Um Novo Começo escrita por hachiikko


Capítulo 1
02.08 - Um novo começo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo reescrito em Outubro de 2018.



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02/08 

Querido Diário,

tudo bem que escrever isso soa meio estranho vindo de um homem, mas é assim que pretendo escrever. Não sei como escrever em diários, muito menos tenho experiência com isso mas necessito de um meio para externas meus pensamentos. E qual a melhor maneira de poder aquietar um adolescente de 16 anos do que escrevendo seus mais profundos sentimentos em um pedaço de papel que não vai possuir opinião nem ao menos retrucar?

Deixe eu me apresentar, porque se em um futuro distante, ou não tão distante assim, alguém vier a ler este caderno, essa pessoa tem o direito de saber e conhecer melhor o autor deste diário.

Acho que como qualquer adolescente eu sou muito normal. O que claramente é uma enorme de uma tremenda mentira.

De acordo com tudo o que vi e vivi nesses 16 anos (dessa forma até parece que eu presenciei muita coisa) só pelo simples fato da minha pessoa sentir gosto em estudar já não sou considerado normal por muitos a minha volta. Sou um homem cis de baixa estatura, se eu pertencesse ao sexo feminino estaria de bom grado, mas infelizmente não sou. Desde que me conheço por gente uso esse conjunto de armação de vidro que ficam localizados na frente dos meus olhos, vulgarmente conhecidos como óculos de grau. Meu cabelo é preto e até um pouco comprido pois se não aparado regularmente, me faz ficar impossibilitado de poder enxergar as coisas que acontecem ao meu redor.

Desde que me recordo fui taxado de nerd. Qual o problema em gostar de equações, de uma boa leitura Freudiana ou até mesmo de conversar com pessoas mais velhas a respeito das crises mundiais? E com isso, sou o nerd da escola. Pelo menos eu era.

Minha vida era bem regular. Eu acordava cedo, comia um café da manhã completo e balanceado e ia para o colégio. Onde ficava pelo menos de nove a dez horas por dia. Como não sou bom em esportes eu cuidava de outras coisas, digamos como ser o presidente do grêmio estudantil. Eu estudava no mesmo colégio a 3 anos e apesar de ter entrado na última série do fundamental foi fácil me entrosar com os outros alunos devido ao estimulo constante da escola aos estudos. A cada semana acontecia um concurso de redação e ocorriam debates entre as turmas. A turma que mais tivesse pontos de debate ao final do mês ganharia mais tempo para fazer as provas do período. Era um local maravilhoso de se estar. Apesar de rigoroso, eu me dava bem com a maioria das pessoas., de diferentes tribos. Mesmo quem eu acho muito falsa eu sou uma pessoa bem ética. E como presidente eu tinha que tratar todos bem. 

A verdadeira razão pela qual começo a escrever neste caderno a que estou me referindo como diário, é que meu pai foi transferido para uma outra cidade e com isso sou obrigado a mudar junto com minha família. E meus pais são um casal perfeito, nunca aceitariam ficar longe um do outro. E por ser menor de idade sou obrigado a me mudar junto, pois aparentemente morar numa cidade a 6 horas de distância quando se tem apenas 16 anos é impossível, impraticável e totalmente irresponsável. No começo eu fiquei bem chateado com meu pai, por ele ter esperado até o último instante para me contar que isso iria acontecer. Apenas tive tempo de me despedir de algumas pessoas e logo já estava empacotando tudo em meu quarto. É o que acontece quando seu pai diz na sexta que a família vai se mudar no domingo. 

Acho que vejo nessa mudança de habitação uma possibilidade de poder começar de novo. De poder tentar ser mais livre e mais independente e assim mostrar a meus pais como vou ter capacidade de voltar para minha antiga cidade e cursar a faculdade lá.  Já estava acostumado com as coisas por lá, não é preciso mexer no que não precisa de concerto. E por isso quero registrar nestas páginas como eu era e como vou tentar ser. Vou tentar aos poucos ir contando mais sobre mim, se eu falasse tudo de uma vez acho que seria bem sem graça.

 

Eu faço uma promessa aqui e agora. Este pequeno filhote canino deitado aos meus pés será testemunha desse fato real - sim, eu sei que isso é uma tautologia é apenas para enfatizar o que eu vou escrever. Eu prometo, que na escola nova, mesmo se eu souber a resposta para a pergunta que o professor fizer, não irei responder. Nesse momento você deve estar se perguntando o porque dessa minha decisão. Não quero parecer estranho ou ser taxado de nerd logo no meu primeiro dia de aula, nem nunca para falar a verdade. Apesar de não me incomodar como me chamam, na maioria das vezes ser nerd está associado a algo ruim. Apesar de não achar que tenho culpa por estudar o conteúdo todo previamente e também aqueles que somente são dado em aulas na faculdade em minhas horas livres. Sou uma pessoa intelectual. E muito modesta também. Percebeu? Também sou capaz de fazer piadas, mesmo que na maioria das vezes elas não sejam reconhecidas por quase ninguém.

 

Farei mais uma promessa agora. Prometo não virar a cara para ninguém sem ao menos conversar um pouco com essa pessoa. Por mais que ela, ou ele, possa me parecer fútil, só se importar com coisas levianas e ser burro feito uma porta, porque nada disso importa. Como amo minha ironia. Mentira, claro que importa. Eu não conseguiria e não consigo conviver no mesmo ambiente que esse tipo de gente. Por isso que nas aulas eu sento na frente para evitar de ficar olhando pela sala e me desapontando. Mas prometo que tentarei mudar. Me esforçarei ao máximo. Não garanto cem por cento de mudança, quem sabe aproximadamente uns trinta e cinco por cento. Ser presidente acabava sendo exaustante nesse quesito pois eu era obrigado a ser simpático com todos. Porém se eu virar a cara logo no começo não vou conseguir desenvolver amizade com ninguém. E por mais que eu não pretenda ficar por aqui definitivamente, quero que minha estadia seja agradável e não um tremendo pesadelo. 

 

E a última promessa que farei aqui neste dia é que tentarei escrever em meu caderno todos os dias. Na minha concepção diário é algo de pessoas egocêntricas, que escrevem bons acontecimentos e depois ficam relendo para se acharem melhor. Mas eu não sou assim. E não, dessa vez não é ironia. Apenas escrevo aqui como uma forma de expressão. Ou até mesmo como um diário científico. 

Pode não parecer, porque eu escondo te todas as formas possíveis, mas mudar é algo extremamente difícil para mim. Eu sei, eu sei. Não me relaciono bem com as pessoas e essa inesperada mudança deveria me deixar animado como uma forma de poder tornar as coisas melhores. Mas não consigo ficar contente com tudo isso. Sei que pode parecer estranho e até algo anormal. Mas eu já estava acostumado com todo aquele ambiente que me cercava. Mesmo só trocando palavras de bom dia e boa tarde com a maioria das pessoas eu sabia como elas reagiriam ou até mesmo como pensavam. Eu sabia a qual tribo cada individuo pertencia, sabia o que esperar de cada um deles, conheci os costumes do colégio como só se sente perto da quadra se você quer jogar, senão mesmo contra sua vontade eles te arrastariam para lá. Eram esses mínimos detalhes que eu mais gostava na escola. Passei tanto tempo colhendo informações que quando chegou a hora de utiliza-las não soube como fazer. Para mim, esta é a minha maior diversão: observar pessoas. É incrível o jeito único de cada um que está presente no mundo, como andam, como agem, fico me divertindo só em olhar um grupo qualquer e ficar imaginando hipóteses para a história por trás de cada um. Tirando observar só tenho mais duas paixões, que apesar do que você pode estar pensando não tem muito a ver com estudos.

 

 

 

Ouvi um barulho alto vindo lá de fora.

Vou dar uma olhada.

Acabei de olhar pela janela e é o caminhão de mudança.

Eu já volto.

 

 

É engraçado não?! Escrever "já volto" em um pedaço de papel é meio estranho. Pois se eu parasse de escrever neste exato momento e apenas voltasse dias depois ninguém perceberia. Só se a minha pessoa falasse. Enfim, tentarei ser o mais transparente possível, ou expressivo, como preferir.

Tive que acordar minha mãe agora, para receber os carregadores da empresa de mudança. Não sei como ela consegue. Para mim dormir durante a tarde é algo impraticável. Existem diversas coisas a serem feitas no período após a chegada da escola. E como nós viemos para a casa nova hoje estávamos só esperando nossas coisas chegarem para poder arrumar. Vou esperar de descarregarem para pegar minhas coisas. Minha mãe vai arrumar só as coisas dela e a cozinha. Ela costuma dizer "senão consegue deixar suas coisas arrumadas peça demissão". Logo meu pai vai precisar chegar em casa durante a semana e ainda arrumar as coisas dele. Ele é um clássico homem de negócios, tem algo a ver com marketing e por isso está sempre viajando. Uma coisa única sobre meus pais (que eu já devo ter comentado aqui) é que eles se amam muito. Assim muito mesmo. Só se veem muito pouco. Minha mãe, no momento está desempregada e isso está fazendo que ela entre em uma depressão. Ela tenta focar em cozinhar e cuidar da casa mas ela não foi feita para isso. Como você se sentiria em trabalhar sua vida inteira na mesma empresa multi-nacional e do nada é anunciada a venda dessa empresa e você é despedido? Na minha opinião ela está lidando muito bem com a situação. Mas daqui a pouco ela começa a trabalhar de novo. Quem sabe nessa cidade nova tenha mais opções de empregos.

 

Devo confessar que estou estranhamente ansioso com amanhã. O que acontecerá amanha para me deixar ansioso? Segunda-feira, será o inicio da minha suposta vida nova. Estar nesta casa grande, vazia sem nada para fazer é desestimulante. Ainda bem que o caminhão chegou, usarei o resto da minha tarde para organizar todas as minhas coisas ou pelo menos partes.

 

Além de ansioso me sinto preocupado com amanhã. Não sei como devo me portar na sala de aula. Não sei quão rigoroso o colégio é, nem as reações das pessoas.

 

Logo pela manhã eu fui caminhar pela cidade com o Teko - meu Golden retriever de apenas 20 meses, ganhei ele no meu aniversário do ano passado - e como já pude reparar que essa cidade é bem diferente da minha antiga. Um detalhe meio interessante é que por aqui realmente possui casas com jardins ao invés da selva de prédios a que estou acostumado. Talvez ache companhia para o Teko brincar. 

 

Minha mãe começou a me gritar para ir ajuda-la a desempacotar as coisas. É melhor eu ir mesmo. Tenho a ligeira impressão de que escrevi um pouco demais para a primeira vez que escrevo. Amanhã devo escrever e contar como foi meu ingresso no novo mundo. A ansiedade não vai ser vitoriosa sobre mim.


— Murai Naoyuki


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Notas finais do capítulo

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