O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 3
Capítulo 3




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P.O.V – Hellena di Fontana

(...) Ele segurou meus pulsos, apertei os olhos esperando que fosse rápido, não queria ver os olhos vermelhos da morte, não queria morrer com a beleza dele, ou dela, em minha mente.
Mas nada aconteceu, a morte não vinha, ate que a minha hiperatividade não me permitiu continuar de olhos fechados. Eu abri, e me arrependi demais disso, e vi os olhos que me prenderam e fizeram com que eu sorrisse para minha morte - no sentido figurado, porque nem mesmo consegui sorrir com quem estava na minha frente.
Por que ao olhar dentro daqueles olhos que de tão verdes, chegavam a me darem calafrios, eu sentia meu coração vacilar? Por que eu não conseguia desviar meus olhos daquela criatura? Por que parecia que tudo a minha volta havia congelado e estávamos apenas nos dois ali?
Ele não falou nada, nem mesmo se moveu, fitava meus olhos fixamente, como se tão hipnotizado quanto eu. Senti meus lábios tremerem, eu parecia uma criancinha chorando.
Seus cabelos escuros eram como uma suave cortina por seu rosto, que não era tão pálido quanto eu imaginava. Os olhos eram para serem vermelhos, mas aquelas esmeraldas eram muito mais sobrenaturais.
Cada músculo do meu corpo me mandava fugir daquela criatura bela, mas eu não conseguia me mover. Tudo em mim mandava que eu fugisse dele, mas tudo me prendia a ele.
Ele passou sua mão fria no meu rosto, tirando as lagrimas dele, uma mão tão fria que fez meu corpo estremecer.
Eu ouvi vozes, e ele desviou os seus olhos dos meus. Eu abaixei o rosto, tentando respirar por meus lábios entreabertos. Olhei para o chão, horrorizada.
Eles falavam em um italiano tão rápido, que eu mal conseguia distinguir as palavras. E ai, os risos pararam, sendo substituídos por gritos, gritos de puro horror.
-Alec! - Alec... Alec Volturi, o vampiro que eu sempre procurei saber mais, o vampiro que eu havia me apaixonado quando havia quatorze anos... Ele... Ele existia. Eles existiam. – Qual o problema meu filho?
A forma que aquele homem pronunciou ‘meu filho’ foi estranhamente verdadeiro, como se ele fosse realmente pai dele.
-Nada Aro, eu só... – ele gaguejou, a mão ainda pressionando meu braço, faria uma marca roxa mais tarde.
-Quem é ela? – levantei meus olhos, me deparando com as pedras de nix que estavam no lugar que deveria ser os olhos dele. Aro. Se eu não tivesse visto os olhos verdes de Alec, e azulados de Heide, diria que esse vampiro não se alimentava a anos, de tão escuros que eram.
Ele deu um passo à frente com a mão estendida, tentando me tocar, e tirar toda a privacidade que eu ainda tinha, mas para minha surpresa, Alec me puxou para mais perto de si, como que com medo do toque de seu mestre em mim.
Aro olhou surpreso para seu pupilo, e depois franziu as sobrancelhas.
-Algum problema Alec? – sua voz estava fria como o toque de Alec em mim.
Alec pareceu estranhamente receoso, e sombrio. O choque de sentimentos cruzando sua face, e depois do que pareceu uma batalha em seu interior, mas que não passou de meio segundo, ele negou.
-Não mestre, nada... – sussurrou aliviando a pressão de seus dedos em mim.
Cambaleei meio tonta, sentindo minhas pernas moles, quando ele me soltou na frente de Aro, que me olhou com carinho. Ele não era muito diferente do ator que o fez no filme, cabelos negros e longos, como linho preto ate seus ombros, a pele levemente porosa, e os olhos enegrecidos como pixe.
-Fala italiano? – ele me perguntou em inglês.
-Sim... – respondi em italiano. Seus lábios se abriram em um esgar de falsa alegria.
-O que faz aqui minha bela? Nesse local tão inóspito? – o tom de voz dele era tão doce que fazia minha garganta arder, igual a quando comemos algo doce demais.
Não sabia o que ele pretendia, se era para eu morrer, porque não me matava logo?
-Eu... Eu... – gaguejei constrangida, parecendo uma menininha assustada e frágil... Pare Hellena, você não é uma menininha assustada, e muito menos frágil. – Eu estava em um passeio da faculdade pela cidade, me perdi do grupo, e vi uma colega minha entrando aqui.
Falei brevemente, e minhas palavras saíram tão fortes quanto eu pretendia.
-Esta com medo? – perguntou me analisando de cima a baixo.
-Deveria? – usei o tom mais manso que pude, não queria que ele me achasse arrogante.
-Deve ter previsto o que somos.
-Sim eu sei. Vampiros. Os Volturi. Eu li sobre vocês.
Aro sorriu pomposamente.
-Creio que mais de 80% do que leu estava errado. Mas os personagens devem ser 100% certo. – estendeu uma mão com a palma virada para cima. – Me acompanha? Quem sabe achemos sua amiga?
Olhei assustada para a palma de sua mão, como se fossem garras prontas para arrancarem meus dedos.
-Mas devo avisar que precisa estar pronta para o que vai ver. – me alertou.
Olhei novamente para sua mão, e me decidi. Estendi meus dedos, e depositei na palma dele. Por um momento, ele fechou os olhos e ficou em silencio, um riso desenhado em seu rosto, mas logo depois, soltou minha mão.
-Venha. – me indicou o corredor, que outrora, eu havia me recusado a entrar. Com movimentos lentos, ele abaixou a mão, caminhando como um espectro nas sombras. Só agora percebi que ele não usava manto algum.
Comecei a andar devagar em direção a grande porta de carvalho. Por um minuto, vacilei e olhei para trás, a única rota de fuga, que “por acaso”, estava bloqueada.
Ele estava ali, seus olhos verdes faiscavam como lanternas sombrias, de um verde assustador. As mãos atrás das costas, e o rosto impassível. Suas roupas de lã quase negra se misturavam com tudo a sua volta, era como se ele e Aro fizessem parte do escuro, e não no sentido figurado, cada momento que eu olhava para as costas de Aro, ou para frente de Alec, eles pareciam cada vez mais mergulhados nelas.
Ele olhou-me, como me advertindo de que eu não tentasse fugir.
Ao chegar às portas, com um gesto largo, o “rei” abriu-as. Pareciam que pesavam mais de uma tonelada, mas as empurrou como se fosse feitas de papel.
O grande salão de mármore claro inundou minha visão, ofuscando meus olhos. O cheiro de sangue e morte impregnava aquele lugar, e no instante que desliguei meus olhos do teto iluminado para o chão, ele parecia ser feito de um tapete de corpos.
Tinha mais de vinte vampiros ali, hum, muito mais do que isso, e aos poucos, eles iam se dissipando, saindo por portas laterais, guardadas por outros vampiros.
Poucos restaram ali, e entre eles, uma menina pequena e jovem, de cabelos claros, e olhos de um azul gelado. Jane.
No fim do salão, havia os três tronos, e por trás deles, vi portas protegidas por pesadas cortinas de veludo vermelho.
Tentava ao máximo não pisar nas pessoas do chão, enquanto Aro e Alec andavam sobre elas sem interesse, não serviam mais a eles, estavam mortas.
Outros da guarda começavam a tirarem os corpos do chão, mas Aro o impediu.
-Não, não tirem ninguém! – ele ergueu uma mão. – Deixe todos ai.
-Quem é essa humana? – a voz de prata de Jane encheu o salão.
-Uma amiga de Alec. – Aro olhou para Jane de forma seria, e ela, como não era louca, não disse nada, mas eu tinha certeza que depois, quando estivessem sozinhos, ela possivelmente reclamaria. – Veja se encontra sua amiga, Hellena.
Não me surpreendi de ele saber meu nome. E ao estar sozinha entre os mortos, comecei a olhar em volta, me sentindo estranhamente constrangida.
Depois de analisar cada rosto por cima, não demorei muito para reconhecer Channel caída. Seu pescoço estava com um buraco imenso de dentes. Mas consegui ouvir o coração dela bater vacilante.
-É ela... – apontei para a massa de cabelos pretos e lisos. – E ainda esta viva! – corri entre os mortos, sem ligar se eu pisava no rosto deles ou não.
-Como sabe? – Jane questionou.
-Consigo ouvir o coração dela bater... – ofeguei. Segurei seu rosto e ergui na minha direção, os olhos estavam fechados e os lábios entre abertos
-Impossível! – ela desdenhou, mas não me dei o trabalho de olhá-la ou responder.
-Por que ela esta viva? – seguindo a razão dos livros de Crepúsculo, se ela não foi toda drenada, ela devia estar com veneno no sangue, gritando e se transformando.
-Atrapalhou a refeição. – reconheci a voz debochada de Jane.
-Mas... eu não entendo... – olhei para eles.
-As coisas que leu não são completamente verdade.
-Posso perceber... seus olhos...
-Algumas coisas se batem, mas outras passam longe... Se juntar um pouco de cada livro sobre vampirismo, pode nos construir. – Aro disse, sem nem mesmo se importar com minha amiga morta. – Se quiser, posso mandar alguém ensiná-la algumas coisas mais tarde.
Senti rosnados de indignação pelo ato insano de seu mestre.
-Não posso ficar Aro, tenho de voltar para meu tour antes que dêem pela minha falta. Tenho de levá-la. – indiquei o corpo dela. Vi a ferida em seu pescoço, seria difícil de esconder.
-Não pode. Ela vai morrer.
-Mas... Esta viva.
-Perdeu muito sangue... Vai morrer em questão de horas.
-O que vou dizer quando voltar? – coloquei a cabeça de minha colega no meu colo, e tirei os cabelos dela de seu rosto.
-Quem disse que vai voltar? – a voz superior de Jane chegou ate mim. Calei-me, percebendo que ela tinha razão, eles iriam me matar. Levantei-me.
Suspirei tomando coragem, e me preparei para responder, mas Aro me interrompeu.
-Diga-me Hellena, o que faz em Volterra?
-Deve saber, já viu meus pensamentos.
-Na verdade... – ele comentou sentado no trono. – Sua mente é estranhamente confusa... Só consegui vi partes de sua vida... Ainda não sei qual é o problema com ela, mas... Vamos me conte.
Ele havia acabado de me chamar de debiloide, e fiquei aliviada de ele não conseguir ver tudo dentro da minha cabeça.
Contei tudo em voz alta. Minha vida do início ai fim. Tudo. Aro olhava para mim com admiração, ele prestava toda a atenção em mim, era como se eu fosse o centro de tudo, e nunca me senti tão completa e bem.
Agora entendia porque as pessoas o seguiam.
Mudei algumas vírgulas, e tirei partes que eu não me sentia confortável de anunciar para todos.
Eu estava tão perto dele que podia sentir sua respiração gelada.
-Hum... Então será uma futura bailarina?
Concordei com a cabeça, e antes que ele me cortasse, falei:
- Por favor, Aro, me fazer esperar só fará minha morte mais dolorosa, por favor, não me trate como uma mera distração, uma diversão. Mate-me logo. – era tão estranha a possibilidade de desejar pela minha morte. Mas eu não queria mais sentir nada daquilo, nada mais daquela angustia.
-Ânsia pela morte? – ele inclinou a cabeça na minha direção. Tocou em minhas mãos. Não gostava muito de ter alguém dentro da minha cabeça, mas não havia nada a ser feito. – Sofreu toda a sua vida, toda a vida nessa angustia, aliviando a sua dor com mais dor.
Desviei meus olhos, meu deus que vergonha! Ninguém sabia disso, só eu. Minha face entrou em combustão.
-Não precisa ter vergonha. Estava só, sem ninguém que a entendesse. Não sabia o que fazer, ou a quem recorrer. A dor era muito grande. – não eram perguntas, ele não precisava perguntar, já sabia. – Não conseguia dar conta de si mesma.
Ok, o pior ele tinha visto.
Olhei para ele, e me vi presa na imensidão de seus olhos estranhos e tão profundos, parecia que eu olhava para um poço sem fundo.
Suspirou e analisou as escrituras na parede, como se as tivesse visto pela primeira vez.
-Esta na hora de ir. – seus olhos cansados me fitaram.
Todos ficaram em choque.
-Aro! Ela sabe sobre nos! Precisa morrer! – Jane protestou.
Ele ponderou por um tempo, tendo Caius e Jane atormentando-o. Os dois até faziam um bom casal de insuportáveis irritados. Olhei para o lado, e vi Alec me analisando, mesmo vendo que eu o observava, ele não desviou os olhos de mim.
-Basta, os dois! – Aro gritou, calando o irmão e a loira insuportável. Alec desviou de mim sua atenção, e passou a observar seu mestre. – Ela vive, eu já me decidi. Tenho certeza que não contara a ninguém. – se concentrou em mim, eu concordei rapidamente.
-Não podemos ficar apenas com promessa dela! – Jane continuou a discordar me olhando com fogo nos olhos, e no sentido literal, os olhos dela ficaram vermelhos.
-Quem decidira isso será Alec. Ele encontrou-a. – desviou os olhos de Jane para o irmão dela. Alec pareceu desconcertado. – Confia nela? – Aro ergueu as sobrancelhas. Alec voltou seu olhar em minha direção, e concordou com a cabeça. – Está decidido então! Pode ir Hellena!
Me indicou a porta em que viemos, com a mão.
Não sabia se Alec havia realmente confiado em mim, ou se estava apenas obedecendo a seu mestre.
-Obrigada... – sussurrei pasma. – Não contarei a ninguém.
Ele concordou com a cabeça.
-Mostre a saída a ela Alec. – se desfazendo da pose seria e rígida, Alec veio ate mim, e me indicou a porta com a cabeça. Ele foi à frente e eu o segui, sem olhar para trás.
-Tem muita sorte. – ele disse depois que passamos pelo corredor que levava ao salão. Passamos pela recepção, havia uma humana ali parada e nos olhando confusa. Pegamos um elevador, e subimos dois andares.
-E devo agradecer a você. – mesmo o lugar tendo uma iluminação considerável, as sombras ainda pareciam sair e entrar dele, como se fossem a mesma coisa.
A porta que separava o meu mundo do mundo dele estava bem ali, na minha frente, como um fino fio tênue, que separava os humanos do mundo das sombras.
-Não, você não deve. – me deu as costas, mas antes que chegasse ao elevador, eu disse.
-Venho de Verona. – me ignorou, e ainda de costas para mim, o elevador fechou suas portas, engolindo-o na terra.
Não tinha muita certeza porque eu tinha dito para ele que morava em Verona, mas não mudava nada. Agora era para ser como seu tudo isso nunca houvesse acontecido.
Fiquei um tempo parada fitando o elevador, como se esperando que ele voltasse de lá, mas eu sabia que nada disso aconteceria.
Uma recepcionista me analisava de trás do balcão, com seus olhos castanhos desconfiados. Ela me mandou ir embora, de um jeito rude e pouco educado.
Mesmo assim, obedeci. Me voltei para a porta, que se abriu sozinha, me dando caminho para o meu mundo. O meu mundo, sem mágica, criaturas que faziam parte das sombras, ou qualquer outra coisa que estivesse morta, e ao mesmo tempo viva.
E esse nunca foi um mundo tão chato.


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