Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 27
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Eu sou uma boba mesmo! Estava segurando esse capítulo para liberar somente quando tivesse escrito pelo menos metade do próximo.
Maaaas eu não resisti, queria compartilhar logo com vocês, por estou muito ansiosa para ver Allyger acontecer!

Então, conforme prometido, aqui está a continuação do Cap 25! Se vocês gostaram do primeiro, irão amar esse [pelo menos eu espero!]

Boa leitura e comentem muuuito, estou amando as reações de vocês!

Beijão



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Ally PDV

Acordei assustada com meu celular tocando. Mas não era o som do alarme, era o toque do whatsapp. Estiquei o braço até o criado mudo, ainda de olhos fechados, aterrorizada com a ideia de ter perdido a hora e agora alguém estar mandando mensagens perguntando por mim.

Mas se eu estivesse atrasada, Sarah não me enviaria um whatsapp, ela me ligaria. Ou pior, me demitiria. Duh.

Chequei a hora no relógio do celular, ainda era dez e meia. Ótimo, perdi meia hora de sono. Mas tudo bem, descansei o bastante para não ficar bocejando pelos cantos. Meu mau humor se desfez completamente e foi substituído por um sorriso ansioso quando vi de quem era a mensagem:

Peter:

Ally?

Já chegou?

Temos um encontro em poucas horas. :)

Uma coisa era receber uma mensagem de Roger quando ele está a milhares de quilômetros de distância. Outra coisa é receber uma mensagem sua sabendo que ele pode estar, neste momento, no mesmo prédio onde estou. É quase como se ele estivesse diante de mim. Minha mente girou, meu estômago se contraiu como se eu tivesse engolido cubos de gelo. Demorei alguns segundos para colocar as ideias no lugar e responder a mensagem.

Alicia Curtis:

Oi!

Sim, já estou no hotel. :)

Você já chegou?

Peter:

Sim!

Mal posso esperar para te ver.

Estou ansioso. De verdade!

Era muito bonitinho ver Roger dizendo que estava ansioso. Mas eu me perguntava se ele tinha um iceberg dentro da barriga como eu. O sorriso estampado em meu rosto quase me dava câimbra, de tão aberto. Respondi com bom humor na tentativa de aplacar um pouco a ansiedade.

Alicia Curtis:

Apenas mais um dia de trabalho, Sr. Peterson. Rs.

Peter:

Sim, mas nem todo dia de trabalho tenho o privilégio de desfrutar da sua companhia. ;)

A propósito, precisamos conversar sobre isso.

Alicia Curtis:

Engraçadinho.

Podemos conversar mais tarde?

Aguardei a resposta de Roger no whatsapp, mas ela veio em forma de ligação. O que me surpreendeu.

“Alô?”

“Olá, garota do envelope azul.” – Eu podia quase ver seu sorriso provocante do outro lado da linha.

“Para com isso, Roger. Você está me deixando sem graça.”

“Desculpa. É que estou de muito bom humor, sabe?”

“O Rio de Janeiro faz isso com as pessoas.” – Agora foi minha vez de provocá-lo.

“Não tenho a menor dúvida. Mas meus motivos são outros. E você sabe disso.” – Sua voz ficou um pouco mais rouca e séria. E eu me desmanchando do outro lado da linha.

“Ally, isso é meio sério. Odeio ter que pedir isso a você, mas você entende que ninguém sabe sobre nossa ligação, não é?”

Engoli em seco, não estava preparada para essa mudança súbita de assunto. E não sabia se queria ouvir o que ele tinha a dizer.

“Sim, claro.” – Respondi quase sussurrando. “O que você deseja?”

“Não é bem o que eu desejo, Ally. É o que precisamos fazer.”

“E o que precisamos fazer?” – Respondi automaticamente. Era perceptível a frustração na voz de Roger. Ele não queria ter que falar isso.

“Você sabe que ninguém sabe da nossa relação...” – Ele começou a falar, mas eu interrompi corrigindo-o. Minha voz soou mais seca do que eu gostaria.

“Não existe uma ‘relação’ entre nós, Roger. Então pode ficar tranquilo.”

Roger hesitou alguns segundos antes de explicar.

“Ally, me desculpe. Não quero deixá-la desconfortável. Você sabe do que estou falando. Ninguém sabe que nos conhecemos. Se nós agirmos como conhecidos na primeira vez que nos encontrarmos, vai levantar suspeitas e falatórios. Minha agente vai se aborrecer comigo e acho que você não está interessada em se tornar ‘a amiga misteriosa de Roger Peterson’.Por que é assim que começam os rumores.”

Eu tinha consciência que ele estava certo, mas ainda não tinha percebido que tudo relacionado a Roger seria completamente diferente de qualquer coisa que eu já vivi. Eu precisava seguir essas regras estúpidas de comportamento, o que me deixava insegura, frustrada e paranoica. Mas era necessário fazer esse sacrifício, se eu realmente quisesse ficar perto de Roger. Depois de refletir por um momento, decidi que valeria a pena.

“Tudo bem, Roger, eu entendo. O que eu devo fazer?”

“Agir naturalmente, como se estivesse me vendo pela primeira vez. Só isso. Depois desse almoço quero ver você a sós. Então poderemos conversar melhor. Sinto muito por fazer você passar por tudo isso.”

“Ok. Agora preciso ir. Tenho que me arrumar para o almoço. Até breve.”

“Ah, tudo bem. Estou contando os minutos. Até logo.” – Roger respondeu um pouco mais animado. “E, Ally?”

“Sim?”

“Um beijo.”

Meu coração palpitou.

“Outro.”

A conversa com Roger me despertou para uma realidade a qual eu havia ignorado até então. Nossos mundos são separados por um abismo de diferenças das quais a distância física é o menor dos problemas. Essa percepção só reforçou a ideia que eu já tinha de que, mesmo que Roger realmente tivesse algum sentimento por mim além de amizade, nós nunca poderíamos ficar juntos. Nós pertencemos a mundos completamente diferentes. Um não conseguiria sobreviver no ambiente do outro. Seria como tirar um peixe do mar e esperar que ele continue vivendo normalmente.

Esse pensamento me deixou um pouco desanimada, mas pelo menos era mais um motivo para manter minha resolução de não me envolver com ele, para o alívio da minha amiga Helena.

Para escapar dessa montanha russa emocional, resolvi manter o foco no trabalho, e tentar, na medida do possível, esquecer que o real propósito de eu estar ali era para conhecer Roger Peterson.

Escolhi para vestir no almoço um vestido de piquet branco, ajustado no corpo com mangas curtas e um cinto fininho preto com scarpins pretos de salto médio e prendi o cabelo em um rabo de cavalo baixo. Básica, porém elegante. Borrifei um pouco do meu perfume favorito que comprei em Londres e só usava em ocasiões especiais. Ele tinha uma fragrância marcante, porém muito gostosa. Mas não podia exagerar, especialmente em horário de almoço.

Ao chegar ao restaurante o maitre me conduziu à mesa reservada por Sarah Holland. A mesa ficava em uma área reservada do restaurante, separada por divisórias e portas de vidro, que promoviam um certo isolamento acústico ao espaço. Fiquei feliz ao ver que eu não era a primeira a chegar, assim não ficaria esperando tristemente sozinha como uma mulher abandonada. Havia duas pessoas sentadas, vestindo trajes neutros e formais, tais como o meu, talvez um pouco menos arrumados. Era uma moça mais ou menos da minha idade morena de cabelos longos e olhos muito vivos. Ela observava tudo ao seu redor com entusiasmo enquanto o rapaz ao seu lado parecia ser mais velho e comedido. Também parecia ser mais experiente e menos impressionado.

– Boa tarde, sou Alicia Curtis. – Cumprimentei ambos estendendo a mão.

A moça respondeu primeiro, sorridente.

– Prazer, Alicia, meu nome é Daniela e esse é o André.

– Vocês estão esperando a muito tempo? Eu cheguei em cima da hora. – Sorri meio sem graça.

– Faz uns dez minutos. Não queríamos nos atrasar. O trânsito aqui no Rio é meio imprevisível.

Como assim, eles não estão hospedados aqui no hotel? – Me perguntei um pouco constrangida.

– Hum, há mais pessoas na equipe?

André respondeu muito seguro, como se fosse o chefe do grupo.

– Na nossa equipe de tradutores somos apenas nós dois e você, pelo que estou sabendo. Normalmente esse pessoal costuma contratar todo mundo da mesma empresa, essa é a primeira vez que vamos trabalhar com alguém que não é da nossa equipe. Mas eles têm as exigências deles, quem somos nós para questionar?

Eu assenti rapidamente com a cabeça, envergonhada por saber exatamente qual o motivo da “exigência” fora do comum. Comecei a mastigar a parte interna da minha bochecha de tão nervosa que estava. Quanto mais os minutos passavam, mais geladas ficavam minhas mãos.

Passados cerca de dez minutos, a porta de vidro se abre e duas pessoas entram e seguem em direção à nossa mesa. Uma mulher loira de aproximadamente quarenta anos. Ela estava vestida com um vestido estampado de tecido fino que ia até os pés, sandálias rasteiras e seus óculos escuros estavam sobre sua cabeça, como uma tiara. O rapaz era mais jovem, tinha por volta de vinte e cinco anos, e estava vestido bem mais casual, de calça jeans e camisa xadrez azul com cinza. Nós três nos levantamos simultaneamente quando a dupla aproximou-se de nossa mesa, educadamente esperando que eles se apresentassem.

– Boa tarde. Desculpem o atraso. Sou Sarah Holland, agente do Roger Peterson. Este – Sarah apontou com a mão para o rapaz ao seu lado – é Larry, assistente pessoal do Roger. Sentem-se por favor.

Sarah nos cumprimentou com apertos de mão, e demorou seu olhar um pouco mais em mim, me estudando quase da cabeça aos pés. Depois, em um tom descontraído, brincou:

– Deixem-me adivinhar. Você – apontando para o homem ao lado de Daniela – só pode ser o André. – Sarah ‘adivinhou’ o nome de Daniela também, e por último, o meu.

– E você, deve ser a Alicia Curtis, não é mesmo?

– Sim, - respondi polidamente – é um prazer.

Posso estar ficando louca, mas juro que a ouvi murmurar por entre os dentes: “Pode apostar!”

– Bem, vamos aos negócios. Sarah começou, endireitando-se em sua cadeira. - Creio que todos receberam o cronograma de nossas atividades com os horários e suas atribuições. Este almoço é apenas uma apresentação para nos conhecermos melhor, em seguida teremos uma reunião na suíte presidencial, onde entraremos em detalhes sobre o papel de cada um nesse trabalho. De antemão já afirmo que esperamos de vocês nada menos que discrição e compromisso.

Ela disse discrição me encarando, como se estivesse falando de algo pessoal. A essa altura eu já estava suando por todos os poros. Parece que essa Sarah tinha tomado para si a tarefa de me policiar e me deixar constrangida. Eu só estava rezando para ninguém perceber seus olhares acusativos. Enquanto eu me mortificava, Sarah continuou seu discurso.

– Roger é um cara bem pé no chão, não gosta de tratamentos muito formais, mas por causa desse seu jeito descontraído, às vezes os funcionários perdem a noção do decoro – recebi outro olhar acusador – e esquecem que ele é seu patrão. Só estou dizendo isso para reforçar que fazemos questão a postura de vocês seja estritamente profissional, sem tomar liberdades, mesmo que às vezes Roger lhes permita. Entendido?

Todos concordaram balançando a cabeça positivamente. Eu já tinha praticamente almoçado de tanto mastigar as partes internas da minha bochecha. Fiquei me perguntando se minha roupa não estava adequada. Só isso justificaria o comportamento de Sarah para comigo e a forma como ela me encarava.

Daniela e André pareciam estar completamente à vontade com as exigências de Sarah, o que me fez acreditar que aquilo era protocolo desse tipo de serviço. Como eu poderia saber? Para minha sorte, eles aparentemente não tinham percebido os olhares insistentes de Sarah para mim, o que me deixou um pouco mais aliviada. Larry, por sua vez, me observada curioso, com um olhar de simpatia. Ele parecia ser um cara legal, mas como Sarah frisou o suficiente, nada de tomar liberdades com ninguém.

Sarah e Larry levantaram a vista simultaneamente em direção à porta de entrada, que ficava atrás de mim. O frio em minha barriga aumentou por que eu sabia exatamente que estava a poucos segundos de encarar Roger Peterson pessoalmente.

Percebi as mãos de Daniela tremendo embaixo da mesa enquanto ela brincava com as alças da bolsa em seu colo. Pelo menos eu não era a única ali quase tendo uma convulsão por causa de Roger Peterson. Sarah provavelmente teria que lidar com Daniela também, apesar de só eu estar sendo fuzilada com olhares.

Sarah e Larry levantaram-se com a aproximação de Roger e outro cara, um homem meio loiro e muito alto, que mais parecia sua sombra. Eu presumi que aquele era Dave, seu segurança. Eu, Daniela e André espelhamos o movimento de Sarah e Larry, nos levantando para cumprimentar Roger.

Tentei conter meu nervosismo me concentrando no nervosismo da coitada da Daniela, que parecia uma fã apaixonada. André de vez em quando lhe repreendia com olhares, assim como Sarah fez comigo. Foi tudo tão rápido que mal consigo lembrar como aconteceu. A única coisa que sei é que Roger continua tão lindo e fofo quanto na primeira vez que nos vimos. Quer dizer, mais lindo ainda. Ele vestia uma calça de brim preta, tênis pretos e uma camisa de malha do Thin Lizzy. Oh, yeah! Pensei comigo. Como se ele sozinho não fosse o suficiente para me deixar fora de órbita, tinha que vestir camisetas de bandas fodas. Roger tinha um sorriso aberto estampado em seu rosto, e aproximou-se meio desengonçado desculpando-se pelo atraso. Ele cumprimentou Larry de forma bem familiar, quase brincando, deu um abraço em Sarah, e em seguida voltou sua atenção para nós. Conforme combinado, Roger procurou ao máximo manter uma atitude neutra em relação a mim, especialmente sob o olhar de Sarah.

– Roger, esta será nossa equipe de intérpretes. André, Daniela e Alicia. – Sarah apresentou.

Roger diligentemente estendeu sua mão, cumprimentando um a um, até tocar a minha mão. Eu tremia um pouco e quase não tive coragem de levantar a vista para encará-lo, com medo de a Sarah perceber alguma coisa, mas seria extremamente mal educado cumprimentá-lo sem olhar nos olhos. Suas mãos também estavam geladas, e quando nossos olhares se cruzaram, por um milésimo de segundo, seu olhar era um misto de excitação e simpatia, que me inundaram de emoções. Ele apertou minha mão de leve, como se quisesse me confortar por toda aquela situação embaraçosa. Senti uma corrente de eletricidade passando por nossas mãos e percorrendo meu corpo até instalar-se na superfície de minha pele. Seu sorriso iluminou todo o ambiente, e naquele momento pareceu que havia somente eu e Roger ali. Como eu poderia pensar em qualquer condição quando ele estava ali me tocando e olhando para mim daquela maneira?

O feitiço se quebrou quando a indesejada voz de Sarah interrompeu nossa rápida troca de olhares comandando a todos que sentassem para que o almoço fosse servido. Durante a refeição em si conversou-se amenidades, basicamente Roger e sua equipe curiosos sobre o Rio de Janeiro, comentando suas impressões sobre a cidade e falando sobre os eventos dos próximos dias.

Após o almoço, Roger retirou-se se desculpando pela inconveniência e prometendo nos encontrar dentro de alguns minutos no andar de cima. Mais uma vez ele tentou me lançar um olhar significativo, mas eu não segurei o olhar por muito tempo, ambos por estar extremamente envergonhada em relação a ele, mas também intimidada pela postura de Sarah.

Quando subimos para a suíte presidencial, Roger estava longe de nossas vistas. Provavelmente em seu quarto, que ficava à direita da enorme sala de visitas. Nem em meus sonhos mais alucinados eu imaginaria um lugar tão luxuoso. Tudo dentro daquela suíte cheirava a dinheiro. Móveis caros, obras de arte expostas em quadros nas paredes e peças decorativas, tapetes persas caríssimos e até os tecidos das cortinas eram visivelmente fabricados em materiais finos. Nada daquilo combinava com o Roger que eu conhecia. E eu me perguntava o tempo inteiro para quê tudo isso. Talvez fosse uma escolha de sua agente. Ou quem sabe uma oferta do dono da grife que o contratou? De todo modo, toda aquela opulência era extremamente intimidante para quem não estava acostumado com tanto luxo. Como por exemplo, eu.

Na reunião Sarah entrou em detalhes sobre as regras de conduta diante de Roger e diante de convidados e parceiros, o que era esperado, o que era aceitável e o que era reprovável. Nada que qualquer pessoa de bom senso não pudesse imaginar. Mas havia também algumas excentricidades, como não dirigir a palavra a Roger a menos que solicitado por ele. Isso, talvez pudesse um problema para mim em algum momento. As instruções de conduta diante da mídia foram, para mim, as mais importantes. Eu me preocupava com a imagem de Roger, e não queria cometer nenhuma gafe que pudesse embaraçá-lo publicamente. Sarah também explicou sobre os protocolos de segurança e, ao final da reunião, nos fez a todos assinarem o contrato de prestação de serviço e um documento de sigilo e confidencialidade.

Cerca de uma hora depois, Roger finalmente aparece na sala, com o mesmo sorriso tímido estampado no rosto, e senta-se em uma poltrona ao lado de Sarah.

– Bem, ficou definido que a equipe de tradutores ficará dividida entre nós, para que todos possamos ter assistência a qualquer momento durante nossa estadia de quatro dias aqui no Rio de Janeiro. – Disse Sarah.

Enquanto ela falava direcionando para ninguém especificamente, Roger me observava em sua poltrona, com um sorriso no canto de sua boca. Se ele estava tentando esconder qualquer relação comigo, estava falhando miseravelmente. O que me deixou preocupada. Desviei o olhar e me concentrei exclusivamente em Sarah.

– André, você irá me acompanhar. Daniela, você ficará alternando entre Larry e Dave, de acordo com a necessidade deles.

Percebi um leve suspiro da parte de Daniela, que certamente tinha esperanças de poder ser designada para Roger. Mas eu sabia que não. O que me deixou mais surpresa foi a reação do próprio Larry. Por mais que ele tenha tentado disfarçar, eu percebi sua expressão ficar um pouco mais entristecida, como se ele esperasse algo diferente.

– Alicia, - Sarah mais uma vez me fuzilou com os olhos, não disfarçando sua insatisfação com aquele arranjo – você irá acompanhar o Sr. Peterson. Confira seu cronograma para se certificar dos horários. Atrasos não serão tolerados.

O que ela estava pensando de mim? Que eu era alguma adolescente irresponsável que estava ali só para admirar a beleza de Roger Peterson?

Bem, eu não era nenhuma adolescente, muito menos irresponsável. Já sobre admirar a beleza de Roger, eu não podia negar que era inevitável. Mesmo assim, o que a fez me pegar para Cristo quando a própria Daniela estava tendo grande dificuldade de controlar o nervosismo perto do Roger?

Roger, mais uma vez foi muito educado, me cumprimentando:

– Obrigado, Stra. Curtis, Alicia, não é mesmo? Nos vemos em breve.

– Isso mesmo, Sr. Peterson. Até breve. – Respondi, procurando manter a expressão neutra, desviando o olhar para minhas mãos.

Roger pediu licença e retirou-se para sua suíte. Eu não levantei a vista de minhas mãos até que Sarah começou a falar novamente.

– Bem, a reunião está encerrada. Vocês estão dispensados. Nos veremos mais tarde, às dezenove horas no saguão do hotel antes de seguirmos para o jantar na residência do Sr. Steiner.

André, Daniela e eu a cumprimentamos e nos dirigimos para a porta de saída da sala. Quando eu estava quase no corredor, senti uma mão segurando levemente meu cotovelo, e por alguns segundos desejei que fosse Roger, mas eu sabia que ele já estava recolhido em seu quarto. Virei-me e dei de cara com Larry.

– Até logo, Alicia. Foi um prazer conhecê-la. – Larry disse, sorrindo timidamente.

– O prazer foi meu. – Tentei sorrir de volta, mas eu estava muito tensa para parecer natural.

– É uma pena que você não tenha ficado comigo. Quer dizer, eu teria adorado ter sua companhia nos próximos dias. De todo modo, você se deu bem. Vai acompanhar o Roger. Melhor para você, né?

– Obrigada. – Respondi sem graça, rezando para ele não ler a verdade em meus olhos. – Estou aqui para prestar um serviço. Farei de bom grado o que me for determinado. De todo modo, nós nos encontraremos várias vezes. Tenho certeza.

Não sei se isso soou como um encorajamento, mas eu simplesmente não sabia o que dizer. Ele parecia um cara legal, mas as palavras de Sarah ainda estavam muito frescas em minha memória. Eu não me atreveria a desafiá-la.

Larry pareceu satisfeito com minha resposta. Ele sorriu e despediu-se, voltando para dentro da enorme sala. Quando eu já seguia pelo corredor em direção ao elevador, foi a vez de Sarah me interpelar.

– Srta. Alicia. Mais uma coisa.

Virei-me em sua direção, agora mais relaxada.

– Pois não?

– Não sei o que está acontecendo entre você e o Roger, mas é bom que você saiba: não vou tolerar nenhuma gracinha nem vazamento de informações.

Eu não estava acreditando no que acabara de ouvir. Quase engasguei quando respondi. A única coisa que consegui falar foi:

– Do que você está falando, Sra. Holland?

– Eu sei que você está armando alguma coisa com o Roger. Ele insiste em dizer que apenas conheceu você casualmente em Londres, por isso requisitou seus serviços. Mas ele não me engana. Nem você. É melhor pensar dez vezes antes de querer tirar proveito de qualquer situação ou você terá que trabalhar pelo resto da vida para pagar as multas contratuais, isso é, se você ainda conseguir ser contratada por alguém, depois de eu tomar algumas providências.

Fiquei paralisada diante da porta do elevador. Eu não conseguia proferir uma palavra. Minha boca abria e fechava, mas não emitia nenhum som. Usei toda a energia que me restava para conter as lágrimas que se formavam em meus olhos e para fazer os cantos dos meus lábios pararem de tremer. Baixei a vista enquanto Sarah me deu as costas e voltou para a suíte presidencial.

Nunca fui tão humilhada em toda minha vida. A viagem mal havia começado e já estava dando tudo errado. De alguma forma Sarah desconfiava sobre eu e Roger, e agora ela não me deixará em paz, por mais que eu me esforce para ser séria e profissional. Ela já tem sua opinião formada sobre mim, sem ao menos me conhecer.

Chegando ao meu andar, corri para meu quarto antes que esbarrasse com alguém pelo corredor. Quando finalmente tranquei a porta, deixei as lágrimas escorrerem livremente pelo meu rosto, soluçando incontrolavelmente. Eu não sabia o que pensar. Senti um arrependimento profundo por ter me metido nessa roubada, mas ao mesmo tempo sabia que eu precisava enfrentar esses sentimentos ruins e provar que eu não estava ali para brincadeira e que exigia respeito. Mas no fundo eu estava arrasada. Só queria afundar no meu travesseiro de plumas e ser esquecida lá pelos próximos três dias. Chorei tanto que minha cabeça começou a latejar de dor.

Fui até o frigobar do quarto, peguei uma garrafa de água e tomei um comprimido para enxaqueca e voltei para a cama. Cobri o rosto com um dos travesseiros e fiquei de olhos fechados, no silêncio absoluto pelo que pareceu uma eternidade. Ouvi uma batida distante em uma porta.

Toc. Toc. Toc.

Toc. Toc. Toc.

Pensei que fosse em algum quarto vizinho, já que o som parecia vir de muito distante. Mas logo em seguida recebi um whatsapp:

Peter:

Toc. Toc. Toc.

Ótimo. Tudo o que eu menos precisava era ter que falar com Roger agora. Depois de tudo o que ouvi daquela megera da Sarah. Eu não estava afim de falar com ninguém, muito menos com ele, por mais que não fosse culpa sua. Mas o whatsapp continuou insistindo:

Peter:

Toc. Toc. Toc.

Ally, você está aí? Venha até a porta lateral, por favor.

Porta lateral? Só então removi completamente o travesseiro do meu rosto para olhar em torno do quarto à procura dessa tal porta lateral. De fato havia uma porta ao lado da cômoda da TV, só que eu nunca tinha reparado sua existência. O toc toc toc vinha dela. E aparentemente Roger estava do outro lado.

O que Roger Peterson está fazendo na suíte anexa à minha? Ele não está hospedado nas suítes standard, isso é um fato.

Caminhei até a porta com os pés descalços no carpete macio, mas antes parei diante do espelho na porta do closet. Meu cabelo estava uma verdadeira bagunça, o rabo de cavalo praticamente desfeito e mechas soltas nas laterais do meu rosto. Meus olhos ainda estavam muito inchados. Droga! Maquiagem nenhuma conseguiria disfarçar as bolsas de inchaço nas pálpebras e abaixo dos olhos.

Soltei o cabelo da liga que prendia o rabo de cavalo, penteando com os dedos para dar um aspecto um pouco melhor.

Toc. Toc. Toc.

– Estou indo! – Gritei apressadamente, esbravejando internamente por não conseguir dar um jeito nos olhos inchados.

Abri a porta lentamente, para dar de cara com Roger apoiando um braço no vão da porta e com a mão livre dentro do bolso da calça. Senti um frio descer pela garganta até o estômago.

Ele estava tão tão lindo. Ele deu um passo para trás e ficou me observando com um sorriso tímido nos lábios, incerto se deveria se aproximar ou não.

Me bateu uma vontade imensa de chorar e abraçá-lo. Ele ao mesmo tempo parecia tão familiar e tão estranho. Eu não sabia como me comportar diante dele.

Ficamos cerca de um minuto nos encarando em silêncio. Milhões de mensagens passando pelos nossos olhares. Eu rezando para que ele não percebesse que andei chorando. Mas era pedir demais.

– Oi! Ally...

– Roger, eu... – Mordi o lábio suprimindo um soluço. Se eu deixasse sair mais uma palavra, acabaria chorando. E não queria arruinar esse momento falando sobre Sarah, apesar de eu não esquecer por um segundo suas palavras.

– Ei, está tudo bem com você? – Roger estendeu a mão me convidando para entrar em seu quarto. Sem hesitar tomei sua mão. O contato com sua pele tinha o efeito de me acalmar. Ele me passava uma segurança, e eu não conseguia compreender como.

– Você andou chorando, Ally...? – Ele falou mais como uma afirmação do que uma pergunta.

– Não...

– Então por que seus olhos estão assim?

Seria ingenuidade minha acreditar que Roger não perceberia, mesmo assim eu tinha alguma esperança. Mas pelo visto ele não deixaria isso passar, então inventei uma desculpa e tentei mudar de assunto.

– Tá, eu estava chorando sim. O dia foi intenso, é isso.

Roger me estudou cuidadosamente, decidindo se eu estava falando a verdade ou não. Ele ainda segurava minha mão, alisando delicadamente com seu polegar.

– Eu nem acredito que estamos aqui. É tão surreal! Você está feliz em me ver?

– Sim. Mas em outras circunstâncias eu estaria mais feliz. – Respondi pensativa. Eu não conseguia encará-lo, era como se seus olhos me invadissem e enxergassem minha alma. Então mantive o olhar fixo nos desenhos em sua camisa.


– Do que você está falando? Você está definitivamente estranha. – Roger pareceu frustrado. Eu não o culpava, eu realmente estava dificultando as coisas com meu comportamento retraído.



– Eu queria te ver sem toda essa comitiva ao seu redor. É muito opressivo para mim. É assustador.



– Ally, nem sempre as coisas boas da vida aparecem para nós em circunstâncias ideais. A gente tem que saber reconhecê-las e aproveitar do jeito que elas se apresentam. Nós é que devemos criar o momento ideal, e não esperar por ele. E nós estamos aqui, agora, não tem ninguém interferindo. Olha para mim.



Roger comandou. Eu obedeci. Meus olhos marejados novamente. Mas dessa vez, não lutei com as lágrimas. Deixei que elas seguissem seu caminho. Como cumprir as exigências de Sarah se Roger aparece literalmente à minha porta, cheio de expectativas, carinhoso e pedindo para eu dar uma chance para nós?



– Você me vê, Ally? Eu sou aquele cara que fala você toda semana a mais de seis meses. Eu sou aquele cara que fica conversando bobagem só para tentar arrancar um sorriso seu do outro lado da tela, por que aquilo era a melhor coisa que ele poderia ter naquele momento, já que não podia te tocar. Sou eu, Ally, o Peter. Esquece o cara famoso.



Roger soltou minha mão e aproximou-se de mim, enlaçando seu braço em torno da minha cintura. Eu não estava em condições de oferecer nenhuma resistência. Com a outra mão ele enxugou as lágrimas do meu rosto, deslizando o polegar suavemente sobre minha bochecha. Congelei sob seu toque, mas logo fui relaxando à medida que nossos corpos se aproximavam e acomodei meu rosto em seu peito e abracei sua cintura. Eu poderia morar ali para sempre. Senti como se o conhecesse a vida inteira. Parecia tão natural ficar ali abraçada com Roger Peterson enquanto ele afagava meus cabelos, me acalmando.



Depois de um tempo abraçados, fui recuperando a calma e me sentindo mais confiante. Afastei meu rosto de seu peito relutantemente, e ergui a cabeça para olhar para seu rosto. Ele tinha um sorriso relaxado e me observava curiosamente.



– Obrigada. – Sussurrei. – E desculpa esse drama todo.



Roger caiu na gargalhada. Então pegou minha mão e me puxou para sentar na cama.



– Eu entendo de onde vem sua preocupação. Você está melhor agora?



– Sim, obrigada. – Sentamos de pernas cruzadas no centro da cama, de frente um para o outro, como se tivéssemos cada um com um laptop no colo. – Você não vai me explicar sobre esse quarto?



– Gostou da minha ideia? – Ele sorriu triunfante. – Reservei sua suíte e fiz questão que fosse uma que tivesse conexão com a suíte ao lado. Assim fica mais fácil para nos encontrarmos, já que seria impossível você entrar na minha suíte sem ser percebida. E também não pegava bem você ficar me recebendo em sua suíte.


– Muito engenhoso. – Concordei. Eu não conseguia acreditar em todo o trabalho que ele teve para facilitar nosso encontro. Minha confiança nele crescia a cada minuto. Suas ações falavam muito de suas intenções.


– Mas se a Sarah quiser, ela pode vir procurá-lo a qualquer momento, não? – Questionei.



– Sarah? Não. Eu fiz as reservas pessoalmente, ela não sabe que solicitei a suíte ao lado da sua.



Baixei a cabeça e fiquei mexendo na barra do vestido. Roger estendeu a mão para colocar por trás da orelha uma mecha de cabelo que desceu do meu ombro.



– Ally... – Ele sussurrou.



– Sim? – Levantei a vista para encará-lo. Seu olhar era acolhedor e parecia que tinha um milhão de sentimentos ali.



– Pensei que fosse impossível, mas você é ainda mais bonita pessoalmente.



Sorri de volta para ele. Eu queria tocar em seu rosto, mas sentia como se fosse um pecado tomar esse tipo de liberdade. O que era completamente bobo, já que ele estava me tocando também. Mas a essa altura meu cérebro já tinha se transformado em sopa e eu não conseguia mais raciocinar claramente.



– Eu poderia dizer o mesmo, mas acho que você já sabe disso.



– Por quê?



– Não é óbvio? Centenas de milhares de mulheres pelo mundo inteiro não podem estar erradas.



Roger ficou sério e compenetrado.



– Tudo bem, fico muito lisonjeado pelo carinho e dedicação de tantas garotas. Mas não é a opinião delas que importa para mim. Não é diante delas que eu fico nervoso e inseguro como um garotinho de colegial.



– Você não está nervoso e inseguro... está?



– Tanto quanto você deve estar. – Ele brincou.



– Isso, meu caro, é impossível!



Roger sentiu o celular vibrar em seu bolso e levantou-se para atender. Ele caminhou até a janela e abriu um pouco a cortina enquanto conversava. Aproveitei minha posição privilegiada para apreciar de camarote a visão de seu corpo longilíneo vestido em calças de brim apertadas e camiseta branca. Ele não podia estar falando sério quando disse que se sentia inseguro perto de mim. Como um cara que tem o mundo a seus pés pode ser inseguro? Não fazia muito sentido, mas observando o jeito simples e pé no chão do Roger, até dava para compreender.


Roger desligou o telefone e ficou de pé de frente para onde eu estava sentada na cama. Ele colocou uma mão no meu rosto e falou meio contrariado.


– Sinto muito, tenho que ir. Sarah quer resolver alguns assuntos.



Encolhi os ombros e respondi fazendo uma pequena careta.



– Acho que Sarah não gosta muito de mim. – Ele me olhou confuso, erguendo uma sobrancelha e perguntou.



– Por que você pensa isso?



Eu não quis dizer detalhes sobre nossa pequena conversa de uma hora atrás.



– Não sei... ela me pareceu muito séria e ríspida. – Roger deu uma risada.



– Ela está apenas cuidando da minha carreira. Não a leve tão a sério.



Ele brincou com uma mecha do meu cabelo, me olhando com uma expressão de saudade, depois inclinou-se em minha direção e eu quase entrei em pânico pensando Pronto! É agora!



Mas Roger Peterson é cavalheiro demais para seu próprio bem. Ele não se precipitaria sabendo quão frágil é nossa situação. A essa altura ele já havia percebido que eu ainda não estava totalmente à vontade ao seu redor e que eu precisava de um pouco mais de tempo para me acostumar com o fato de que ele era apenas o Peter, meu Peter.



Então ele inclinou-se e o beijo veio quente e suave em minha bochecha. Meu instinto dizia para eu envolver seu pescoço com meus braços, puxá-lo para mais perto e beijá-lo longa e lentamente, para compensar esses meses todos que passei desejando aquela boca na minha. Mas meu lado racional insistiu para que eu me controlasse, que me render aos meus instinto só iria me garantir uma noite de amassos e o maior arrependimento da minha vida no dia seguinte.



Eu sorri esperando que ele compreendesse a mensagem que estava tentando passar em meu olhar e levantei-me para acompanhá-lo até a porta.



– Você precisa ver o mar de gente que tem lá fora na frente do hotel. Deve ter alguém muito famoso hospedado aqui!



Ele riu da própria piada e apertou minha mão calorosamente.



– Nos vemos mais tarde, certo?



– Certo.



Eu não resisti e, de ponta de pés, repousei uma mão em seu peito e dei um beijo na bochecha.


Roger saiu do quarto com uma expressão impagável de ambos contentamento e choque.


Ponto para mim!



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Notas finais do capítulo

Nem preciso dizer que quero muuuitos comentários né? Tenho sido boazinha ultimamente, eu mereço! ;)

O que acharam do primeiro encontro de Allyger?

Beijossss

P.S.: No próximo capítulo acho que tem gente que vai passar mal do coração! ;)