Diálogo Descontraído

            - Eu nunca teria acreditado que Peyton Riley, aquela princesinha metida da máfia, conseguiria escapar das mãos do Batman. – comentou Arlequina.

            Elas estavam em um quarto de hotel barato em alguma travessa nos arredores de Gothan. Pamela estava na sacada fumando um Cohiba Behike enquanto Harleen se trocava no trocador.

            Havia abandonado seu sobretudo vermelho-preto e o seu chapéu nada convencional. Colocou uma calça de cetim, metade preto, metade vermelha. Luvas brancas, uma camisa justa cor de carvão e um colete escarlate. Estava calçando os coturnos, quando Hera falou:

            - Ela é desequilibrada, Harleen. Scarface é apenas uma camuflagem para esse tipo de gente. Ela é perigosa... Quase tanto quanto Curinga.

            - Sem chance – replicou Arlequina, veemente – Peyton é uma filha de mafioso, decadente e solitária... Ela continua bonita?

            - Sim.

            - Ah, então solitária ela não é.

            - Você se engana. Ela não é dessas. Peyton é cruel, minha cara. Promiscuidade não está em seu currículo.

            - Cruel como um pé de alface. Claro, por que não? Clorofila é algo assustador. Ainda bem que não é brócolis.

            - Você está indo bem, Harleen, sua primeira piada hoje. Mas precisa melhorar muito.

            - Eu to tentando, ta legal. Ganhar a vida como comediante de Stand Up nesse buraco de cidade me deixou enferrujada.

            - Eu sei... Está pronta? Precisamos nos encontrar com Scarface o mais rápido possível.

            - Hei, Pam... Me diga. O que houve com o Ventríloquo?

            - Quem? Arnold Wesker? Ora, aquele velho morreu. Vários tiros. Virou queijo suíço.

            - Há quanto tempo?

            Hera entrou no quarto, cruzando os braços.

            - Harleen. Você não é assim, alienada. Você sabe muito bem que...

            - Eu sei, idiota. É que eu estou aqui pensando. Faz tanto tempo... Por que Scarface estaria parado, sem tomar nenhuma atitude? Ele nunca mais deu problemas ao Batman.

            - Ele é o chefe da máfia agora. De qualquer forma a polícia o considera um peixe pequeno. É por isso que ele é tão essencial.

            - Acha que ele vai nos ajudar a tirar o meu docinho daquela prisão de loucos?

            Hera revirou os olhos, repulsivamente.

            -Não sei o quão amigo Scarface era do seu docinho... Mas, se tratando de retomar Gothan, eu duvido que ele negue.

            Arlequina pareceu avaliar a proposta. Obviamente, assim como qualquer uma das duas, Scarface tinha bons motivos para querer a cabeça do homem-morcego em uma bandeja e, de quebra, o controle da cidade. Seria uma proposta tentadora.

            - Tudo bem... Você já marcou um encontro com ele? – perguntou Arlequina, levantando-se e ajeitando seus cabelos uma última vez.

            - Encontro? – Hera fitou a amiga e, não contendo, soltou uma gargalhada brutal.

            Arlequina encarou-a com uma careta infantil.

            - Marcar encontro... Você é hilária, minha cara. Continue assim... Acha mesmo que Scarface vai nos receber? “Olá, Peyton, poderíamos falar com Scarface? Aqui é Hera e Arlequina, as vadias mais procuradas da cidade. Não, não vamos comprometer os seus empreendimentos”...

            - Ok, entendi, Pamela. Então me diz, queridinha... Como vamos falar com ele, se não nos quer por perto?

            - Simples. – Hera sorriu, quase vitoriosa – ele, atualmente, trabalha com contrabando de armas e equipamentos de segurança produzidos na Finlândia.

            - E...?

            - Nós vamos roubá-los, demarcar nosso território. Mostrar pro bonequinho de madeira que somos mais do que a nossa fama diz.

            - Você quer roubar um mafioso!

            - E depois fazer negócio com ele.

            - Hera, tenho que dizer... Não sei o que seria de mim sem você – Arlequina sorriu com travessura – Sabe? Acho que era disso que eu precisava.

            - Diversão?

            - Não... – ela bateu palmas, excitada – Desafio à morte.

            Hera gargalhou friamente, e sua amiga acompanhou em um dueto apavorante. Duas mulheres sem nenhum escrúpulo, poderosas e com um rastro destruidor deixado em seus passados. Gothan, naquele momento, era a boa e velha garotinha corrompida. O veneno estava se espalhando pelas ruas, e a morte era uma piada sem graça. Arlequina e Hera Venenosa estavam de volta.