A Rosa Branca escrita por Dreamer


Capítulo 18
A missão do passado




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A pouca iluminação do céu avermelhado das trevas permeava a cúpula que se transformava num céu privado dos habitantes daquela estranha espécie de aldeia.

Apesar da segurança ser uma questão extrema para aquele povo, a sobrevivência dentro dele parecia mais complicada do que Yusuke jamais vira nas vezes em que visitou as Trevas. Isso porque aquele povo beirava à miséria.

Praticamente como entrar em um mundo paralelo, os demônios de todas as idades espalhados pelas ruas – pois à sua volta havia muitas cabanas – tinham o olhar vidrado no nada. Mães agarradas aos seus filhos, com uma única expressão: fome.

––Mas, o que será que aconteceu nesse lugar?––perguntou Yusuke, sensibilizado com a imagem.

––Naida! Naida! Assim não vale! Não é só porque você é filha do chefe que vai ser chefe em todas as brincadeiras!

––Eu não sou chefe por isso! Eu sou chefe aqui porque eu sou a mais rápida, forte e inteligente!––respondeu arrogantemente a pequena raposinha.

A aldeia estava esplendorosa. O povo forte e sadio trabalhava arduamente para o bem estar dos seus filhos e famílias. As cabanas eram fortes, belas e praticamente indestrutíveis. A Oca, apesar de não ter tanta segurança, naquela época explodia de poder dos jovens demônios. Ninguém ousaria entrar lá.

            ––Sassame?

––Naida! Sua chata! Deixe-me ser chefe uma vez!

––Quando você aprender a caçar pelo menos um inseto sozinho, eu penso no seu caso.

––Sassame?

––O que? Ah, desculpe. Eu me distraí––respondeu ela tirando os olhos de uma cabana caindo aos pedaços.

Ela seguiu o olhar do grupo. Quatro homens de aspecto rude se aproximavam:

––Naida. Esperávamos ansiosos a sua chegada.

––Tá––murmurou inexpressiva.

Os três rapazes que acompanhavam a garota esperavam alguma coisa acontecer.

––O seu pai te espera, ele quer falar com você––continuou o demônio.

“Pai...?”, murmurou em pensamento. Era muito confuso. Sentia sua mente cansada. Era tremendo o esforço que fazia para tentar rememorar, e quando alguma lembrança voltava à sua mente, ela sentia que não estava nem um pouco preparada para recebê-las.

As ordens de Koenma para ela foram bem claras: se infiltrar na tribo e impedir que ela estabeleça relação com Loru Pan. Mas, naquele momento mal estava conseguindo pensar em si mesma, quanto mais em qualquer ordem do mundo espiritual.

O seu tormento era evidente para Kurama:

––Quer ir embora?––perguntou ele.

Yusuke e Kuwabara o encararam, surpresos. Mas, logo entenderam a situação, apesar de acharem um tanto estranha a atitude do youko.

––Não, vamos em frente––determinou ela assim que as palavras fizeram sentido em sua mente.

Seguiram por algumas ruelas, até que os quatro demônios pararam em frente a uma cabana. Ela era a maior de todas e a mais bem conservada, apesar de estar em ruínas. Eles abriram a porta, e deixaram o caminho livre para os quatro passarem. Eles entraram.

Dentro era uma sala com alguns tapetes nas paredes e no chão, uma mesa no centro e alguns pufes a sua volta. Um homem gordo e decadente estava sentado no pufe maior, de frente à entrada da porta.

––Naida...––murmurou ele.––Que bom que veio. Sentem-se todos.

Cada um se sentou em um pufe, formando um círculo em volta da mesa.

Então era aquilo, aquele era o pai dela. Ou melhor, o pai de Naida. Evitava olhá-lo o máximo possível. Sabia que a sua lembrança mais terrível era ligada a ele. Por mais curiosidade que sentisse, o seu coração humano se protegia daquela memória. Nem mesmo a sua alma de youko queria se lembrar.

––Esse não é mais o meu nome––murmurou ela, ainda sem encará-lo.

––Entendo que depois de tudo, você não se sinta a vontade por aqui. Mas, eu te chamei aqui para apelar pela sua ajuda. Peço isso como um pai.

Ela levantou o olhar.

Kurama esperava pacientemente uma chance para interrogá-lo sobre Loru Pan. Mas, não esperava que tivesse que lidar com uma situação tão delicada. Era realmente uma surpresa ver que aquele homem, o líder da tribo, era pai da garota. Mas, estranhava o fato dele não ser youko.

––Você percebeu como está a situação da Oca. A única coisa que ainda nos protege são os selamentos mágicos e enigmas que você preparou há muito tempo atrás.

––O que você quer de mim?––cortou, sem questão de fazer cerimônias. As ordens de Koenma já estavam há muito esquecidas agora.

––Um homem entrou em contato comigo. Ele quer que o nosso povo forme um exército para ele. Ele me ofereceu uma soma em dinheiro, mas todos aqui não tem condições de enfrentar ninguém em uma batalha. Por isso, eu preciso conseguir esse dinheiro de outra maneira. Preciso que você roube um item.

––Preciso que você roube um item.

––...?

––Você acabou de chegar na maioridade, mas ainda se comporta feito uma criança. Escute, preciso que você roube um item. Mas, é uma missão muito perigosa.

––Eu sei ser discreta quando eu quero, pai.

––Ótimo. Você entendeu onde eu quero chegar.

––Que item é esse?

            ––Que item é esse?

––É a jóia de Masiri.

            ––É a jóia de Masiri...––ele a observou com atenção.

            O olhar dela estava introspécto. Sua mente confusa distorcia a realidade, misturando o passado e o presente.

            ––Mas, se roubarmos essa tal jóia, vocês não vão se aliar ao Loru Pan, certo?––perguntou Yusuke.

            ––Não. Se ela voltar para o nosso poder, podemos conseguir muito dinheiro com ela. É o suficiente para que reergamos a Oca.

            Estranhamente, a conversa começava a tomar forma de negociação.

––Eu já ouvi falar dessa jóia––murmurou Kurama.––Não é uma tarefa fácil.

O líder da tribo acenou afirmativamente com a cabeça:

––Por isso que eu preciso da ajuda de uma pessoa que já tenha conseguido roubá-la antes.

Os olhares, involuntariamente recaíram sobre a garota. Ela, fitava a borda da mesa, tentando dar ordem aos pensamentos.

––Você pode levar os seus amigos, se você quiser––disse, involuntariamente acabou encarando Kuwabara sem querer.

––Você vai levar Pas Tou consigo.

––Pas Tou? Mas, ele é lento, vai atrapalhar.

––Ele é lento, vai atrapalhar––murmurou, sem saber ao certo de quem estava falando.

––Ora, eu não sou tão lento assi...––começou Kazuma a se defender, mas parou quando percebeu o olhar baixo e tenso dela.

Sua expressão não dizia nada, mas os olhos transmitiam um verdadeiro turbilhão de sentimentos e pensamentos.

––Pelos erros que eu cometi no passado, eu sei que você vai recusar. Mas, eu te peço como um último favor antes da minha morte. Quero que A Oca volte a ser o que era antes. Se você não nos ajudar, todos aqui vão morrer. Precisamos desse dinheiro.

––Precisamos desse dinheiro.

––É só uma pedra cara, pelo o que eu entendi.

––Sim, agora vá.

––Está bem, eu vou––determinou se levantando e saindo da sala.

––Está bem, eu vou––murmurou se levantando e saindo da sala.

Todos ficaram preocupados. O comportamento dela havia mudado muito desde que entrara na aldeia.

––Esse é o seu único interesse em se unir a Loru Pan?––perguntou Kurama.

––Sim, é claro que é––afirmou o velho.

Pelo jeito, eles não haviam percebido que Sassame não possuía lembranças do seu passado youko. Kurama via isso como uma vantagem preciosa.

Não podia perder tempo ali dentro se Sassame havia saído daquela forma tão estranha. Não sabia se podia confiar na palavra do demônio, mas não tinha tempo de interrogá-lo para descobrir se suas palavras eram de fato verdadeiras.

Ao sair, percebeu a garota com o olhar confuso.

––O que foi?––perguntou Kurama, tomando cuidado para que os outros demônios ali na rua não ouvissem.

––Eu não sei, eu comecei a me lembrar de um monte de coisas... Mas, é como se eu tivesse vivido tudo de novo. Foi tão forte...

Yusuke e Kuwabara saíram logo em seguida de Kurama, e se aproximaram:

            ––Então, como é que a gente faz? Vamos nessa birosca aí?

––Yusuke, eu acho que não é boa idéia irmos todos juntos. Fique aqui com Kuwabara de olho neles. Acho que é uma boa pedida vocês se aproximarem das pessoas daqui para descobrir mais coisas, qualquer coisa que seja, sobre Loru Pan. Precisamos saber se é verdade que a relação entre eles é apenas de negócios––explicou Kurama.

O ex-detetive concordou. Ele e o seu melhor amigo não eram as pessoas mais indicadas para uma missão dessas. Mas, Kurama sentia que deixar Sassame ir sozinha podia ser muito perigoso.

Novamente, se separaram em dois grupos. Yusuke e Kuwabara permaneceram para a missão de espionar. Kurama e Sassame partiram rumo ao abismo de Masiri.


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