Coroner Stories escrita por themuggleriddle


Capítulo 12
Out of nowhere




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O homem respirou fundo enquanto colocava a chaleira de lado e pegava as duas xícaras de chá – Earl Grey, sem leite, leite estragava o chá, deixava-o muito pesado -, antes de se dirigir até a sala de visitas. Ele não sabia o que queria naquele momento... Conversar com o jovem que o estava esperando ou pedir para que ele fosse embora para poder ficar sozinho? A conversa deles era estranha, tensa, o tipo de conversa que Tom detestava, mas, ao mesmo tempo, era interessante, afinal, a cada palavra que saía da boca do outro, ele conhecia mais sobre seu filho... E era daquilo que ele gostava, de obter conhecimento seja lá do que fosse.

Quando entrou na sala, abriu a boca para chamar o outro, mas acabou ficando quieto assim que viu que o médico não estava, como antes, olhando em volta com toda a atenção possível, mas sim com a cabeça caída para o lado, apoiada no encosto do sofá, de olhos fechados e, aparentemente, dormindo. Tom ficou encarando a cena a sua frente por um tempo, antes de colocar uma das xícaras sobre a mesinha de centro e sentar-se ao lado do outro, percebendo que o mais novo não parecia estar querendo acordar tão cedo.

Era assustador como o jovem Riddle se parecia tanto com ele. Os mesmos cabelos escuros, o mesmo nariz, a mesma boca, as mesmas mãos com os mesmos dedos longos e finos, os mesmos olhos claros... Mas seu filho parecia sério de uma maneira a qual ele nunca fora quando tinha a idade dele, parecia se preocupar demais para alguém tão novo... Ou talvez fosse ele quem não se preocupara o suficiente quando tinha aquela idade, mas aquilo não importava no momento.

O homem sorriu sutilmente enquanto continuava a observar o outro. Era estranho descobrir que tinha um filho da noite para o dia... Era ainda mais estranho ver o que aquilo fazia com uma pessoa. Só olhar para o mais novo fora o suficiente para fazer com que inúmeras perguntas surgissem em sua cabeça. Onde ele havia crescido? Como conseguira entrar para uma escola médica?  Como decidira que queria ser médico? Por que patologia forense? Será que tinha namorada ou noiva?

Tom fora arrancado de seus pensamentos pelo barulho da porta do apartamento se abrindo, o que o fez se levantar do sofá em um pulo, mas nem isso fora o suficiente para acordar o médico adormecido. O mais velho apressou-se para o hall de entrada, sabendo exatamente quem encontraria parado ali.

- Tom, querido – Mary Riddle sorriu para ele enquanto tirava o casaco e o pendurava atrás da porta.

- O que houve? – Thomas Riddle perguntou, olhando para o filho com o rosto sério.

- Nada.

- Claro, da mesma maneira que você disse que nada havia acontecido quando ligamos para você hoje mais cedo.

- Pai...

- O que houve, Tom?

- Não houve nada, Thomas – a mulher falou, colocando a mão no braço do marido – Aposto que ele só está cansado, coisa que, aliás, todos nós estamos.

O Riddle mais velho olhou para a esposa, antes de segui-la para dentro do apartamento.

- Ele está aí – Tom falou antes que os pais pudessem chegar na sala onde seu filho estava.

- Ele quem?

- Tom... Tom Riddle.

As sobrancelhas de Thomas se contraíram e ele olhou para o filho por um tempo, antes de der-lhe as costas e seguir rapidamente para a sala de visitas, ignorando a mulher, que tentara segurá-lo pelo braço.

- Pai! Droga - o mais novo foi atrás do outro, seguido pela mãe – Pai, deixe ele em paz, okay?

- Thomas – Mary murmurou quando percebeu que seu marido não iria responder a nada que seu filho perguntasse e olhou para o rapaz dormindo no sofá – O garoto está cansado, passou a noite em claro, não ouse acordá-lo.

O Riddle mais velho continuou em silêncio por alguns minutos, antes de virar-se e sair da sala de visitas, indo em direção ao seu quarto e deixando a mulher e o filho para trás. Mary suspirou e sacudiu a cabeça levemente, antes de olhar para o homem ao seu lado.

- O que houve, Tom?

- Você foi atrás dele hoje.

- Bom, é claro que fui! – a senhora sussurrou, olhando de esguelha para o neto – Eu descubro que tenho um neto e você quer que eu fique quieta, sem ir atrás dele? Tom, querido, você deveria saber que a primeira coisa que eu faria seria correr para aquele hospital e encontrar o rapaz.

- E você não poderia me avisar que iria fazer isso?

- Claro que não – a mulher riu – Eu sei exatamente o que você faria: pediria para que eu não fosse – Mary ficou em silêncio por um momento, olhando para o rapaz no sofá, antes de sorrir – Você não tem idéia de o quão parecido ele é com você e com o seu pai.

- É estranho... Quero dizer, descobrir que tenho um filho – o homem murmurou.

- O destino gosta de nos pregar peças de vez em quando – a Sra. Riddle falou – Pelo menos a peça da vez é boa... Um neto!

Tom riu enquanto a mãe dava um tapinha em seu ombro, antes de sair da sala, deixando-o sozinho outra vez. O homem voltou a olhar para o filho, pensando que, talvez, ela estivesse certa... Talvez o destino estivesse fazendo alguma coisa certa daquela vez.

***

Quando Tom Riddle voltou a abrir os olhos, não sabia que horas eram e nem onde estava. Esfregou o rosto com a mão e olhou para os lados, percebendo que não estava em casa e nem no hospital... Então, onde estaria? Aqueles eram os únicos lugares os quais ele freqüentava – ou pelo menos os dois lugares nos quais ele estava acostumado a dormir – e, se ele não estava em nenhum deles, então não tinha a menor idéia de onde havia ido parar.

Foi só quando o médico, ao analisar a sala com os olhos, encontrou uma xícara cheia de chá em cima da mesinha de centro que a memória de Hermione em seu apartamento, entregando-lhe o endereço de seu pai, voltou à sua cabeça. Empertigando-se no sofá, o homem passou a mão pela camisa, tentando desamassá-la enquanto virava a cabeça para tentar achar alguém por perto, mas, aparentemente, ele estava sozinho ali.

- Conseguiu dormir?

O patologista quase deu um pulo ao ouvir alguém falando com ele. Quando virou-se, viu o pai parado atrás de si, onde ele acreditava que fosse a porta que levasse à cozinha.

- Ahm, sim...

- Você parecia estar precisando – o homem sorriu meio sem graça  - Ahm, minha mãe pediu para que eu o convidasse para jantar aqui.

- Não – a resposta saiu automaticamente da boca do outro, assim como a agonia que pareceu invadi-lo – Quero dizer... Eu tenho que voltar para o hospital.

- Isso não é desculpa! – outra voz veio da porta atrás de Tom Sr. – Aposto que você vai comer algo antes de voltar ao trabalho, então coma aqui.

- Você a ouviu – seu pai falou, rindo baixinho.

- Sim – o mais novo, mais uma vez, passou a mão pelo rosto – E ela meio que me lembra alguém.

- Quem?

- A Dra. Granger – o médico respondeu.

- Ah, sim... Então, acredito que vai ficar para jantar?

- Se ela for tão parecida com a Dra. Granger quanto eu imagino, creio que não terei muita escolha a não ser ficar – o mais novo respondeu.

- Isso é bom – Tom Sr. sorriu, aproximando-se e se sentando na poltrona ao lado do sofá  - Minha mãe está de bom humor... Quero dizer, ela está cozinhando. E, bom, isso é raro.

- Hm...

- Temos sorte que ela não está morrendo de dor de cabeça hoje – o mais velho continuou falando – Ela geralmente fica com isso quando se estressa... E aposto que receber uma ligação de madrugada falando que o filho estava sob investigação, suspeito de ser cúmplice de um assassinato, é um bom estresse. De qualquer maneira, pelo menos ela não ficou com dor de cabeça e não precisou tomar àquelas injeções que as vezes toma para fazer passar e... – a voz de Tom Sr. sumiu aos poucos enquanto ele via como o rosto do filho expressava confusão – Me desculpe, eu... me empolguei, para variar um pouco.

- Tudo bem – o médico murmurou – Ela... tem isso muito? Quero dizer, as dores de cabeça.

- Como eu disse, é mais quando se estressa.

- E o que ela toma?

- Ela já tomou tanta coisa...

- Neosaldina, Miosan, Maxalt e Codaten – Tom Jr. o interrompeu - Mas a única coisa que adianta agora são injeções de dolantina, não? São os remédios para dor de cabeça em ordem do mais fraco para o mais forte...

- É, isso mesmo – o homem sorriu sutilmente.

O médico percebeu que o outro continuara a falar, mas não prestou atenção em suas palavras. Sua mente parecia ter se desligado da conversa e era como se ele estivesse mais uma vez dentro do necrotério, olhando para o corpo de Jane Keiths e, finalmente, tendo uma idéia do que poderia ter acontecido com a moça.

- E ele sumiu aí para dentro do apartamento, mas logo vai aparecer para jantar, ai posso te apresentar a ele e...

- Eu não... – o legista murmurou, piscando e olhando para o outro – Não vou poder ficar.

- Mas...

- Eu... preciso voltar para o hospital – o mais novo se levantou e começou a andar em direção à porta da sala.

- Está de carro?

- Não, mas eu pego um taxi...

- Se quiser que eu o leve até lá – Riddle deu de ombros – Não, não irá incomodar.

***

Hermione Granger estava irritada. A sorte de seu colega era que a sua curiosidade era maior que a sua irritação no momento, caso contrário ela já teria ido atrás de Tom Riddle e o prendido em casa assim que recebera a sua ligação dizendo que era para ela o encontrar no necrotério o mais rápido possível. Ela fora para o lugar e... Bom, Riddle não estava lá. A única pessoa por perto era Dennis Creevey, que estava ocupado demais tirando fotos dos ferimentos de um cadáver e não se incomodou com a sua presença.

Quando um Tom Riddle esbaforido entrou pela porta, ainda lutando para colocar o jaleco, Hermione se conteve para não falar nada, apenas ficou encarando-o por um tempo, até que ele terminasse de lidar com a peça de roupa e olhasse para ela.

- Você não deveria estar dormindo? – a médica perguntou, cruzando o braço na frente do peito enquanto via o outro vestir um par de luvas.

- Eu dormi.

- E eu sou uma ortopedista.

- Granger – o homem falou enquanto passava por Creevey, que lhe deu um rápido “boa noite”, antes de chegar até o armário onde o corpo de Jane Keiths estava – Eu dormi, estou falando a verdade.

- E como eu vou saber se isso é verdade?

- Pergunte a Tom Riddle.

- Você vai falar que é verdade.

- Não a esse Tom Riddle.

- O que...? Oh.

- De qualquer maneira, Granger – o médico puxou o lençol branco de cima do corpo da garota Keiths e mordeu o lábio inferior, enquanto se afastava um pouco para pegar uma lupa que havia em uma das gavetas do balcão do necrotério – Coloque um par de luvas, pegue uma dessas e venha me ajudar.

- Riddle – a mulher murmurou, enfiando a mão no bolso e tirando um par de luvas enquanto se aproximava da gaveta onde o outro havia pegado uma lupa – O que você...?

- Me ajude.

- Ajudar em que?

- A encontrar algo – Tom respondeu. Ele agora estava abaixado perto dos pés da vítima, afastando os dedos dela e analisando com o olhar a pele entre eles.

- Se você me disser o que eu tenho que encontrar, será mais fácil.

O homem não respondeu de imediato, ao invés, ficou parado, olhando dedo por dedo do cadáver, antes de bufar baixinho e passar a analisar o outro pé.

- Marcas de agulhas – ele murmurou – Podem estar em qualquer lugar.

A psiquiatra franziu as sobrancelhas, mas decidiu não falar nada e apenas fazer o que o outro lhe pedira. Agora, enquanto Tom trabalhava nos pés e pernas da moça, Hermione se ocupava em olhar com cuidado as mãos e os braços, tomando o maior cuidado que conseguia para abrir os dedos da outra e olhar a pele entre eles, prestando atenção para ver se não havia nada anormal ali.

- Agulhas?

- Sim.

- Por quê?

- Porque eu tenho uma teoria.

- Posso perguntar qual é?

- Que alguém injetou algo em Jane – ele respondeu – Algo que a deixou assim.

- Morta, você quer dizer? Mas, se acha que alguém injetou alguma coisa, por que pediu para que eu passasse no laboratório e pedisse para apressarem o exame dos conteúdos do estômago dela?

- Porque ninguém deixa outra pessoa a espetar com uma agulha sem lutar.

- A não ser que a pessoa que a espetou com a agulha fosse algum conhecido – Hermione murmurou, abaixando o braço do cadáver e dando a volta na mesa, pegando a outra mão.

- Então se eu chegasse perto de você com uma agulha, você me deixaria injetar alguma coisa desconhecida em você? – Riddle perguntou, erguendo os olhos e a encarando.

- É claro que não – a médica respondeu - Mas se eu estivesse precisando tomar alguma coisa via injeção, eu o deixaria.

- Eu não – ele sussurrou – De qualquer maneira, quero saber o que havia no estômago dela. Creevey? – o outro médico que estava na sala ergueu a cabeça e abaixou a máquina fotográfica que tinha nas mãos – Corra até o laboratório de Slughorn e diga para ele apressar os exames de sangue.

O mais novo concordou com a cabeça e, deixando a câmera de lado, saiu correndo do necrotério. Riddle sorriu sutilmente enquanto voltava a olhar o tornozelo do cadáver.

- Achou alguma coisa?

- Não, Riddle – a psiquiatra revirou os olhos, erguendo o braço de Jane – Espera...

- O que?

- Venha aqui.

O patologista ergueu-se e foi até a outra. Hermione tinha o braço da vítima estendido para o lado, deixando a mostra a sua axila, para a qual ela estava apontando. Erguendo a lupa que tinha em mãos, o médico aproximou o rosto e viu, na pele da axila da vítima, uma minúscula marca ali.

- Ótimo, Granger – ele sorriu, andando até onde Dennis havia deixado a máquina e a pegando – Ótimo.

Hermione o observou enquanto ele voltava a se aproximar e tirava uma foto da marca no corpo. Quando o legista abaixou a câmera e olhou para a foto no visor com um grande sorriso no rosto, a mulher decidiu falar.

- Como você pensou nisso?

- A idéia veio do nada – o outro falou, colocando a câmera de lado – Estava falando com Tom Riddle e...

- Seu pai.

- Sim, tanto faz, e ela falou alguma coisa da mãe dele ter que tomar injeções de Dolantina para dor de cabeça – ele riu – E aí a idéia surgiu.

- Do nada?

- Do nada.


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Notas finais do capítulo

Anos depois... a Ari volta.
Eu amo esse capítulo, okay? E quebrei uma regra minha pra postar ele: só postar quando outro cap. estiver pronto... mas achei válido, já que fazia tanto tempo que eu não a atualizava.


1- Neosaldina, Miosan, Maxalt e Codaten (E Dolantina na veia): remédios de dor de cabeça na ordem do mais fraco para o mais forte, de acordo com a minha mãe, que é expert em dores de cabeça.


2- Tom Sr. desandando a falar: alguém conhece algum geminiano louco que, quando começa a falar, não para mais? hm? hsauhsauash.


Acho que é isso, o que mais eu poderia explicar fica para os próximos capítulos :3


Espero que tenham gostado e, como sempre, reviews são super bem vindos :3


Beijos ;*
Ari.