Yusuke e Hiei pararam. Olharam para trás.

––Vá em frente––murmurou o demônio de fogo, dando meia volta.

––Espere, Hiei!––pediu Yusuke, não queria deixar o amigo sozinho já que ele não podia usar o jagan.

––Não seja idiota, eu sei o que estou fazendo!––bradou irritadiço, sumindo de vista quase que instantaneamente.

––Kuwabara... Kurama... Sassame...––murmurou o ex-detetive. Ele não sentia mais a energia de nenhum dos três. Desejou profundamente que todos estivessem bem.

oOoOo

––Kurama...?––murmurou Sassame acordando.

Perdera a consciência quando recebeu o golpe do controlador.

Piscou forte. Ela estava deitada no chão. Acima dela, Kurama segurava com as costas – distribuindo esforço entre seus braços e pernas apoiados no chão – placas de gelo que ansiavam por esmagá-los. Algumas plantas cresciam em volta deles, com o intuito de ajudá-lo a suportar o peso.

––Você está bem? É melhor não se mexer, se essas coisas se moverem eu não sei se vou agüentar––explicou o youko.

Suor escorria pelo seu rosto. Era peso demais. Estava claro o que iria acontecer dalí a pouco, quando ele começasse a se cansar.

––Kurama, você tem energia para sair daqui. Vá em frente.

E largá-la alí? A garota era louca?

––Escute, estou falando sério––continuou ela.––Não tem porque nós dois morrermos. Vai!

Mas, ele não se moveu. Também não falava nada, pretendia economizar energia.

Ela não podia ver direito o seu rosto, a iluminação era fraca e parte dele estava escondido por uma sombra.

––Kurama, por favor...––pediu ela, num tom de súplica. Seus olhos começaram a marejar.

As raízes fortes criadas pelo youko já eram capazes de suportar quase todo o peso. Mas, as placas de gelo estavam muito unidas e se tornavam seqüencialmente num único bloco gigantesco. O oxigênio era escasso, e se extinguia a cada segundo. Os dois perceberam isso.

Entre soluços, ela tentou mais uma vez:

––Kurama, você tem a sua mãe. Tem o Yusuke, o Kuwabara, o Hiei... Todos os seus amigos. Você tem muitos motivos para ficar vivo. Por favor, sai daqui!

Ela pôde ver um sorriso gentil surgir no rosto dele:

––O que eu posso fazer se você se tornou o meu maior motivo para viver?

Como se tivesse sido atingida por uma corrente elétrica de alta voltagem, todos os seus sentidos se atordoaram. Ele se moveu um pouco, para suportar melhor o peso. Ela pôde ver os seus olhos. Encaravam-na com tanto carinho...

Lentamente, ela foi-se levantando. Mas, sem usar os braços, apenas forçando o abdômen, com a intenção única de aproximar o rosto.

Seus lábios se uniram.

Não havia mais gelo. Não havia mais frio. Havia apenas o calor vindo do pulsar de dois corações que batiam unidos.

oOoOo

Hiei avançava a toda velocidade. “Pelo menos a energia daquele infeliz também sumiu”, pensou friamente, enquanto se aproximava. Parou repentinamente.

––Você...!––murmurou.

O corpo escondido pela névoa se revelou. Era Pas Tou:

––Ora, você está vivo. Então o seu núcleo de energia não está ligado ao vital...

––Está enganado.

––...!

––O meu núcleo principal de energia não está ligado ao vital.

––... Principal? Entendo. Mas, que demônio interessante você é.

––Pena que eu não digo o mesmo de você, seu lixo insignificante.

––Ora, ora... Parece que você enlouqueceu. Talvez eu tenha que destruir o seu outro núcleo, para você voltar ao juízo. Pena que assim você irá morrer.

Hiei riu. Abaixou a bandana que cobria o jagan até a altura dos olhos.

––!

––Mas, que surpresa é essa? Você não ia colocar juízo na minha cabeça?

Abriu o jagan. Não era mais um grande olho branco com a íris negra. Mas, era uma grande bola negra, com a íris esverdeada.

“Se ele enxerga por aí...”, pensou Pas Tou, tentando controlar o núcleo de Hiei, mantendo contato visual com o jagan.

––É inútil. Controle nenhum, nem ilusão nenhuma, pode dominar o meu jagan! Talvez eu devesse te agradecer––comentou, num tom levemente sádico.––Só muito depois eu entendi o que realmente aconteceu durante a nossa luta. Foi tudo uma ilusão, desde o primeiro momento, eu nem cheguei perto de você. Desde o primeiro contato visual, você criou a ilusão, e começou a estudar o meu jagan, até que foi capaz de possuí-lo. Então, cristalizou-o para que as minhas chamas negras o explodissem. Para o meu azar, eu fui invocar logo as Chamas Negras Mortais... Mas, graças a isso, eu fiquei um tempo impossibilitado de usar o jagan, e fui obrigado a me concentrar na sua reconstituição. Com isso eu consegui um jagan muito mais poderoso!

Pas Tou deu um passo para trás. Nunca ninguém havia sobrevivido ao seu ataque, muito menos se recuperado daquela forma.

––O-os seus amigos estão soterrados no gelo, se você lutar comigo agora, eles vão morrer!––falou numa tentativa desesperada de escapar.

Hiei riu:

––Não se preocupe. Quando eu te mostrar as minhas novas Chamas Negras Mortais, não vai sobrar gelo nenhum no Marco Zero!

O demônio de fogo nem chegou a soltar as ataduras. Elas queimaram com as chamas negras. Ele deu um sorriso demoníaco.

Pas Tou, em pânico, começou a correr.

Realmente, ele havia criado uma ilusão para dominar Hiei na luta passada. Jamais seria rápido o suficiente para desviar dos golpes dele e, se tivesse tentado, teria sido esquartejado facilmente.

O braço de Hiei queimava. Ele ria. Só mais um pouco, queria concentrar mais um pouco de energia maligna e... Liberou os dragões! Não apenas um, mas cinco dragões!

Eles avançaram sem piedade até Pas Tou e o atingiram em cheio, destruindo as grossas camadas de gelo abaixo dele. Quando restaram apenas as cinzas do corpo, os dragões começaram a correr por toda a região do Marco Zero, como se um dragão estivesse brincando com o outro.

Em poucos segundos, Hiei estava pisando em cima de um pequeno bloco flutuante de gelo e, abaixo deste, havia um lago gigantesco, formado pelo gelo que os dragões derreteram.

Hiei inspirou, todos os dragões “mergulharam” em seu corpo e voltaram a ser uma simples tatuagem no seu braço. Mas, agora, representada por cinco dragões negros.

O demônio de fogo piscou, sonolento. Caiu de joelhos e adormeceu instantaneamente.