Eu estava observando aquela garota novamente.

Ela estava esperando, do lado de fora, para usar o estúdio. Eu sorri, lembrando da época em que comecei a tocar. Nunca tive que pagar estúdios... Acho que dei sorte.

Porra, claro que dei sorte. Eu sou um cara famoso agora. Rico. Reconhecido. Apesar de ainda inconsequente.

Ri novamente e percebi, com um estalo, que a garota agora me olhava com uma cara estranha.

Tive a humildade de ficar envergonhado. Ficar, não demonstrar. Eu não sou tão humilde assim.

Andei até ela e sentei ao seu lado. Ela puxou um dos fones de ouvido, esperando que eu anunciasse a razão da interrupção. Sorri o meu melhor sorriso e me apresentei, estendendo a mão.

“Tré Cool”.

Ela riu, olhando para mim com uma expressão divertida. Segurou minha mão e disse, numa voz baixa.

“B. Cool”.

Foi a minha vez de rir.

“B. Cool?”

“É, que eu sou muito legal, entende?”

Balancei a cabeça, ainda sorrindo. Eu já sabia que ela era uma baterista também, mas pelo jeito não era uma fã ou não dava a mínima pelo fato de eu ser o baterista do Green Day. Isso era um pouco frustrante, mas ao mesmo tempo abria uma enorme gama de possibilidades.

“Deve ser mesmo. Quantos anos você tem?”

Ela levantou uma sobrancelha, olhando pra mim. Mantive o sorriso no rosto, esperando que ela respondesse. Ela cruzou os braços.

“Isso não é da sua conta”.

Ai. Essa doeu.

“Ei, vai com calma... Só quero saber se você é legal mesmo, ou se tenho que tomar minhas precauções”.

Ela arregalou os olhos por um momento, surpresa com o que eu disse. Será que exagerei?

Após um momento de silêncio, resolvi pedir desculpas ou dizer que era brincadeira, mas ela explodiu em gargalhadas e foi a minha vez de ficar surpreso.

“Eu sou legal sim, Tré Cool. Não que você vá se dar bem comigo, claro”.

Sorri de canto, olhando-a maliciosamente.

“Não tem problema. Contanto que você me dê, fica tudo certo”.

Ela sorriu de canto também, me deixando sem ação por uma fração de segundo. Fração. Não tenho mais quinze anos, sabe?

“Você está flertando comigo, Mr. Cool?”

“Depende, está funcionando?” Eu sorri inocentemente. Ela riu.

De repente a porta abriu e ela foi chamada pelo cara que tomava conta dos instrumentos. Maldito cara que toma conta dos instrumentos.

“Bem, tenho que ir” Ela levantou. “Bom flertar com você, Tré" Ela piscou, estendendo a mão.

Levantei também, segurando a mão dela e puxando-a pra perto, roubando um beijo. Ela não pareceu surpresa, apenas riu e deu de ombros, como se estivesse calculando que eu fosse fazer aquilo.

“A gente se vê, B. Cool” Eu disse, devolvendo a piscada.

“Pode apostar nisso, Tré” Ouvi-lhe dizer antes de desaparecer pelo corredor, girando a baqueta em uma das mãos.