Coroner Stories escrita por themuggleriddle


Capítulo 14
PTSD




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Hermione bufou baixinho enquanto desligava o telefone, amaldiçoando Riddle por não atender a sua ligação. O telefone dele não estava desligado, pelo que ela pôde perceber, mas o outro médico simplesmente não o atendia... E aquilo a preocupava. Tom não parecia ser o tipo de pessoa que deixava de atender o celular a não ser em situações extremas como quando a bateria acabava depois de um dia inteiro sem conseguir colocar o aparelho para carregar devido a correria no hospital.

Respirando fundo, a mulher encarou a tela do seu celular, antes de olhar para o caderninho de notas que tinha em cima de sua mesa. A última pessoa com quem o legista havia saído fora com o pai, então não seria de todo o mal ligar para o Sr. Riddle.

Pegou o caderno e procurou pelo número do homem que havia anotado mais cedo naquele dia, antes de discá-lo no celular e esperar até que o outro atendesse a sua chamada.

- Alô?

- Ahm, Sr. Riddle? Aqui é Hermione Granger.

- Ah – ela ouviu uma risada descontraída vindo do homem no outro lado da linha – Dra. Granger... Como vai?

- Eu vou... bem – a médica respondeu – Sr. Riddle, por acaso Tom ainda está com o senhor? Estou tentando falar com ele, mas...

- Eu acabei de deixá-lo em casa – o outro falou.

- Estranho, Tom não está atendendo o celular...

- Eu não estranharia isso, Dra. Granger. Ele estava caindo de cansaço, aposto que, assim que chegou em casa, caiu na cama e apagou – Tom Sr. riu – Não o culpo por isso, afinal, hoje foi um dia corrido para vocês não?

- Muito – Hermione murmurou, olhando para o relógio em seu pulso e percebendo que agora era ela quem estava contrariando a sua própria regra de “descanse o suficiente para  manter-se acordada no dia seguinte”.

- Bom, se for somente isso...

- Na realidade, Sr. Riddle... – a psiquiatra sussurrou – Eu gostaria de saber se o senhor poderia vir até o hospital.

- Me desculpe?

- Eu sei que já está tarde, mas... Eu gostaria de falar com o senhor, então, se você pudesse vir até o hospital – ela falou – Vou estar na minha sala, aqui na ala psiquiátrica.

- Eu... Certo, logo estarei ai.

- Obrigada, Sr. Riddle.

A mulher sorriu enquanto desligava o celular, mas não demorou muito para que o sorriso desaparecesse de seu rosto.

***

Hermione engoliu em seco enquanto olhava para o homem a sua frente. Tom Riddle Sr. parecia ser a pessoa mais tranqüila do mundo, sem se irritar com o fato de ter sido arrastado até lá tarde da noite, mesmo depois de ter passado por um dia tão tumultuado quanto o dela... E ela odiava pensar que, com algumas palavras, ela poderia quebrar toda essa tranqüilidade do outro.

- Então...

- Sr. Riddle, eu não sei direito como começar – ela murmurou – Você já falou com Tom, não? Quero dizer, vocês dois já se conheceram melhor, certo?

- Sim – o homem falou – Por que a pergunta?

- Ele, por acaso, perguntou sobre... a mãe dele?

Assim que terminou de falar e olhou para o outro, Hermione arrependeu-se de tê-lo feito. O sorriso gentil sumira do rosto de Riddle e seus olhos se arregalaram, deixando-o com uma expressão assustada digna de um garotinho que acabara de acordar de um pesadelo.

- N-Não...

- Você entende que... Uma hora ou outra ele vai questioná-lo sobre isso, não?

- Por que está me perguntando isso? – o homem respirou fundo, encolhendo-se um pouco na cadeira.

- Porque tenho medo da hora que isso acontecer – ela respondeu, olhando para ele de forma preocupada – Tom irá perguntar sobre a mãe, tenho certeza disso, e não tenho certeza se o senhor está... – a médica parou por um momento, tentando achar a palavra certa – Preparado para falar sobre o assunto com ele.

- P-Por que...?

A mulher não falou nada, apenas colocou a mão sobre a mesa e viu os olhos azuis do outro segui-la.

- Não...

- Nós iríamos descobrir isso uma hora ou outra, Sr. Riddle – murmurou a Dra. Granger – Não é nada do que se envergonhar, você sabe disso, não?

- Você realmente acha que ele...?

- É a mãe dele, Sr. Riddle – a psiquiatra viu que os olhos do outro pareciam estar úmidos, o que lhe deu um nó na garganta.

O homem sacudiu a cabeça, mordendo o lábio inferior enquanto puxava o ar pelo nariz ruidosamente, como se estivesse se controlando para não chorar. Hermione levantou-se de sua cadeira e deu a volta na mesa, ajoelhando-se ao lado do outro e segurando-lhe as mãos.

- É por isso mesmo que eu quis falar com o senhor – ela murmurou, apertando as mãos de Tom, tentando fazer com que elas parassem de tremer – Ele terá que saber disso uma hora ou outra...

- Hermione...

- Mas, se o senhor quiser – a mulher respirou fundo, implorando para que a sua decisão fosse realmente a coisa certa a fazer no momento – Eu posso fazer isso por você.

***

Quando finalmente acordou, foi com o som da campainha de seu apartamento sendo tocada inúmeras vezes. Virou-se na cama, esticando os braços e as pernas, sentindo uma sensação boa de uma noite bem dormida o invadindo, e apanhou o celular na mesa de cabeceira... Granger estava certa, ele realmente estava cansado, já que dormira de tal maneira que nem percebera as mais de dez chamadas da psiquiatra na noite anterior.

- Mas que droga – o homem resmungou, erguendo-se da cama e indo, ainda cambaleando devido ao sono, até a porta do apartamento.

- Deus, você realmente estava cansado.

- É claro que seria você – Tom murmurou, esfregando o rosto com a mão ao ver Hermione Granger parada no corredor – Quem mais bateria na minha porta logo de manhã cedo?

- De manhã cedo? São onze horas, Riddle.

- Onze? Droga, droga, droga – o médico falou, apressando-se para dentro do apartamento.

Hermione suspirou, seguindo-o e fechando a porta atrás de si. Ela continuou andando para onde acreditava que o colega havia ido e acabou parando em um quarto o qual acreditava ser o de Riddle, onde o legista estava com as portas do armário abertas, pegando uma camisa e uma calça limpas enquanto resmungava algo sobre o fato de seu cinto ter desaparecido.

- Riddle... – ele nem sequer ergueu o olhar para ela – Tom... – a mulher bufou – Tom Riddle, largue essas roupas agora e sente aqui.

O médico a encarou com uma sobrancelha arqueada, mas, após um tempo, fez o que ela havia pedido. Deixando as roupas outra vez dentro do armário, ele se dirigiu até a beirada de sua cama, onde outra já estava sentada, parecendo meio desconfortável.

- Você está na minha casa.

- Eu sei.

- E está me dando ordens – ele estreitou os olhos.

- Sim.

- Você é uma pessoa estranha, Granger – o legista suspirou – Muito estranha.

- Que bom que não sou a única assim por aqui, certo?  De qualquer maneira, acalme-se, ninguém vai descontar do seu salário por não chegar antes do sol nascer naquele necrotério... Eu quero falar com você.

- Então fale.

Hermione respirou fundo, tentando decidir-se por onde começar. Se falar com Riddle era uma tarefa complicada, então falar com ele sobre um assunto complicado deveria ser a pior coisa do mundo, mas ela havia prometido ao Sr. Riddle que faria aquilo.

- Você e seu pai estão se dando bem, pelo que eu pude ver.

- Estou apenas... conhecendo ele – o homem murmurou.

- Conhecendo?

- Sim. Descobrindo como ele é... E, como eu já disse, ele é... peculiar.

- E isso é bom? – a médica sorriu, vendo o outro dar de ombros – E... Tom, depois de conhecê-lo melhor, o que pretende fazer?

- Por que a pergunta?

Hermione teve que se conter para não rir baixinho ao perceber a semelhança entre pai e filho ao ver o colega falar exatamente a mesma  coisa que Tom Riddle Sr. falara para ela na noite anterior.

- Curiosidade.

- Nunca é só curiosidade quando se trata de você, Granger – um sorriso discreto apareceu nos lábios do homem – De qualquer maneira... Eu não sei.

- Tom, o que houve com a sua mãe?

Assim como havia acontecido com o pai, Hermione se arrependera de ter feito uma pergunta tão bruscamente ao ver como os olhos azuis de Tom se arregalarem enquanto ele a encarava.

- Ela morreu – a resposta foi curta e seca – Morreu quando eu nasci... – Riddle ficou em silêncio por um tempo, desviando o olhar do rosto da colega – Ele a abandonou, sabia?

- Seu pai?

- Quem mais poderia ser o “ele”?

- Não é... Culpa dele, você sabe disso, não é? Quero dizer, que a sua mãe morreu.

- Como você sabe disso, Granger? – Tom voltou a olhar para ela e a mulher assustou-se ao ver os olhos claros do médico cheios de seriedade  e frieza – Talvez se ela tivesse tido um tratamento melhor durante a gravidez, tivesse sobrevivido... Talvez se ele estivesse ao lado dela...

- Tom – Hermione falou, séria – Não o culpe por algo que está muito além das mãos dele.

- Eu tinha me esquecido disso – Riddle murmurou – Falei tanto com ele hoje e simplesmente ignorei o fato de que ele abandonou a minha mãe... Me abandonou.

A psiquiatra respirou fundo.

- Você sabia... Que Tom Riddle tem passagem pela ala psiquiátrica de Hogwarts?

O legista a encarou com uma expressão confusa no rosto.

- Ele foi diagnosticado com desordens de ansiedade... Incluindo desordem do pânico, agorafobia e transtorno de estresse pós-traumático.

- Onde você está tentando...?

- Eu sabia que você iria, uma hora, perguntar sobre a sua mãe para ele – disse Hermione – E, depois que descobri tudo isso, sabia que não podia deixar que vocês conversassem sobre isso sem que você soubesse da situação dele antes... Seu pai tem uma saúde mental frágil, Tom... Eu comentei isso com ele ontem e ele já estava quase tendo um ataque de pânico... Não sei como ele não teve um desses ao encontrar com você pela primeira vez. Ele deve estar se esforçando muito para não demonstrar tudo isso.

- Por que... Por que ele teria... Tudo isso?

- A ficha dele dizia que os pais o internaram lá depois que ele fugira de casa e voltara com uma personalidade muito diferente... O Sr. e a Sra. Riddle diziam que o filho não saía de casa, não saía de seu quarto, não fazia mais nada a não ser comer, dormir e chorar... E, ainda, não conseguia dormir direito... A saúde dele estava terrível.

- Fugiu de casa e voltou...

- Fugiu com uma garota que morava perto de sua casa, deixando para trás a faculdade, os pais, os amigos, a noiva.

- Merope Gaunt.

- Sim.

- Como? – sussurrou Tom – Como ele... Quero dizer... Você disse que ele tinha uma noiva... Como ele abandonou essa outra mulher? Por quê?

- Ele não o fez – disse Hermione – Pelo menos não por vontade própria – a médica sentiu-se mal ao ver a expressão preocupada que tomou conta do rosto do outro – Foram encontrados rastros de diversas drogas no sangue dele... Em altas quantidades.

- Que drogas?

- Ácido gama-hidroxibutírico e benzodiazepinas, por exemplo.

A mulher viu o outro inspirar profundamente e fechar os olhos por alguns segundos.

- Drogas do estupro.

- Isso mesmo.

- Por quanto tempo... Ele ficou lá? No hospital, quero dizer.

- Alguns meses. Depois teve alta, mas continuou com o tratamento... E até hoje toma medicamentos para amenizar tudo isso.

- Não... Não faz sentido – Tom murmurou – Ele parece tão... normal, quando se trata de saúde, quero dizer. Ele não demonstra...

- Não é uma coisa que alguém queira demonstrar.

Riddle voltou a fechar os olhos, abaixando a cabeça e a apoiando nas mãos. Hermione levou uma mão até o ombro do médico, tentando confortá-lo de alguma forma.

- Eu só estou te falando isso por medo do que poderia acontecer com vocês dois caso você perguntasse algo sobre o assunto...

- Eu entendo, Granger – o legista murmurou, olhando para ela – Você está fazendo o seu trabalho cuidando de um paciente.

- Seu pai não é meu paciente – ela falou – Estou fazendo isso para cuidar de um amigo e da família dele.

- Você não deveria se envolver...

- Cale a boca, Riddle – Hermione riu – Ah, aliás... – a médica sorriu, pegando a sua bolsa e a abrindo – Os exames do Slughorn chegaram.

- O que? E você não...

- Eu tentei, mas você devia estar no sétimo sono e não ouviu o celular tocar – Granger revirou os olhos, rindo, e entregou alguns papéis para o outro – Era isso que você esperava ver?

- Exatamente – um sorriso discreto foi aparecendo no rosto de Tom, junto com um brilho interessante em seus olhos claros – O que você acha, Dra. Granger?

- Que a Srta. Keith não morreu naturalmente... E que o assassino tinha um bom conhecimento de fisiologia.


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Notas finais do capítulo

Estou viva, apesar de o final do semestre estar querendo me matar aos poucos.
1- AGORAFOBIA: medo de lugares abertos ou medo de estar no meio de uma multidão.
2- DESORDEM DO PÂNICO: alguém com desordem do pânico apresenta "ataques" rápidos de medo intenso e terror. Esses episódios incluem tremedeira, confusão, náusea, dificuldade para respirar e tonturas. Eles podem durar menos de 10 minutos ou horas e geralmente acontecem em situações de medo, estresse e até exercício físico.
3- ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO: PTSD (post traumatic stress disorder) é, como o nome já diz, um reação de estresse que acomete quem passa por situações traumáticas... Os sintomas incluem hipervigilância, flashbacks, ansiedade, hesitação, raiva e depressão. Para mais detalhes, eu indico para vocês outra fic minha chamada "Seis Pontos" a qual mostra os seis pontos que devem ser preenchidos para confirmar um diagnóstico de estresse pós-traumático. É sobre o Tom Sr também.
4- Ácido gama-hidroxibutírico: é uma substância incolor e inodora que dizem ser muito fácil de misturar à bebidas e tals. Ele causa diminuição do nível de consciência, depressão respiratória e convulsões. Ele é ilegalmente usado como date rape drugs, que pode ser traduzido como drogas do boa noite cinderella ou drogas do estupro, já que deixam a pessoa que o ingeriu sem condições de se defenderem.
5- Benzodiapezinas: são usadas como sedativos, hipnóticos e relaxantes musculares. Entre seus efeitos adversos, podemos encontrar: sedação, amnésia, euforia, má avaliação de perigo, confusão, hipotermia, dependência, aumento da hostilidade, anemia, alucinações, ataxia (falta de coordenação de movimentos) depressão respiratória e cardiobascular em overdose. São geralmente usados para tratar ansiedade, ataques de pânico e insônia. Esse composto é conhecido por causar amnésia anterógrada, que é a perda da memória de curto prazo Ou seja, algo aconteceu ontem, mas seu cérebro não vai conseguir codificar os acontecimentos em memória, então você vai esquecê-los.
Eu gosto de neurofisiologia e fiquei tentando descobrir a "fórmula" da Amortentia quando meu professor começou a dar aula sobre neurotransmissores. Beijos. {ainda acho que a Merope teria dado algum tipo de afrodisíaco ou coisa parecida para conseguir realmente dormir com o Tom, afinal, essas drogas teriam feito ele desmaiar bonito... Então, na minha cabeça, nos intervalos de efeitos dessas drogas, ela tacava afrodisíaco goela abaixo no coitado D: pobre Tom Sr... o sangue dele deve ter ficado um coquetel tenso de drogas ):}...
Esse capítulo... Bom, ele serve pra mostrar como eu NÃO ENTENDO pessoas que dizem morrer de pena da Merope e jogam o Tom Sr como vilão '-' Ok, ele abandonou a mulher grávida, mas o que ela fez com ele? Amortentia é uma versão mágica dessas drogas tensas que, no mundo real, são muito julgadas... Se a história deles acontecesse no nosso mundo, usando essas drogas, a Merope seria a vilã '-' Amortentia é, na minha opinião, a pior magia de toda a série de HP.
Bom, é isso... Espero que tenham gostado e, bom, reviews/recomendações/críticas/whatever são sempre muito bem vindas 8DDD
Beijos ;*
Ari.