A Rosa Branca escrita por Dreamer


Capítulo 5
Rosas devem ser vermelhas


Notas iniciais do capítulo

Yu Yu Hakusho e seus personagens não me pertencem.



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Depois do aparecimento de Koenma se passaram duas semanas.

Sassame estava muito cansada naquela noite. Seu treinador estava pegando pesado. Há alguns dias estiveram treinando luta corpo a corpo e ela simplesmente não conseguia obedecer as regras que ele impunha para as lutas. Basicamente, ela não deveria invocar poder nenhum. Ela deveria se defender apenas usando o próprio corpo, e atacar da mesma forma. Regra bem injusta, sendo que Kurama não usava apenas o próprio corpo para atacar.

“Desse jeito você estará preparada para quando tiver que lutar com vários oponentes”, explicava ele, toda vez que ela desanimava.

Ele não pegava leve nos treinos. Não sabia para que tipo de missão Koenma a mandaria enfrentar - e sabia que ele tinha o costume de jogar carga muito pesada nas mãos dos seus detetives para tentar se safar de problemas que o dariam a ele a punição de 100 ou talvez 200 palmadas no bumbum dadas pelo seu pai, o rei Enma. - De alguma forma algum problema sério sempre acontecia quando Enma não estava no mundo espiritual.

Ela não tinha noção do que a esperava e tentava não pensar muito nisso. Estava bom do jeito que estava. Divertia-se desenvolvendo suas habilidades, por mais cansativo e doloroso que fosse a maioria das vezes.

Enfiou-se em baixo do chuveiro sentindo os seus arranhões arderem quando a água escorreu sobre eles. Passou o sabonete levemente sobre, e sentiu uma ardência ainda mais forte.

Ela nunca voltou para casa com nenhum ferimento grave. Certa vez, perdeu o controle sobre uma planta que manipulava, ela havia crescido demais e perfurou sua barriga fazendo um corte extenso e profundo. Kurama agiu rápido. Algumas plantas e um pouco de sua energia espiritual e a garota estava novamente pronta para outra.

Os arranhões já não ardiam mais. O Youko havia recomendado algumas ervas que ela poderia usar para curar rapidamente arranhões e ferimentos leves, mas ela já não precisava mais usa-los, já conseguia usar uma parte de sua energia para curar leves ferimentos.

Secou sua pele lisa e sem machucados, satisfeita por ter conseguido curar-se sozinha. Estava orgulhosa de si mesma, era uma pequena habilidade que ela evoluiu, sem a ajuda, e até com certo segredo, de Kurama. Qualquer dia desses pretendia surpreende-lo com o seu novo poder.

Já vestida com o seu meigo pijama branco com desenhos nas bordas de borboletas cor de rosa, jogou-se em cima da cama cansada demais para prender os seus cabelos - costume que sempre tivera antes de dormir - ou puxar os cobertores para cima de si.

Ia adormecendo quando ouviu uma leve estalada. Olhou para o lado um pouco sonolenta. Levantou-se a tempo de evitar que as garras daquele horrendo demônio que acabara de entrar pela janela perfurassem o colchão no lugar dela.

Sentia a energia de três demônios em seu quarto. Bloqueou o soco de um com o braço direito e o de outro com a perna esquerda. Socou o primeiro que bateu na parede e caiu no chão derrotado.

“Mas, como eu...?”, ia se perguntando, surpresa que um soco seu tivesse tido tanto efeito. Mas não teve tempo de terminar a frase nem mentalmente para desviar das garras daquele que tinha tentado corta-la ao meio.

Havia um quarto demônio que não se movia, estava parado em um canto do quarto, apenas olhando. Ela não percebeu sua presença.

Derrubou o outro com um chute muito bem dado. Faltava mais um, o das garras. Enfiou os dedos nos cabelos castanho-escuro e liso e tirou uma semente que instantaneamente virou uma rosa. Uma rosa branca.

Estava pronta para transforma-la em um chicote e se voltar para o inimigo que restara quando sentiu suas costas sendo rasgadas. O demônio havia conseguido dar um belo golpe, que a atordoou por um instante e fez com que derrubasse a rosa no chão.

O demônio escondido mostrou sua cara, pulando e soltando um animal que se prendeu nas costas dela.

O que era aquilo? Um demônio que não tinha notado prendeu alguma coisa em suas costas, uma coisa que sugava toda a sua energia.

Ela não desistiu e tentou investir um soco no seu inimigo de garras, mas caiu no chão, deitada de bruços, quando sentiu que mais um animal se prendeu em suas costas.

––Já chega, vá embora––murmurou a voz calma e gélida.

O demônio das garras se afastou dela e saiu pela janela.

O tapete branco estava coberto de gostas de sangue. Seu ferimento não era tão grave assim, mas aquelas coisas presas em suas costas sugavam toda energia que tentasse empenhar.

O demônio ajoelhou na sua frente e a puxou pelos cabelos, até que as suas faces estivessem na mesma altura. Olhou nos olhos dela. Sorriu friamente e a jogou para a parede. Ela se chocou e caiu sentada.

––Esses dois, presos em suas costas––começou ele.––São animais muito úteis do mundo das trevas. Para que monstros fortes como eu possam passar pela barreira, é preciso disfarçar nosso poder. Então usamos eles para que o nosso poder se iguale a de um demônio de categoria inferior...––ele fez uma pausa se aproximando dela.––Mas, quando mais de um é usado, eles sugam muita energia e paralisam o seu hospedeiro.

Ele riu. Ela não conseguia entender a graça da situação.

Perguntou-se se aquele homem tinha relação com o seu passado, com o passado que desconhecia.

Ele pegou a rosa do chão e a passou em seu próprio rosto sentindo a suavidade de suas pétalas.

––Rosas... Elas devem ser vermelhas––murmurou olhando para ela de forma enigmática.

oOoOo

Ela não sabia onde estavam. Havia dormido o caminho inteiro. Quando foi jogada com violência num canto de uma sala fria, acordou.

Aquele homem ainda segurava a rosa.

Amarrou Sassame em uns tubos que havia ali. Ela não fazia idéia de para que serviam. Ele arrancou um dos animais das suas costas.

––Não vai ter graça nenhuma se você ficar dormindo––explicou sua atitude, apenas pelo prazer de assusta-la.––Só com um deles você deve ficar da mesma força que uma garota humana comum. Isso não é interessante?

––Quem é você?––perguntou ela. Queria tê-lo feito antes, mas a falta de energia a impedira.

––Eu? Bem, isso não importa para você.

––Por que me trouxe aqui?

Ela movia os pulsos e as mãos, tentando se libertar. Mas estava muito bem amarrada.

––Porque eu quero dar um presente para uma pessoa. Um presente muito especial––disse passando a mão pelo contorno do rosto dela. Ela simplesmente se afastou, olhando para ele desconfiada. Ele riu.

––Mas que coisa mais impressionante. Outra pessoa já estaria apavorada.

Ela estava mas, não sabia como, conseguia conter os seus sentimentos.

––Já entendi––disse ele saindo de perto dela e pegando a rosa.––Você deve estar esperando que alguém venha procura-la. Não é?

Não era exatamente no que ela estava pensando. Mas tinha essa certeza dentro de si.

––Eu espero que venha mesmo. Que venha atrás de você.

––Quem?––perguntou em tom de desafio.

Ele encarou a rosa com um olhar cheio de ódio:

––Kurama.

Andou de um lado para o outro na sala.

––Sabe, mas não é nisso que você deveria pensar agora. Ele virá sim, mas só vai se dar conta que você sumiu amanhã, no início da tarde. É nessa hora que vocês se encontram todo o dia. Isso nos dá muitas horas. Muitas horas sem Kurama...

Não fazia idéia do que ele pretendia, mas queria ganhar o máximo de tempo possível para tentar, inutilmente, libertar-se das cortas que a prendiam.

Ele se sentou ao seu lado:

––Grite.

––O que?

––Grite.

––Por que?

Ele riu. Passou a rosa pelo rosto dela. Por mais que ela se afastasse, uma hora encostou-se nos canos e não tinha mais para onde escapar.

––O que você quer de mim?––perguntou ainda tentando se afastar do carinho com a rosa.

––Já disse. Preciso de um presente.

Ela continuou forçando seus pulsos incessantemente, a pele começou a rasgar. Ele sentiu o cheiro de sangue.

––É––disse encarnado a rosa.––Rosas devem ser vermelhas.

Subitamente, numa tentativa muito bem sucedida de atormentá-la, ele a beijou. Ela tentou chuta-lo, mesmo com as pernas amarradas. Forçou ainda mais os seus braços, provocando um corte muito mais profundo em seus pulsos.

Depois do demorado beijo, ele se afastou rindo. Deliciado com o desespero dela.

Ela queria ofende-lo, xinga-lo. Mas ele continuou com o rosto próximo encarnado os olhos dela. Ficou estática.

––Pena que eu tenho tão pouco tempo...––ele se levantou e abriu uma maleta, único item que havia naquela sala.––Preciso preparar o presente.

Repentinamente ela mudou de expressão.

Agora ela o observava com frieza. Nunca tivera se sentido assim, tão controlada. Sentia nojo dele e era a única coisa que conseguia expressar. Não importava se fosse morrer, não tinha medo, e não sabia o porquê de não ter. Em seu coração não era o seu desejo. Mas, sua expressão era somente uma.

Ele voltou para perto dela com um pequeno estojo. Ainda não a tinha encarado. Retirou um delicado bisturi, e fechou o zíper do estojo. Quando viu o seu olhar, deteve-se por um instante:

––Vamos ver até onde vai essa sua expressão.

Ela simplesmente parecia muito calma e tranqüila. Não porque aceitasse a morte por completo, mas porque sentia que não deveria mostrar qualquer sentimento para ele. Se ia morrer, não ia deixa-lo ter o prazer de perceber que a fazia sofrer.

Ele fez um corte horizontal em sua testa. O sangue escorreu por todo o seu rosto, tingindo de vermelho seus delicados traços. Mas a sua expressão continuava inabalável.

Ele riu nervoso. “Está tentando imita-lo”, concluiu. Mas, não era verdade. Ela nunca havia visto Kurama lutar com ninguém, não sabia o quão frio ele podia ser.

A única imagem pouco gentil que tinha do youko foi quando o viu pela primeira vez, com um olhar perdido e sem sentimentos. Mas, aquela cena já estava quase apagada da sua memória. Já haviam tantos momentos junto a ele, e em todos ele foi a pessoa mais gentil que conheceu em todo o mundo.

Fez um corte vertical em sua bochecha. Parecia que nem dor ela sentia.

Ele urrou de fúria. Não conseguia conter todo o medo que aquele olhar lhe causava. Descontrolado, desferiu um tapa que quase tirou a consciência dela. Mas, não a sua meta. Não, não daria esse gosto a ele.

––Rosas devem ser vermelhas? Não...––concluiu ele, tremendo ao olhar dela, enlouquecido.––DEVEM SER BRANCAS, MAS TINGIDAS DE VERMELHO!


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