inteligente? Ela é bonita, a odeio. Ela é feia, coitada. Tem cara de metida, se mecher comigo vai ver só. Sempre a mesma coisa. Respirei fundo, sobreviver à isso era necessário à sobrevivência da raça humana.

Passando pela ponta de um corredor, um cara daqueles que é super atlético que deve ser super popular, do tipo que eu odeio por sinal, deu em cima de mim.

- Oi, gata. - Ficou na minha frente. Não sabia se estava zoando comigo ou estava interessado mesmo. Seus amigos falavam que se a Torry soubesse disso ia ficar muito atacada, vai pegar mal. - Relaxem galera. Tô dando só as boas-vindas à ...

- Elizabeth - respondi seca e desdenhosamente.

- Opa, gata tá muito longo isso - Opa, gata. Era só o que me faltava. Um cérebro do tamanha de uma ervilha ressecada não podia processar meu nome. Que pena, chegava a dar muito dó mesmo. - Vamo dá uma encurtada aí né? Pode ser Liza, ok?

- Não encurte meu nome, não sem permissão, otário. - Seus amigos riam.

- Que é isso?! - Ele levantou os braços - Só queria encurtar, pra ficar mais fácil.

- Fácil para quê? - Usei meu tom rude - Pra você ficar comigo? Ah, cara não sou nenhuma dessas idiotas com cérebro menor que as suas células - Não pareceu um insulto ao alcance dele. Intelectual demais. - Queria dá uma "encurtada"? - Puxei o rosto dele, cheguei mais perto. Beijei, aqueles beijos bem raivosos, e sensualmente nervosos. - Pronto! Tá encurtado! Agora vê se não enche tá?

O afastei para o lado abrindo passagem para mim. Eu tinha acabado de beijar um idiota como forma de resposta a insulto. Aquilo foi divertido.

...

Depois de aulas, ouvindo o que ouvi durante umas três mil vezes, chegou o recreio. Todo mundo fofocando, uns brincando com a comida. E eu mal tocava no prato. Sentei numa mesa sosinha. Eu merecia. Não precisa de um monte de perguntas idiotas repetitivas inchendo o espaço vago da minha mente.

Mais aulas. Intervalos de aulas. Bullying em alguns corredores. Comentários idiotas. Muitas pessoas falando do meu "incidente" hoje cedo e como a "Torry" ia ficar furiosa quando soubesse disso. Pelo que eu tinha ouvido, Torry era uma dessas patricinhas toscas, que era filha do prefeito e que namorava o cara que eu beijei, que se chamava Edward. A tal Torry estava se recuperando de um incidente humilhante que ocorrera neste domingo. Devia ser a morte de uma unha quebrada. Ri alto e sosinha. Enquanto isso, alguém esbarrou em mim.

- Desculpe. - Uma voz familiar concentrada em papéis falou

- Sophie!

Ela se virou para mim

- Liz! Você veio estudar aqui!

- Sim, o mais rápido possível. Vida de Hotel em Tower nao é lá muito emocionante.

- Sei - Ela riu. Nesse momento ela acenou convidando alguém que estava atrás de mim a se juntar ao nosso papo no meio do corredor.

A pessoa parou atrás de mim, quase de lado, pude sentir/ouvir, sei lá. Um conjunto dos dois.

- Liz, este é meu namorado. -  Ele se virou para ficar ao lado de Sophie, na minha frente.

Fiquei uns 50 segundos meio que em pânico. Era ele. O menino dos meus sonhos. Aquele da cabana, machucado no pesçoco por minha família. Aquele meio zumbi do bosque perto do lago na Romênia. Pisquei como se tivesse olhando para outra coisa. E fiz algo que Sophie entendeu como um pedido de desculpas.

- Prazer, sou Alex.


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